A sala virtual como ferramenta de ensino e aprendizagem em Biologia

Jader Luís da Silveira

Biólogo, professor, especialista em Docência

O ensino de Biologia, em décadas anteriores, era baseado em aulas quase sempre teóricas e expositivas. Esse modo de ensinar no Ensino Médio vem sendo modificado constantemente. Além de ser cansativo para os estudantes, esse antigo modelo compete com o frequente uso de dispositivos móveis como smartphones e tablets pelos discentes. Com o avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), o processo de ensino-aprendizagem tornou-se mais dinâmico e interativo, além de visar a construção coletiva e colaborativa do conhecimento.

Conforme relata Alfonso (2019), é essencial que os professores busquem alternativas para que as suas aulas acompanhem a evolução tecnológica. Segundo Lima et al. (2018), estratégias tecnológicas no processo de ensino-aprendizagem com o uso de ambientes e ferramentas digitais propiciam a aproximação afetiva do aluno ao conteúdo. Como sugerem Neto et al. (2018), uma dessas estratégias é aplicar teorias inovadoras com mediação das tecnologias.

Segundo Silva (2018, p. 8), o Google Classroom “é uma ferramenta que cria uma sala de aula virtual, em que o professor organiza as turmas e direciona os trabalhos, usando ou não as demais ferramentas do Google”. Essa plataforma é um tipo de ambiente virtual de aprendizagem (AVA) em que o professor pode criar um espaço para cada uma de suas turmas, adicionado materiais e recursos de autoria própria e para divulgação de trabalhos dos alunos.

Tendo em vista as dificuldades enfrentadas pelos alunos nos conteúdos de Biologia e o tempo restrito de apenas duas aulas semanais com duração de cinquenta minutos cada (Minas Gerais, 2016), este trabalho apresenta proposta de modelo híbrido, que integra três metodologias: aprendizagem ativa; sala de aula invertida e ensino semipresencial, todas com suporte e mediação pelo uso de TDIC, especificamente a ferramenta Google Classroom.

O objetivo deste trabalho é realizar uma proposta de ensino-aprendizagem integradora utilizando o AVA mencionado. Busca-se desenvolver estratégias de ensino com uso das tecnologias e das metodologias de aprendizagem ativa, fazendo da sala virtual um complemento dos momentos presenciais, além de promover a construção coletiva e colaborativa do conhecimento. Essa experiência foi aplicada na disciplina de Biologia em uma turma de 1º ano do Ensino Médio com 34 alunos, em uma escola estadual na cidade de Formiga/MG.

Referencial teórico

Os alunos têm dificuldades de assimilação e aprendizagem dos conteúdos abordados em Biologia no Ensino Médio, pelo emprego de métodos de ensino com recursos tradicionais, uma vez que estes não despertam o interesse do aluno, ao se absterem do uso das tecnologias da informação e comunicação disponíveis no contexto atual (Silveira; Silva, 2019).

O modelo tradicional colabora com o desinteresse pelos conteúdos tratados em sala, dada a falta de proximidade do professor (Moran, 2015). Conforme Schiehl e Gasparini (2016), “na escola, principalmente no Ensino Fundamental e Médio, ainda se tem o reconhecimento de um ambiente físico tradicionalmente estruturado por salas de aula, onde acontece a formação dos estudantes”. Com isso, é afetado o desempenho acadêmico dos discentes nos conteúdos de Biologia e de disciplinas relacionadas.

Para esses autores, “cada instituição de ensino analisa com os seus profissionais qual cenário ou modelo de ensino híbrido se adapta às possibilidades estruturais e funcionais dela”. Nesse contexto, a instituição de ensino, professores e gestores escolares devem buscar alternativas e diferentes metodologias que levem a um processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, integrador e eficiente.

As tecnologias digitais são ferramentas que podem auxiliar na implantação de um ensino híbrido, além de ser um instrumento de uso frequente dos estudantes (Silveira; Silva, 2019). O Google Classroom é uma plataforma de fácil acesso e manuseio tanto por professores quanto por alunos. Com essa plataforma, o ensino pode ser dividido em algumas etapas presenciais e outras a distância.

O Google Classroom é de acesso gratuito, assim como outros aplicativos do Google, bastando apenas o usuário possuir uma conta no site. É uma plataforma EaD simples, mas ao mesmo tempo muito completa, pois contempla várias outras ferramentas integradas (Veludo, 2018), que permite a criação de turmas para compartilhamento virtual de informações e documentos (Araújo, 2016).

Silveira (2019) relata que “o professor, ao fazer uso das novas tecnologias, leva o estudante a construir o seu próprio conhecimento”. Gomes, Lima e Fürkotter (2014) mencionam que “é fundamental utilizar essas tecnologias a favor da educação, já que oferecem novas possibilidades aos usuários, principalmente de produzir conteúdos, abandonando a forma passiva de se relacionar com as tecnologias”.

O uso do Google Classroom proporciona a professores e alunos uma modalidade de ensino presencial com momentos a distância de extrema relevância. As TDIC tornam-se aliadas ao processo de ensino-aprendizagem, além de desenvolver o interesse dos alunos pelo conteúdo.

O Google Classroom não necessita de instalação local; de acordo com Souza e Souza (2019), “a plataforma já se encontra online e hospedada, facilitando a entrada (login) na plataforma e a integração de diversas ferramentas online disponibilizadas pelo Google”. A inserção da sala virtual no Ensino Médio proporciona que o conhecimento seja construído de forma coletiva e colaborativa, além de levar metodologias ativas e construtivistas de ensino-aprendizagem para os alunos do Ensino Médio.

Metodologia

Com base nas vivências do professor-autor em sala de aula e na observação das dificuldades dos alunos nos temas tratados em Biologia, procurei montar na plataforma Google Classroom a sala virtual de acordo com as especificidades da turma. Foram dadas preferências para postagens de materiais produzidos pelo docente, como videoaulas, histórias em quadrinhos, animações e testes. Em casos em que não foi possível produzir o conteúdo, recorreu-se a materiais gratuitos e de licença livre, para não gerar gastos para nenhuma das partes envolvidas.

Providenciou-se também criação de contas de e-mail para os alunos que ainda não possuíam e o envio de códigos de acesso ao ambiente virtual de aprendizagem no Google Classroom. Foram ministradas aulas de capacitação para o uso dessa ferramenta para os alunos no laboratório de informática.

As atividades foram divididas em duas partes, que, por sua vez, possuem duas etapas com quatro atividades e uma avaliação diagnóstica cada, totalizando dez atividades, conforme é detalhado no Quadro 1. As atividades são basicamente a exposição de aulas e o teste para verificação da aprendizagem, que aborda questões apenas de sua etapa específica. A avaliação diagnóstica tem a função de diagnosticar o conteúdo integral ensinado nas duas etapas da parte em questão. Os testes e avaliações possuem dez questões de múltipla escolha com o valor de um ponto cada, exigindo, dessa forma, 60% em cada um para obter aprovação.

Utilizou-se como objeto de estudo o conteúdo de “microrganismos”, subdividido em quatro grupos: bactérias, fungos, protozoários e vírus, representando respectivamente cada uma das quatro etapas do trabalho, como é mostrado detalhadamente no Quadro 1.

Quadro 1: Estrutura do projeto e suas divisões de etapas

Parte

Etapa

Atividades

Temas

1ª Parte (escrita)

1ª Etapa

Exposição do primeiro conteúdo, exclusivamente teórico

Bactérias

Teste escrito 1

2ª etapa

Exposição do segundo conteúdo teórico e AVA

Fungos

Teste escrito 2

1ª Avaliação diagnóstica (escrita)

2ª Parte
(online)

3ª Etapa

Exposição do terceiro conteúdo teórico e AVA

Protozoários

Teste online no AVA 1

4ª Etapa

Exposição do quarto conteúdo exclusivamente no AVA

Vírus

Teste online no AVA 2

2ª Avaliação diagnóstica (Online)

A divisão do trabalho em duas partes tem por objetivo verificar e comparar o desempenho dos estudantes frente ao uso da metodologia tradicional de ensino com a metodologia usada no ambiente virtual de aprendizagem. Assim, com os resultados de cada parte, consegue-se analisar a eficiência de uma ou outra metodologia de ensino-aprendizagem.

A primeira parte é exclusivamente “escrita”, ou seja na forma tradicional de ensino, com aulas expositivas e uso de quadro, giz, livro didático e caderno. O primeiro conteúdo foi ministrado dessa maneira, seguido pelo seu respectivo teste, também aplicado em papel.

Na segunda etapa, iniciou-se o processo de transição, em que a apresentação do conteúdo ocorreu com alternância de exposições teóricas e o uso do AVA Google Classroom no laboratório de informática da escola. O teste dessa etapa foi escrito e impresso. Após o término do segundo teste, foi realizada a primeira avaliação diagnóstica, também aplicada na forma impressa. As notas das atividades foram entregues após uma semana para o professor fazer as devidas correções.

A segunda parte é composta por atividades online. A exposição do terceiro conteúdo, na terceira etapa, foi representada pela continuação da transição da metodologia, de forma que o conteúdo também foi explicado alternando as formas tradicional e escrita na sala de aula, com o método online utilizando o AVA. O teste dessa etapa foi realizado exclusivamente online no AVA, a fim de aprofundar o uso da metodologia. Esse teste foi produzido utilizando o Google Formulários, que fornece feedbacks instantâneos ao aluno, com o recebimento da nota imediatamente após a sua conclusão.

A exposição do quarto conteúdo foi realizada exclusivamente no AVA, utilizando materiais de autoria do professor. As aulas foram ministradas no laboratório de informática da escola. Com o seu término, a aplicação do teste também foi realizada no AVA. Em seguida, a 2ª avaliação diagnóstica também foi aplicada na sua forma online.

Resultados

Considerando que a nota para aprovação é 6,0, percebe-se que a média geral da turma ficou abaixo do esperado, variando entre 4,12 e 4,88 durante toda a primeira parte, que foi realizada no modelo tradicional de ensino, incluindo os modelos de exposição de aulas, os dois testes e a avaliação.

O gráfico da Figura 1 mostra que, a partir do momento em que o AVA Google Classroompassou a ser adotado nas aulas, a média geral salta de 4,88 da avaliação 1 para 6,35 no primeiro teste online. Essa ascensão vai até o final da segunda parte, com média de 7,06 na avaliação 2.

Figura 1: Média geral das notas de Biologia dos estudantes

Um ponto positivo apontado pelos estudantes é a possibilidade de recebimento das notas imediatamente, não precisando esperar que o professor faça as correções. O feedback das atividades é enviado imediatamente após o envio da atividade pelo aluno, fazendo com que ele busque estudar o conteúdo em que teve mais dificuldade e erros.

Quando é analisada a quantidade de discentes com notas abaixo ou acima da média esperada (60%), observa-se claramente que há queda do quantitativo de alunos com notas abaixo da média, na medida em que é adotada a metodologia do AVA Google Classroom, conforme mostra a Figura 2.

No segundo teste escrito ocorreu o aumento de quatro alunos com notas inferiores à média. Esse fato pode ter relação com início da adoção da nova metodologia, em que a exposição das aulas foi realizada com alternância dos ensinos presencial e a distância. A partir desse teste, com o passar do tempo, os alunos ganharam familiaridade com a metodologia, fazendo com que o número de médias baixas sofresse a primeira queda, para 23 estudantes.

O primeiro teste online trouxe resultados bastante positivos, tendo em vista que 76,5% dos alunos ficaram com notas acima da média. No segundo teste online, esse percentual apresentou um novo aumento, chegando a 91% dos discentes com notas acima da média.

Quando se comparam as notas das duas avaliações diagnósticas, o resultado também se mostra muito positivo. Na primeira avaliação, apenas 32% dos alunos tinham notas acima da média; na segunda, esse percentual passou para 88%. Tais resultados demonstram a relevância do uso da sala virtual na turma.

Figura 2: Total de alunos abaixo/acima da média de 60% em Biologia

No final do desenvolvimento das atividades, os discentes foram questionados sobre o uso do AVA Google Classroom durante as aulas e avaliações de Biologia. Para 89% deles, o uso dessa metodologia foi positivo e produtivo; eles consideraram importante que professores de outras disciplinas também implantem tal ferramenta em suas aulas.

Conclusões

A sala virtual implantada com o Google Classroom possibilitou o encontro de alunos e professor em um ambiente virtual de aprendizagem, mesmo sendo o Ensino Médio praticado na modalidade presencial. A ferramenta auxiliou os envolvidos tanto na exposição dos conteúdos quanto nas avaliações didáticas. Nesse ambiente foi possível postar diferentes tipos de materiais produzidos pelo professor, além de incentivar os alunos a produzir materiais extras. Observa-se que as notas e o desempenho acadêmico da turma tiveram consideráveis melhoras.

Assim como aponta as sugestões dos estudantes, faz-se necessário que os professores de outras disciplinas e séries busquem desenvolver metodologias de ensino-aprendizagem semelhantes a essa, com auxílio e mediação das tecnologias digitais de informação e comunicação. A criação e manutenção de uma sala virtual apresenta facilidades para o professor, tornando-o autor de seus materiais, com possibilidade de compartilhar com outros colegas, a fim de obter materiais didáticos específicos para a realidade da turma em que trabalha.

Os resultados foram bastante significativos quanto ao desempenho acadêmico, ao interesse e à curiosidade dos alunos pela Biologia, que foram despertados novamente com essa prática.

Referências

ALFONSO, Carolina Moreira. Práticas inovadoras no ensino de Ciências e Biologia: diversidade na adversidade. Revista Formação e Prática Docente, nº 2, 2019.

ARAÚJO, Helenice Maria Costa et al. O uso das ferramentas do aplicativo Google Sala de Aula no ensino de Matemática. Monografia. Catalão, 2016.

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MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação. Resolução SEE nº 2.842/16. Ensino Médio nas escolas da rede pública estadual de Minas Gerais. Belo Horizonte, 18 de janeiro de 2016. Disponível em: http://www2.educacao.mg.gov.br/images/documentos/2842-16-r.pdf. Acesso em: 31 ago. 2019.

MORAN, José. Educação híbrida: um conceito-chave para a educação, hoje. In: BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (Orgs.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

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SCHIEHL, Edson Pedro; GASPARINI, Isabela. Contribuições do Google Sala de Aula para o ensino híbrido. Renote, v. 14, nº 2, 2016.

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SOUZA, Affonso; SOUZA, Flávia. Uso da plataforma Google Classroom como ferramenta de apoio ao processo de ensino-aprendizagem: Relato de aplicação no ensino médio. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/3315/1/ACSS30112016.pdf. Acesso em: 11 set. 2019.

VELUDO, Marco Antonio Manzan. Google Sala de Aula: aplicado para discentes do Ensino Fundamental de uma escola particular de Uberaba/MG. Dissertação (mestrado). Uberaba, 2018.

Publicado em 18 de fevereiro de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

SILVEIRA, Jader Luís. A sala virtual como ferramenta de ensino e aprendizagem em Biologia. Revista Educação Pública, v. 20, nº 7, 28 de fevereiro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/7/a-sala-virtual-como-ferramenta-de-ensino-e-aprendizagem-em-biologia

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