Atribuições do tradutor intérprete de Libras e Português no IFRN - câmpus Natal Central

Morgana Machado Henrique

Graduada em Letras - Português/Libras (UFRN), especialista em Libras (Faculdade Futura)

Este parecer técnico tem por objetivo elucidar de forma sucinta a descrição das atribuições do tradutor intérprete de linguagem e sinais - TILS nas instituições federais de ensino superior (IFES) e como deve ser realizado o trabalho desse servidor, havendo demanda ou não.

Atribuições do tradutor intérprete de linguagem e sinais

Devido à demanda legislativa (Decreto nº 5.626/05, Art.14, § 1º), as IFES têm em seu corpo profissional um novo membro: o tradutor intérprete de linguagem e sinais, cuja atuação ainda não é plenamente compreendida por aquelas instituições. Sendo assim, propomo-nos aqui a descrever as atribuições desse profissional.

Vale salientar que, embora a titulação do cargo seja TILS, tal profissional é mais comumente chamada de tradutor intérprete de libras e português ou tradutor intérprete de língua de sinais e língua portuguesa, partindo da visão de que ele trabalha com um par linguístico (Libras e a Língua Portugesa), e não um único idioma. Citado isso, a partir de agora, usaremos a expressão tradutor intérprete de libras e português –  TILSP, tendo em vista que a nomenclatura TILS é considerada desvalorizante no que tange à profissão e à Libras ao usar a expresão "linguagem e sinais" dando um aspecto inferior ao idioma e ao profissional do qual tratamos neste documento.

A considerar as legislações e os normativos vigentes, pode-se entender como atribuições e funções do TILSP o seguinte:

Traduzir e interpretar artigos, livros, textos de idioma para outro, bem como traduzir e interpretar palavras, conversações, narrativas, palestras, atividades didático-pedagógicas em um outro idioma, reproduzir Libras ou na modalidade oral da Língua Portuguesa, o pensamento e intenção do emissor. Assessorar nas atividades de ensino, pesquisa e extensão (Edital IFRN nº 12/15, p. 2).

Outros normativos – tais como o Parecer de Contratação nº 01/2014/SGIFES/DEPCONSU/PGF/AGU, p. 01, 05, 15, 16, 17 e 18; Descrição do Plano de Carreira dos cargos técnico-administrativos em Educação – PCCTAE, p. 98 – descrevem de forma mais detalhada tais atribuições, caracterizando ainda o labor do TILS quando não há na instituição surdos a serem atendidos.

Em suma, a descrição de atividades quando há o aluno Surdo é prioritariamente o atendimento a este; faz-se compreensão de que o TILSP trabalha com o par linguístico Libras - Língua Portuguesa, ou seja, "o tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa" (Parecer de Contratação nº 01/2014/SGIFES/DEPCONSU/PGF/AGU, p. 16).

É de grande importância distinguir que não cabe ao TILSP a tradução de outros idiomas orais ou até mesmo outras línguas de sinais, nem a "tradução/interpretação" na modalidade oral da Língua Portuguesa para a própria modalidade oral da língua – como no caso de atuação dos tradutores intérpretes de leitura labial – cargo que não existe nas IFES e raramente é usando em outros locais – nas instituições de ensino, o mais comum é o aparelho e demais tecnologias assistivas para o aluno deficiente auditivo. É importante frisar que ao TILSP cabe apenas a tradução e interpretação de Libras para Português e vice-versa. São destacadas também como atuação do TILSP as traduções de editais e materiais didático-pedagógicos e a capacitação de servidores a respeito das singularidades que envolvem o aluno Surdo dentro das IFES. Nos casos em que por algum motivo não haja surdos na instituição, as atribuições descritas são:

  1. Com efeito, no período em que não existir estudantes Surdos, o intérprete deverá buscar mecanismos para se aperfeiçoar na técnica da tradução, procurar conhecer as matérias dos cursos onde e nas quais vai atuar e, ainda, ter acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos Surdos ou com deficiência auditiva.
  2. A título de ilustração, o período sem estudantes Surdos incluídos pode ser utilizado pelo intérprete para: estudo de termos técnicos relacionados aos eixos tecnológicos de atuação da instituição; tradução em eventos realizados pelas IFES (congressos, seminários, oficinas, feiras e demais eventos científico-culturais); participação nos processos seletivos, prestando atendimento às pessoas surdas nos locais de provas; trabalhar nos cursos na modalidade de educação a distância, para que as transmissões possam dispor de janela com tradutor e intérprete de Libras.
  3. Outro trabalho importante a ser realizado é a tradução das informações anunciadas no site da instituição (Parecer de Contratação nº 01/2014/SGIFES/DEPCONSU/PGF/AGU, p. 15, 16, 17 e 18).

Ainda se tratando da atuação do tradutor intérprete de Libras e português, é interessante destacar a importância do trabalho em equipe, bem como o revezamento durante o exercício das funções. O aumento de estudos na área vem destacando a necessidade de observar o trabalho do TILSP com cautela e ocasionou a elaboração da Norma Técnica nº 02/17 emitida pela Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guias-Intérpretes de Língua de Sinais – Febrapils, que tem por finalidade orientar seus associados acerca de seu labor.

Vale ressaltar que "a atuação do intérprete e do guia-intérprete na interpretação simultânea e consecutiva por longos períodos de tempo o expõe a sobrecarga de trabalho, podendo resultar em lesões físicas por esforço repetitivo" (Febrapils, Nota Técnica nº 02/17, p. 2). Sendo assim, orienta-se que qualquer tipo de atuação dos TILS que ultrapassar 40 minutos seja realizado em dupla para não ocasionar o desgaste do profissional e a perda de informações ao longo do processo tradutório ocasionados pelo intenso esforço cognitivo, o que gera omissões, perda de informações; além disso, o profissional passa a ter dificuldade em se monitorar (Gile, 1995; Quadros, 2004).

Considerações finais

A construção deste parecer se deu a partir do conhecimento técnico, teórico e prático dos tradutores interpretes de linguagem e sinais em atuação no IFRN – câmpusNatal Central, com o propósito de orientar acerca de possíveis dúvidas e trazer maior compreensão sobre os temas tratados. Nesse sentido, esperamos que, em situações adversas ligadas à inclusão de alunos com deficiência auditiva e/ou Surdos, bem como da atuação do servidor tradutor intérprete de linguagem e sinais, possamos ter um norte pautado na legislação vigente, a fim de assegurar a qualidade do atendimento aos alunos em questão e da atuação dos profissionais TILS.

Referencias

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Publicado em 04 de maio de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

HENRIQUE, M. M. Atribuições do tradutor intérprete de Libras e Português no IFRN - câmpus Natal Central. Revista Educação Pública, v. 21, nº 16, 4 de maio de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/16/atribuicoes-do-tradutor-interprete-de-libras-e-portugues-no-ifrn-campus-natal-central

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