Práticas de multiletramentos e letramentos críticos: outros sentidos para a sala de aula de línguas

João Paulo Bulhões e Mattos

Mestrando (UERJ-FFP), professor da rede municipal de Cabo Frio

Os textos têm efeitos sociais e são construídos a partir de uma versão da verdade.

A língua é usada para diferentes propósitos.

A língua, não sendo neutra, me faz pensar o que quero com meu texto e aonde eu quero chegar e a quem eu quero atingir.

Neutralidade na língua não existe. Todo e qualquer texto escrito traz em si um posicionamento ideológico, uma identidade, confere poder. Os textos são situados e posicionam o leitor. O ponto inicial para a aprendizagem é perceber que, com base na leitura crítica dos textos, os textos são representações parciais do mundo.

A produção é repleta de escolhas feitas pelo produtor do texto. Os textos são produzidos com possíveis opções linguísticas. Algo construído pode ser igualmente desconstruído. Esse processo de escrita e reescrita aumenta nossa consciência nas escolhas que o enunciador faz ao escrever o texto para seu leitor.

Qual a relação do letramento e poder no que tange o design e o redesign?

Sobre essa relação de língua e poder,  Freire incentiva os alunos a superar a opressão com sua leitura sobre o mundo, mostrando que é possível renomear o mundo que o cerca, a fim de mudá-lo. Logo, o letramento crítico pretende formar estudantes capazes de ler o mundo, com o objetivo de reescrevê-lo após a reflexão crítica do mesmo, culminando em uma transformação social.

Esses discursos constroem posições de identidade para nós e nos engendram como determinados tipos de seres humanos. Isso é a língua em sua forma mais poderosa, e é, sem dúvida, o motivo pelo qual Foucault (1970) acredita que ‘o discurso é o poder a ser tomado’ -  e Freire (1972) assinalou que somente sujeitos têm de renomear a si mesmos e redescobrir seu lugar no mundo.

Diversidade

Pessoas de comunidades diferentes vão possuir línguas diferentes, pois estão expostas a discursos diferentes que englobam diferentes crenças e valores.

Se mudarmos de comunidade, poderemos encontrar novas formas de estar nesse mundo, elas podem aprender uma língua adicional e novas crenças e valores.

Quando as pessoas têm a possibilidade de manter contato com mais de uma comunidade, essas pessoas podem adquirir uma identidade híbrida, ou se sentir ameaçadas quanto ao contato com essas comunidades.

Acesso

Se pergunta que educação teremos nas escolas? que conteúdo? de quem? de que forma?

Qual será a literatura ensinada na escola, qual arte será lecionada, são as escolhas curriculares feitas e que os alunos terão acesso no ambiente escolar. Basicamente, é a escolha do legitimado que prevalece no letramento escolar que tem seus gêneros e preferências sem considerar o desejo do aluno, que é não legitimado. É o como e o que ensinar pensando na escola com indivíduos heterogêneos.

Design

Seria a capacidade de manipular signos e símbolos abstratos que vi conferir a vantagem nesse mundo que a capacidade de criar conhecimentos e produtos é o que produzirá a riqueza.

A produção de textos nos abre possibilidades:

  • A escolha dos sentidos de construção do texto e como agir sobre o mundo;
  • Reconhecimento da nossa posição e da posição dos nossos leitores com as escolhas feitas quando escrevemos;
  • Compreensão da forma como o texto é construído;
  • Adquirimos experiência para o redesign dos nossos próprios textos e o dos outros.

Redesign

É transformação e desconstrução dos textos, mas com uma visão crítica e que reconstrua e melhore a maneira como vivemos e nos relacionamos com o mundo.

O texto reformulado não é neutro; então, a reconstrução é um processo contínuo de transformação. Dentro dessa perspectiva do letramento crítico, o redesign é  usado   para criar um mundo sem relação de poder , em que a diferença seja vista como um recurso em que todos possuem acesso aos bens sociais e às mesmas oportunidades. Isso é redesign.

O redesign é o mais difícil, pois tirar as práticas enraizadas é que é mais problemático.

O redesign dialoga diretamente com a perspectiva de letramento crítico e dialoga diretamente com a décima  competência que abrange acesso aos meios digitais. O texto promove uma reflexão geral sobre o que é língua(gem) e letramento e nos novos caminhos que a BNCC aponta para o ensino de língua nas escolas públicas.

Referências

CARBONERI, D.; JESUS, D. M. de (Orgs.). Práticas de multiletramentos e letramento crítico: outros sentidos para a sala de aula de línguas. Campinas: Pontes, 2016. (Coleção Novas Perspectivas em Linguística Aplicada)

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Loyola, 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

Publicado em 01 de dezembro de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

MATTOS, João Paulo Bulhões e. Práticas de multiletramentos e letramentos críticos: outros sentidos para a sala de aula de línguas. Revista Educação Pública, v. 20, nº 46, 1 de dezembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/44/praticas-de-multiletramentos-e-letramentos-criticos-outros-sentidos-para-a-sala-de-aula-de-linguas

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