O seu silêncio também machuca!

Emily Bomfim Souza

Licencianda do curso de Pedagogia (UPM-SP), auxiliar de professor da rede pública (SP)

Um dia, ainda criança, bem pequeno mesmo, tinha uns 4 a 5 anos, estava brincando feliz no escorregador do parque, até que um menino exclamou em alto e bom som:

— Ei, menino sai daqui! Quem você pensa que é?!

Essa frase ecoou em mim como nenhuma outra houvera ecoado.

— Ora, sou um menino! Como você, não?

— Você não pode ser igual a mim; você é preto! (Esbravejou em minha direção).

Calei-me. Aquelas palavras doeram como um soco que arranca até os dentes!

Eu, criança, menino e preto! O que poderia ter de errado nisso? Por qual motivo parecer comigo incomodava tanto aquela pessoa? Não compreendia.

Outras cenas parecidas com essa percorreram minha infância e adolescência. Por muito tempo, a dor da infância parecia me perseguir: quem você pensa que é?! Você é preto! Quem você pensa que é?! Você é preto! Quem você pensa que é?! Você é preto! ...

Hoje, adulto, eu sei quem sou! Sou tudo aquilo que eu quiser ser, pois eu posso! Mas aquele menino de quatro anos, brincando feliz no parque, não sabia!

Pois é, meu amigo, o racismo dói e deixa marcas para a vida toda. Marcas que corroem e que nada pode apagar!

Ah! E mais uma coisa: uma personagem dessa história, que eu esqueci de falar... A professora, que também estava no parque naquele dia comigo, ouviu toda a conversa e nada fez!

Então, deixo uma dica: Não se omita! O seu silêncio também machuca!

Essa história revela que o racismo é uma condição real em nossa sociedade, e nós, como educadores, devemos adotar práticas que garantam a igualdade racial. Como diria Angela Davis, “numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Nesse contexto, é previsto que em todos os anos escolares, intrinsecamente na Educação Infantil, devemos prever na prática docente que todo recurso de imagem, texto ou objeto a ser proposto às crianças deva contemplar a valorização da diversidade, em todos os detalhes, nas paredes que educam, nos livros, nas palavras, nas interações, nas brincadeiras, nos jogos, enfim, propor um espaço de representatividade, em que a criança se sinta livre e contemplada para desenvolver-se plenamente.

Por fim, posso dizer: "Não se omita! O seu silêncio também machuca!".

O racismo é uma condição real na nossa sociedade, e todos os educadores devem adotar práticas que garantam a igualdade racial. O racismo é uma agressão social em todas as idades, porém muito mais marcante na infância. Nas escolas e creches, é preciso prevenir atitudes racistas destacando a diversidade humana em cartazes, pinturas, objetos e textos, de modo que as crianças se sintam contempladas, reconhecidas e valorizadas em suas características e possam se desenvolver. O relato apresentado aqui é mais um exemplo.

Publicado em 06 de abril de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

SOUZA, Emily Bomfim. O seu silêncio também machuca! Revista Educação Pública, v. 21, nº 12, 6 de abril de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/12/o-seu-silencio-tambem-machuca

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