Proposta de uma sequência didática para o ensino de Entomologia

Fabiane Habowski

Mestranda em Ensino de Ciências (PPGEC/UFFS)

Fabiane de Andrade Leite

Doutora em Educação nas Ciências (UFFS)

O processo de ensinar demanda a utilização de estratégias pedagógicas pelo professor, que despertem a atenção e o interesse dos estudantes. Destacamos que, entre muitas metodologias que podem ser exploradas pelo professor, a sequência didática (SD) é um ótimo exemplo que pode ser utilizada em aulas de Biologia. De acordo com Dolz; Schneuwly (2004, p. 97), “uma sequência didática é um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”.

Para Zabala (2010), as relações estabelecidas em uma SD podem favorecer a aprendizagem dos estudantes através da proposição de atividades, podendo ser utilizada como metodologia diferenciada para melhorar a compreensão dos conteúdos, estimulando e motivando os estudantes de forma desafiadora.

No que se refere ao ensino de Ciências e Biologia, Duré, Andrade e Abílio (2018) afirmam que ensinar Biologia envolve do professor e dos estudantes a compreensão de termos complexos e de temáticas que muitas vezes têm difícil entendimento. Muitos dos temas estudados podem ser demasiadamente abstratos para os estudantes. Devido a isso, é importante que o professor utilize metodologias que os estimulem a compreender os conteúdos trabalhados, ao mesmo tempo em que desenvolvem seu pensamento crítico, reflexivo e sua autonomia intelectual.

A construção do processo pedagógico escolar envolve variados tipos de desenvolvimento das atividades, sendo algumas delas consideradas “práticas”. No entanto, para Krasilchik (2012), as aulas práticas associadas às aulas de Biologia, são aquelas que permitem aos alunos o contato direto com os fenômenos, manipulação de materiais e equipamentos e observação de organismos que envolvem experimentação.

Para que tal nível seja alcançado, é necessário que metodologias e práticas de ensino sejam pensadas para ampliar o protagonismo dos estudantes na aprendizagem. Essas metodologias precisam estimular a curiosidade, a criatividade e a habilidade de comunicação dos estudantes. 

Assim, apresentamos neste texto uma proposta de SD com tema central a Entomologia, ou seja, “o estudo dos insetos”, em que serão apresentadas sugestões de atividades que buscam estimular a apropriação do conhecimento científico pelos alunos da Educação Básica. 

Entendemos que a proposta se torna bastante viável e atrativa quando o professor tem a disponibilidade de desenvolver todas as aulas em uma sequência, pois, oportuniza a exploração de um espectro bem mais amplo de Entomologia para a aprendizagem científica. Para tanto, na sequência, apresentamos o contexto com as principais características da classe Insecta, como também o detalhamento da SD e após o processo metodológico realizado.

Classe Insecta: Um panorama sobre sua diversidade e características

A Zoologia é um tema que gera várias possibilidades de interação com outros temas dentro da Biologia como: evolução, adaptação aos ambientes, comportamento animal, interações ecológicas. Muitas vezes, há dificuldades de promover essas relações, e isso acontece pelas poucas preparações dos professores sobre táxons zoológicos e sistemáticas filogenéticas (Santos; Téran, 2009).

A classe Insecta é considerada a mais evoluída do filo Arthropoda, sendo a mais abundante em quantidade de espécies descritas, abrangendo cerca de 70% das espécies de animais no ambiente terrestre. Os insetos são superiores aos vertebrados como os habitantes de maior sucesso do ambiente terrestre. O voo potencializou a distribuição, a exploração de fontes alimentares e de habitats, a fuga de predadores e os processos reprodutivos (Gallo et al., 2002).

Esses organismos desempenham importante papel na natureza, tendo na Entomologia a ciência que os estuda sob todos os aspectos, estabelecendo as relações com os seres humanos, plantas e animais (Gallo et al., 2002). Os insetos são considerados indicadores dos níveis de qualidade ambiental por terem sua grande diversidade de espécies e habitat, além da sua importância nos processos biológicos dos ecossistemas naturais (Thomanzini; Thomanzini, 2002).

Os insetos apresentam um sucesso evolutivo único, trazendo consigo uma série de recordes tais como: habitam o planeta há milhões de anos, são os únicos invertebrados que possuem asas e podem voar, adaptaram-se a quase todos os ambientes, reproduzem-se maciçamente, possuem grande força e resistência física proporcional e várias espécies desenvolveram e mantém organizações sociais complexas (Gullan; Cranston, 2008).

Representantes da classe Insecta, possuem corpo dividido em três segmentos: cabeça, tórax e o abdome. O tórax é o centro locomotor dos insetos, de onde partem os três pares de pernas e as asas, quando presentes. As pernas, na grande maioria das espécies são constituídas de seis segmentos: coxa, trocânter, fêmur, tíbia, tarso e próstarso onde se encontram garras ou unhas; são os principais órgãos de locomoção e apresentam grande variedade de adaptações (Ventura et al., 2004; Gullan; Cranston, 2008).

Cada espécie de insetos é parte de conjunto maior, e sua perda afeta a complexidade e a abundância de outros organismos. Alguns insetos são considerados “espécie-chave” porque a perda de suas funções ecológicas crítica poderiam levar o ecossistema inteiro ao colapso. Os insetos estão intimamente associados à nossa sobrevivência, uma vez que alguns são vetores de doenças que causam danos a nossa saúde e aos animais domésticos (Gullan; Cranston, 2008).

No contexto médico-sanitário, constam muitas publicações com classificação dos mais perigosos insetos aos seres humanos, sendo os mosquitos do gênero Anopheles (diferentes espécies) transmissores da malária, responsáveis pelo maior índice de mortes no âmbito global. O Aedes aegypti, vetor transmissor da dengue, da febre amarela, da chicungunya, foi introduzido no continente americano durante a colonização e tem sido considerado também o transmissor do vírus zika, ao qual se atribui a microcefalia em vários estados do Nordeste brasileiro (Moretto; Rabinovitch, 2016).

Dada a importância dos Artrópodes, o estudo dos insetos mostra-se como uma relevante ferramenta no ensino Biologia, pois a maioria dos conceitos se apresenta de forma abstrata o que leva o docente ao desafio de facilitar sua comunicação com os alunos fazendo com que compreendam e se aproximem dos conceitos propostos (Santos et al., 2009).

Assim, para estruturar a SD com atividades que possam atingir os objetivos, consideramos relevante conhecer a natureza das tipologias dos conteúdos a serem desenvolvidos, conforme Zabala (2010):

  1. Conteúdos conceituais: referem-se “ao conjunto de fatos, objetos ou símbolos que têm características comuns” (p. 42).
  2. Conteúdos procedimentais: são “um conjunto de ações ordenadas com um fim, ou seja, dirigidas para a realização de um objetivo” (p. 44).
  3. Conteúdos atitudinais: são as “atitudes que o aluno toma frente a uma situação-problema” (p. 46).

Desse modo, destacamos que ao longo da proposta de SD aqui apresentada, assumimos que o ensino e a aprendizagem sobre os Insetos deve ser realizado de modo a contribuir para um maior sentido na vida dos alunos, pois segundo Chevallard (1991), a escolha dos conteúdos, as tomadas de decisões e o tratamento necessário para torná-los viáveis em termos de construção de ambientes de ensino-aprendizagem significativos, são tarefas desafiadoras que o professor deve enfrentar na sua prática.

Processo metodológico

Como exemplo de ferramenta pedagógica que proporcione um novo olhar para a organização curricular, com ênfase no ensino pautado em investigação, por meio de condições reais do cotidiano, partindo de problematizações que levem o aluno a confrontar o seu conhecimento prévio com o conhecimento apresentado, levando-o a aprimorar-se de novos significados, podemos referenciar a prática de uma SD (Zabala, 2010).

Assim, as atividades propostas nesta SD podem ser realizadas em sua totalidade ou parcialmente, dependendo da disponibilidade de tempo na grade horária da disciplina de Biologia e da viabilidade dos materiais necessários à execução de algumas dessas atividades. Diante disso, esta SD poderá ser desenvolvida ao longo de até seis aulas, para alunos do 2º ou 3º ano do Ensino Médio dependendo do currículo que cada escola contempla ou quantas forem necessárias para que os objetivos esperados sejam alcançados, bem como a motivação e o interesse dos estudantes em pesquisar sobre insetos e suas relações com o meio ambiente.

Desse modo, para estruturar a SD, descrevemos em cada aula os objetivos propostos, visando atender a fundamentação teórica adotada neste trabalho. Dessa maneira apresentamos no Quadro 1, a estrutura geral da SD com foco nos insetos, com as atividades, objetivos e duração prevista de cada atividade.

Quadro 1: Estrutura geral das atividades da SD

Atividade

Objetivo(s) da atividade

Duração

1: Análise de conhecimentos prévios

Avaliar o conhecimento prévio dos estudantes a respeito dos insetos e  reconhecê-los a partir de sua presença em todos os ambientes e em diversas situações do dia a dia.

1 hora/aula

2: Documentário sobre os Insetos

Caracterizar os insetos quanto a estrutura, nutrição e reprodução, reconhecendo a importância dos insetos para a natureza e humanidade, evidenciando-se os papéis ecológico e econômico que os mesmos têm, como também as espécies que são vetores de muitas doenças, principalmente o Aedes aegypti, vetor transmissor da Dengue, da Febre Amarela, da Chicungunya e do vírus zika.

2 horas/aula

3: Saída de Campo para coleta de insetos

Explorar a diversidade dos insetos e relacioná-las a aspectos sociais e de sustentabilidade e perceber as interações dos insetos com outros seres vivos e o ambiente.

2 horas/aula

4: Atividade experimental: Construção da caixa entomológica

Observar as diferenças anatômicas dos insetos coletados, classificando-os por ordens taxonômicas e organizá-los em uma caixa entomológica.

1 hora/aula

Atividade 1: Insetos – 1ª Aula “Análise de conhecimentos prévios”

Conteúdos: Artrópodes, a Classe Insecta, suas características, ordens, ecologia e importância para os demais seres vivos (o controle biológico, a polinização de plantas, a dispersão de sementes e a fabricação do néctar e também como vetores de doenças).

Objetivo geral: Avaliar o conhecimento prévio dos estudantes a respeito dos insetos e reconhecê-los a partir de sua presença em todos os ambientes e em diversas situações do dia a dia.

Procedimentos de ensino: Aula expositiva dialogada, abordando o conteúdo sobre os Artrópodes, a classe Insecta.

Diante disso, a proposição inicial é de que o professor inicie provocações e questionamentos para averiguar os conhecimentos prévios dos estudantes a respeito dos Artrópodes, a Classe Insecta, por meio de debates em grupo. Para isso, o professor pode mediar um diálogo incitando os estudantes a explorarem sobre os insetos a partir de perguntas como:

  1. Você sabe o que são os Artrópodes?
  2. Já viu algum tipo de inseto? Sabe qual é o nome dele?
  3. Onde você já encontrou ou viu os insetos?
  4. Os insetos são nocivos ou são benéficos para nós?

Durante as discussões, é importante que o professor complemente os argumentos, direcionando o debate e comente alguns conceitos sobre o filo dos Artrópodes, em especial a classe Insecta, com a utilização, por exemplo, de um texto com as informações e explore mais sobre suas características, como número de patas, presença ou ausência de asas, divisão do corpo, reprodução e as ordens. O foco dessa atividade deve ser a investigação sobre as características dos insetos em relação aos outros grupos pertencentes ao filo dos Artrópodes.

Recursos e materiais: Caderno ou bloco de notas para anotações.

Procedimentos de avaliação: Participação nas discussões e debates em grupo.

Atividade 2: Insetos – 2ª e 3ª Aulas - Documentário sobre os insetos

Conteúdos: Características gerais dos Artrópodes, da classe Insecta, como estrutura, nutrição, reprodução e papel tecnológico, ecológico, econômico e social dos insetos.

Objetivo geral: Caracterizar os insetos quanto a estrutura, nutrição e reprodução, reconhecendo a importância dos insetos para a natureza e humanidade, evidenciando-se os papéis ecológico e econômico que os mesmos têm, como também as espécies que são vetores de muitas doenças, como o Aedes aegypti, vetor transmissor da dengue, da febre amarela, da chicungunya e do vírus zika.

Procedimentos de ensino: Documentário sobre os Insetos.

Sugere-se uma discussão no grande grupo sobre o documentário assistido. Para isso, o professor pode mediar um diálogo incitando os estudantes a relatarem o que aprenderam sobre os insetos nesta atividade.

Recursos e materiais: Documentário sobre os Insetos.

Procedimentos de avaliação: Participação nas discussões sobre o documentário e debates em grupo.

Atividade 3: Insetos – 4ª e 5ª Aulas – Saída de campo para coleta de insetos

Conteúdos: Tipos de insetos e a inter-relação com o meio ambiente.

Objetivo geral: Explorar a diversidade dos insetos e relacioná-las a aspectos sociais e de sustentabilidade e perceber as interações dos insetos com outros seres vivos e o ambiente.

Procedimentos de ensino: A proposta desta aula é fazer uma saída de campo com os estudantes para visualização e coleta dos insetos encontrados no ambiente. Esse momento de busca e observação tem a intenção de despertar a curiosidade dos estudantes para encontrar espécies de insetos e ampliar a compreensão dos conceitos sobre os mesmos e sua interação com a natureza e todo o mundo vivo. A saída de campo poderá ocorrer nos jardins da escola, em um parque, jardim botânico ou qualquer outro espaço natural que possam abrigar os insetos.

Caso essa atividade seja realizada fora dos espaços da escola, é imprescindível que todos os estudantes tenham uma autorização para passeio individual e devidamente assinada por seus responsáveis, como também as equipes pedagógica e diretiva da instituição devem autorizar e consentir a saída a campo dos estudantes.

Os estudantes podem ser orientados a formarem grupos de três a seis participantes para procurar os insetos e coletá-los. É importante que os estudantes despertem aqui a curiosidade e seu potencial de investigação na busca aos seres vivos em estudo.

Recursos e materiais: Luvas grossas, sapato fechado (tênis, bota), calça comprida de tecido mais grosso, boné, repelente, pinças, frascos de vidro ou acrílico, caixa de papelão, isopor, bem como todo material para a coleta dos insetos de interesse.

*Matança de insetos: Sugere-se que os insetos sejam colocados no álcool 70%, aí permanecendo. Entretanto, nem todos os insetos podem ser mortos através desse método, que deve ser utilizado exclusivamente para insetos pequenos, de corpo mole ou delicado. 

Procedimentos de Avaliação: Seminário de socialização sobre os tipos de insetos encontrados.

Atividade 4: Insetos – 6ª Aula – Atividade experimental: Construção da Caixa Entomológica

Conteúdos: Características anatômicas e as ordens dos insetos.

Objetivo geral: Observar as diferenças anatômicas dos insetos coletados, classificando-os por ordens taxonômicas e organizá-los em uma Caixa Entomológica.

Procedimentos de ensino: Os insetos coletados devem ser montados o mais rapidamente possível, para evitar que seus apêndices e outras partes do corpo endureçam na posição errada. A montagem pode ser feita com alfinetes entomológicos. Existem algumas regrinhas gerais a serem observadas ao montar seus insetos: o inseto deve ser espetado em posição rigorosamente perpendicular ao alfinete; os apêndices como antenas e pernas devem ficar em posição simétrica; as antenas, quando longas, devem ser voltadas para trás e circundar o inseto, e o inseto deve ser espetado em posição rigorosamente perpendicular ao alfinete.

Figura 1: Sugestão de Caixa Entomológica, evidenciando espécies de insetos de várias ordens

Fonte: Rony Peterson S. Almeida (Graduando em Ciências Biológicas - UFS). Disponível em https://sites.google.com/site/busaobiologicas/caixa-entomologica.

Recursos e materiais: Insetos, alfinetes, álcool, luvas, pinças, caixa de papel duro ou de madeira com vidro, 1 comprimido de naftalina, isopor e etiquetas.

Procedimentos de avaliação: Exposição da caixa entomológica (sugere-se que, após estudos, os estudantes sejam divididos em dois grupos, por sorteio para que um exponha as características gerais e importância dos insetos, e o outro grupo exponha a classificação deles). A exposição pode ser para outras turmas também.

Nessa perspectiva, inferimos sobre as reflexões realizadas durante o percurso de elaboração desta SD que se torna muita atrativa e com excelente aprendizado, quando se utilizam diversos aspectos metodológicos. Isso permite aos alunos compreenderem a relevância dos insetos no ambiente podendo atentar para a sua identificação e caracterização morfológica e para a conservação de suas espécies.

Análise e discussão da sequência didática

Buscando um alinhamento para a compreensão proposta nesta SD, destacamos quatro atividades. Na atividade 1, torna-se importante analisar os conhecimentos prévios dos alunos nas aulas de Biologia sobre os Insetos, com perguntas e provocações pedagógicas. Como discorre Baptista (2010), a diversidade cultural presente na sala de aula torna-se um excelente instrumento para promover um diálogo entre os conhecimentos científicos e o conhecimento que os alunos possuem de suas experiências do cotidiano, podendo assim favorecer a compreensão dos conteúdos científicos, na medida em que há relações de semelhanças e/ou diferenças entre estes diferentes conhecimentos.

Na atividade 2, propomos um documentário sobre os Insetos, ao qual destacamos, ainda, a importância de oportunizar momentos para o debate coletivo, para o fortalecimento de diálogos e reflexões sobre a temática em estudo, conforme menciona Kuhn (1993), a criação de um espaço na sala de aula que promova a argumentação dos alunos para compreendermos como se dá o processo da apropriação do conhecimento científico, além de permitir, aos professores, reconhecer as potencialidades e limitações que os alunos apresentam.

Na atividade 3, foi proposta uma saída de campo para coleta de insetos; podemos considerar que toda atividade diferenciada é uma ferramenta ideal para a aprendizagem, aproximando os alunos do conhecimento científico; conforme discorre Rosito (2008), atividades práticas não devem ser desvinculadas de aulas teóricas, discussões em grupos e outras formas de aprender. A teoria e a prática formam uma unidade fundamental a aprendizagem dos discentes, promovendo a discussão e debates em sala de aula.

Em relação à atividade 4, propusemos a construção de uma caixa entomológica, material este que poderá ser disponibilizado para estudos futuros, pois consideramos que para que ocorra uma aprendizagem significativa, toda atividade diferenciada que promova a construção de um produto final, deve ser socializada com os pares, principalmente quando envolve a ciência, conforme menciona Júnior (2013), é importante que os professores discutam com seus alunos como se dá o conhecimento científico, que tragam reflexões acerca da natureza da ciência, esclarecer a ideia de cientista isolado de um contexto social, mostrando que a ciência é feita por interesses de uma determinada realidade, sendo influenciada pela cultura da época.

Dessa forma, destacamos que a SD se configura como “um procedimento simples que prescinde de um planejamento para delimitação de cada etapa” trabalhando “os conteúdos disciplinares de forma integrada” objetivando “uma melhor dinâmica no processo ensino- aprendizagem”(Oliveira, 2013, p. 39). E que, além de melhorar a assimilação do conhecimento pelos alunos, a SD proporciona também ao docente que tem fragilidade em algum conhecimento de sua área, poder ter a oportunidade de adquiri-lo enquanto se prepara para ministrar tal tema. Almeja-se que, com a elaboração de uma SD, um paradigma ultrapassado seja quebrado: que é quando um professor somente reproduz um conhecimento aos alunos (Kobashigawa et al., 2008).

Considerações finais

Apresentamos neste texto uma proposta de SD, visando contribuir para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem acerca dos insetos e de suas relações com a natureza e a humanidade, com o uso de saídas de campo e atividades experimentais no ensino de Biologia. Podem ser realizadas em sala de aula, no pátio da escola e, se a escola dispuser, no Laboratório de Ciências. Todas das atividades podem ser adaptadas ou modificadas conforme a necessidade do professor. 

No Ensino Médio, os assuntos referentes à Zoologia são trabalhados normalmente com os alunos dos terceiros anos, por isso é necessário apostar em pesquisas e metodologias diferenciadas, que possam apresentar um melhor aprendizado, tendo na SD uma excelente opção. Tal proposição está de acordo com Freire (2009), quando afirma que ensinar exige pesquisa, e não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino, pois esses fazeres encontram-se um no corpo do outro.

Levando em conta a realidade do ensino de Biologia, especialmente de Entomologia, o professor deve valorizar o conhecimento prévio, disponibilizar ferramentas que permitam a participação do aluno como protagonista através da contextualização do conhecimento científico, tornando-se mediador de uma aprendizagem significativa que formará alunos conscientes do que aprenderam e do seu papel na vida em sociedade.

Percebemos, assim, a importância de utilizar diferentes estratégias no ensino, para auxiliar no processo de aprendizagem mais eficaz. As SD podem ser apontadas como um desses métodos que busca desencadear a construção de um conhecimento significativo, valorizando as vivências dos alunos e opiniões durante todo processo de ensino e aprendizagem.

Referências

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Publicado em 23 de março de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

HABOWSKI, Fabiane; LEITE, Fabiane de Andrade. Proposta de uma sequência didática para o ensino de Entomologia. Revista Educação Pública, v. 21, nº 10, 23 de março de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/10/proposta-de-uma-sequencia-didatica-para-o-ensino-de-entomologia

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