Perfil das produções científicas acerca do ensino de Biologia para alunos com surdez no período 2015-2019
Leandro Ferreira da Silva
Graduado em Biologia (UFT), graduado em Pedagogia (USP), mestre em Educação (UFRRJ), doutorando em Educação (UFSCar)
Yssamo de Sousa Gomes
Graduando em Ciências Naturais-Biologia (UEPA)
Yusuky de Sousa Gomes
Graduando em Ciências Naturais-Biologia (UEPA)
Fazendo uma abordagem sobre a educação para alunos surdos no Brasil, a história da Educação Especial relata os diversos momentos educacionais em que pessoas que possuem essa especificidade enfrentaram. As pesquisas em Educação Especial realizada no Brasil revelam que maiorias desses alunos passaram por várias etapas do ensino regular e muitos saem da Educação Básica sem ser escolarizados, gerando aspectos de desigualdade educacional de aprendizagem e conhecimento entre alunos surdos para os ouvintes. Nesse contexto, é notável que o sistema educacional ainda possua várias falhas na educação do surdo (Lacerda, 2006).
É essencial ressaltar que não basta somente no âmbito escolar inserir o aluno surdo na sala de aula e ser chamado de inclusão. É indispensável que esse aluno consiga ter êxito em sua trajetória escolar, tendo acesso às diferentes formas de conhecimento por meio da sua língua.
Cada estudante possui características diferentes, simplesmente porque temos nossas particularidades, e muitos alunos necessitam de uma aprendizagem própria e específica para avanço de suas habilidades. O movimento inclusivo defende que todas as crianças devem compreender juntas, pois é nas diferenças que aprendemos com outro e com as dificuldades elas possam vir a ter. Lacerda (2006, p. 167) aponta:
A inclusão escolar é vista como um processo dinâmico e gradual, que pode tomar formas diversas a depender das necessidades dos alunos, já que se pressupõe que essa integração/inclusão possibilite, por exemplo, a construção de processos linguísticos adequados, de aprendizado de conteúdos acadêmicos e de uso social da leitura e da escrita, sendo o professor responsável por mediar e incentivar a construção do conhecimento através da interação com ele e com os colegas.
Nesse aspecto, sabe-se que, para educar ciências é categórico apresentar atribuições teóricas do conteúdo a ser ensinado, além do entendimento de um melhor ensino (Castro; Carvalho, 2001; Carvalho; Pérez, 1998), tendo como abordagem a estratégia que melhor se adapta às perceptivas do estudante (Gomes, 2010; Brasil, 2002; 1999).
Nesse processo, Destro (2017, p. 45) fala sobre algumas dificuldades encontradas no aprendizado da disciplina de Biologia para estudantes surdos relatando a escassez de sinais específicos em Libras para Biologia, ocorrendo falta de entendimento de conceitos abstratos. Tendo complexidade no acesso à língua escrita, tal realidade mostra os docentes pouco preparados a receber esses alunos com necessidades especiais em sala. Nesse sentido, é necessário se readaptar e se reciclar, acolhendo esse público-alvo que vem ganhando dimensão na sociedade brasileira.
A importância de usar ferramentas nas aulas de Biologia e Ciências é fundamental nesse processo, no qual Dionysio (2018) afirma que o uso de imagens entrelaça uma ligação entre educador e aluno surdo; elas potencializam a exibição de termo e conceito; esses recursos são de suma relevância para o crescimento dos educandos surdos.
Pelas características de aprendizagem do surdo, as representações visuais ganham um papel fundamental, uma vez que esses sujeitos se constroem cognitivamente pela visualidade e assim conhecimentos a respeito das características semióticas das imagens podem contribuir com a escolha intencional realizada pelo professor (Dionysio, 2018, p. 9).
Portanto é essencial considerar o uso dos recursos metodológicos nesse processo; para Castro e Pedrosa (2010), as atividades inclusivas se fazem necessárias nesse processo de desconstrução do cotidiano das escolas, em que a circunstâncias são sempre dirigidas aos ouvintes; são imprescindíveis nesse cenário a formação de professores em Libras e a utilização de recursos visuais que facilitem sua compreensão. Feltrini (2009) sugere práticas pedagógicas que utilizem a Libras em suas atividades com apresentação de trabalho, a execução de tarefas e a realização que envolva e combine a capacidade visual do estudante surdo.
Nesse sentido, visualizamos que há uma interface educacional que precisa ser pesquisada e compreendida, então nos questionamos: qual é o panorama, quais as tendências e lacunas das produções científicas que abordam o ensino de Biologia para alunos com surdez?
Objetivos
Sistematizar e mapear a produção do conhecimento acerca do ensino de Biologia para alunos com surdez realizado no Brasil, a partir de publicações no período de 2015 a 2019.
Além desse objetivo geral, pretende-se identificar fatores que determinam a ocorrência de obstáculo na aprendizagem de Biologia, por parte dos alunos surdos; identificar e analisar as estratégias usadas pelos professores ouvintes de Biologia; verificar como ocorre a comunicação entre o professor de Ciências Biológicas e o aluno surdo; e demonstrar a importância do intérprete de Libras nas aulas de Biologia com alunos surdos.
Metodologia
O caminho investigativo adotado neste estudo se ancorou na pesquisa bibliográfica, com alcance da bibliometria e da revisão de literatura. A pesquisa bibliográfica se baseia em materiais textuais já publicados em livros, artigos científicos, dissertações e teses; grande parte desse acervo está disponível nas principais plataformas de pesquisa (Severino, 2007). O levantamento desse material se submeteu ao tratamento bibliométrico (Silva; Hayashi; Hayashi, 2011) e de revisão de literatura.
Destaca-se que a revisão de literatura tem objetivo principal organizar, integrar e avaliar tais estudos em determinado tempo (Hohendorff, 2014, p. 41). Sendo assim, foi possível analisar as produções acadêmicas na interface do ensino de Biologia para surdos, possibilitando destacar pistas, indícios, relações e lacunas existentes.
Ressalta-se que essas pesquisas se distinguiram de modo quantitativo e descritivo. De acordo com Gil (1996, p. 46), “as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou então o estabelecimento de relações entre variáveis”.
A pesquisa bibliográfica acerca do ensino de Biologia para alunos com surdez foi realizada por meio de três plataformas de dados: os periódicos SciELO, Portal da Capes e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Essas plataformas são as principais bases de dados de produções científicas de abrangência em todo o território nacional. Após escolha das plataformas, utilizamos os seguintes descritores de busca: “o ensino de Biologia para aluno surdo”.
Em seguida delimitamos o período de tempo, sendo escolhidas as produções publicadas entre 2015 e 2019. Justificamos a escolha desse período para trabalhar com pesquisas mais recentes e que tragam um panorama da realidade mais atual. Nesse levantamento, foi possível localizar 50 produções cientificas; realizando uma triagem, com critérios preestabelecidos através de inclusão e exclusão dessas publicações, selecionamos treze produções que de alguma forma atendiam aos objetivos propostos pela pesquisa.
Nesse aspecto, buscou-se observar, analisar e mostrar as informações encontradas como descritas por dados através de tipo, ano e localização geográfica. Segundo Hayashi e Gonçalves (2016), destaca-se a importância de analisar com veracidade e a profundidade, contribuindo para a pesquisa em que possa ter um panorama da área de estudo.
Para organização dos dados coletados, foram destacados os seguintes indicadores de análise: (I) ano de publicação; (II) tipo de pesquisa; (III) referenciais teóricos utilizados; (IV) resultados encontrados na pesquisa. A estrutura dos dados coletados se deu à parte de gráficos e tabelas, e os dados obtidos consolidam a análise descritiva e quantitativa.
Resultados e discussões
Seguindo os critérios de seleção descritos na metodologia, encontramos nas publicações uma tese (Rumjanek, 2016); cinco dissertações (Dias, 2018; Pinheiro, 2018; Saller, 2017; Fonseca, 2015; Carmona, 2015); cinco trabalhos de conclusão de curso (Martins, 2019; Silva, 2019; Alves, 2018; Miranda, 2017; Silva, 2015); e dois artigos (Araújo et al., 2019; e Santos et al., 2018).
Nos trabalhos, encontramos os seguintes objetos de estudo: a tese de Rumjanek (2016) busca relacionar os termos científicos com a Libras; desse modo, procura desenvolver mecanismos em que se pudesse reiterar uma ligação única entre ambas; desse modo, produziu dois glossários, um sobre fascículos, com propósito de solucionar lacunas pertinentes no ensino de Biologia para alunos com surdez.
Nas dissertações, Dias (2018) buscou investigar e analisar de que modo o ensino de Ciências é trabalhado pelos educadores com alunos surdos em um município do centro-sul do Estado do Rio Grande do Sul; Pinheiro (2018) realizou um estudo em cinco escolas públicas de Manaus com o objetivo de identificar as metodologias utilizadas por professores de Biologia nas aulas de Genética. A pesquisa foi realizada em contextos escolares onde existem alunos surdos matriculados. Saller (2017) realizou um estudo em duas escolas no município de Pelotas/RS, tendo como objetivo a realização de um glossário em Libras com o intuito de fortalecer o ensino-aprendizagem dos alunos surdos no conhecimento de Botânica e frutificação; Fonseca (2015) realizou uma entrevista com três professores de Biologia do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), com o objetivo de entender e analisar os saberes adquiridos e vividos em diferentes contextos escolares, como numa escola pública e outra em uma escola especial, buscando observar os saberes construídos e adquiridos no ensino de Biologia para surdos; Carmona (2015) verifica que a ausência de termos científicos em Libras no contexto da Biologia interfere diretamente no ensino-aprendizagem dos alunos surdos. A pesquisa resultou na elaboração de um glossário com o intuito de ajudar nessa escassez de sinais.
Nos trabalhos de conclusão de curso, Martins (2019) toma como análise as dificuldades encontradas no ensino de Biologia para alunos com surdez no curso de graduação em Ciências Biológicas no câmpus de Laranjal do Jari do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá (IFAP); Silva (2019) realizou uma busca de dissertações de mestrado sobre Educação Inclusiva de Biologia para alunos surdos. Os dados da pesquisa foram levantados na Plataforma de Pesquisa de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); Alves (2018) buscou verificar como é a metodologia aplicada para o trabalho com os conteúdos de Biologia para alunos surdos no município de Pinheiro/MA; Miranda (2017) analisa a comunicação entre o intérprete, o professor de Biologia e o aluno surdo de uma escola de Ensino Fundamental e Médio do município de Ananindeua/PA; Silva (2015) analisa as condições do ensino de Biologia para alunos surdos de cinco escolas estaduais da cidade de Formosa/GO.
Nos artigos científicos, temos: Araújo et al. (2019) expõem as condições do ambiente escolar na aplicação do ensino de Biologia para alunos surdos. Santos et al. (2018) destacam as experiências com o ensino de Ciências e Biologia para alunos surdos em três escolas públicas na cidade de Jequié/BA.
A seguir, apresentamos a distribuição temporal da produção científica levantada que aborda a temática discutida.
Gráfico 1: Distribuição de publicações por ano (2015-2019)
Fonte: Dados dos periódicos SciELO, Capes e BDTD.
Tabela 1: Distribuições de publicações por tipo de pesquisa
Autor |
Titulo |
Trabalho acadêmico |
Tipo de pesquisa |
Ano |
RUMJANEK, Julia Barral Dodd |
Admirável mundo novo: a ciência e o surdo |
Tese |
Pesquisa de campo |
2016 |
DIAS, Milene Soares |
Alunos surdos: uma investigação na disciplina de Ciências |
Dissertação |
Pesquisa de campo |
2018 |
PINHEIRO, Maria Ágatha Compton
|
A formação de professores e o ensino de Biologia em salas com estudantes surdos |
Dissertação |
Pesquisa de campo |
2018 |
SALLER, Aline Gonzalez |
Produção de recursos explorando a visualidade no ensino de frutificação: uma abordagem para alunos surdos |
Dissertação |
Estudo de caso |
2017 |
FONSECA, Danielle Macedo |
Trajetórias e saberes entre professores ouvintes e alunos surdos: ensinar Biologia na diferença |
Dissertação |
Estudo de caso |
2015 |
CARMONA, Julio Cesar Correia |
A dicionarização de termos em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para o ensino de Biologia: uma atitude empreendedora |
Dissertação |
Pesquisa de campo |
2015 |
MARTINS, Jaqueline da Silva |
O ensino de Biologia para alunos surdos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas: conflitos e desenvolvimento |
Monografia/TCC |
Bibliográfico |
2019 |
SILVA, Bianca Costa |
Estado da arte: análise das dissertações sobre o ensino de Biologia para surdos |
Monografia/TCC |
Bibliográfico |
2019 |
ALVES, Thayse Martins |
Os desafios da inclusão dos deficientes auditivos no ensino de Biologia na Escola de Ensino Médio José de Anchieta, em Pinheiro/MA |
Monografia/TCC |
Pesquisa de campo |
2018 |
MIRANDA, Jakeline Rodrigues |
O ensino de Ciências Biológicas para alunos surdos em uma escola pública regular em Ananindeua/PA |
Monografia/TCC |
Pesquisa de campo |
2017 |
SILVA, Pablyne Ferreira da |
O ensino de Biologia para alunos surdos do Ensino Médio de escolas públicas estaduais de Formosa/GO |
Monografia/TCC |
Pesquisa de campo |
2015 |
ARAUJO, Antonia Maria Silva de; NASCIMENTO, Cleomara Rodrigues do; SILVA, Juciane de Sousa; ANJOS, Lailson Ramos dos; SOARES, Cecília Regina Galdino |
Ensino de Biologia para alunos surdos na Educação Básica: metodologias aplicadas |
Artigo |
Bibliográfico |
2019 |
SANTOS, Daniela Souza; DUARTE, Ana Cristina S.; SILVA, Ione Barbosa de Oliveira |
Ensino de Ciências e Biologia para estudantes surdos: dificuldades e possibilidades nas percepções de professores e de intérpretes de Língua Brasileira de Sinais |
Artigo |
Pesquisa de campo |
2018 |
Fonte: Periódicos SciELO, Capes e BDTD.
Percebe-se que grande parte das pesquisas estão relacionadas à pesquisa de campo, pois permite contato direto com seu público-alvo, tendo como sua principal meta a coleta de dados e sua análise relatando seu cenário e suas vivências nesse contexto. Dentre os treze trabalhos científicos selecionados, oito se caracterizam como pesquisa de campo; três bibliográficos utilizam a revisão de literatura, focados em conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre essa interface. Duas pesquisas se caracterizam como estudo de caso, em que se direciona às várias problemáticas em busca de selecionar solução para determinado problema.
Em relação às perspectivas adotadas nas pesquisas, a maioria dos autores aborda o método qualitativo (Araujo, 2019; Santo, 2018; Miranda, 2017; Carmona, 2015; Pinheiro, 2018; Dias, 2018; Saller, 2017; Silva, 2015; Fonseca, 2015), enquanto Alves (2018) e Martins (2019) utilizaram o método quantitativo, e Silva (2019) e Rumjanek (2016), uma abordagem descritiva.
O que revelam as publicações levantadas?
a) Práticas pedagógicas: criação de sinais
As produções levantadas revelam que, na área da Ciências Biológicas, há muitos termos científicos que necessitam da criação de sinais, inclusive a caracterização deles em grande parte resulta do trabalho da comunidade surda. Os trabalhos evidenciaram essa necessidade de construção; Rumjanek (2016), em seus resultados de tese, apresentou a produção de dois glossários sobre embriogênese e fertilização. A produção e a criação de novos sinais foram elaboradas por um grupo de professores e alunos surdos.
Buscando essa evidência, Saller (2017) constatou que a aplicação do glossário em Libras no ensino de Ciências facilitou o processo de ensino e aprendizagem do conteúdo de frutificação, favorecendo um ensino ao mesmo tempo prazeroso e agradável tanto aos alunos surdos quanto aos ouvintes, valorizando a cultura e a diferença linguísticas dos alunos surdos. Uma vez que Biologia é uma disciplina muito visual, essa característica contribui para o seu ensino, tornando a aula mais atraente e dinâmica, possibilitando contato com o conteúdo. Uma tática encontrada pelos professores é mostrar as estruturas e explicar seus conceitos, já que não existem muitos sinais para certos termos, por exemplo, de Botânica. O professor pode adaptar sua aula utilizando os recursos que lhe são disponíveis e provocar a curiosidade dos alunos da mesma forma, buscando alternativas diferentes, em que não apenas a imagem deve ser evidenciada, mas também a utilização de vídeos preferencialmente em língua de sinais, permitindo que dessa forma o aluno consiga se identificar em sala, o que acaba despertando o interesse e a atenção deles à aula.
Carmona (2015), em seus resultados, elabora um glossário virtual com o intuito de facilitar o ensino de Biologia por meio da Libras. Buscando tornar suas aulas acessíveis para o ensino de alunos surdos, foi aplicado um questionário para seis estudantes surdos. As respostas evidenciaram que grande parte das terminologias utilizadas na disciplina de Biologia não foram encontradas no dicionário ilustrado de Libras. Os estudantes afirmaram a importância do glossário em língua de sinais voltados para o ensino de Biologia, pois, segundo eles, os parâmetros utilizados na Libras facilitam a compreensão dos conteúdos. Os professores pesquisados relatam a importância do glossário em língua de sinais no ensino de Biologia para compreensão dos termos científicos. É uma ferramenta pedagógica acessível que, aliada aos livros didáticos já existentes, facilita essa interação entre professor e aluno juntamente com o intérprete, enriquecendo e favorecendo o conhecimento de termos cientifico-biológicos.
Essa verificação também foi relatada por Pinheiro (2018) nas dificuldades encontradas pelos professores de Biologia no conteúdo de Genética. Os conceitos de Biologia na maioria das vezes não possuem correspondentes em Libras, o que dificulta o trabalho de professores e intérpretes. Os termos técnicos são de difícil assimilação não somente para os alunos surdos, mas em geral.
Nessa concepção, Martins (2019) aborda em seus resultados as dificuldades encontradas por alunos surdos do IFAP - câmpus Laranjal do Jari. As principais evidências apontadas num questionário aplicado aos professores de Biologia foram: a dificuldade de adaptar as suas aulas para o ensino de alunos surdos, como também o desinteresse em procurar metodologias de ensino voltadas para esse público. Os professores relataram a falta de capacitação e de formação continuada e a ausência de profissionais capacitados para trabalhar com a inclusão, como os intérpretes de Libras e do atendimento educacional especializado.
b) Linguagens e comunicação
Os estudos realizados nessa interface do ensino de Biologia para alunos surdos trazem a realidade do ensino em escolas em que a Libras não transita pelos espaços escolares; Dias (2018) relaciona essa característica como a principal barreira no avanço dos alunos surdos. Isso se evidencia principalmente pela falta de profissionais surdos dentro do ambiente escolar e do conhecimento da Libras pelos profissionais envolvidos, destacando em sua pesquisa o uso massivo da língua oral em detrimento da língua de sinais.Em Ciências é mais difícil, porque há palavras que não são da rotina, trazendo dificuldade do aluno surdo para aprender Ciências, pois o professor, por desconhecer elementos que atendam às necessidades de aprendizagem na falta da audição, não reconhece a sua fragilidade para ensinar, atribuindo as dificuldades somente ao surdo e não à sua prática pedagógica.
Atento a essa problemática, Silva (2015) aponta em seus resultados que o ensino de Biologia no Ensino Médio para alunos surdos fica comprometido devido ao nível de aprendizagem e de alfabetização deles, que em muitos casos não conseguem realizar a leitura de textos complexos. Isso explica por que os estudantes surdos devem conhecer as duas línguas, Libras e Português. Outro obstáculo à aprendizagem é a falta de sinais específicos para os termos científicos, o que dificulta a compreensão do conteúdo.
Alves (2018) encontrou essa dificuldade numa escola pública do interior do Maranhão, onde os alunos surdos relataram dificuldades nas aulas de Biologia devido à ausência de sinais e de terminologia especifica, o que resulta num sentimento de confusão em relação aos conteúdos ministrados.
Pinheiro (2018) relata a dificuldade dos professores na apropriação da Libras, uma vez que muitos desses profissionais receberam pouca ou nenhuma preparação para essa prática durante sua formação inicial. As disciplinas de Libras durante a graduação, na maioria das vezes, são curtas e tratam apenas de assuntos introdutórios da Libras; 80% dos professores pesquisados possuem uma pós-graduação; o que realmente falta é o interesse desses profissionais pela própria área da Educação em que estão atuando.
Nessa mesma linha, Araújo (2019) apresenta em seu resultado que o grande obstáculo no ensino de Biologia para alunos surdos ainda é a dificuldade linguística. Assim, pode-se constatar que metodologias diferenciadas são imprescindíveis para o êxito no aprendizado das Ciências por esses educandos.
c) Atuação do intérprete
No âmbito da atuação dos intérpretes, Pinheiro (2018) relata em seu trabalho a carência desse profissional nos estabelecimentos de ensino, o que resulta numa jornada de trabalho exaustiva, interpretando cinco tempos diários ao longo da semana, sem direito a hora de trabalho pedagógica.
Outra constatação evidenciada por Santos (2018) e Pinheiro (2018) é a falta de comunicação entre os professores e intérpretes antes das aulas, ou seja, no planejamento das atividades não se realiza o ensino colaborativo entre dois profissionais que estão dentro da sala de aula. Sua pesquisa aponta que a aula se torna muito oralizada e com falas rápidas, resultando na dificuldade do intérprete de traduzir e interpretar os conteúdos em língua de sinais.
Silva (2015) relata que o trabalho dos intérpretes se limita à transmissão de conceitos básicos, não havendo apoio de materiais específicos para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem desses alunos. Santos (2018) destaca as dificuldades dos intérpretes com os conteúdos específicos, dificuldades com os sinais específicos para o emprego nas aulas de Ciências e de Biologia.
Diante desse cenário, Araújo (2019) salienta que é importante que o intérprete de Libras entenda as aulas do professor de Biologia, ou seja, apresente um pouco do conhecimento peculiar sobre a informação que está a explicar/traduzir, com o intuito de que a aula seja o mais interessante possível. Destaca que o ensino de Biologia só será possível por meio da ação conjunta entre professor e intérprete de Libras na programação das atividades a serem repassadas em sala de aula e não apenas no incremento de metodologias e técnicas. Essa dificuldade pode ser aumentada se levarmos em consideração os conteúdos específicos das disciplinas de Ciências Naturais e Biologia, principalmente em relação aos nomes de estruturas e processos biológicos.
Alves (2018) verificou a importância desse profissional na mediação dos conteúdos, uma vez que os intérpretes respondem suas dúvidas correntemente, sendo um canal entre o aluno e professor que facilita sua compreensão de conteúdo.
d) Trajetórias profissionais na inclusão de surdos
Dentro desse levantamento, algumas produções relatam as trajetórias profissionais vivenciadas pelos professores na inclusão dos surdos. Fonseca (2015) aborda em seus resultados a experiência de três professores de Biologia que atuam numa instituição que tem tradição na educação de surdos, o Ines. Por meio da entrevista, os professores relataram sua trajetória na Educação Especial e experiências vivenciadas ao longo do tempo, destacando que é essencial haver profissionais com atuação na inclusão para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem desses alunos, uma vez que há necessidade de formação de professores para atuar na diversidade, considerando a escassez de profissionais nessa área. Os professores expuseram que a formação continuada é essencial para atuar nessa área, uma vez que a Libras é uma língua e acompanha as mudanças vividas na ciência, como o surgimento de termos técnicos, novas doenças, vetores, vacinas. A fala dos profissionais relata que o ensino de biologia para surdos não é uma tarefa simples, e para uma boa execução se faz necessário um conjunto de relações que possibilitem o êxito, sendo fundamentais a experiência e o contato direto com o aluno surdo.
Miranda (2017) elaborou um questionário de perguntas e respostas para ser aplicado por professores de Ciências e Biologia de uma escola da rede pública no município de Ananindeua/PA que atuam em contextos escolares onde há alunos surdos matriculados. A pesquisa evidenciou que os professores se comunicam oralmente com o aluno surdo, mesmo sabendo que ele não entende a língua oralizada. Os profissionais da escola não têm domínio da língua de sinais, o que dificulta no ensino e aprendizagem dos conteúdos ministrados tanto em Biologia como nas demais disciplinas. Os professores relataram saber das leis de inclusão e da Educação Especial, mas consideram se sentir desestimulados, uma vez que não há formação continuada.
Alves (2018) encontrou as mesmas dificuldades numa escola pública do interior do Estado do Maranhão, na cidade de Pinheiro; sua pesquisa destaca as dificuldades encontradas para a efetivação da inclusão. Os professores têm boa vontade, mas somente isso não basta; a escola precisa ter profissionais que saibam trabalhar em contextos de diversidades, principalmente ter uma equipe de apoio especializado com intérpretes de Libras. A ausência de profissionais com formação para trabalhar com estudantes surdos resulta em insegurança e despreparo da escola para atuar com a inclusão.
Santos (2018) apresenta em seus resultados como principais dificuldades a falta de formação dos professores para atuar nessa especificidade. Muitos docentes procuraram ampliar seus conhecimentos acadêmicos realizando cursos de especialização, mestrado e doutorado, embora nenhuma das áreas escolhidas contemple problemas relativos à Educação Inclusiva ou à surdez.
e) Estado da arte
Silva (2019) fez uma seleção de doze dissertações por meio da plataforma de banco de dados de teses e dissertação da Capes e não encontrou nenhuma tese sobre o ensino de Biologia para surdos. A pesquisa apresentou um gráfico com as regiões do Brasil das dissertações defendidas, sendo destacado que o Centro-Oeste obteve o maior índice de publicações. Essa distribuição por estado evidenciou que o Rio de Janeiro e o Distrito Federal apresentaram as primeiras discussões sobre a temática. As dissertações abordaram as principais carências e desafios e obstáculos em relação à Biologia.
Considerações finais
A análise da interface do ensino de Biologia para estudantes surdos, por meio do tratamento bibliométrico e da revisão de literatura, nas produções acadêmicas nos permitiu compreender e caracterizar de que forma essa relação acontece, destacando nessa perspectiva os vários empecilhos que ocorrem no processo de ensino e aprendizagem, acarretando fatores cruciais no desenvolvimento educacional para esses alunos.
As produções levantadas revelaram que o ensino de Biologia para surdos ainda é um desafio, tendo como paradigmas a serem quebrados para efetivação da inclusão desse grupo a formação continuada com cursos que trabalhem essa especificidade, com capacitações; que a Libras possa circular mais em contextos escolares e que a escola traga essa discussão, em seminários, simpósios ou feiras culturais.
Identificamos um tema recorrente nas produções levantadas: a ausência de termos científicos voltados à área de Biologia em Libras, proporcionando uma enorme dificuldade de comunicação tanto para o educador de Ciências e Biologia quanto para seu aluno.
No que diz respeito à temática aqui discutida, evidenciamos que está em ascensão, uma vez que há escassez de publicações voltadas para essa área do conhecimento anteriores aos anos de 2015.
Por fim, é necessário que outras pesquisas sejam realizadas no sentido de fomentar o debate e que considerem o direito educacional do público-alvo da Educação Especial, especialmente na inclusão de estudantes surdos em contextos das disciplinas de Ciências e Biologia.
Referências
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Publicado em 27 de abril de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Leandro Ferreira da; GOMES, Yssamo de Sousa; GOMES, Yusuky de Sousa. Perfil das produções científicas acerca do ensino de Biologia para alunos com surdez no período 2015-2019. Revista Educação Pública, v. 21, nº 15, 27 de abril de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/15/perfil-das-producoes-cientificas-acerca-do-ensino-de-biologia-para-alunos-com-surdez-no-periodo-2015-2019
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