As perguntas nos museus: um mundo de possibilidades
Joyce Fico Ramalhães de Souza
Graduada em Ciências Biológicas (UFSCar, câmpus Lagoa do Sino)
Bruno Rafael Santos de Cerqueira
Doutor em Ensino de Ciências, professor adjunto do Centro de Ciências Naturais e Humanas (UFABC)
Alguns guardam objetos que preservam histórias passadas de geração a geração ao longo dos séculos e que são apresentadas como um testemunho dos nossos ancestrais; outros parecem contar uma história mais recente sobre os avanços da Ciência e Tecnologia; por vezes, nem sabemos que podem ser considerados museus, mas eles estão lá, abertos ao público e querendo nos contar algo.
Figura 1: Museu da Diversidade Sexual na Estação República do Metrô, São Paulo
Fonte: Mariana Rezk / CC BY-SA
Nem toda a população brasileira tem um museu perto de onde mora para chamar de seu. A região Sudeste, por exemplo, concentra 38,1% dos museus, enquanto a Centro-Oeste, 4,7% apenas (Ibram, 2010). Dados também apontam que a maioria dos museus brasileiros se encontra nas regiões mais centrais das cidades e concentra um público de classe média e alta, com níveis mais altos de escolarização. A falta de acesso e recursos, por exemplo, é o principal obstáculo para visitas de escolas públicas a museus (Alvarez, 2018). Apesar disso, muitos desses espaços possuem entrada gratuita e vêm desenvolvendo projetos com vistas à inclusão.
Vamos fazer uma retrospectiva... Pense um pouco sobre o ano de 2019. Quantos museus vocês visitou? O que você lembra dessas visitas? O que marcou? Não se preocupe se você não se lembrar de tudo; considere que isso é bem comum. Em visitas escolares, por exemplo, as lembranças mais marcantes estão relacionadas às situações em que ocorre a livre interação aluno-exposição e aluno-aluno (Oliveira; Carvalho, 2015).
Uma visita é um mundo de possibilidades, como uma estrada que se abre em múltiplos caminhos e que você escolhe por onde seguir. Os caminhos que você escolher trilhar trarão novas encruzilhadas, levando a outras estradas, e quando você tentar recordar como chegou ali, ficará difícil lembrar-se da sua primeira escolha, mas saiba que ela te ajudou a chegar a algum ponto. Podemos encarar uma visita a um museu dessa forma – como uma possibilidade de abertura a inúmeros caminhos.
Figura 2: A região de Paranapiacaba é um museu a céu aberto na região de Santo André/SP
Fonte: Webysther - Own work, CC BY-SA 4.0
Espero que até agora este texto tenha estimulado você a visitar ou revisitar um museu. Outro conselho é: não se apegue muito a concluir a visita. Na verdade, tenho que lhe revelar que você nunca conseguirá concluí-la. Lembra-se da analogia dos caminhos? Então, quando a gente continua percorrendo a estrada, podemos até voltar à primeira encruzilhada, e ela poderá até parecer a mesma, mas a gente, com certeza, já vai ter mudado. Conclusão: a experiência é sempre nova! Lembre-se de que a visita ao museu não é igual a colar uma nova figurinha para concluir o álbum; volte sempre, porque ele estará te esperando.
Agora eu estou assumindo que você já está convencido a visitar ou revisitar um museu. Para essa visita ficar mais empolgante, é lógico que você pode registrar com fotos e selfies (depende do museu!), mas o meu conselho agora é outro... Pergunte algo e estimule seus alunos a perguntar. Perguntar? O quê? A quem? Você deve estar se perguntando isso agora. A minha resposta é: a quem você quiser!
Figura 3: Museu do Louvre, Paris, França
Fonte: Benh Lieu Song (Flickr) / CC BY-SA
Já passou por aquela sensação ou viu nos rostos dos seus alunos aquele semblante de “não estou entendendo nada”, “que negócio confuso”, “o que estou fazendo aqui”? Pois saiba que uma exposição deveria ser uma conversa, a história não está acabada, ela está aberta, esperando as perguntas.
Já foi possível mapear que, em geral, os visitantes que dialogam durante a visita conseguem ir mais a fundo nos tópicos que estão sendo abordados (Moreira de Vasconcellos; Cerqueira; Silva, 2016). Que tal começar uma conversa, perguntando algo ao seu filho ou filha, questionando o colega que foi com você, ou mesmo outro visitante que está vendo o mesmo objeto que você, ao seu lado? Pode ter certeza de que novos caminhos e visões se abrirão.
Agora, se você quiser saber os bastidores e outras histórias que as exposições não contam, eu te aconselho a perguntar a algum monitor, mediador ou educador que esteja na exposição. Ele está lá para te ajudar e, com certeza, terá prazer de lhe contar alguma curiosidade ou esclarecer algo.
Sei que talvez você deve estar pensando que, com a pandemia que estamos vivendo, vai demorar para que possamos levar nossos alunos aos museus. Mas saiba que essas instituições também estão no mundo virtual. No Guia de Museus Brasileiros de 2015, você pode encontrar a indicação de 23 museus virtuais (Ibram, 2015). Por isso, já programe suas visitas, pense em atividades para os seus alunos ou reserve um dia para um passeio virtual com sua família. Aproveite e faça uma lista dos museus que gostaria de visitar quando tudo voltar ao novo normal; quem sabe, no ano que vem, você olha para trás e vê que percorreu um longo caminho!
Referências
ALVAREZ, L. Falta de acesso é maior obstáculo para visitas monitoradas a museus. Revista Educação, 2018. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2018/03/12/falta-de-acesso-e-maior-obstaculo-para-visitas-monitoradas-museus/. Acesso em: 20 jun. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS (IBRAM). Museus em números. Brasília: Instituto Brasileiro de Museus, 2010.
______. Guia dos museus brasileiros. Brasília: Instituto Brasileiro de Museus, 2015.
MOREIRA DE VASCONCELLOS, I. G.; CERQUEIRA, B. R. S.; SILVA, T. As perguntas nas visitas orientadas a museus, exposições itinerantes e feiras de ciências. Revista da SBEnBio, nº 9, p. 7.098-7.109, 2016.
OLIVEIRA, L. M.; CARVALHO, D. F. O método da lembrança estimulada como uma ferramenta de investigação sobre a visita escolar ao Museu de Biodiversidade do Cerrado. Investigações em Ensino de Ciências (Online), v. 20, p. 151-163, 2015. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/33. Acesso em: 20 jun. 2020.
Publicado em 08 de dezembro de 2020
Como citar este artigo (ABNT)
SOUZA, Joyce Fico Ramalhães; CERQUEIRA, Bruno Rafael Santos de. As perguntas nos museus: um mundo de possibilidades. Revista Educação Pública, v. 20, nº 47, 8 de dezembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/47/as-perguntas-nos-museus-um-mundo-de-possibilidades
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