A relação entre as dificuldades na aprendizagem e a evasão de alunos na EaD: um estudo de caso
Arlindo Fernando Paiva de Carvalho Junior
Instituto Benjamin Constant
Lidiane Gonçalves Barbosa
Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc/RJ)
Leonardo Villela de Castro
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Diante do constante crescimento dos cursos na modalidade a distância por todo território nacional, muitas questões tornam-se importantes de serem pesquisadas e discutidas. Muitas regiões do interior do país estão recebendo polos presenciais de Educação a Distância (EaD). Esses cursos são ofertados no mesmo molde em todas as regiões independente das características locais. Embora isso facilite a implantação desses cursos, pode trazer dificuldades na gestão dos mesmos. Percebe-se, em muitas instituições, que as turmas desta modalidade iniciam com um quantitativo elevado de alunos e no decorrer do curso os alunos vão se evadindo. Em 2009, o município de Rio Claro/RJ foi contemplado com a implantação de um polo de apoio presencial do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus de Pinheiral, ofertando três cursos distintos para a população local. Verificou-se que a primeira turma iniciou com 30 alunos e apenas sete concluíram o curso. Quais motivos levaram os alunos a não terminarem o curso? Quais as possíveis dificuldades encontradas por estes alunos? Quais fatores interferiram e proporcionaram dificuldades aos alunos?
À medida que crescem os cursos na esfera pública na modalidade EaD por todo o país, e junto desta, a evasão dos alunos, buscamos compreender estas questões, tendo como objetivo investigar quais as dificuldades encontradas pelos alunos no processo de aprendizagem e quais são as causas de evasão dos cursos oferecidos na modalidade de EaD. Nesse sentido, o estudo se justifica por considerar de extrema importância o acesso e permanência dos alunos nos cursos em EaD. Somente identificando os prováveis fatores causadores da evasão e das dificuldades poderão ser propostas transformações pedagógicas e políticas públicas que ajudem no acesso e permanência dos alunos nos cursos ofertados a distância, viabilizando uma educação ética, digna e de qualidade.
Educação a Distância: dificuldades e evasões
A EaD é um dos componentes que caracteriza a sociedade capitalista contemporânea cujo elemento central são as tecnologias de informação comunicação (TIC). Harvey (1992) e Castells (2000) demonstram isso em seus estudos, e podemos complementar que muitas formas de trabalho vêm se alterando nesta sociedade, sendo cada vez mais comuns os trabalhos sazonais, por projetos, os plantões em forma de revezamento e trabalhos sem vínculo e sem rotina diária. Para esses sujeitos, a EaD é uma possibilidade, pois estes não possuem tempo hábil para se dedicar aos estudos de forma presencial.
Reforça essa modalidade, o fato de as TIC estarem cada vez mais presentes no cotidiano dos cidadãos e, portanto, a internet passa a ser um utensílio/ferramenta indispensável no contexto educacional, pois passa a fazer parte do cotidiano e realidade da vida dos educandos, além de ter um enorme potencial de disseminação de conhecimentos e informações. A globalização e consequentemente as redes de comunicação é um fenômeno das tecnologias da comunicação (Mélo, 2018).
No Brasil, a EaD teve sua regulamentação somente após a LDBEN (Lei nº 9.394, de 1996), em seu Art. 80. O primeiro marco regulatório veio através dos Parâmetros de Qualidade para a Educação a Distância, de 1997 e dos Decretos nº 2.494 e nº 2.561, ambos de 1998. Mesmo com este aparato a modalidade não escapou do mito de que realizar curso na modalidade a distância é fácil e de baixa qualidade. Com o crescimento tecnológico e o aumento dos cursos à distância, esses marcos legais foram se aperfeiçoando, porém muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas.
A EaD exige uma postura ativa do aluno perante o conhecimento, o aluno não apenas senta na cadeira e ouve o professor falar e transmitir conteúdos e informações, como ocorre em muitos ensinos presenciais. Ele precisa criar o hábito de ler, organizar e planejar seus estudos, sendo ele próprio o principal construtor de seu conhecimento. Por exigir uma postura ativa e diferenciada do aluno muitos possuem dificuldades de aprendizado e evadem do curso a distância. As pesquisas realizadas verificam que os índices de evasão e desistência na EaD são altíssimos.
Santos (2013), ao investigar a evasão nos cursos superiores a partir de pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo, identifica fatores e motivos causadores da evasão em cursos de graduação presencial e a distância. Dentre as dificuldades e fatores de evasão identificados pelo autor nas pesquisas analisadas estão o contexto familiar, atributos individuais do aluno, maturidade e indecisão, trabalho e estágio, interação do professor e aluno, uso das novas tecnologias da informação e comunicação, conciliar estudo e trabalho, formação escolar precária, ausência de interação presencial, excessiva carga de leitura e tarefas, pouco envolvimento com o curso, falta de hábitos e técnicas de estudo individualizado, falta de motivação, condição socioeconômica e organização do tempo disponível.
Oliveira e colaboradores (2012) ao investigarem as causas da evasão (ou desistência) no curso de licenciatura em Letras - Espanhol do Instituto Federal do Rio Grande do Norte também identificam fatores parecidos. Os autores utilizam um questionário com 14 questões objetivas e subjetivas em que buscam informações sobre a evasão. O questionário foi aplicado via correio eletrônico e telefone com os alunos evadidos (ou desistentes) até agosto de 2011. Dentre as causas e fatores identificados pelos autores está a dificuldade para ir ao polo, conciliar horário, trabalho e estudo, aprovação em outro curso, falta de material impresso, dificuldade de acesso ao material digital, ausência de aulas presenciais, limitações no uso dos computadores e internet.
Os autores também expõem outras pesquisas sobre evasão que evidenciam diferentes fatores relevantes como a maior evasão sendo do sexo feminino, dos 18 aos 30 anos, sobrecarga de atividades e expectativas equivocadas sobre a EaD. Outro dado importante é a constatação de que 75% dos participantes da pesquisa evadidos nunca haviam realizado um curso em EaD.
Silva e Marques (2012) fazem uma pesquisa parecida. Os autores investigam as causas da evasão no curso de licenciatura em Física da Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Os autores utilizaram questionário com perguntas abertas e fechadas aplicados através de correio eletrônico aos alunos que ingressaram nos anos de 2007, 2009, 2010 e 2011 no curso de licenciatura em Física na modalidade de EaD na Unifei.
Silva e Marques (2012) identificaram diferentes fatores que causam a evasão no curso em EaD, como a dificuldade em conciliar trabalho e estudo. Constatam que 40,90% dos alunos evadidos abandonaram o curso no primeiro semestre, e que 50% dos alunos pesquisados afirmaram ter problemas para se adaptar a modalidade de EaD. Outras constatações verificadas com as respostas dos alunos ao questionário foram a didática e a má formação dos professores tutores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, que assim como os alunos necessitam conhecer técnicas de mediação e metodologias de mediação da aprendizagem a distância. A pesquisa de Silva e Marques (2012) nos possibilita variadas reflexões não só sobre o processo de ensino e aprendizagem em EaD, mas especificamente sobre a evasão dos alunos nessa modalidade.
A EaD exige um perfil de aluno ativo, organizado, disciplinado. Um aluno que os sistemas de ensino não formam em sua maioria. Ao se depararem com intensas leituras, discussões e debates constantes em fóruns e trabalhos semanais o aluno encontra dificuldade em se organizar e se adaptar ao perfil da EaD. A dificuldade em se adaptar à modalidade explica o alto índice de evasão no curso logo no primeiro semestre letivo.
Outra questão importante de ser pensada é a formação dos professores tutores e demais profissionais que atuam na EaD. Apesar do imenso número de cursos técnicos, superiores, de aperfeiçoamento e pós-graduação aumentando em todo território nacional, pouco tem sido investido e exigido na preparação dos profissionais da EaD.
Concepção metodológica
A pesquisa, de cunho qualitativo, buscou analisar através de questionários e observações, o processo de ensino e aprendizagem na EaD. Consistiu em um estudo de caso, pois se limitou aos alunos do polo de apoio presencial do IFRJ de Rio Claro/RJ. Conforme Thomas, Nelson e Silverman (2012), esta pesquisa pode ser caracterizada como um estudo de caso interpretativo, pois os dados coletados serão descritos e interpretados na tentativa de teorizar o fenômeno da aprendizagem e evasão na EaD.
As observações se limitaram apenas aos alunos que frequentavam o polo de apoio presencial, buscando informações sobre o processo para futuras interpretações e inferências com os demais dados coletados nos questionários. Ao todo, foram sete questionários com questões abertas e fechadas, chamados de:
- Conhecendo o aluno;
- questionários de final de trimestre (esses foram aplicados no final de cada trimestre do curso);
- questionário final;
- questionário de evasão; e
- questionário à coordenadora.
Esses questionários serão um pouco mais detalhados na análise e discussão dos dados. A análise dos dados foi realizada durante todo o processo de pesquisa de campo (Moreira; Caleffe, 2008).
A pesquisa teve início com o acompanhamento em fevereiro de 2010, de 16 alunos matriculados nos cursos técnicos de serviço público e agente comunitário de Saúde, sendo concluída em 2012 junto à sua formatura.
O Centro Municipal de Ensino São José, o qual hospeda o polo de apoio presencial do IFRJ, foi inaugurado em 31 de março de 1974. O polo passou a utilizar o espaço do Colégio São José a partir da parceria realizada entre a prefeitura e o IFRJ no ano de 2009.
O polo conta com a participação de uma coordenadora e uma tutora presencial. Oferece três tipos de cursos: Agente Comunitário de Saúde, Serviço Público e Agente de Esporte e Lazer. Cursos de um ano e meio de duração com 900h de curso online, 186h presenciais e 200h de estágio.
As primeiras turmas dos cursos foram formadas a partir de processo seletivo com prova e classificação. Atualmente o processo seletivo é realizado por sorteio.
Análise e discussão de dados
O primeiro questionário, intitulado "Conhecendo o aluno", foi aplicado para os 16 alunos no início do curso com o objetivo de identificar o perfil dos estudantes e identificar possíveis dificuldades na aprendizagem em EaD. O questionário também funcionou como uma forma de cadastro dos estudantes para realização de futuras comunicações visando à pesquisa.
Baseado nas informações coletadas com a aplicação do questionário, pode-se observar a Figura 1.
Figura 1: Perfil do aluno
No decorrer do curso foram aplicados quatro questionários sobre o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. O segundo questionário com questões abertas e fechadas, referente ao primeiro trimestre do curso, foi respondido por onze alunos. O terceiro questionário composto com 56 questões referentes ao segundo trimestre do curso foi respondido por onze alunos. O quarto questionários composto por 48 questões referentes ao terceiro trimestre do curso foi respondido por oito alunos. E o quinto questionário composto de 17 perguntas referentes ao quarto trimestre do curso foi respondido por seis alunos. O número de alunos que respondeu cada questionário varia porque no decorrer do curso os alunos foram evadindo e pelo fato do curso ser a distância nem todos os alunos compareciam ao polo regularmente, o que prejudicava a aplicação dos questionários.
Os questionários aplicados no decorrer do curso totalizam quatro momentos de coleta de dados em diferentes períodos. O objetivo foi tentar identificar as dificuldades encontradas no decorrer do curso e as mudanças e amadurecimentos dos alunos durante o processo de ensino e aprendizagem em EaD. Os quatro questionários são extensos e exigem uma análise aprofundada das questões. Aqui serão apresentados apenas os dados relevantes ao objetivo da pesquisa. Os quatro questionários juntos totalizam mais de 50 questões, algumas aplicadas nos quatro questionários com o objetivo de verificar a mudança de perfil e características dos alunos. Muitas questões dão base para o entendimento de outras pelo pesquisador, porém nem todas serão aqui discutidas.
Analisando os quatro questionários verifica-se uma evolução e mudanças nas dificuldades dos alunos. No segundo questionário, referente ao primeiro trimestre do curso, os alunos sinalizam dificuldades no manuseio dos computadores e acesso à internet. Varias alunas ficaram reprovadas na disciplina "Informática Aplicada" cursada no primeiro trimestre. No terceiro questionário apenas três alunas mencionaram terem ficado reprovadas. No quarto questionário nenhuma aluna menciona ter ficado reprovada. No quinto questionário, apenas uma aluna menciona a reprovação em uma disciplina.
Consegue-se verificar com o decorrer do curso que as dificuldades dos alunos se restringem em sua grande maioria a falta de conhecimento de informática. Com o decorrer do curso, os alunos que não desistem, conseguem se adaptar as novas tecnologias e com o tempo conseguem ter a sua autonomia nos estudos. Uma vez que isso acontece dificilmente a evasão ocorre.
O sexto e último questionário foi aplicado a apenas oito alunos que estavam prestes a concluir o curso técnico a distância. Apenas algumas atividades ainda precisavam ser realizadas, mas pode-se dizer que os oito alunos já haviam concluído o curso com êxito.
O objetivo do último questionário composto por sete questões abertas foi identificar mudanças de características no perfil dos alunos e dificuldades encontradas durante o curso.
Quando questionados sobre as dificuldades encontradas ao longo da trajetória do curso, as respostas foram bem variadas, entre elas: a adaptação ao curso a distância, em ter que ir ao polo, em atividades e tarefas do curso, falta de tempo, dificuldade em conciliar família, trabalho e estudo, dificuldade com a matéria de informática. A maioria dos alunos teve uma maior dificuldade no início do curso.
Ao serem indagados se pensaram em desistir do curso, apenas dois alunos responderam "não". Os outros seis alunos pensaram em desistir e citaram como fatores causadores a falta de domínio de informática, disciplina, leitura e organização dos estudos, falta de tempo, cansaço e dificuldades em algumas matérias.
Quando questionados sobre o que poderia ser melhorado na atuação dos tutores, apenas dois alunos responderam ter sentido falta de algo. A motivação dos tutores a distância e a atenção aos alunos na explicação das tarefas foram mencionadas como possíveis faltas no curso e possíveis de serem melhoradas.
Todos os alunos mencionaram ter tido autonomia durante o curso, conseguindo realizar tarefas e estudando sozinho. Alguns mencionaram ter tido dificuldades apenas no início do curso. Apenas um aluno relatou ter tido problemas pessoal/profissional ou técnico que atrapalhou o andamento do curso.
Quando questionados sobre quais as ferramentas didáticas de comunicação gostaram de utilizar ao longo do curso, as respostas foram bem variadas, como o fórum, vídeo, texto, e-mail, computador e site de busca.
No espaço livre do questionário onde os alunos poderiam falar livremente sobre o curso foram mencionados que gostariam de mais vídeos em todas as disciplinas do curso, de mais aulas presenciais e do material didático impresso.
O questionário da evasão
O objetivo do questionário de evasão era identificar as causas e motivos da evasão do aluno. O questionário composto por apenas três questões era aplicado quando um aluno desistia do curso. O problema na aplicação de tal questionário é que uma vez que o aluno desistia do curso, o mesmo não voltava mais ao polo presencial e dificilmente os questionários de evasão eram respondidos. Em busca de não fragilizar o andamento da pesquisa os questionários tentaram ser aplicados por correio eletrônico e telefone, mas sem sucesso. O aluno que desistia do curso automaticamente deixava de participar e contribuir com a pesquisa.
Neste contexto, apenas um questionário foi respondido o qual a aluna deixou claro o motivo da evasão: a falta de tempo para estudar. É importante tal informação, mas infelizmente não se pode relacioná-la às demais evasões. Dos 16 alunos participantes da pesquisa, oito evadiram do curso e apenas um respondeu ao questionário de evasão.
Entrevista com a coordenadora do polo
A entrevista consistiu em um questionário com nove questões abertas e fechadas. O mesmo foi aplicado via correio eletrônico. Após a o retorno da coordenadora com as respostas do questionário, foi marcado um dia presencial para esclarecimento de algumas respostas e questões com a coordenadora, e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Esse processo mencionado foi realizado durante o mês de abril de 2014.
A entrevista com a coordenadora buscou informações sobre as dificuldades e causas da evasão com uma das principais peças do processo de ensino e aprendizagem, o professor. Além de exercer a função de coordenadora do polo de apoio presencial, a professora entrevistada também atua na função de professora tutora presencial mediando e auxiliando na aprendizagem dos estudantes.
A coordenadora possui licenciatura em letras e duas especializações: Tecnologias em Educação, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e em Planejamento, Implementação e Gestão da EaD pela Universidade Federal Fluminense.
Questionada sobre as dificuldades e causas da evasão dos alunos na EaD, a coordenadora diz identificar dificuldades na interação de alguns com os recursos do Office, acesso a internet fora do polo e leitura do material didático impresso. Menciona que se os alunos frequentassem mais vezes o polo tais dificuldades poderiam ser sanadas. Diz que uma das causas da evasão é a falta de disciplina do aluno e a falta de material didático impresso para leitura fora do polo, uma vez que nem todos possuem computador e verba para imprimir o material didático impresso (MDI) fora do polo. A falta de disciplina mencionada pela coordenadora pode ser justificada pela falta de tempo e estilo de vida dos alunos, que em sua maioria são mulheres com responsabilidades do lar.
A coordenadora menciona que os tutores tentam cativar os alunos e enviam mensagens quando os mesmos ficam ausentes. Para a coordenadora, se o MDI fosse disponibilizado logo no início do curso, poderia sanar a evasão dos alunos e garantir a permanência dos mesmos.
Tais questões levantadas no questionário e apresentadas pela coordenadora são importantes no processo de ensino e aprendizagem, e devem ser levadas em consideração para melhoria da qualidade do curso e diminuição da evasão dos alunos, uma vez que a mesma tem experiência com a EaD e a realidade local, tem formação específica na área e atua constantemente com os alunos em questão.
Considerações finais
O estudo aqui realizado em longo prazo buscou investigar através de acompanhamento e desenvolvimento dos alunos nos cursos, as dificuldades que eles enfrentaram e as causas que os levaram a desistir do curso. Pode-se concluir não só pela variedade de dados coletados na pesquisa de campo, mas também pela revisão bibliográfica, que muitos são os fatores causadores de dificuldades e evasão dos cursos a distância. Os resultados aqui podem não ser generalizados a outras regiões pela sua especificidade local, social e cultural, mas nos dá uma base ampla sobre as causas de evasão e dificuldades no processo de ensino e aprendizagem na EaD.
Entre as dificuldades encontradas, pode-se citar a falta de tempo para se dedicar aos estudos. Dos 16 participantes da pesquisa apenas um era homem. A maioria das participantes era do sexo feminino e, como as mesmas mencionaram, tinham diversas outras responsabilidades com afazeres do lar. Ao refletir que a maioria vive com uma renda de até um salário mínimo, sem computador e acesso a internet em casa, tendo que trabalhar, cuidar da família e da casa, dá indícios do porque a evasão é tão grande. Talvez se o curso fosse presencial a evasão seria a mesma causada simplesmente pelo estilo de vida e realidade local dos estudantes. O estudo não pode ser conclusivo em relação às causas da evasão, pois apenas um aluno dos evadidos continuou participando da pesquisa e expôs a sua causa, mas a partir das dificuldades mencionadas pelos alunos, temos indícios das causas das evasões.
Dentre esses indícios, os fatores considerados cruciais na evasão, especificamente, na EaD foi a falta de conhecimento de informática, falta de material didático impresso, falta de acesso à internet e computador em casa, e a falta de tempo ou má gestão do tempo para se dedicar aos estudos. A autonomia dos estudantes no início do curso ficou prejudicada. Se o curso em EaD não promover uma boa base e estrutura para manter os alunos, dando a todos os suportes necessários, muitos podem desistir logo no início.
Percebeu-se também que a baixa escolarização dos pais e responsáveis pela criação dos alunos pode ter uma relação com dificuldade de se expressar pela escrita, que é um dos principais meios de comunicação da Educação a Distância.
Promover uma educação a distância de qualidade exige tempo, formação e características específicas do curso e seus integrantes. Os alunos chegaram aos cursos com diferentes déficits de aprendizado. Em uma região rural a qual se procedeu a pesquisa, como Rio Claro, talvez a falta de conhecimentos de informática exija primeiro um nivelamento dos estudantes como uma capacitação tecnológica. Talvez uma capacitação antes de iniciar o curso com o devido tempo necessário ao aprendizado dê aos estudantes o conhecimento necessário para exercerem seu aprendizado com mais autonomia e, de certa forma, ajude a baixar os índices de evasão na EaD.
É importante ressaltar a importância do material didático impresso, que viabiliza o estudo fora do polo aos alunos que não possuem acesso àinternet em suas residências, o funcionamento do polo de apoio presencial em diferentes horários e dias da semana, buscando contemplar a realidade de diferentes alunos, e a proximidade do professor, sendo uma das diferenças mais citadas pelos alunos. Apesar da autonomia do aluno perante a construção do conhecimento, o professor continua sendo o mediador necessário neste processo, e é fundamental refletir, como a EaD pode minimizar a distância entre professor e aluno no processo de ensino e aprendizagem a distância.
Ser professor e aluno na EaD exige dedicação e características específicas, tanto do aluno, quanto do professor. Reconhecer as exigências da EaD e suas limitações é o caminho para promover uma educação a distância digna, ética, igualitária e de qualidade. O presente estudo pode ser utilizado para melhora da qualidade da EaD, considerando que as características locais onde ocorreu o estudo limitam a generalização do mesmo a outras localidades. Sugerimos que outras pesquisas sobre a aprendizagem, dificuldades e evasão nos cursos a distância sejam realizadas. A EaD conseguiu possibilitar o estudo formal, agora precisamos identificar as causas da evasão para dar possibilidades de permanência dos alunos e chegarmos de fato a uma sociedade transformadora, igualitária e escolarizada.
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Publicado em 04 de maio de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
CARVALHO JUNIOR, Arlindo Fernando Paiva de; BARBOSA, Lidiane Gonçalves; CASTRO, Leonardo Villela de. A relação entre as dificuldades na aprendizagem e a evasão de alunos na EaD: um estudo de caso. Revista Educação Pública, v. 21, nº 16, 4 de maio de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/16/a-relacao-entre-as-dificuldades-na-aprendizagem-e-a-evasao-de-alunos-na-ead-um-estudo-de-caso
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