Grupo de estudo on-line apoiado nas TDIC: ações educacionais remotas em tempos de pandemia

Walmir Fernandes Pereira

Graduado em Letras (UET), especialista em Gestão Escolar (Centro Universitário Barão de Mauá), mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University)

Em meio ao cenário da pandemia, o sistema educacional mundial precisou parar e repensar como daria sequência ao processo de ensino e de aprendizado iniciado no ano letivo de 2020. Como solução para desenvolver o trabalho pedagógico, foi importante incorporar as tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) como apoio nesse cenário.

Como salientam Almeida e Valente (2016, p. 7), “a incorporação das mídias e das TIC na educação deve ir além dos usos como ferramenta para aprimorar processos e chegar mais rapidamente aos resultados”.

De acordo com os autores, é preciso pensar na Educação como aliada das TDIC, pois, como foi vivenciado no ano de 2020, a tecnologia com suas contribuições integradoras de recursos digitais pôde auxiliar na adoção de práticas pedagógicas inovadoras que puderam ajudar na sequência das atividades remotas nas instituições educacionais.

O presente trabalho visa apresentar discussões embasadas em autores contemporâneos da área de Educação e Tecnologia que argumentam quanto à necessária interação que deve existir entre TDIC e Educação.

Segundo Iannome, Almeida e Valente (2016, p. 62), “a escola que participa da cultura digital e dialoga com ela assume papel central na formação do estudante com autonomia para tomar decisões, argumentar em defesa de suas ideias, trabalhar em grupo, atuar de forma ativa etc.”.

Como bem mencionado pelos autores, a presente pesquisa traz o grupo de estudo on-line como objeto de investigação em meio ao cenário pandêmico, discute a partir de uma metodologia de revisão bibliográfica embasada nos argumentos de autores que abordam as tecnologias como solução e apoio para o meio em que a sociedade se encontra.

Desenvolvimento

Diante do cenário pandêmico, repensar novas formas de ensino fez-se necessário para atender às necessidades educacionais dos sistemas de ensino público e privado, tanto no nível da Educação Básica quanto na Superior.

As instituições educacionais tiveram que se empenhar em buscar novas modalidades de estudo, sejam elas de Educação a Distância (EaD) ou a adoção do Ensino Remoto Emergencial (ERE), para dar sequência as aulas interrompidas por um problema de saúde global.

No relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi proposto que os líderes dos sistemas e organizações educacionais repensassem e desenvolvessem planos para dar continuidade aos estudos dos alunos por meio de modalidades alternativas, enquanto durar o que chamamos de isolamento social.

Pensou-se então, no uso das tecnologias digitais de informação e comunicação como ferramentas de apoio ao Ensino Remoto Emergencial, mas muitas dúvidas, muitos questionamentos surgiram em relação à ação das TDIC, pois dentro de um sistema educacional público vê-se grande carência de recursos e estruturas para dar atendimento ao seu alunado.

A formação continuada do docente também foi um desafio para que a inserção das TDIC entrasse em seus planejamentos, com uma metodologia diferenciada da presencial, da síncrona, levando assim o professor a repensar como planejaria suas aulas, que métodos utilizar, que recursos ele e seu aluno têm para que as aulas acontecessem, promovendo o mais importante: a aprendizagem.

Para Almeida (2010, p. 68), na relação entre Educação e TDIC, espera-se que o professor “possa apoderar-se de suas propriedades intrínsecas, utilizá-las na própria aprendizagem e na prática pedagógica e refletir sobre por que e para que usar a tecnologia, como se dá esse uso e que contribuições ela pode trazer à aprendizagem e ao desenvolvimento do currículo”.

Pensando na figura do docente, que pode ser considerado um imigrante das novas tecnologias digitais, as instituições começaram a buscar apoio de instituições de formação continuada para que auxiliasse todo esse percurso de ensino e de aprendizagem.

Segundo Bacich (2015, p. 31), “a maioria dos professores imigrantes digitais que se inseriram no mundo da tecnologia tem uma forma de ensinar que nem sempre está em sintonia com o modo como os nativos aprendem melhor, ou, pelo menos, que lhes desperta maior interesse”.

Um exemplo de ação educacional na pandemia é a criação dos grupos de estudos on-line, que foi uma metodologia encontrada por alunos e direcionada por professores, pois é preciso promover a interação dos alunos por meio das resoluções de problemas, da criatividade e da promoção da autonomia nos estudos.

Foi preciso existir nesse momento o que chamamos de readaptação da realidade dos espaços de sala de aula, em que a sala de aula física foi substituída pela sala de aula virtual. Essa mudança exigiu também novas metodologias que visam à formação de um alunado interligado às novas tecnologias digitais de informação e comunicação.

Para Kenski (2004, p. 67), “estudantes e professores tornaram-se desincorporados nas escolas virtuais. Suas presenças precisam ser recuperadas por meio de novas linguagens que os representem e os identifiquem para todos os demais. A criação dos grupos de estudo on-line proporcionou o uso de novas linguagens, que os alunos começaram a usar e interagir por meio das TDIC para estudar os conteúdos que antes eram vistos em uma sala de aula presencial.

Pensa-se então numa aprendizagem mais individualizada e colaborativa embasada em recursos e ferramentas com um novo tipo de linguagem incorporada no meio acadêmico que visa harmonizar o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Kenski (2004, p. 67), devem ser “linguagens que harmonizem as propostas disciplinares, reincorporem virtualmente seus autores e criem um clima de comunicação, sintonia, agregação entre os participantes de um mesmo curso”.

Muitas barreiras para implementação de uma metodologia nova foram encontradas; a primeira pode ser a criatividade, o desafio de criar em meio ao ambiente tenso, incerto e sem qualquer fórmula de como seguir. Os professores foram desavisados e conseguiram encarar bem a situação adotando para suas práticas pedagógicas metodologias que eram diferentes do ensino presencial, tendo o apoio dos recursos midiáticos.

A interação do professor com os alunos pelos apps foi um ganho para pensar em soluções de trabalho em equipe; os alunos puderam sugerir a criação de grupos on-line e os professores adotaram essa ferramenta como apoio para o processo de ensino-aprendizagem.

Os grupos de estudo on-line integraram os recursos digitais no ensino não-presencial, fazendo com que os alunos tivessem mais contato não físico, mas virtual; eles estavam se ajudando, vendo as dificuldades e os êxitos no processo de aprendizagem tendo a mediação do docente quando necessário.

É preciso que a Educação e seus sistemas de ensino público e privado repensem de fato a presença das TDIC como aliada e não inimiga do processo de ensino; são muitas adaptações a serem feitas, muita formação continuada para que o docente veja que a tecnologia é um apoio e que não é possível dar a mesma aula do presencial no ensino virtual.

Portanto, como discorre Lévy (2005, p. 172), “não se trata aqui de utilizar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais”.

Considerações finais

É importante ressaltar como reflexão desta pesquisa que, em meio ao momento crítico de saúde global, a Educação não ficou desamparada; pôde dar sequência em seus processos dentro dos sistemas de ensino – não de forma física, mas virtual. Foi um momento importante; na verdade, ainda está sendo um período de reflexão-ação, de rever a práxis docente, de buscar formação continuada via recursos e ferramentas digitais.

A qualificação passa a ser crucial; não é mais possível trabalhar como docente de forma estática, sem buscar o dinamismo que a sociedade digital pede. Este trabalho buscou mostrar que os grupos de estudo on-line são uma metodologia nova adotada nos espações educativos, promovendo mudanças no perfil de alunos, trazendo as competências exigidas pelo século XXI, em que o alunado passa a ser mais autônomo, mais crítico, passa a produzir e a usar a criatividade para a solução de problemas.

Referências

ALMEIDA, M. E.  Transformações no trabalho e na formação docente na Educação a Distância on-line. Em Aberto, v. 23, nº 84, 2010.

ALMEIDA, M. E.; VALENTE. J. A. Políticas de tecnologia na educação brasileira – histórico, lições aprendidas e recomendações. São Paulo: Centro de Inovação para a Educação Brasileira, 2016.

BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (Orgs.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na Educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

IANNONE, L. R.; ALMEIDA, M. E.; VALENTE, J. A. Pesquisa TIC Educação: da inclusão para a cultura digital. In: COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI.br). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras: TIC Educação 2015. São Paulo: CGI.br, 2016.

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 6ª ed. Campinas: Papirus, 2004.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2005.

Publicado em 06 de abril de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

PEREIRA, Walmir Fernandes. Grupo de estudo on-line apoiado nas TDIC: ações educacionais remotas em tempos de pandemia. Revista Educação Pública, v. 21, nº 12, 6 de abril de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/12/grupo-de-estudo-ion-linei-apoiado-nas-tdic-acoes-educacionais-remotas-em-tempos-de-pandemia

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.