A importância e os desafios do método ABA para a inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino
Vanderson de Sousa Silva
Mestrando em Educação (UNIRIO)
Rosilene Costa de Almeida
Graduada em Pedagogia (UNIRIO)
A inclusão de alunos com autismo já conquistou avanços ao longo dos tempos, porém, ainda há muito o que se pensar para que esse processo possa de fato ocorrer e como as escolas de rede regular de ensino podem contribuir de maneira significativa, tendo em vista o desenvolvimento integral dos alunos com autismo, assim como sua atuação com maior autonomia no meio social em que vive. Dessa forma, a presente pesquisa busca apresentar, investigar, compreender e refletir sobre a aplicação método de Análise Comportamental Aplicada (ABA), e suas contribuições para o processo de inclusão da criança com autismo.
Sabemos que o processo de inclusão envolve muitas demandas uma vez que cada aluno deve ser atendido de acordo com suas particularidades e necessidades. Porém, nem sempre os envolvidos no processo sabem como fazer com que esse processo de inclusão possa acontecer de fato, sem deixar de atender a criança na sua integralidade.
Por isso, este trabalho visa atender os objetivos de analisar a importância e os desafios da utilização do método ABA na inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino e ainda, compreender a utilização deste método e seus processos de desenvolvimento e definir a origem e o conceito do termo autista através da metodologia de pesquisa bibliográfica por meio da investigação, análise e reflexões das ideias e estudos de diferentes autores sendo, Lear (2004), Hewitt (2006), Mello (2007), Schwartzman (2003), Bosa (2006), Almeida (1997), Zilmer (2003), Anderson (2007), Windholz (2002), Meyer (2003) e Miltenberger (2001).
Origem e conceito do termo autista
Para melhor compreensão da temática abordada, torna-se essencial entender a origem do termo autismo. Dessa forma, cabe enfatizar que este trabalho tem como metodologia a pesquisa bibliográfica por meio de revisão de literatura de livros impressos digitais, documentos oficiais, revistas e também, artigos científicos buscando analisar a importância dos desafios da utilização da metodologia ABA no processo de inclusão dos alunos autistas na rede regular de ensino e ainda, definir e refletir o conceito da terminologia autista.
Assim, Hewitt (2006) mostra que o termo autismo foi mencionado e descrito pela primeira vez pelo médico austríaco Léo Kanner em 1943, no artigo denominado Distúrbios Autísticos no Contato Afetivo, realizado a partir do estudo de um grupo de onze crianças com comportamentos diferentes das outras que, mesmo com aparência física normal, demonstravam um quadro de isolamento extremo, obsessão por preservação das coisas que os cercava e também por determinados objetos em especial, mutismo ou linguagem sem intenção de se comunicar, hipersensibilidade a estímulos e ótima memória.
De acordo com Mello (2007), houve outro médico austríaco, Hans Asperger, que em 1944 escreveu um artigo de título Psicopatologia Autística na Infância com descrições semelhantes às de Kanner, porém com nível de linguagem e cognição pouco mais avançado que o grupo de crianças descritas por Kanner, denominado mais tarde como Síndrome de Asperger. Porém, cabe dizer que o artigo de Asperger levou muitos anos para ser divulgado, ao contrário do escrito de Kanner, que foi amplamente lido; o motivo mais comumente para o pouco conhecimento desse artigo seria o fato de ter sido escrito em alemão (Mello, 2007).
A conceituação da terminologia “autista” é muito complexa, pois há diferentes aspectos que norteiam uma pessoa nessa condição que irão definir o seu grau de autismo. Mello (2007) define autismo como
um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento humano como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação (Mello, 2007, p. 16).
Dessa forma, o autismo é uma síndrome do comportamento que tem como características alguns distúrbios do desenvolvimento. Características essas que interferem nas disfunções das capacidades sociais, linguísticas e também físicas, influenciando principalmente nas áreas de comunicação, interação social e no aprendizado, assim como na capacidade de adaptação, como citou Mello (2007). Porém, é de suma importância destacar que o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição, no ano de 2013 (DSM-V) define que o autismo é apenas um dos transtornos que englobam o quadro do termo definido pelo referido manual, Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Com isso, o DSM-V ressalta que o transtorno do Espectro Autista pode ter variações que envolvem a intensidade dos sintomas. Assim, os exemplos de transtornos que também fazem parte do espectro, mas que antes do DSM-V eram classificados com diagnósticos distintos, são a síndrome de Asperger, já citada, e o transtorno global do desenvolvimento. Ademais, torna-se importante salientar que as causas do autismo ainda são desconhecidas. Acredita-se que podem ser problemas associados a fatos durante a gestação ou parto, anormalidades de alguma parte específica do cérebro que ainda não foi definida de maneira conclusiva ou por origem genética (Mello, 2007). Mello (2007) afirma mesmo que o autismo pode ser percebido desde os primeiros dias de vida, ainda que a maioria dos pais informem que a criança tenha passado por uma etapa de normalidade antes de se perceber os sintomas propriamente ditos.
Quanto a isso, é comum os pais começarem a perceber sobre algum comprometimento da criança quando ainda é bebê, ao perceber sono intenso, calma excessiva, rejeição a colo ou choro prolongado sem que se consiga consolar. Com os primeiros anos de vida, percebem que a criança não atende a simples comandos, não demonstram sentimentos e nenhuma sensação, não imitam gestos ou sons como é de costume das crianças nos primeiros anos de vida. E ainda,
essas crianças não procuram o contato ocular ou o mantêm por um período de tempo muito curto. É comum o aparecimento de estereotipias, que podem ser movimentos repetitivos com as mãos ou com o corpo, a fixação do olhar nas mãos por períodos longos e hábitos como o de morder-se, morder as roupas ou puxar os cabelos (Mello, 2007, p. 18-19).
Segundo Schwartzman (2003), o autismo tem uma condição crônica, visto que independe do tempo e tem como característica principal a presença de prejuízos nas áreas de desenvolvimento e, por isso, ainda pondera que o tratamento deve acontecer de maneira continuada, envolvendo especialmente uma equipe multidisciplinar para que sejam atendidas todas as áreas de desenvolvimento da criança. Contudo, atualmente existem diferentes maneiras de acompanhamento e de tratamento que podem auxiliar na melhor maneira de desenvolvimento dessa criança. Os especialistas, em sua maioria, defendem que o tratamento deve começar o quanto antes para que melhor sejam os efeitos dos estímulos. Destacam que os atendimentos devem ser adaptados de acordo com as necessidades e individualidade de cada criança (Bosa, 2006).
Importância e os desafios do método ABA na inclusão de alunos autistas
Para destacar a importância e os desafios da utilização do método ABA no processo de inclusão do aluno autista na rede regular de ensino, inicialmente, é preciso enfatizar algumas situações considerando esse processo de inclusão. Primeiramente cabe dizer que a Constituição da República, de 1988, institui a educação como um direito essencial e que o Estado deve assegurar a efetivação da sua prestação e também universalização, que fica evidente nos Arts. 205 a 208 da Carta Magna, que definem as questões fundamentais desse direito.
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...]
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (Brasil, 1988).
Assim, constitucionalmente, a Educação Especial, como abordada antigamente, foi garantida às pessoas com qualquer deficiência; a igualdade de oportunidade e acesso à educação.
Cabe destacar ainda que o Art. 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece que
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. (Revogado)
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do Art. 4º e o parágrafo único do Art. 60 desta Lei (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018) (Brasil, 1996).
Desta forma, fica claro que a lei atua em favor de todos, em suas necessidades, garantindo-lhes serviços de apoio especializado para que a inclusão possa ocorrer de fato. Assim, pode-se destacar também um importante documento que garantiu ainda mais conquistas para a Educação Inclusiva, a Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). A partir dessa declaração, os sistemas de ensino começaram a garantir o direito universal à educação e, ainda, a igualdade do acesso. Ou seja,
as escolas inclusivas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades (Unesco, 1994, p. 21).
Com esse modelo de escola inclusiva, passaram a ser analisados e admitidos processos de intervenção que propiciaram a educação de qualidade para todos. Assim, passou-se a assumir as diversidades como algo natural o que é essencial para a mudança de atitudes para se obter uma sociedade mais inclusiva.
Sabemos que a criança autista tem suas singularidades e necessidades diferenciadas, com isso, a inclusão desses alunos deve considerar que uma grande dificuldade no cotidiano do deficiente se dá quando inicia sua relação no meio social, melhor dizendo, a sua vida escolar.
Segundo Almeida (1997), o ser humano já nasce programado para criar as suas vinculações sociais, porém, destaca que o desenvolvimento social só acontece na continuidade e no encadeamento das interações, sejam elas em qualquer estágio da vida. Afirma ainda que o percurso individual não é definido apenas pelos elementos genéticos e nem exclusivamente nos primeiros anos de vida, muito embora esse momento seja importante para o desenvolvimento.
Almeida (1997) continua sua afirmação esclarecendo que o desenvolvimento social é determinado principalmente pelas transformações biológicas esperadas, por meio das condições do meio que envolve a criança, ainda pelas convivências sociais que a circundam, e o desenvolvimento cognitivo da criança dentre outros. Ou seja, com intervenção é possível reduzir as dificuldades que caracterizam qualquer síndrome e a realização dessa intervenção é possível também na rede regular de ensino. Desse modo, pode-se dizer que possibilitar às crianças com autismo oportunidades de estar e conviver com outras com a mesma idade na escola, propicia o estímulo às suas habilidades de interação, o que pode minimizar o isolamento regular.
Além do mais, as capacidades sociais também são passíveis de serem conquistadas pelas influências e trocas que ocorrem na aprendizagem que se dá em convivência com o outro, o que pode ser possibilitado pela sua inclusão na rede regular. Mas cabe reforçar que para que isso ocorra é necessário que tanto os professores quanto os demais envolvidos neste processo de inclusão escolar devem buscar compreender e respeitar as singularidades de cada um.
Com efeito, diante de um processo de inclusão na rede regular de ensino, mesmo de crianças com que deficiências cognitivas acentuadas e grandes dificuldades em assimilação de conteúdos curriculares da educação comum, a criança pode se favorecer das experiências coletivas. O aprendizado de atitudes cotidianas, mesmo que simples, podem possibilitar que as crianças autistas se tornem mais autônomas, facilitando a possibilidade de conquistar seu lugar no ambiente em que vive.
Outrossim, na medida em que vai se dando o desenvolvimento da criança, de sua autonomia propriamente dita e de suas relações com o outro, as possibilidades de se apresentarem outros conteúdos mais formais vai aos poucos se tornando possível (Zilmer, 2003). Assim, mesmo com suas limitações, é concebível que a criança com autismo possa aprender maneiras para se incluir em seu meio social. Logo, por meio de intervenções intensivas do comportamento, realizadas de maneira a atender às necessidades e individualidades da criança, é possível o desenvolvimento cada vez mais produtivo e significativo da criança autista (Zilmer, 2003).
Portanto, tendo em vista as dificuldades particulares da criança autista, percebe-se que a escola deve-se atentar a necessidade de uma intervenção que atenda às necessidades individuais desse aluno. Nesse contexto, será abordada a metodologia ABA, que vem sendo utilizada como modelo de intervenção eficaz no comportamento do autista que diante inúmeros benefícios, contribui para resultados positivos e proveitosos quanto ao desenvolvimento tanto pedagógico quanto cognitivo da pessoa com autismo.
A propósito, ABA (Applied Behavior Analysis, Análise Comportamental Aplicada) é um termo que tem origem no campo científico do Behaviorismo que trata de observar, analisar e também de explicar o vínculo entre a aprendizagem, o comportamento e o ambiente (Lear, 2004). Com efeito, após a análise de um comportamento, é possível que um plano de ação seja realizado em busca de modificar determinado comportamento.
A saber, a ABA significa, portanto, a prática, a análise do comportamento que consiste na execução de métodos de análises comportamentais e de dados científicos objetivando modificar o comportamento e tem sido extensivamente utilizada na assistência a pessoas com autismo (Lear, 2004).O acompanhamento do autista com a aplicação do método ABA demanda o ensino individualizado e intensivo das competências essenciais para que a pessoa possa se tornar independente conquistando assim, cada vez mais, uma melhor qualidade de vida (Lear, 2004). Desse modo, as habilidades trabalhadas envolvem os comportamentos sociais, a comunicação funcional e o estabelecimento de contato visual. Ainda, engloba as práticas acadêmicas em especial a leitura, escrita, matemática e a higiene pessoal. Além disso, o tratamento comportamental inclui a redução de comportamentos como agressões verbais e não verbais, fugas, as estereotipias e autolesões tendo em vista que esses comportamentos influem não somente na integração do autista, mas no seu desenvolvimento (Anderson, 2007).
Assim, a metodologia ABA
é o uso científico dos princípios da abordagem comportamental para desenvolver, manter e aumentar comportamentos desejados e diminuir comportamentos indesejados. Envolvendo uma serie de diferentes estratégias, que podem ser utilizadas em variadas situações para modificar ou ensinar novos comportamentos (Anderson, 2007, p. 10).
As experiências que deram origem a essa terapia do comportamento apresentaram benefícios relevantes ao clínico, pois envolve o treinamento da observação das condutas verbais e não verbais não somente no consultório, mas em casa e também na escola reunindo assim, dados relevantes para toda a conjuntura do tratamento. Dessa forma, pode-se dizer que o método ABA estuda a influência que o meio desempenha e verifica as possíveis hipóteses e interferências desse no comportamento da criança autista. Outra competência é o entendimento daquilo que é verificado como um procedimento comportamental, com constantes interações e com isso, a possível conquista de mudanças (Windholz, 2002).
De acordo com Windholz (2002), há uma relação contínua entre o terapeuta e o educador, dado que, para aquele que analisa o comportamento, ser terapeuta é o mesmo que agir como o próprio educador, já que envolve procedimentos estruturados do processo de ensino aprendizagem, e até pode-se dizer de uma reaprendizagem. Segundo Meyer (2003), um dos fundamentos primordiais da metodologia ABA é que o comportamento é definido por alguma ação que pode ser verificada e contada sempre com uma regularidade e duração. O autor defende ainda que o comportamento pode ser esclarecido através da busca em compreender e identificar o que aconteceu anteriormente e suas consequências. Logo, entende-se que se trata de identificar as relações entre os acontecimentos do seu meio e as reações do seu organismo.
Após essas verificações, análises e observações, os comportamentos serão motivados de maneira mais agradável possível. Ou seja, tem uma função exclusiva de ajudar a conseguir o que quer. Sabe-se que o comportamento em geral, é algo aprendido, mas não quer dizer que alguém nos ensinou determinado comportamento, mas, sim, aprendemos que através deles podemos conseguir o que se deseja. Em suma, pode-se afirmar que o método ABA consegue intencionalmente ensinar o autista a apresentar comportamentos mais pertinentes no lugar do comportamento que, pode-se dizer, vem sendo negativo. Por esse motivo, Lear (2004) nos expõe que nessa mudança de paradigmas comportamentais, é necessário, após análise e investigação da origem de determinado comportamento, seguir os objetivos de intervenção da metodologia em questão que envolvem trabalhar os déficits, diminuir maus comportamentos, desenvolver habilidades e promover a interação social.
No entanto, para a realização desses objetivos é necessário frisar que o processo de avaliação comportamental é extremamente necessário para identificar e compreender alguns aspectos da criança autista e sua relação com o ambiente. Para que isso ocorra, deve-se buscar perceber o repertório de comunicação da criança, seu relacionamento com o ambiente, qual a função dos seus comportamentos, por que tais comportamentos ocorrem ou não, quais as consequências desses comportamentos (Lear, 2004).
Nessa perspectiva, para melhor entender o desenvolvimento desse processo realizado no ABA, devemos saber que
um programa de ABA frequentemente começa em casa, quando a criança é muito pequena. A intervenção precoce é importante, mas esse tipo de técnica também pode beneficiar crianças maiores e adultos. A metodologia, técnicas e currículo do programa também podem ser aplicados na escola. A sessão de ABA normalmente é individual, em situação de um-para-um, e a maioria das intervenções precoces seguem uma agenda de ensino em período integral – algo entre 30 a 40 horas semanais (Lear, 2004, p. 11).
Assim, vê-se que é importante poder ser aplicado tanto em casa quanto na escola, e que normalmente é realizado de forma individual, como descrito na citação: um-para-um. Ainda cabe enfatizar que
o programa é não aversivo – rejeita punições, concentrando-se na premiação do comportamento desejado. O currículo a ser efetivamente seguido depende de cada criança em particular, mas geralmente é amplo; cobrindo as habilidades acadêmicas, de linguagem, sociais, de cuidados pessoais, motoras e de brincar. O intenso envolvimento da família no programa é uma grande contribuição para o seu sucesso (Lear, 2004, p. 11).
Após a seleção desses programas, logo devem ser estabelecidos de exatamente quais instruções oferecer, a forma como será apresentada os materiais e qual tipo de resposta será satisfatória. Porém, ainda cabe destacar que, quanto ao currículo, Lear (2004) esclarece que é importante a sua divisão em uma série de programas de maneira gradativa, podendo envolver
habilidades de cuidados pessoais, habilidades sociais, habilidades de linguagem, habilidades acadêmicas etc., organizadas em níveis de dificuldade, de maneira que você comece com habilidades básicas, muito simples, e depois as use para desenvolver as mais complexas (Lear, 2004, p. 16).
Assim como Lear (2004), Windholz (1995) nos ajuda a entender a estrutura desse tratamento que, por sinal, é dividido em quatro etapas. A primeira etapa trata da avaliação comportamental que procura identificar os fatores que influem o comportamento que se quer atingir, mas é importante conhecer os aspectos sociais e biológicos em que o autista está inserido; a segunda fase é o momento em que se selecionam as metas e os objetivos que se quer atingir considerando desenvolver a comunicação e também fazer com que o comportamento em seu ambiente social seja mais aceitável. Para essa segunda fase é importante destacar que os objetivos devem estar relacionados à generalização e à funcionalidade desses comportamentos que serão aprendidos levando em conta a adequação à faixa etária. Cabe dizer que as habilidades a serem estimuladas são realizadas em partes com apoio de reforçadores que podem, aos poucos, ser descartados.
A terceira fase é a elaboração de programas de tratamento em que serão estabelecidos os comportamentos a ser ensinado assim como, a forma em que será realizado. Para isso, são necessários procedimentos claros, um reforçador sistemático e eficiente e a averiguação por dados do que o autista já aprendeu, sendo fundamental registrar e, ainda, mensurar o desenvolvimento do programa para se possa apurar todo o procedimento e os avanços ocorridos na aprendizagem.
Por fim, a quarta etapa trata da intervenção propriamente dita, do seu planejamento considerando que as crianças autistas apresentam dificuldades no aprendizado por isso; esse processo deve ser elaborado de maneira cautelosa (Windholz, 1995).
Quanto aos reforçadores, é essencial compreender que é um procedimento em que o comportamento é confortado ou fortalecido quando se tem uma consequência, uma resposta imediata que precisamente segue a esta ocorrência, pois quando o comportamento é confortado, torna-se provável que possa acontecer novamente (Miltenberger, 2001). Segundo Lear (2004), temos que nos atentar para os efeitos do comportamento que podem ser positivos, mas também podem ser negativos. Assim, o “Reforçador Positivo (S R+) é a adição de alguma coisa que resulta no fortalecimento do comportamento”, ou seja, é a descoberta do que é agradável para despertar o comportamento que se deseja alcançar. Por seu lado, o “Reforçador Negativo (S R–) é a remoção de alguma coisa desagradável que resulta no fortalecimento de um comportamento. Ele é também chamado de ‘aversivo’” (Lear, 2004, p. 32). Dessa forma,
quando as consequências são positivas são chamadas de reforçadoras, porque tendem a reforçar o comportamento que seguem. Quando as consequências são negativas, são chamadas de punição. Ao usar ABA para ensinar crianças com autismo, usamos apenas consequências positivas, ou reforçadoras (Lear, 2004, p. 31).
Inclusive, para auxiliar ainda mais esse processo de aprendizagem, costuma-se utilizar os chamados níveis de dicas. Para isso, é importante saber que
uma dica é um estímulo extra que ajudará o comportamento desejado a ocorrer sob o estímulo correto. A meta é usar o menor nível possível de dica necessário para conseguir o efeito desejado e então esvanecer (remover gradualmente) as dicas o mais rapidamente possível, de maneira que a criança possa fazer tudo sozinha (Lear, 2004, p. 65).
Assim, ao iniciar os procedimentos de intervenção, a criança é auxiliada com dicas indispensáveis. Essas dicas podem ser de resposta que compreende o comportamento da pessoa que a auxilia e dicas de estímulo que se referem a alguma atitude que irá fazer com que o estímulo seja possível de ser escolhido. As dicas de respostas podem ser verbais, gestuais, de modelação e física. Já as dicas de estímulo são dica intraestímulo, quando se altera algo do estímulo para chamar a atenção, e dica extraestímulo algo que é adicionado ao estímulo para auxiliar a resposta correta por parte da criança (Lear, 2004).
Cabe enfatizar que, durante o processo do ABA, deve-se pensar em tornar o ambiente de aprendizagem reforçador. Para isso, de acordo com Lear (2004), deve-se ter como início o “pareamento”, que é o tempo investido em apenas ficar com a criança e pareando com os reforçadores ou seja, deve-se estar com a criança e dar a ela o que ela gosta o que a atrai. Após esse momento, deve-se estabelecer uma relação de atrativo, de maneira que, ao entrar no espaço em que ocorrerá o processo, a criança encontre algo que a atraia para a mesa que irá ficar. Nesse momento, é importante que se gaste um tempo brincando com a criança, a fim de criar vínculo e conseguir parear através do reforçador. Ainda é importante tornar o ambiente divertido; por isso,
não consulte seu relógio e anuncie para a criança que o tempo de brincar acabou e que agora é hora de trabalhar. Seu papel é fazer do trabalho o mais divertido possível. É trabalho para você, mas não deve ser percebido como tal para a criança. Não tenha medo de parecer ridículo, fazer barulho, cantar, dançar, sujar-se e rolar pelo chão. Não tem problema manter a massinha na mesa enquanto você começa a trabalhar no programa. Você pode lhe mostrar algumas figuras e pedir-lhe para tateá-las enquanto brinca. Talvez você possa incorporar a massinha no trabalho para conseguir uma transição suave. […] A criança terá menos vontade de escapar da situação de ensino se ela for divertida e reforçadora (Lear, 2004, p. 106).
Observa-se que esse momento anterior ao momento de aprendizado propriamente dito, é de suma importância para o desenvolvimento de tudo o que irá ocorrer posteriormente. Assim, é essencial se atentar ainda para a quantidade de atividades por isso, deve-se iniciar com um número reduzido de tentativas para cada programa aplicado e assim, vai aumentando aos poucos. É importante ainda que no início as sessões sejam mais curtas, e gradativamente podem ir aumentando esse tempo, passando a sessões mais longas – isso dependerá muito da capacidade e do envolvimento da criança. Por isso, é necessário a reflexão a respeito do tempo de concentração dessa criança.
Dessa forma, pode-se observar que a preparação do ambiente é muito importante para todo o processo, pois durante a realização o mesmo não se deve haver interrupções ou algo que possa distrair a atenção da criança. Lear (2004) diz que esse ambiente deve conter: uma cadeira para o aluno e outra a pessoa que irá acompanhá-la e uma mesa de tamanho próprio para a criança; os materiais de ensino, ou os estímulos; não se pode esquecer dos cartões de dicas para o professor ou a pessoa que estará acompanhando o processo e os reforçadores que devem estar disponíveis em recipiente em que a criança possa alcançar com os olhos.
Caso seja o dia de realizar as sondagens todo o material, canetas e fichas, já devem estar em mãos. Pode ser utilizado o aparelho de TV/DVD se estiver no planejamento, desde que sejam preparados anteriormente para que não ocorram distrações. Para a realização de todos os procedimentos é necessário o uso de cartões de dicas. Para o uso desses cartões de dicas, é necessário que a pessoa que os estarão manuseando encontre uma forma de movimentar-se facilmente e rapidamente durante o uso sem causar distração à criança autista.
Tais possibilidades de aprendizagem são e devem ser repetidas por diversas vezes até que a criança autista apresente a assimilação da habilidade sem erro em diferentes situações. Nessa perspectiva, é fundamental salientar que o ABA é um programa que possibilita de forma abrangente a intervenção no desenvolvimento da criança com autismo frente as mudanças de comportamento. Porém, para o sucesso do programa, deve-se destacar que é fundamental a participação de toda a família no processo tendo em vista que garante a generalização e o aperfeiçoamento das habilidades que serão estimuladas na criança.
Contudo, pode-se afirmar que essa metodologia ABA tende a promover a qualidade de vida da criança com autismo e também de toda a família, pois possibilitam seu desenvolvimento tanto cognitivo, quanto pedagógico oferecendo um processo integrado e significativo para a criança tendo em vista que é programado para atender às necessidades individuais.
Metodologia
Para realização deste trabalho, foi utilizada como metodologia a pesquisa bibliográfica, como revisão de literatura, por meio de livros impressos, documentos oficiais, revistas e artigos científicos, visando atender os objetivos de analisar a importância e os desafios da utilização do método ABA para a inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino assim como definir a origem e o conceito do termo autista e compreender a utilização do método ABA e seu processos de desenvolvimento. Dessa forma, cabe esclarecer que a metodologia de pesquisa bibliográfica procura investigar e analisar um problema através de referenciais teóricos avaliando, discutindo e refletindo acerca das diversas contribuições científicas.
Assim, a pesquisa bibliográfica oferecerá subsídios para compreensão sobre o tema abordado. Segundo Salomon (2004), pode-se afirmar que este tipo de pesquisa consiste em informações fundamentadas proporcionadas pela Biblioteconomia e Documentação, dentre outros conhecimentos e procedimentos aplicados de maneira metódica abrangendo a identificação, posicionamento, localização, informação propriamente dita, e a produção escrita da pesquisa científica. Salomon (2004) destaca ainda que para o desenvolvimento de todo o processo da pesquisa bibliográfica é necessária uma procura programada de informações bibliográficas buscando organizar e documentar o trabalho. Para isso, Salomon (2004) divide esse processo em três fases: a fase da preparação que envolve a delimitação do tema, a tomada de conhecimento da área a ser pesquisada, levantamentos, seleção e identificação das referências bibliográficas, assim como a localização dos documentos; a fase da realização que abrange os fichamentos dos documentos pesquisados após sua leitura e análise e a fase da comunicação que se trata do momento da redação do trabalho.
Dessa forma, pode-se dizer que o presente trabalho teve como norte essas fases descritas por Salomon (2004), pois foram realizadas a fase da preparação por meio de estudos e leituras a respeito do tema que permitiu elaborar o corpo do trabalho e a definição do que seria pesquisado dentro do assunto principal, a fase da realização através dos fichamentos e demais anotações do que foi considerado relevante frente ao que foi pesquisado com as devidas anotações de suas referências bibliográficas e a fase da comunicação que envolve a produção da redação do trabalho.
Portanto, cabe enfatizar ainda que este artigo está embasado teoricamente nos fundamentos e informações científicas de autores renomados na área em estudo, de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) envolvendo a questão da temática da inclusão do aluno autista sendo eles: Lear (2004), Hewitt (2006), Mello (2007), Schwartzman (2003), Bosa (2006), Almeida (1997), Zilmer (2003), Anderson (2007), Windholz (2002), Meyer (2003), e Miltenberger (2001). Nessa perspectiva, o artigo foi organizado da seguinte forma: o levantamento, a descrição e explicação sobre a origem e conceito do termo autista e sem seguida, foi descrita, analisada e explicada a importância e os desafios do método Aba na inclusão de alunos autistas.
Resultado e discussão
Sabemos que a educação exerce função primordial na efetivação dos direitos da inclusão, pois é através dela que o sujeito, especialmente a criança autista aqui em destaque, tem a oportunidade de desempenhar a sua atuação no seu meio social. Quanto a isso, por meio da presente pesquisa bibliográfica pode ficar claro que no que diz respeito a educação inclusiva, a concretização do direito a essa educação não se dá somente com a presença da criança autista na sala de aula, vimos que há muito mais por trás dessa presença, desse estar em uma escola regular e que há leis que garantem a sua individualidade e acesso.
Por isso, vimos ao longo desse trabalho uma possibilidade de fazer com que a criança autista possa de fato ser incluída não apenas na escola, mas no meio em que vive de maneira ativa e mais autônoma. Esta possibilidade encontra-se na aplicação e desenvolvimento do método ABA.
Alguns autores apontam críticas ao método por acreditar que, de acordo com a realização do método, condiciona o comportamento e que é desenvolvido de maneira robotizada, porém, podemos perceber por meio de diferentes autores apresentados nessa pesquisa que o método ABA permite a estruturação de um trabalho de qualidade que envolve a individualidade e as necessidades de cada criança autista o que o torna mais significativo para a mesma. Por meio deste método, é possível que a criança autista se desenvolva não apenas socialmente, mas engloba o seu desenvolvimento pedagógico, emocional e comportamental.
Além disso, foi percebido que mesmo com estudos de diferentes autores, há ainda a necessidade de mais pesquisas voltadas para o aprimoramento da aplicação do ABA e melhores maneiras de atender às crianças autistas visto que cada ser é único e apresenta suas particularidades o que faz com que tanto professores quanto os pais ou os demais envolvidos com a criança autista, apresentem muitas dificuldades em desenvolver esse método que demanda estudo, avaliação e elaboração de procedimentos muito enriquecedores porém, com intervenções aplicadas de maneira correta.
Dessa forma, por meio dos diferentes autores e suas defesas sobre a aplicação do ABA, ficou evidente a eficácia do método como uma possibilidade para famílias e professores que se veem na necessidade de auxiliar essa criança. Ainda cabe dizer que, se aplicada de maneira correta, seguindo os passos, respeitando a individualidade da criança, conseguirá permitir uma qualidade de vida cada vez melhor para a criança e sua família.
Conclusão
Através desta pesquisa, pode-se perceber um longo caminho com muitas dificuldades e desafios, porém, também vimos possibilidades de aprendizado que podem superar expectativas. Assim, deve-se salientar que mesmo sendo um desafio e muitas vezes uma experiência nova para a família, o professor e a escola de maneira geral, é possível que o processo de inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino assim como, no seu meio social aconteça de fato.
Dessa forma, a partir desse entendimento, foi analisado que o método ABA é um dos métodos mais eficazes e mais utilizados na intervenção do desenvolvimento comportamental do autismo, podendo ser utilizado tanto nas escolas quanto em casa pela família. Apesar de o autismo não ter cura, esse recurso pode ajudar as crianças com essa síndrome contribuindo no seu avanço na aprendizagem de maneira que além do pedagógico, pois envolve seu desenvolvimento integral visando ganho de autonomia para agir no meio em que vive.
Com isso, esta pesquisa buscou apresentar a origem e conceitos de diferentes autores quanto ao termo autista, bem como e especialmente compreender a importância do método ABA como para o desenvolvimento da criança tendo em vista que é necessário a compreensão dessa terminologia e um estudo aprofundado das suas características assim como de uma sondagem e avaliação integral de cada criança em todas as áreas de desenvolvimento. Quanto ao conceito do termo autismo, pode-se afirmar que, entre os autores analisados, prevalece a definição de que se trata de uma síndrome do comportamento caracterizada por distúrbios do desenvolvimento que interferem nas disfunções das habilidades sociais, físicas, linguísticas e nas áreas de comunicação e interação.
Assim, pode ser visto que o método ABA investiga e estuda as intervenções possíveis de serem realizadas com cada criança autista por meio de um processo que exige estrutura, continuidade, comprometimento de todos os envolvidos, conhecimento da aplicabilidade e especialmente, da realidade da criança para que possa ocorrer sua reaprendizagem visando minimizar essas disfunções. Cabe salientar que é essencial que os envolvidos na aplicação do método em análise ultrapassem, transcendam o foco em técnicas e criem afetividade, a fim de que a criança perceba interesse pessoal e naturalidade.
Nessa perspectiva, por meio da visão de diferentes autores, pode ser percebido que o método ABA possibilita uma melhor qualidade de vida da criança autista. E, analisando esse método, buscou-se compreender a importância e os desafios do método ABA para a inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino, e pode-se concluir, por meio de estudos, discussões e análises que crianças que utilizam esse método, apresentam uma significativa melhora no seu desenvolvimento frente a sua condição comportamental e em consequência disso, consideráveis avanços nos aspectos cognitivo e pedagógico.
Portanto, o método ABA, mesmo sendo casos específicos e bem singulares, proporciona que uma criança com autismo possa se relacionar com os colegas, estudar em rede regular de ensino com suas adequações curriculares, conquistar diferentes habilidades e exercer atuação com autonomia no seu meio social. Assim, cabe a professores e a nós, pesquisadores, como transformadores e influenciadores, o levantamento de estudos e ainda mais pesquisas que possam influenciar ainda mais, auxiliar e despertar sobre as possibilidades do trabalho com crianças autistas, para que seus direitos sejam respeitados e garantidos, visando melhor qualidade de vida e um desenvolvimento mais significativo.
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Publicado em 06 de abril de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Vanderson de Sousa; ALMEIDA, Rosilene Costa de. A importância e os desafios do método ABA para a inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino. Revista Educação Pública, v. 21, nº 12, 6 de abril de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/12/a-importancia-e-os-desafios-do-metodo-aba-para-a-inclusao-de-criancas-autistas-na-rede-regular-de-ensino
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