As práticas pedagógicas dos professores da Escola no Campo no contexto da pandemia da covid-19

Maria das Neves Tiburtino Leite

Especialista em Psicopedagogia (FIP), licenciada em Pedagogia (UVA) e em Matemática (UFPB), professora da Educação Básica na rede municipal de Olho D’ Água/PB

Jefferson Flora Santos de Araújo

Mestre em Formação de Professores (UEPB) e professor da Educação Básica na rede municipal de Sobrado/PB

A escola é um espaço pensado para o desenvolvimento dos sujeitos nos aspectos sociais, culturais, emocionais e intelectuais, na modalidade presencial ou virtual. Sendo assim, com o isolamento social, mediante a pandemia da covid-19, se fez necessário dar continuidade ao ensino de forma diferenciada, buscando meios que pudessem envolver a comunidade escolar, evitando maiores prejuízos na formação dos alunos do campo.

Os professores, agentes de transformação e responsáveis por proporcionar um ensino voltado para a realidade dos alunos, necessitam inserir-se na dinâmica e espaço que o cenário atual exige. Nesse sentido, os professores precisaram ressignificar as suas práticas pedagógicas para dar continuidade ao processo de ensino-aprendizagem.

Diante desse contexto, as professoras das escolas do campo do município de Olho D’Água/PB adotaram uma nova estratégia de ensino para o desenvolvimento das aulas remotas. Utilizaram o aplicativo WhatsApp para integrar o conteúdo, promover a interação entre professor, alunos e famílias instigando o diálogo e a curiosidade, para que o conhecimento ultrapasse o aplicativo e transborde no ambiente familiar. Segundo Moran (2000, p. 13), "na sociedade da informação todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social".

Dessa forma, esse é o momento de descoberta, aprendizagem e adaptação para toda a comunidade escolar, uma vez que estamos vivenciando um momento atípico e precisamos nos adaptar para dar continuidade à escolarização dos alunos.

Corroborando essa ideia de reinvenção, Freire (1996, p. 32) ressalta que:

Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.

Portanto, o autor reforça a ideia de que o professor vive em constante mudança, buscando novos desafios, aperfeiçoando as práticas pedagógicas, trocando experiência e praticando a autoavaliação. O professor que não se reinventar quando necessário não é capaz de mediar o conhecimento para a construção de um sujeito ativo, crítico e participativo na construção da própria história.

Diante do exposto, passamos a fazer o seguinte questionamento: como estão acontecendo as práticas pedagógicas dos professores nas escolas da zona rural, e mais especificamente na Escola Manoel Procópio de Araújo, no contexto da pandemia da covid-19?

Para responder essa questão, elencamos como objetivo geral analisar as práticas pedagógicas dos professores naquela escola, definindo os seguintes objetivos específicos:

  • investigar as estratégias de ensino que os professores adotaram para o desenvolvimento das práticas pedagógicas no contexto da pandemia da covid-19;
  • analisar se os professores estão enfrentando dificuldades para o desenvolvimento das aulas no contexto da pandemia da covid-19;
  • investigar ainda se os professores da Escola Manoel Procópio de Araújo, no contexto da pandemia, estão desenvolvendo práticas pedagógicas embasadas na realidade sociocultural do campo.

Consideramos o estudo da temática relevante, pois poderá contribuir de maneira significativa para a prática pedagógica desses professores, bem como suscitar novas reflexões sobre o ensino remoto que está sendo desenvolvido nas escolas do/no campo.

Conceituando Educação do Campo

De acordo com Araújo (2017), a Educação do Campo surgiu das lutas dos movimentos sociais por uma educação voltada para a realidade dos povos do campo, tendo em vista que, durante muitos anos, para esses sujeitos, aprender a ler, escrever e contar era algo muito distante das suas realidades. Nesse sentido, essa proposta de educação surge com o intuito de garantir aos povos pesqueiros, agricultores, agropecuaristas, comunidades ribeirinhas, caiçaras, extrativistas, quilombolas, assentamentos e indígenas (Brasil, 2002) uma educação de qualidade e voltada para o contexto no qual estão inseridos.

Segundo Araújo (2017, p. 17), "é preciso que a escola seja comprometida com o processo formativo dos sujeitos do campo, que possua uma proposta pedagógica que considere todo o contexto social, político, econômico, cultural e ambiental dos alunos, dentre outros aspectos". Para que o ensino nos espaços do campo aconteça de forma a satisfazer as necessidades de cada comunidade, é necessário que os governantes tenham sensibilidade para compreender e assegurar os direitos conquistados por esses povos, bem como proporcionar políticas públicas que visem a garantia da permanência dessas pessoas no campo, fortalecendo sua identidade e criando condições de sobrevivência.

Corroborando essa ideia, Fernandes (2004, p. 137) ressalta que

o campo é lugar de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a sua identidade cultural. O campo não é só lugar da produção agropecuária e agroindustrial, do latifúndio e da grilagem de terras. O campo é espaço e território dos camponeses e dos quilombolas. É no campo que estão as florestas, onde vivem as diversas nações indígenas. Por tudo isso, o campo é lugar de vida e sobretudo de educação.

Para tanto, compreende-se que é necessário um novo olhar para esse espaço onde a educação acontece de forma insatisfatória para atender às necessidades desse público, uma vez que as reformas constitucionais que emanavam não favoreciam essas comunidades camponesas. Considerando que o Brasil é um país de origem agrária, tendo parte de sua economia no latifúndio, e a valorização das terras se obtém pelo trabalho bem planejado e explorado em cada setor de subsistência, se faz necessário desenvolver políticas públicas que viabilizem um ensino qualificado para o campo, para que os filhos dos camponeses consigam estudar e buscar formação no âmbito de suas necessidades.

No que tange à Educação no/do Campo, é preciso que

garanta o seu direito à educação e a uma educação que seja no e do campo. No: o povo tem direito de ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais (Caldart, 2004, p. 149-150).

Nesse sentido, a Educação do Campo é uma proposta de educação voltada para a população camponesa, na qual garante que os conhecimentos sejam construídos com base na sua realidade e cultura, bem como defende que os povos do campo não necessitam ir embora de suas terras em busca de melhores condições de vida e/ou trabalho.

No ano de 1996, a promulgação da Lei nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação (LDB), norteia um caminho para adequação e valorização da população do campo ao propiciar organização escolar, adaptação no currículo e metodologia, como determina o Art. 28:

Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:

I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

II – organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

III – adequação à natureza do trabalho na zona rural (Brasil, 1996, p. 21).

Desse modo, a LDB (1996) estabelece que as escolas situadas nas comunidades do campo deveriam propor modelos pedagógicos que se adéquem à realidade rural, com o calendário escolar flexível, baseado nas épocas de plantio, colheita, pesca e outros meios de vivência desse povo, bem como incluir conteúdos com temas relacionados ao meio de convívio desses sujeitos.

O currículo das escolas do campo deve ser construído pensando no sujeito a ser trabalhado; não faz sentido para o educando um conteúdo descontextualizado, é necessário possibilitar práticas educativas que envolvam o cotidiano dele. Moreira e Candau (2007, p. 18) ressaltam que: "o currículo não deve ser visto como um aglomerado de conteúdo, mas como eixo estruturante do cotidiano escolar". Sendo assim, o professor não deve conceber o currículo como uma sequência de conteúdos expostos no sumário dos livros didáticos para seguir fielmente, mas como um conhecimento estruturado para os sujeitos envolvidos.

Portanto, o professor precisa compreender o que é currículo, conhecer a realidade do público inserido na comunidade de trabalho e elaborar seu plano voltado para esses sujeitos, possibilitando assim um ensino que contemple a realidade sociocultural dos alunos camponeses.

A Educação do Campo no contexto da pandemia da covid-19

Em março de 2020, iniciou-se a prevenção nas escolas, a fim de evitar a aglomeração de pessoas em decorrência da pandemia. Professores e alunos precisaram se adaptar a uma nova forma de ensino, viabilizado pelas tecnologias. Os professores não tiveram tempo nem formação para utilizar as ferramentas digitais necessárias, o que inicialmente dificultou o processo. Corroborando essa ideia, Valle e Marcom (2020, p. 142) afirmam que

a crise instaurada pela covid-19 produziu nas escolas um cenário de muitas mudanças. Nessa esteira, apresentamos como um dos maiores desafios a imposição da exigência de um novo perfil que devem ter os professores para ministrar aulas nesse contexto de contradições vivenciadas dentro e fora do espaço escolar.

Nessa perspectiva, os professores conheceram uma nova realidade de forma forçada pela situação, tiveram que se adaptar ao ensino remoto sem quaisquer preparações ou orientações prévias quanto à utilização de novas ferramentas metodológicas para substituir os recursos manuais a que estavam acostumados pelas ferramentas digitais e softwares, como redes sociais, blogs, Google Classroom e WhatsApp, nos quais o professor pode compartilhar os conteúdos e atividades com seus alunos e tirar as dúvidas a qualquer momento. Ou seja, faz-se necessário repensar as práticas pedagógicas, metodologias de ensino e os métodos avaliativos, objetivando um ensino atrativo e dinâmico para os alunos do campo, estimulando-os na busca pelo conhecimento.

Considerando essas ferramentas digitais e os softwares para o desenvolvimento das aulas remotas, queremos enfatizar o WhatsApp, pois sua popularidade permite que os alunos tenham mais flexibilidade para desenvolver suas atividades, pois não se limita apenas a um espaço físico local ou tempo real; os conteúdos podem ser acessados a qualquer tempo, o professor tem mais flexibilidade e disponibilidade para atendê-los, interagir no grupo, compartilhar ideias, tirar dúvidas e ainda pode promover o atendimento individualizado para o aluno do campo.

Diante do momento educacional atual, frente aos novos desafios e nova forma de aprender, a instituição deverá instigar a inclusão do celular como recurso tecnológico, tendo em vista que é uma ferramenta do cotidiano da maioria dos alunos, e envolver o ensino num ambiente prazeroso e transformar as estratégias de forma a contemplar as necessidades de aprendizagens de cada sujeito.

Além disso, essa nova possibilidade de ensino e aprendizagem proporciona a interação e o fortalecimento dos professores com a família e os alunos, passando a conhecer e vivenciar as experiências do seu público; ele conseguirá subsídios para fazer seu planejamento e atuar dentro do contexto. Assim, os professores podem aperfeiçoar o conhecimento usando os recursos tecnológicos, melhorar a prática pedagógica, desenvolvendo estratégias para aplicar atividades, jogos e textos para leitura de deleite, entre outros.

Ressaltamos que o uso do aparelho celular ou das redes sociais para desenvolvimento das aulas remotas não é uma solução para sanar todas as necessidades, mas é um caminho que possibilita o processo de ensino-aprendizagem, ameniza os prejuízos com a falta de interação presencial; o auxílio do professor é essencial para acompanhar, interagir, compartilhar e mediar as informações de forma positiva. Pois é o professor que apresenta os conteúdos, explica e corrige as atividades desenvolvidas, de forma online e impressa, bem como motiva os alunos a participar no horário de estudo no grupo e também no modo home office

O uso das tecnologias no ensino remoto mediando o processo de ensino-aprendizagem trouxe à frente as exclusões digitais em algumas escolas, principalmente na zona rural, onde os estudantes não possuem acesso à internet e/ou não têm ferramentas tecnológicas suficientes, dificultando ainda mais a adaptação ao novo ensino. Nesse sentido, para os alunos que se enquadram nesse perfil, o professor precisa enviar e receber as atividades impressas, e na maioria das vezes esse aluno não tem acompanhamento dos familiares na realização das atividades, resultando no retardamento do seu desenvolvimento. Mediante essa situação na qual o mundo se encontra, o professor fica impossibilitado de dar um feedback a esse público.

A maior preocupação diante da pandemia é exatamente encontrar possibilidades e estratégias para reduzir os efeitos negativos do isolamento temporário, mas precisamos ficar atentos às evidencias que nos indicam lacunas de diversas naturezas que certamente serão criadas pela falta da interação presencial (Valle; Marcom, 2020, p. 147).

Dessa forma, os alunos impossibilitados de acesso à internet necessitam de uma atenção diferenciada, de forma a amenizar os efeitos negativos do isolamento social e da exclusão digital. Para isso, os professores precisam desenvolver práticas pedagógicas que possam incluir esse público, como fazer ligações telefônicas, trabalhar com materiais impressos e até mesmo, em último caso, fazer visitas domiciliares tomando todos os cuidados e recomendações de prevenção ao coronavírus.

Portanto, o professor deve estar aberto às mudanças, buscar meios para inovar, ser flexível e adaptar as aulas à realidade dos alunos, tornando-as mais dinâmicas, atrativas e interativas. Sendo assim, o professor é indispensável no processo de ensino-aprendizagem, responsável por mediar informações e instigar o aluno na construção do conhecimento.

Metodologia

A metodologia pautou-se por uma abordagem qualitativa, pois, de acordo com Oliveira (2007, p. 60), a pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como "um estudo detalhado de um determinado fato, objeto, grupo de pessoas ou ator social e fenômenos da realidade". Nesse sentido, a pesquisa qualitativa é considerada como análise de dados sem uso de instrumentos estatísticos, ou seja, é caracterizada pela qualidade da informação extraída e não pela quantidade.

Considerando as especificidades do nosso objeto de estudo, a pesquisa desenvolvida neste trabalho é do tipo pesquisa exploratória (Gil, 2009). Portanto, a pesquisa exploratória inicia-se pelo levantamento bibliográfico, que proporciona o embasamento teórico para compreender como extrair as informações e analisar os dados, contribuindo para aproximar o pesquisador do problema, instigar a busca de informações e aperfeiçoar as intenções problemas.

O lócus da pesquisa foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel Procópio de Araújo, localizada no distrito do Socorro, zona rural do município de Olho D’Água/PB.

Os sujeitos da pesquisa foram cinco professoras que atuam na instituição, lecionam nos anos iniciais do Ensino Fundamental e com disponibilidade de tempo para participar da pesquisa.

Utilizamos como instrumento da pesquisa a aplicação de um questionário em formato eletrônico, enviando pelo aplicativo WhatsApp dos professores o link de acesso, gerado pela ferramenta Google Forms.

Nessa etapa, as respostas obtidas pelos sujeitos foram transcritas conforme encontradas nos questionários; com o intuito de preservar as suas identidades no trabalho, atribuímos pseudônimos (nomes de flores) para fazer referência às respostas dos professores, passando a chamá-los de Amarílis, Gardênia, Lírio, Íris e Tulipa.

A análise dos dados foi desenvolvida com base na Análise de Conteúdo (Severino, 2007), pois a análise de conteúdo é a escolha mais adequada como procedimento de interpretação dos dados coletados no questionário.

Resultados e discussão

Analisar como as professoras estão desenvolvendo as práticas pedagógicas na Escola Manoel Procópio de Araújo no contexto da pandemia da covid-19 é de suma importância para as pesquisas em Educação do Campo, pois contribui para a construção de dados e conhecimentos acerca da educação que está sendo desenvolvida durante essa pandemia nas escolas situadas no campo.

Questionamos se as professoras se identificam com a realidade sociocultural do campo e como isso se reflete nas suas práticas pedagógicas. Obtivemos as seguintes respostas:

Sim. Reflete de forma positiva (Amarílis).

Sim. Busco sempre atividades selecionadas com a cultura e costumes local (Gardênia).

Sim. Busco desenvolver atividades relacionadas com a cultura e costumes locais (Lírio).

Sim. Estudando a curiosidade das crianças em querer saber mais descobrir algo novo (Íris).

Sim. Conhecer a realidade do campo me permite trabalhar de forma clara e objetiva, buscando sempre inserir na minha prática os princípios básicos para a aprendizagem discente (Tulipa).

Todas as professoras responderam que sim. A professora Amarílis mencionou que sua identidade sociocultural do campo reflete de forma positiva para o desenvolvimento das suas práticas pedagógicas. As professoras Gardênia e Lírio relataram trabalhar os conteúdos inseridos no contexto sociocultural dos alunos, ou seja, elas propõem atividades que contemplam os aspectos culturais e os costumes locais. A professora Íris ressalta fazer parte do meio sociocultural do aluno, o que lhe permite observar e aguçar a curiosidade para o novo conhecimento. Ao analisarmos a fala da professora Tulipa, percebemos que ela considera importante conhecer a realidade do campo, pois contribui para um planejamento sistematizando o conhecimento prévio aos novos conhecimentos.

Nesse sentido, é fundamental o professor conhecer o ambiente e os sujeitos com quem trabalha, ou seja, conhecer os alunos facilita a interação tanto de forma online quanto presencial e fornece subsídios para planejar e desenvolver o conteúdo de forma organizada e contextualizada. Portanto, compreendemos que as professoras mencionadas refletiram em suas falas conhecer e se identificar com a realidade sociocultural dos sujeitos do campo e consideram importante esse conhecimento para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

Questionamos as professoras sobre como elas caracterizam o ensino remoto. Obtivemos as seguintes respostas:

Como uma modalidade importante para evitar a evasão escolar mantendo a rotina da sala de aula de maneira virtual (Gardênia).

Como uma modalidade importante para o aluno manter a rotina da sala de aula em um ambiente virtual (Lírio).

Desafiador (Íris).

Aulas feitas on-line com o objetivo de manter o aprendizado e estreitando os laços entre professor e aluno (Tulipa).

As professoras Gardênia, Lírio e Tulipa caracterizam o ensino remoto como aulas que acontecem em ambientes virtuais e que são importantes, pois os alunos mantêm as rotinas do ensino presencial. A professora Íris resume com uma palavra, um termo tão complexo: "desafiador"; nessa perspectiva, ela expõe as sensações de medo, angústia, descoberta, sucesso e insucesso que vivencia no contexto atual. Esse momento exige atitude, criatividade e criticidade para motivar o aluno a participar das aulas e construir o conhecimento. Acerca desse contexto que as professoras estão vivenciando, Valle e Marcom (2020, p. 141) enfatizam que:

o isolamento social, o trabalho remoto, o uso das tecnologias como ferramentas para mediar o processo de ensino-aprendizagem, as desigualdades no acesso e no uso as tecnologias escancararam as dificuldades que a escola possui de encontrar mecanismos para proporcionar aos alunos as possibilidades de interação e incluí-los no processo de ensino-aprendizagem e, por conseguinte, implica encontrar formas eficientes de aprender, escancarando as dificuldades que a escola tem de adaptar-se às novas rotinas.

Nesse sentido, percebemos que o papel da escola vai além do espaço físico; é necessário o trabalho coletivo para sanar as dificuldades que acarretaram mais exclusão social dos alunos por falta de acesso aos recursos tecnológicos. A pandemia proporcionou mudanças radicais na vida de todas as pessoas, muitas inquietações no início para toda a comunidade escolar; os professores tiveram que mudar todo seu planejamento, reinventar as metodologias de ensino e ir se aperfeiçoando ao longo do processo. Vale salientar que, mesmo com todos os esforços da gestão escolar, da equipe pedagógica e dos professores, são visíveis as dificuldades e os prejuízos educacionais nesse período pandêmico.

Ao indagarmos às professoras como elas planejam as aulas para o ensino remoto e quais estratégias de ensino estão utilizando para o desenvolvimento do ensino remoto, obtivemos as seguintes respostas:

Procuro conteúdos que sejam acessíveis para todos. Através de videoaulas pelo grupo do WhatsApp (Amarílis).

Minhas aulas são planejadas de acordo com o nível da turma. Videoaula, atividades xerocopiadas, aulas explicativas dialogadas (Gardênia).

Através de pesquisas no Google, no YouTube, atividades xerocopiadas, o livro didático e principalmente a participação da família (Íris).

Atividades com recursos técnicos, textos, atividades de interpretação, atividades complementares. Aulas via WhatsApp, atividades impressas e aulas explicativas e videoaulas (Tulipa).

Ao analisarmos as falas das professoras, constatamos que Amarílis planeja as aulas pensando de forma igualitária para todos os alunos, ou seja, ela propõe atividades que eles consigam desenvolver sem a sua presença. E as aulas estão acontecendo através de videoaulas postadas no grupo do WhatsApp. Gardênia planeja as aulas de acordo com o nível da turma, utilizando videoaulas, atividades xerocopiadas e aulas explicativas dialogadas. Já Íris planeja suas aulas com pesquisas no Google, no YouTube, atividades xerocopiadas, o uso do livro didático; enfatiza principalmente a participação da família no processo de ensino-aprendizagem. Por sua vez, a professora Tulipa utiliza os recursos tecnológicos para planejar as suas aulas, e elas estão acontecendo via WhatsApp, atividades impressas e videoaulas. Segundo Valle e Marcom (2020, p. 146), é evidente que

o professor precisa criar alternativas para conseguir dar conta das demandas que se apresentam, especialmente no uso das tecnologias para mediar o processo de ensino-aprendizagem, buscando desenvolver e experimentar diferentes propostas para tornar esse processo mais próximo das condições que possibilitem ao aluno apropriar-se do conhecimento sem a interação a que estava acostumado com o ensino presencial, criando outras formas de intervenções igualmente qualificadas.

Diante do contexto atual, os professores se permitiram (re)conhecer e adaptar-se ao uso dos recursos tecnológicos como instrumento para desenvolver as aulas de forma remota; não é fácil atender as necessidades de todos os alunos diante desse cenário, o professor não planeja as aulas pensando somente no aluno, mas também na família, que é quem o acompanha na execução das atividades. Bem como, replaneja, alinha os conteúdos para os alunos sem acesso à internet, sem aparelhos celulares e/ou aparelhos insuficientes para atender as necessidades.

Perguntamos às professoras se no ensino remoto elas conseguem articular os conteúdos escolares com a realidade dos alunos. As respostas foram:

Sim. Procuro atividades que todos possam fazer sem dificuldades porque o professor não está presente para auxiliar (Amarílis).

Sim, procuro sempre articular os conteúdos de acordo com a necessidade de cada um para que haja melhor desempenho (Gardênia).

Sim, sempre estou passando atividades dos livros didáticos dos alunos (Lírio).

Sim, muitas vezes modificando as atividades (Íris).

Sim, pois procuro dar ênfase à realidade e às necessidades básicas dos alunos, inserindo no planejamento atividades que venham promover a prática da cidadania (Tulipa).

Considerando as falas das professoras, constatamos que Amarílis propõe atividades que os alunos tenham a capacidade de desenvolver sem a presença dela, já que não tem como acompanhar individualmente todos os alunos a distância. Gardênia planeja as aulas de acordo com a realidade dos alunos para melhor assimilação dos conteúdos. Lírio enfatiza que está sempre passando para os alunos atividades do livro didático; para ela, os livros didáticos utilizados condizem com a realidade dos seus alunos. Íris fala que consegue articular os conteúdos com a realidade dos alunos, mas modifica diversas vezes as atividades para fazer as adequações necessárias. Tulipa enfatiza a importância de planejar considerando a realidade e a necessidade do aluno para introduzir temas que desenvolvam a capacidade crítica, ativa e participativa no meio no qual está inserido.

De acordo com Freire (1996, p. 25), "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção". Assim, ensinar é o meio que o professor utiliza para instigar o aluno a desenvolver habilidades e hábitos essenciais para a construção do próprio conhecimento. Ou seja, o professor propicia alternativas em que o aluno aprenda a criar estratégias para buscar soluções, desenvolver o hábito de leitura, escrita e pesquisa. Nesse sentido, é necessário que o professor tenha um novo olhar, utilize a curiosidade de investigação para as novas possibilidades de pesquisas, busque informações em diversas fontes confiáveis, utilize o livro didático como suporte, complemento, mas não fazer dele o único veículo de ensino, bem como analisar e adaptar o conteúdo do livro didático ao contexto sociocultural do aluno.

Questionamos as professoras se elas receberam algum suporte pedagógico da instituição em que trabalham; elas responderam:

Sim. Sempre está enviando material para ser trabalhado através do ensino remoto (Amarílis).

Sim, somos acompanhadas por coordenador e orientador pedagógico, que tem nos ajudado e principalmente tem tirado nossas dúvidas e nos dado força para seguir juntas, pois a união faz a força (Íris).

Sim, orientação para o desenvolvimento das atividades e também sugestões (Tulipa).

Ao analisarmos as falas das professoras, é notório o apoio pedagógico da supervisão e coordenação junto à escola para motivar os professores a proporcionar o ensino remoto de forma a incluir todos os alunos no processo de ensino-aprendizagem, seja por meio do uso de recursos tecnológicos ou materiais impressos. A fala de Íris chamou a atenção, pois ressalta a importância do trabalho coletivo que é desenvolvido na escola visando ofertar um ensino remoto de qualidade para os alunos.

O coordenador pedagógico é o sujeito educacional com a função de colaborar com o processo de ensino-aprendizagem na escola, pois auxilia articulando o conhecimento teórico à prática pedagógica dos professores, proporcionando momentos para reunião, diálogos e reflexão sobre temáticas de interesse coletivo, organização de projetos, acompanhamento junto ao professor e desenvolvimento dos alunos. Segundo Freire (1996, p. 39), "é pensando criticamente a prática de hoje ou ontem que se pode melhorar a próxima prática". Nesse sentido, é de fundamental importância coordenador e professores praticarem a autoavaliação, refletir sobre suas ações e reconstruir novas estratégias que levem ao sucesso profissional.

Perguntamos às professoras se todos os alunos têm acesso às ferramentas digitais utilizadas por elas no desenvolvimento das aulas remotas. Obtivemos as seguintes respostas:

Não. Porque alguns não têm celular para receber as atividades (Amarílis).

Não, porque tem alguns que não têm internet (Gardênia).

Não, tem aluno que não tem internet e muitas vezes um pai tem mais de um filho estudando e possui apenas um celular para todos estudarem, ao mesmo tempo fica difícil (Lírio).

Não, mas os alunos que não têm acesso as ferramentas digitais estão participando através de atividades xerocopiadas, com a ajuda e a participação da família (Íris).

Sim, os alunos têm acesso à internet, bem como possuem aparelho celular (Tulipa).

Ao analisarmos as falas das professoras, ficou evidente que alguns alunos que estudam na instituição não possuem aparelho celular ou conexão de internet para participar das aulas remotas. E, quando possuem ambos, é insuficiente para a quantidade de irmãos que precisam utilizar nas aulas remotas que são no mesmo horário. São muitos os desafios que os professores e alunos enfrentam, é necessário que o educador reflita, faça um bom planejamento, seja flexível com os horários de atendimento, compreenda que a família poderá não estar apta para acompanhar os filhos no desempenho das atividades; e, dessa forma, não excluir aqueles que de certa forma já se sentem excluídos diante dos colegas que têm acesso aos recursos tecnológicos.

É importante o recebimento do material impresso, mas a explicação do professor é indispensável para a compreensão do conteúdo; sendo assim, os alunos sem acesso aos recursos tecnológicos ficam privados da interação online, da audição de músicas, de leituras de deleite e compartilhadas, de explicações, dinâmicas e estímulos para construir uma aprendizagem satisfatória. Sendo assim, "é responsabilidade do professor aproximar as interfaces de um fazer pedagógico capaz de se impor às contradições do cotidiano, delineando novos caminhos para avançar e enfrentar dificuldades que se apresentam no contexto escolar" (Valle; Marcom, 2020, p. 144).

Nessa perspectiva, o professor é um mediador do conhecimento, precisa criar condições de ofertar o conteúdo de forma motivadora, já que o aluno não consegue interagir no grupo de WhatsApp, dialogar e trocar experiências com os colegas. É um desafio para o professor essa duplicidade de planejamento diário: de um lado trabalhar com esses alunos com material impresso sem o contato físico, visual e/ou auditivo de forma a aguçar a construção de seu conhecimento; do outro, buscar as estratégias para desenvolver a temática com a interação do aluno e/ou da família no grupo de WhatsApp.

Questionamos as professoras sobre as vantagens e desvantagens do ensino remoto. As respostas foram:

As vantagens foram o único meio para não ficar sem estudar; a desvantagem é que o aprendizado não cem por cento (Amarílis).

As vantagens são que mantém a rotina da sala de aula, evitando a evasão escolar; as desvantagens são que nem todos tem acesso à internet, não há interação entre professor e aluno (Gardênia).

A vantagem é que de alguma forma o aluno não está sendo prejudicado totalmente, e principalmente os pais estão dando mais valor ao professor. A desvantagem é o entrosamento da turma e a participação de todos em um mesmo horário (Íris).

As vantagens são promover o ensino-aprendizagem mantendo o contato entre professor e aluno. As desvantagens são as dificuldades em acompanhar e desenvolver as atividades, pois alguns não têm uma internet de qualidade. Outro ponto é a distância, o contato físico com o professor é muito importante para o desenvolvimento da aprendizagem (Tulipa).

Ao analisarmos as falas das professoras Amarílis, Gardênia e Iris, percebemos que não estão satisfeitas com o ensino remoto, pois enfatizam como vantagem manter a rotina de sala de aula, evitar evasão e o aluno não se prejudicar; e como desvantagem a falta de acesso à internet, da interação entre professor e aluno; além disso, Amarílis acrescenta que o aprendizado não é cem por cento. É evidente que são inúmeras as dificuldades no processo de ensino-aprendizagem, e dificilmente a aprendizagem ocorrerá cem por cento, seja na modalidade presencial ou EaD. Íris enfatiza que os pais estão valorizando mais os professores, porque estão tendo a oportunidade de conviver mais tempo e ajudar nas atividades; sendo assim, eles perceberam o trabalho que esse profissional tem para proporcionar, desenvolver e construir conhecimentos, bem como manter interação dos educandos por quatro horas diárias.

A fala da professora Tulipa nos chamou a atenção, pois ela expressa a importância da interação entre professor e alunos para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, e como desvantagem as dificuldades de acompanhar o desenvolvimento das atividades, porque há alunos com internet lenta, e assim não conseguem fazer as atividades de forma síncrona, no mesmo momento que os colegas; mesmo assim, entendemos que essa professora vivencia uma realidade diferente das colegas, pois todos os alunos podem ouvir sua explicação, assistir aos vídeos, receber as atividades no grupo de WhatsApp, pedir orientações no horário oposto. Com relação à importância da interação no processo de ensino-aprendizagem, Valle e Marcom (2020, p. 141) afirmam que,

nesse "novo normal", os profissionais da Educação precisaram repensar as formas de interação e mediação a serem utilizadas no processo ensino-aprendizagem, uma vez que foram obrigados a se reinventar e promover alternativas capazes de proporcionar aos alunos o acesso ao conhecimento, numa tentativa desesperada de "salvar" o ano letivo.

Nesse sentido, o ensino remoto está sendo considerado a única alternativa para evitar que haja paralisação no sistema de ensino e que os alunos percam o ano letivo, o que desencadeou nos profissionais da Educação a necessidade de ressignificar todo o seu planejamento, buscar estratégias que atendam ao seu público nesse momento e acreditar que é possível desenvolver um novo jeito de ensinar e aprender. Percebemos que esse momento de isolamento social trouxe limitações externas e internas, promovendo a inserção da família de alguns alunos com a escola de forma visual, bem como com o próprio filho, ao parar para assistir às videoaulas, ler os textos, confeccionar material concreto educativo, participar das atividades lúdicas e auxiliar no desenvolvimento das atividades. A escola instituiu novas formas de mediação do conhecimento e interação professor-aluno-família.

Indagamos às professoras se estavam preparadas para trabalhar remotamente. Elas relataram que:

Não (Amarílis).

Não, está sendo um grande desafio (Gardênia).

Não, está sendo um grande desafio (Lírio).

Ainda estou em adaptação, mas pronta para o novo (Íris).

Não (Tulipa).

Ao analisarmos as falas das professoras verificamos que elas não estavam preparadas para o ensino remoto, tendo em vista que esse modelo de ensino surgiu no ano letivo de forma emergencial por conta da pandemia que estamos vivenciando. O momento exige ação/reflexão/ação. Sobre as alternativas de ensino remoto, Valle e Marcom (2020, p. 147) afirmam que

o professor precisa criar alternativas para conseguir dar conta das demandas que se apresentam, especialmente no uso das tecnologias para mediar o processo de ensino-aprendizagem, buscando desenvolver e experimentar diferentes propostas para tornar esse processo mais próximo das condições que possibilitem ao aluno apropriar-se do conhecimento sem a interação a que estavam acostumados com o ensino presencial, criando outras formas de intervenções igualmente qualificadas.

Sendo assim, a responsabilidade dos professores é de grande relevância para que a educação possa fluir; ele precisa encarar esse momento difícil como se fosse um teste de resistência com seleção de sujeitos críticos, ativos e participativos na construção de sua própria aprendizagem. Ou seja, esse momento é de descoberta, adaptação e aperfeiçoamento, já que não tiveram tempo para uma formação, porém estão enfrentando os desafios, se adaptando e abrindo para "o novo". Portanto, cabe aos governantes ofertar formações continuadas sobre a temática em questão.

Por fim, perguntamos às professoras como elas estão avaliando os alunos nas aulas remotas. Obtivemos as seguintes respostas:

Através das atividades semanais (Lírio).

Através da participação diária dos alunos no grupo de estudo, leitura compartilhada e correção das atividades no grupo (Íris).

Através da participação, envio das atividades, da resolução e da participação ativa. Muitos perguntam, questionam, outros não (Tulipa).

Ao observamos as falas das professoras, constatamos que estão avaliando os seus alunos por meio de correções das atividades, participação nas aulas, leituras compartilhadas, envio e análise das resoluções das atividades e simulados impressos. É desafiador avaliar os alunos nesse contexto de ensino remoto, uma vez que não há como o professor acompanhar o processo de desenvolvimento e a forma como a família auxilia seu(s) filho(s) na efetivação das atividades. Sobre a prática de avaliação, Freire (1996, p. 65) ressalta que

é a mediação entre ensino do professor e as aprendizagens do professor e as aprendizagens do aluno, é o fio da comunicação entre formas de ensinar e formas de aprender. É preciso considerar que os alunos aprendem diferentemente porque têm histórias de vida diferentes, são sujeitos históricos, e isso condiciona sua relação com o mundo e influencia sua forma de aprender. Avaliar, então, é também buscar informações sobre o aluno (sua vida, sua comunidade, sua família, seus sonhos...), é conhecer o sujeito e seu jeito de aprender.

Assim sendo, a avaliação é o meio utilizado para o/pelo professor para mediar o conhecimento entre si e o outro, ou seja, é necessário ele praticar a autoavaliação e estimular os alunos a praticá-la, bem como conhecer a realidade sociocultural dos alunos, considerar os conhecimentos prévios e as individualidades para compreender que cada sujeito tem o jeito e o tempo para aprender.

De acordo com Araújo (2017, p. 37), "a escola tem a função de fortalecer a identidade dos alunos para que eles possam atuar de maneira crítica e autônoma", sendo assim, é nessa instituição que vemos a esperança das crianças descobrir os meios de construção do conhecimento e vivenciar as práticas pedagógicas que estimulem uma aprendizagem satisfatória. É nessa perspectiva que Freire (1996) ressalta a importância de conhecer a realidade em que vivem os alunos para tentar identificar o que sabem e como sabem e compreender a maneira como pensam. Assim sendo, constatamos que a escola pesquisada está situada no campo, os professores conhecem a realidade e o cotidiano dos alunos, mas não se caracteriza como uma escola do campo.

Considerações finais

A Educação do Campo é uma modalidade de ensino voltada para os povos que lutam por uma educação contextualizada com a realidade sociocultural dos sujeitos camponeses. Muitos são os desafios que os professores enfrentam para garantir uma educação de qualidade para os alunos, principalmente no contexto do ensino remoto, pois estes não possuem fácil acesso aos recursos tecnológicos utilizados para o desenvolvimento das aulas remotas.

Os resultados obtidos na pesquisa revelaram que as práticas pedagógicas da Escola Manoel Procópio de Araújo, localizada na zona rural, estão sendo desenvolvidas por meio do aplicativo WhatsApp, e em atividades impressas para os alunos que não possuem acesso à internet. As professoras estão utilizando diversas estratégias de ensino, como vídeos do YouTube, atividades xerocopiadas, livro didático, entre outros recursos que garantem o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem dos alunos. A maior dificuldade nesse contexto das aulas remotas é o isolamento social; e, com isso, a ausência da interação física, as dificuldades de acesso à internet, bem como a falta de apoio das famílias com relação às atividades propostas para os alunos. Além disso, torna-se impossível proporcionar uma educação que considere a realidade sociocultural dos alunos; o ensino remoto não é uma proposta de educação adequada para a escola do campo, pois não proporciona a mesma condição de ensino para todos os alunos e, com isso, alguns sujeitos são excluídos desse processo formativo.

Esses resultados nos fizeram refletir acerca do processo de ensino-aprendizagem dos alunos com e sem acesso à internet; entendemos que os participantes conectados ao grupo de WhatsApp junto à família demonstram que interação, participação e afetividade tendem a um bom desempenho escolar; os que recebem atividades impressas sem interação com o professor têm mais dificuldades para compreender os conteúdos e o professor tem dificuldade para avaliá-los sem acompanhar as estratégias utilizadas por eles no desenvolvimento.

Referências

ARAÚJO, Jefferson Flora Santos de. O currículo e as práticas pedagógicas (des)contextualizadas da escola no campo do semiárido paraibano. 2017. 113p. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação Profissional em Formação de Professores, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996.

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MORAN, José Manuel. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: MORAN, José Manuel; MASSETO, Marcos; BEHRENS, Marilda (Orgs.). Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. p. 11-65.

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Currículo, conhecimento e cultura. In: BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do (Org.). Indagações sobre currículo. Brasília: MEC/SEB, 2007. p. 17-45.

OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2007.

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Publicado em 13 de abril de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

LEITE, Maria das Neves Tiburtino; ARAÚJO, Jefferson Flora Santos de. As práticas pedagógicas dos professores da Escola no Campo no contexto da pandemia da covid-19. Revista Educação Pública, v. 21, nº 13, 13 de abril de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/13/as-praticas-pedagogicas-dos-professores-da-escola-no-campo-no-contexto-da-pandemia-da-covid-19

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