O verbo se faz metamídia

Flávia Poliana Serafim Alves

Faculdade de Educação, Unicamp

Esta obra foi escrita por Roxane Helena Rodrigues Rojo, professora livre-docente do Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem - IEL da Universidade Estadual de Campinas, e por Eduardo Moura, bacharel em Arte e Cultura Fotográfica (Faculdade Senac), doutor em Linguística Aplicada (Unicamp) e pós-doutorando em Linguística Aplicada (USP). Os autores têm por objetivo refletir sobre letramentos, mídias e linguagens na era das tecnologias. O livro é dividido em duas partes: uma parte introdutória, com dois capítulos, que apresenta conceitos centrais (letramentos, multiletramentos/novos letramentos) que firmarão a base teórica para as discussões da segunda parte; esta, com quatro capítulos, apresenta uma caracterização das linguagens visuais, estática e em movimento, sonoras e verbais.

No primeiro capítulo do livro, os autores apresentam o conceito de letramentos e como esse conceito se amplia e se modifica para transformar-se em multiletramentos e novos letramentos. É a partir de 1980 que os conceitos de alfabetização e alfabetismo passam a coexistir com o conceito de letramento. Apoiados em Soares (2003), eles definem que letramento não é ensinar a ler e escrever, mas condição que um indivíduo adquire ao se apropriar da escrita, convivendo, pois, com as práticas de leitura/escrita em sociedade. Com o impacto das novas mídias digitais, os textos já não são veiculados somente por meio da escrita impressa, mas tambématravés de uma pluralidade de linguagens multimodais. Tal impacto também teve reflexo na diversidade cultural e linguística das populações, implicando mudanças na educação, o que chamaram de multiletramentos. Com as novas tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) e a internet, os pesquisadores sentem necessidade de adjetivar os letramentos como "novos letramentos", já que requerem novas formas de conhecimento estratégico, uma vez que são múltiplos, multimodais e multifacetados.

No segundo capítulo é apresentado o conceito de mídia, mídia como meio de comunicação, mídia e modo, multimidia, hipermídia, metamídia e transmídia e como as novas TDIC alteram a relação entre as diversas mídias. Para os autores, podemos entender mídia como um conjunto de meios de comunicação, de massa ou digitais. No intuito de demonstrar que novos meios de comunicação e tecnologia propiciam novos tipos e modos de circulação e de controle de mensagens e linguagens influenciando mudanças culturais, os autores apoiamnos estudos de Santaella (2003), apresentando as seis eras culturais das mídias, a cultura oral; a cultura da escrita; a cultura do impresso; a cultura de massas; a cultura das mídias; e a cibercultura ou cultura digital. Segundo Santaella (2003), o que caracteriza a passagem da cultura escrita e do impresso para a cibercultura é a cultura das mídias, uma vez que sua principal característica é propiciar a escolha e consumo individualizados, ou seja, é uma cultura do disponível e do transitório e a cibercultura, a cultura do acesso.

No terceiro capítulo, Rojo e Moura fazem questão de deixar claro que não trataram de questões relativas aos multiletramentos e à multissemiose dos textos e gêneros que circulam na web, assim buscando aportes teóricos no Círculo de Bakhtin e seus comentadores, Bakhtin (2002; 2003; 2008); Medvédev (2012); Volochíniov (1926; 2008); Faraco (2011); e nos aportes semióticos de Santaella e Noth (2014); Santaella (2001; 2003; 2007; 2013) e Lemke (2010; 2012).

Para os autores, a imagem estática é demarcada por três paradigmas: o pré-fotográfico, o fotográfico e pós-fotográfico. O paradigma pré-fotográfico se caracteriza por um processo de criação artesanal da imagem, como pinturas, desenhos, gravuras e esculturas. O fotográfico se caracteriza por imagens produzidas por máquinas, as fotografias. O terceiro paradigma é o pós-fotográfico caracterizado por imagens calculadas por computação, ou seja, pelo tratamento digital das imagens.

No quarto capítulo, os autores refletem sobre o conceito de imagem dinâmica e seus paradigmas, do pré-cinematográfico ao cinema: entre espetáculo e a montagem, e do cinematográfico ao pós-cinematográfico, ou seja, a metamídia, que visa à transformação do espectador e à sua interação com o material audiovisual, ou seja, novos espetáculos propiciados por novos maquinários de pré-produção, criação, edição e distribuição de imagens em movimentos, denominados pela estética do sampling e do remix.

No quinto capítulo, é abordado o conceito de som e seus paradigmas, modal, tonal e pós-tonal (ou serial). Desta vez, os autores buscam embasamento nos estudos de Wisnik (2007). O mundo modal é o do pulso, do ritmo. Das sociedades primitivas até a Idade Média, a música era vivida como uma experiência do sagrado, ligada a contextos religiosos e sacrificiais. O tonal é marcado pelos novos instrumentos mecânicos e a escrita. É a música moderna, especialmente a "clássica". O mundo pós-tonal é o ingresso de máquinas automáticas para produção e reprodução de música, ou seja, música produzida pelos DJs, pelos ouvintes e pelos compositores, como a música eletrônica ou eletroacústica, e a música concreta.

No último capítulo, Rojo e Moura abordam a linguagem verbal e os paradigmas do texto, do pré-tipográfico à tipografia (a escrita e o impresso) e o pós-tipográfico (hipertexto, hipermídia e metamídia). Nesse capítulo, além dos aportes teóricos já mencionados, os autores citam Vygotsky (1984) e Chartier (1994). Para os autores, toda revolução tecnológica implica mudanças nas formas e organizações dos objetos, em sua circulação, apreciação, uso e nas práticas sociais, como a prática letrada. O que caracterizam como multiletramentos e novos letramentos sãopráticas que combinam leituras de múltiplas linguagens. Essas práticas recombinam e remixam diversoscostumesculturais, a partir de novas éticas e estéticas.

Uma obra bem estruturada, de fácil compreensão e com linguagem clara. Na apresentação do livro, os autores falam que queriam fazer um livro impresso navegável e é isso que encontramos nessa obra, através da inclusão de QR Codes e verbetes da Wikipédia. Sem dúvida, uma obra altamente recomendável para todos os professores, principalmente aqueles que buscam aprofundar s estudos sobre multiletramentos e culturas digitais.

Referência

ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. Letramentos, mídias, linguagens. São Paulo: Parábola, 2019.

Publicado em 13 de abril de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

ALVES, Flávia Poliana Serafim. O verbo se faz metamídia. Revista Educação Pública, v. 21, nº 13, 13 de abril de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/13/o-verbo-se-faz-metamidia

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