O ensino de História na perspectiva da Educação Inclusiva: desafios, possibilidades e estratégias para o Ensino Fundamental II

Jennifer Silva Melo

Licenciada em História (UNIRIO), pós-graduanda em Metodologia do Ensino de História e Atendimento Escolar Especializado, professora de Atendimento Educacional Especializado em Itaocara/RJ

A Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva faz parte de um processo histórico de mudanças nas políticas públicas educacionais no âmbito internacional que influenciaram diretamente o contexto brasileiro. Atualmente, uma série de documentos legais desse novo paradigma, a inclusão, tem norteado o sistema educacional do Brasil, perpassando todos os níveis de ensino. Esses documentos tratam não apenas das garantias do aluno com deficiência ao acesso à escola regular e ao atendimento educacional especializado (AAE), como também direcionam a prática docente. Segundo o MEC,

O atendimento educacional especializado - AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. É ofertado no contraturno.

Nesse sentido, tendo como enfoque o ensino de História no segundo segmento do Ensino Fundamental, este trabalho é conduzido com base na fundamentação teórica de Patrícia de Aguiar Oliveira, que, em sua monografia, Métodos e técnicas de ensino na disciplina de História: superando o ensino tradicional, tem como principal objetivo apontar os desafios do ensino de História no Ensino Fundamental II na perspectiva da Educação Inclusiva; observa-se ali a emergência por trazer a inclusão para dentro das salas de aula nas turmas de 6º ao 9º anos, que ainda estão sujeitas às barreiras relacionadas a conteúdos programáticos e despreparo dos docentes na prática com alunos com deficiência. Como ensinar História ao discente que tem deficiência na área motora, visual, auditiva e/ou intelectual? É possível incluir todosno processo de ensino-aprendizagem? Tais questionamentos são abordados nesta pesquisa.

Metodologia

Com uma metodologia bastante dinâmica, a entrevista semiestruturada, foi possível formular questões sobre a experiência profissional da professora entrevistada, suas expectativas com relação à profissão e seus desafios cotidianos no ensino a alunos com deficiência.

A entrevistada é Mariana Christo, professora de História das turmas de 6º, 7º e 9º anos do Colégio Municipal Professor Nildo Caruso Nara, no município de Itaocara/RJ. Essa unidade escolar tem em sua clientela duas alunas com deficiência física.

Resultados e discussão

A partir da entrevista com a professora Mariana Christo foi possível observar que um dos maiores desafios de ensinar História numa perspectiva inclusiva a priori se deve ao desconhecimento teórico e prático: “Eu não sei muito sobre inclusão e como incluir”, afirma a professora ao relatar seu desejo de envolver uma de suas alunas com deficiência física no seu projeto envolvendo pinturas em afresco a partir do tema do Renascimento.

A aluna do 7º ano, que não terá o nome citado, teve sequelas graves de um traumatismo craniano, o que comprometeu toda a parte motora do seu corpo, fazendo uso de cadeira de rodas e necessitando acompanhamento de professora auxiliar para cuidados e transcrição dos conteúdos no caderno e nas avaliações. No dia 7 de julho de 2019, ou seja, após a entrevista, a professora expôs seu projeto sobre o Renascimento e a aluna realizou sem auxílio um autorretrato (Figura 1).

Figura 1: Autorretrato realizado pela aluna da turma de 7º ano com deficiência física que compromete a parte motora dos punhos direito e esquerdo

A professora conta que tem outra aluna com deficiência física, mas que apresenta um quadro de hipóxia cerebral, em que há considerável redução na capacidade de memorização e abstração do conhecimento: “É preciso atenção bastante focalizada durante as explicações, mas a aluna em vários momentos se mostra dispersa”.

Em termos mais gerais, a professora salienta que “o modelo educacional é também um componente que dificulta o trato com esse alunado. Os objetivos e metodologias que usamos, em muitos casos, não dão ao aluno meios para que ele possa se situar como discente da disciplina que ministramos”.

Com base nesses relatos, foram consideradas algumas estratégias metodológicas para o ensino de História que dinamizam a aula e, ao mesmo tempo, incluem os alunos com deficiência no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Oliveira (2013), citando os parâmetros curriculares do Estado do Paraná,

para a construção do conhecimento histórico o professor deve organizar seu trabalho pedagógico baseando-se em fontes históricas diversas como documentos escritos, iconográficos, registros orais, testemunhos de histórias locais, fotografia, cinema, quadrinhos, literatura e informática. Esses materiais são de grande valia na constituição do conhecimento histórico e podem ser aproveitados de diferentes maneiras em aula.

A aula dinâmica torna-se o principal componente metodológico de inclusão. O uso de materiais visuais é um recurso de suma importância para aqueles alunos que possuem comprometimento na área cognitiva e auditiva. Em contrapartida, fontes históricas da cultura material possibilitam o manuseio por parte dos alunos com deficiência visual e registros orais em instrumentos de gravação, como aparelhos celulares, também os ajudam a compreender conceitos e fatos históricos.

Outras possibilidades para uma prática dinâmica e inclusiva nas aulas de História podem ser encontradas no grupo Ensino Dinâmico de História, no Facebook; nele são postadas experiências de professores de todo o Brasil abordando de forma significativa diversos temas da História.

Em suma, é importante não apenas tornar as aulas dinâmicas e atrativas, mas colaborar também por outros meios para incluir os alunos com deficiência no processo educativo. Compreender suas particularidades e limitações, enxergá-los como indivíduos capazes de aprender, incentivar que os colegas da classe não os tratem com preconceito; todas essas atitudes precisam ser postas em prática por cada professor, de História ou não. A busca por capacitação na área da Educação Especial também é de extrema importância. Conhecer as necessidades do corpo discente para garantir um ensino inclusivo é dever de todo educador.

Conclusões

A escola tem o papel fundamental de formar cidadãos capazes de atuar na sociedade no cumprimento de seus direitos e deveres. Nesse processo de formação, cabe aos profissionais da Educação repensar os conceitos que definem a Educação Especial e Inclusiva. Não diferentemente, o professor de História também se torna agente da inclusão na escola, tanto por estar ligado de forma direta a esse processo quanto por ministrar uma disciplina que reflete as questões sociais, políticas e econômicas, por meio das abordagens conceituais e temporais que envolvem cada processo histórico e que, portanto, auxiliam na construção da cidadania de todosos alunos.

Referências

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Especial. Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=428-diretrizes-publicacao&Itemid=30192. Acesso em: 2 jun. 2019.

OLIVEIRA, Patrícia de Aguiar. Métodos e técnicas de ensino na disciplina de História: superando o ensino tradicional. 2013. 55p. Monografia (Especialização), pós-graduação em Educação: Métodos e Técnicas de Ensino, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Medianeira, 2013.

Publicado em 10 de março de 2020

Como citar este artigo (ABNT)

MELO, Jennifer Silva. O ensino de História na perspectiva da Educação Inclusiva: desafios, possibilidades e estratégias para o Ensino Fundamental II. Revista Educação Pública, v. 20, nº 9, 10 de março de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/9/o-ensino-de-historia-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-desafios-possibilidades-e-estrategias-para-o-ensino-fundamental-ii

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