A intolerância religiosa refletida nos discursos escolares do Rio de Janeiro, sob a perspectiva da análise do discurso de linha francesa
Marcelo Alexandre Teodoro
Professor da Educação Básica (SEE/MG), mestre em Educação (UFTM)
Iara Aparecida Garcia
Graduada em Letras-Português/Espanhol, mestranda em Educação (UFTM)
Considerações iniciais
Partindo do pressuposto de que a linguagem é um complexo sistema de interação e que, nela e por meio dela, instauram-se conflitos, ou seja, confrontos ideológicos, faz-se perceptível toda essa pluralidade discursiva existente da mescla de vozes, da subjetividade e de características sociais, surgindo assim a necessidade de estudar e identificar tais manifestações a fim de compreendê-las.
Tal multiplicidade de vozes permeia todos os textos em suas variadas materializações e neles ocorrem os embates ideológicos por meio de distintos enunciados, apresentando diferentes discursos e, consequentemente, posicionamentos de sujeitos ideológicos variados, os quais, por meio da linguagem, enunciam de acordo com suas respectivas formações discursivas (FD). Como afirma Caldas (2006, p. 122), “é necessário reconhecer, portanto, que a linguagem é, por natureza, ideológica”.
Buscando compreender a relação entre linguagem, discurso e ideologias, a escola francesa de Análise do Discurso (AD) volta suas atenções para textos impressos publicados pela imprensa, pois, para os analistas, as manifestações discursivas possuem uma característica singular: marcam a relação existente entre a linguagem e seu momento sócio-histórico-cultural.
Dentro desse complexo universo discursivo, o presente artigo busca centralizar suas atenções na polêmica gerada a partir de discursos que abordaram a proibição da entrada de um aluno em sua escola utilizando colares de sua religião, que foi imposta pela diretora da escola. Seguindo esta perspectiva, optou-se por analisar um corpus constituído por textos publicados na internet que abordaram o fato.
É clara a necessidade de compreender como se dá a relação entre esses discursos na esfera jornalística, uma vez que, segundo Rodrigues (2001, p. 74),
a relação constitutiva entre as esferas sociais e a constituição e o funcionamento dos gêneros do discurso, a consideração da existência de um conjunto de gêneros particulares, no caso, os gêneros jornalísticos, leva necessariamente à análise das especificidades da esfera onde ele se situa, a esfera jornalística: as condições sócio-históricas da sua origem e de seu desenvolvimento, a sua função sociodiscursiva no conjunto da vida social, entre outros aspectos.
Segundo Mussalim (2006), o discurso é um “aparelho ideológico”, por meio do qual se dão embates entre posições diferenciadas; dentre elas percebe-se que há um posicionamento mais favorável ao catolicismo e, consequentemente, há um posicionamento desfavorável às religiões afro-brasileiras. O contexto em que estamos inseridos permite questionar e manifestar nossa opinião, desde que ela não transgrida as leis impostas pela sociedade. Lembramos que, para a AD, o sujeito do discurso, segundo Mussalim (2006, p. 133),
ocupa um lugar onde enuncia, e é este lugar, entendido como a representação de traços de determinado lugar social (o lugar do professor, do político, do publicitário, por exemplo) que determina o que ele pode ou não dizer a partir dali.
Logo, cabe a nós, estudiosos da linguagem, tentar compreender esse, às vezes, obscuro campo de embates ideológicos. Acreditamos que o discurso jornalístico é um campo frutuoso para encontrarmos diversas vozes que aqui entendemos como as “práticas discursivas pedagógicas”,como define Luís Henrique Sommer (2007, p. 58), são “a ampla produção acadêmica no campo da Educação que focaliza a escola, nas mais diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, os enunciados do discurso didático”, ou seja, onde se materializam constantemente choques entre diversos discursos e seus outros (outras vozes), pois, segundo Cavalcanti (2010, p. 45), “em todo enunciado podemos ouvir ao menos duas vozes, duas posições: a que veicula e aquela à qual se opõe (daí a afirmação de que todo enunciado pode ser lido em seu direito e seu avesso)”.
E é principalmente no espaço dos discursos polêmicos que a AD serve-se de inúmeras materializações da existência e do embate desses discursos antagônicos. Considera-se discurso polêmico aquele em que há embate de ideias, há presença de opiniões diferentes sobre determinado assunto. De um lado, há o discurso que se declara a favor do catolicismo, enfatiza seus pontos positivos e constrói uma imagem positiva dessa manifestação religiosa; por outro lado, existe o discurso que apoia as manifestações religiosas afro-brasileiras.
Referencial teórico
Nesta seção, abordaremos as questões teóricas para embasar as análises propostas neste artigo. A escola francesa de AD concebe o discurso como o espaço onde a ideologia se materializa. Tal concepção advém da forma de organização dos modos de produção social. Por conseguinte, conforme afirma Mussalim (2006), o sujeito do discurso não decide sobre o sentido do seu discurso, mas ocupa um lugar social a partir do qual ele enuncia “sempre inserido no processo histórico que lhe permite determinadas inserções e não outras” (p. 110). Sendo assim, o sujeito não diz o que quer dizer, mas enuncia de acordo com o lugar que ocupa em determinada formação discursiva.
Logo, o discurso é uma prática discursiva que se materializa em textos. Salienta-se que texto e discurso são entidades diferentes. O primeiro é a realização do segundo, isto é, o discurso se concretiza no texto; às vezes, para identificação de determinado discurso, é preciso analisar vários textos para chegar ao discurso pretendido.
Nesse sentido, na década de 1960, surgiu uma disciplina específica para tais estudos: a Análise do Discurso. Suas teorias envolvem questões relacionadas à ideologia e ao sujeito. Ressalta-se ainda que para a AD a ideologia faz referência às representações que o sujeito constrói a respeito das coisas que o cercam e que tais ideologias concretizam-se em práticas como o discurso, por exemplo.
De acordo com Mussalim (2006), a AD francesa é conhecida como a teoria da leitura, que oferece uma metodologia para ler textos de forma mais profunda, a fim de apreender as ideologias que se materializam nesses textos. E já que somos seres ideológicos e essas ideologias se revelam em práticas discursivas, como identificar a maneira como esses discursos são organizados?
Segundo a AD francesa, os discursos são produzidos a partir de determinadas formações discursivas (FD), que, por sua vez, são componentes constitutivos de determinada formação ideológica (FI). Fischer (2001), referindo-se a Foucault, apresenta o conceito de formação discursiva como o princípio de dispersão e de repartição dos enunciados segundo o qual se sabe o que pode e o que se deve dizer, dentro de determinado campo e de acordo com certa posição que se ocupa nesse campo.
De acordo com Mussalim (2006), não existe sujeito individual; existe, sim, o sujeito ideológico, o qual, por meio dos discursos, revela a ideologia a que pertence. A pesquisadora ressalta ainda que as formações discursivas podem estabelecer entre si “relações de aliança ou também de dominação” (p. 125). Neste artigo, nos discursos que serão analisados, observar-se-á que há um confronto que se dá devido às ideologias distintas em relação à ao sincretismo religioso no Brasil.
Outro conceito em que se apoia a análise em questão é o de heterogeneidade constitutiva do discurso proposto por Authier-Revuz (1990), o qual partilha a ideia da existência de um sujeito heterogêneo, ou seja, um sujeito marcado pela interferência de outros discursos ou de interdiscursos. Para a estudiosa francesa, essa heterogeneidade discursiva pode emergir na superfície textual ou não.
Segundo Mussalim (2006), Authier-Revuz (1990) subdivide a heterogeneidade mostrada em duas formas: marcada e não marcada. A primeira, nomeada de heterogeneidade mostrada e marcada, constitui-se por marcas explícitas do Outro na superfície textual, ou seja, podemos perceber marcadamente a presença de outras vozes discursivas no texto em análise. Já a heterogeneidade mostrada não marcada tem como princípio a não explicitação do Outro no texto, ou seja, a presença de outros sujeitos do discurso é um fato concreto.
Segundo Mussalim (2006), a estudiosa do discurso Authier-Revuz (1990) recorre ao conceito de dialogismo de Bakhtin para indicar algumas formas de heterogeneidade mostrada: “formas que se articulam sobre a realidade da heterogeneidade constitutiva de todo discurso” (p. 127), e aponta o discurso relatado, aquele em que o locutor utiliza suas próprias palavras para traduzir o discurso do Outro. O discurso direto é aquele em que o locutor recorta as palavras do Outro e as cita, por meio da utilização de aspas, itálico, do discurso indireto livre, da antífrase, ironia, imitação ou ainda, da alusão. Essas formas de heterogeneidade mostrada assinalam a presença do Outro (outra voz) num determinado discurso.
Metodologia
Nesta seção, objetiva-se explicitar o processo metodológico percorrido para realizar as análises e pretende-se, ainda, identificar os sites que publicaram os referidos textos que compõem o corpus desta pesquisa. Foi realizada a seleção dos textos que fazem parte da coletânea desta pesquisa buscando formar dois grupos que se posicionavam de maneira contrária discursivamente; no entanto, percebemos que o corpus se mostrou com três posicionamentos (FD): uma FD mais favorável à religião afro-brasileira e uma contra; além dessas, percebemos uma terceira FD mais neutra (imparcial), como se observa no Quadro 1.
Quadro 1: Formas discursivas identificadas
Manchetes |
Fontes |
Posicionamento |
---|---|---|
1 - RJ: Aluno é impedido de frequentar escola com guias de Candomblé |
Favorável |
|
2 - Menino de 12 anos é proibido de entrar em escola no Rio de Janeiro após aderir ao Candomblé |
Imparcial |
|
3 - Garoto é impedido de entrar em colégio no Rio de Janeiro por usar guias do Candomblé |
Favorável |
|
4 - Mãe de aluno impedido de entrar em escola com guias de Candomblé vai processar a prefeitura |
Imparcial |
|
5 - Preconceito! Menino de 12 anos é impedido de estudar em escola por se converter ao Candomblé |
Favorável |
|
6 - Paes pede desculpas a aluno barrado com guias e prega respeito a religiões |
Contra |
|
7 - Aluno é barrado em escola por usar trajes de Candomblé |
http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/09/aluno-e-barrado-em-escola-por-usar-trajes-de-candomble/ |
Favorável |
8 - Garoto proibido de ir à escola com guias de santo |
http://lulacerda.ig.com.br/garoto-proibido-de-ir-a-escola-com-guias-de-santo/ |
Favorável |
Em uma breve análise, tentamos estabelecer, pelo título da reportagem, esse posicionamento; posteriormente será avaliado se o texto que faz parte da reportagem mantém o posicionamento.
Análises
Passamos agora a uma análise do corpus coletado, no qual foi possível perceber a presença de três posicionamentos imparciais, três posicionamentos a favor e dois posicionamentos menos favoráveis à religião afro-brasileira.
Para sustentar a ideia de que há uma gradação entre as formações discursivas, que partem de uma suposta imparcialidade até formações discursivas contra os rituais afro-brasileiros, apresentamos uma diferença sucinta entre as palavras “impedido” e “proibido”, que aparecem nos textos ora analisados.
1 - RJ: Aluno é impedido de frequentar escola com guias de Candomblé
2 - Menino de 12 anos é proibido de entrar em escola no Rio de Janeiro após aderir ao Candomblé
Os verbos impedir e proibir são verbos proibitivos e exercem uma função semântica que não permite determinada ação; no entanto, o verbo impedir leva-nos a pensar que há possibilidades em que é possível, enquanto o verbo proibir possui carga semântica mais forte, que não permite que o sujeito realize determinada ação.
Além disso, dando sequência às analises, observamos outros exemplos, como estes:
3 - Um estudante de 12 anos foi impedido de entrar na escola pública
4 - O menino já era vítima de preconceito há algum tempo
Nestes trechos, damos ênfase à escolha lexical e consequentemente aos conhecimentos morfológicos, prescrevendo que o uso do tempo verbal pretérito perfeito indica uma ação momentânea, pontual no tempo. Já o pretérito imperfeito exprime uma ação com caráter durativo, não limitada no tempo. Assim, no primeiro enunciado, podemos inferir que houve uma ação proibitiva; todavia, o narrador faz uso do mesmo verbo conjugado no pretérito imperfeito para demonstrar que essa ação era praticada com certa frequência, mesmo que de forma velada. Dessa maneira, por essas escolhas podemos perceber que há uma ação favorável ou contra, de acordo com a FD a que o sujeito se filia.
Outros exemplos como esses permeiam todos os textos analisados neste corpus, mas, por razões metodológicas e para atender ao tema proposto, não serão mais abordadas. Daremos ênfase agora a algumas categorias da AD, que é o propósito deste artigo. A primeira abordagem será a apresentação das FD presentes no corpus analisado conforme os excertos abaixo.
5 - Para Silvany Eclênio, da Sepirr (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), o caso é de discriminação racial, além de religiosa. "A escola está reproduzindo todo um sistema de valores e de práticas racistas, quando o papel dela deveria ser o de promover a diversidade étnica brasileira, a valorização dessa diversidade e combater esse tipo de atitude de negação de direitos", afirma.
6 - A professora acredita que a divulgação de notícias como essa causa incômodo na população e é uma forma importante de levantar o debate sobre a realidade da cultura afro-brasileira.
Nos exemplos 5 e 6, observamos o encontro de discursos presentes no texto, ou seja, a heterogeneidade defendida por Maingueneau está presente nos textos. Há nesses exemplos marcas de heterogeneidade mostrada e marcada em 5, pois o autor da reportagem/discurso traz a voz de outra pessoa para seu discurso, e utiliza as aspas, além da referência direta, reforçando seu argumento ao apresentar a titulação, com o intuito de dar credibilidade ao seu texto.
No exemplo 6, o sujeito opta por utilizar a heterogeneidade mostrada e não marcada, pois não há inserção de nenhum elemento no texto para apresentar a voz de um de seus interlocutores; é feito o uso do discurso indireto.
Chamou-nos a atenção os comentários deixados nas notícias por internautas, o que ratifica a identidade com Formações Discursivas; neles percebemos a ocorrência do simulacro, que é um recurso utilizado para rebaixar o discurso que não pertence à Formação Discursiva que é partilhada por um grupo determinado, gerando assim a polêmica. Vejamos os exemplos:
7 - Você é um grande mentecapto, talvez macumbeiro também, por criticar um diretor de escola somente baseado na informação dada por uma outra macumbeira a um órgão de imprensa, que alegou que seu filho foi discriminado, como se o fato de fazer uma observação sobre a quebra de uma regra seja discriminação.
8 - Ele não foi barrado por ser adepto do "Candomblé" e sim por não ir devidamente fardado para o colégio...
Aqui observamos as palavras, “macumbeiro” e “adepto”; observamos que, dentro de uma FD que seja favorável ao Candomblé não aparecerá, por exemplo, a palavra “macumbeiro”, sendo ela um simulacro para a palavra “adepto”, em função dos sentidos pejorativos que estão embutidos na palavra “macumbeiro”. Assim, em uma FD contra o Candomblé, o termo “adepto” será substituído por “macumbeiro” e vice-versa.
Observamos nos textos outro fenômeno muito estudado pela AD, que é o ethos; segundo Maingueneau (2001, p. 97),
o texto escrito possui, mesmo quando denega, um tom que dá autoridade ao que é dito. Esse tom permite ao leitor construir uma representação do corpo do enunciador (e não, evidentemente, do corpo do autor efetivo). A leitura faz, então, emergir uma instância subjetiva que desempenha o papel de fiador do que é dito.
Por merecer destaque, analisaremos alguns dos muitos ethos apresentados no corpus selecionado, como nos exemplos a seguir:
9 – PRECONCEITO! Menino de 12 anos é impedido de estudar em escola por se converter ao Candomblé.
10 – Paes pede desculpas a aluno barrado com guias e prega respeito a religiões.
Esta categoria da AD diz respeito à imagem que é projetada pelo discurso daquele que enuncia, segundo Fiorindo (2012, p. 2):
a noção de ethos na Retórica mobilizava características extradiscursivas e, como a essência da produção discursiva era a oralidade, e não o texto escrito, os oradores utilizavam características físicas (roupas, mímicas e feições, entre outras artimanhas), a fim de construir uma autoimagem positiva.
Percebemos nos enunciados acima que essa imagem se constrói de forma positiva ou negativa, como percebemos nos exemplos citados. A pontuação, por exemplo, em 9, demonstra um ethos exaltado, oprimido, haja vista o uso de caixa alta para destacar a palavra preconceito, ao contrario de 10, que apresenta um ethos submisso. Essa submissão é acentuada pelo uso do verbo pedir; entretanto, há um tom de alguém que cuida, protege, pelo emprego do verbo “pregar”, frequente nas doutrinas cristãs.
Considerações finais
Este trabalho buscou apontar as principais formações discursivas (FD) presentes em textos publicados na internet; além disso, apresentamos algumas categorias de análise da AD com o intuito de desmistificar tais conceitos como algo extremamente complexo, distante da realidade cotidiana; necessitou discutir as funções, os propósitos de um texto nas escolas para formarmos leitores sensatos, coerentes quanto ao teor informativo contido nos textos jornalísticos.
Ademais, retomando Sommer (2007, p. 65), acreditamos que “certas palavras são proibidas (...), elas estão fora da ordem do discurso”; nesse caso percebemos os reflexos da perpetuação e da soberania de uma crença cristã desde a colonização brasileira, uma vez que a Igreja era responsável pela catequização dos índios. Outro fato que chama a atenção são os próprios nomes das escolas, que recebem nomes de santos católicos e indiretamente reforçam essa crença.
Em um artigo à revista Carta Capital em 2015, intitulado “As crianças do Candomblé e a discriminação”, a professora da UERJ Stela Guedes Caputo afirma que “a discriminação religiosa e racial vem sendo construída há séculos em alianças com setores conservadores de várias religiões que também estão nas escolas. Ou seja, a discriminação é ensinada”.
A entrevista faz-nos relembrar o que afirmou Bakhtin (1997, p. 43):
Esse excedente constante de minha visão e de meu conhecimento a respeito do outro é condicionado pelo lugar que sou o único a ocupar no mundo: neste lugar, neste instante preciso, num conjunto de dadas circunstâncias — todos os outros se situam fora de mim. A exotopia concreta que beneficia só a mim, e a de todos os outros a meu respeito, sem exceção, assim como o excedente de minha visão que ela condiciona, em comparação a cada um dos outros (e, correlativamente, uma certa carência — o que vejo do outro é precisamente o que só o outro vê quando se trata de mim).
Nesse sentido, com base nos aspectos teóricos discutidos a respeito da AD, acredita-se que essa disciplina contribui não apenas para observarmos os textos jornalísticos com olhos mais atentos, ela nos torna também seres humanos mais comprometidos com as atitudes, sensíveis às ações e reflexivos quanto aos posicionamentos que assumimos.
Sobretudo, a Análise do Discurso contribui para a desconstrução de posicionamentos como o analisado, ao observarmos que Bakhtin (1997, p. 45) prescreve:
Devo identificar-me com o outro e ver o mundo através de seu sistema de valores, tal como ele o vê; devo colocar-me em seu lugar e, depois, de volta ao meu lugar, completar seu horizonte com tudo o que se descobre do lugar que ocupo, fora dele; devo emoldurá-lo, criar-lhe um ambiente que o acabe, mediante o excedente de minha visão, de meu saber, de meu desejo e de meu sentimento.
Creio que na sociedade contemporânea falte esse olhar pelos olhos dos outros para compreender os diversos mundos existentes, as diversas crenças, e aceitar as escolhas dos outros; assim, só assim, experimentando outras experiências, poderemos atenuar os “preconceitos” que rondam nossa sociedade.
Referências
AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidades enunciativas. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, nº 19, p. 25-42, jul./dez. 1990.
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal [Tradução feita a partir do francês por Maria Emsantina Galvão G. Pereira, com revisão da tradução por Marina Appenzellerl]. 2’ cd. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
CALDAS, G. Mídia, Escola e leitura crítica do mundo. Educ. Soc., Campinas, v. 27, nº 94, p. 117-130, jan./abr. 2006. Disponível em: http://www.cedes.unicamp. br. Acesso em: 08 dez. 2018.
FIORINDO. P. O ethos nos estudos discursivos da ciência da linguagem. Revista Pandora Brasil, nº 47, out. 2012. Disponível em: http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/ethos/priscila.pdf. Acesso em: 15 nov. 2018.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987.
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Trad. Cecília P. de Souza-e-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001.
MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs). Introdução à linguística, domínio e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (Orgs.) Gêneros: teorias, métodos, debates. Florianópolis: Parábola, 2001.
SOMMER, L. H. A ordem do discurso. Revista Brasileira de Educação, v. 12, nº 34, jan./abr. 2007.
Publicado em 24 de novembro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
TEODORO, Marcelo Alexandre; GARCIA, Iara Aparecida. A intolerância religiosa refletida nos discursos escolares do Rio de Janeiro, sob a perspectiva da análise do discurso de linha francesa. Revista Educação Pública, v. 20, nº 45, 24 de novembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/45/a-intolerancia-religiosa-refletida-nos-discursos-escolares-do-rio-de-janeiro-sob-a-perspectiva-da-analise-do-discurso-de-linha-francesa
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.