Resenha do livro: "Fotografando o Rio" - 450 anos

Renan Furtado Cordeiro da Silva

Licenciando em História (UNIRIO/Cederj - Polo Piraí)

Registros históricos da cidade do Rio de Janeiro

Ana Maria Mauad, doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense, tem pós-doutorado no Museu Paulista, da USP. Atualmente, é professora titular do Departamento de História, pesquisadora do Laboratório de História Oral e Imagem da UFF, desde 1992, do CNPq desde 1996 e Cientista do Nosso Estado Faperj (2013-2019). Dedica-se ao ensino de teoria e metodologia da História; é autora do livro Poses e flagrantes: ensaios sobre História e fotografias (Eduff, 2008) e de vários artigos e capítulos de livros sobre temas ligados a História Oral, História visual, História cultural e História da memória. Dedica especial interesse à reflexão crítica sobre fotografia.

A autora teve o objetivo de organizar vários artigos fotográficos da cidade do Rio de Janeiro, trazendo assim um imenso número de imagens e registros históricos. Usando imagens de riscadores, pintores e de fotógrafos brasileiros ou não que estiveram registrando momentos da cidade. A autora produziu tudo isso com a intenção de comemorar os 450 anos da cidade.

Produzido para mostrar uma parte da história da cidade, a autora reuniu artigos fotográficos de desde o século XIX. Esse material de história visual foi organizado em três partes, de forma que o leitor consiga melhor situar em qual contexto aquela imagem se situa. E cada artigo do livro vai trazendo uma parte da história da cidade do Rio de Janeiro. Sendo assim, a primeira parte, de artigos, registra mais a área litorânea sempre olhando para o mar, a segunda os personagens e os lugares da cidade e a última traz narrativas visuais. Cada uma dessas partes possui artigos de brasileiros e estrangeiros que, a partir da imagem registrada, mostram esta cidade que muitos chamam de “Cidade Maravilhosa”.

Por conta de seu vasto número de registros e imagens, o livro é indicado a estudantes e pessoas interessadas na história do Rio de Janeiro, principalmente aquelas pessoas que sentem vontade de conhecer a fundo uma boa parte da cultura e paisagem da cidade ao longo do tempo.

Desenvolvimento                

O livro Fotograficamente Rio, a cidade e seus temas desde o começo explora de forma intensa a história da cidade do Rio de Janeiro; também mostra sua beleza com as lindas paisagens, o cotidiano das pessoas e mudanças das estruturais na cidade. Para bem trabalhar isso, o livro traz vários artigos com dados históricos, relatos e principalmente as fotos que são seu ponto central.

No começo do livro, é apontado como surgiu a grande relação da cidade com a arte. Citando o fluxo de pessoas, as belezas naturais que ajudaram a criar um bom clima e principalmente D. Pedro II e seu incentivo à arte. O mesmo criou a Academia das Belas Artes, dando assim um enorme apoio à manifestação artística da cidade.

A história da fotografia também não fica de fora do livro. A obra traz a historia de como surgiu a fotografia na cidade. Remontando todo o trajeto desde a pintura até as inovações vindas da Europa, com os fotógrafos, a democratização da fotografia etc. Por fim, mostra como tudo isso faz parte da história da cidade.

O livro também apresenta como se deve olhar para a fotografia e como o leitor deve saber interpretar a imagem. Isso é de grande valor, pois há uma melhor instrução a quem vai ler e mostra a atenção do autor com o leitor.

A partir de tudo isso já citado, o livro traz uma abordagem histórica a partir dessa historia visual com as fotografias, fazendo o leitor mergulhar na história da cidade.

Ana Maria Mauad, quando organizou o livro, procurou de forma didática dividir os artigos do livro em algumas partes, para facilitar assim o entendimento do leitor e melhor homenagear os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.

Na primeira parte dos artigos, o tema é “O Rio volta para o mar”. Nesse grupo de ensaios, todos eles remetem um olhar para o mar, passando assim pelo cotidiano das pessoas, o trabalho delas nos portos, o lazer dos moradores, os turistas e principalmente a beleza do mar da cidade do Rio de Janeiro.

O primeiro artigo é de Maria Pace Chiavari; ela tenta mostrar a importância do mar para a cidade. Mostrando que o mar é lugar de trabalho, encontro, passeio e lugar de memória. E neste artigo ela apresenta a cidade sempre indo ao encontro do mar, e seu marco é a fotografia pública.

Já o segundo artigo é de Sabina Alexandre Luz; neste artigo ela apresenta algo que poucos possuem conhecimento de como se enraizou – que é como foi fixada na cabeça do povo a noção de tempo (relógio). Ela mostra de forma extensa como os governantes se preocupavam em passar essa noção para o povo. Então, encontramos um pouco da história do Observatório do Rio e fotos de vários locais com relógio na fachada, de forma que todos pudessem ver as horas.

Isabella Perrotta, no terceiro artigo, apresenta como no século XX eram os guias turísticos, com as paisagens sempre com o mar. Ela também mostra a importância do postal naquela época e como o Rio era apresentado em pequenos guias turísticos que rodavam o mundo com cada turista que já havia passado pela cidade. 

No quarto ensaio, Marcos Felipe de Brum Lopes trabalha com o estilo de imagem pitoresco. E sendo assim, ele apresenta várias fotografias da cidade, sendo a maior delas como se estivesse em um avião, ou seja, olhando por cima. Ele também mescla fotos em preto e branco com coloridas. De forma interessante ele consegue chegar a abordar os conflitos do Rio, relatando até o caso de jovens presos em 2015, por conta de assaltos.

Carlos Eduardo Pinto traz no quinto artigo a preocupação de qual seria a serventia da praia no Rio de Janeiro nos anos de 1950 até 1960, e traz também a preocupação de alguns cineastas com a reflexão sobre o Brasil. Ao longo do artigo ele apresenta como era a relação das pessoas, quem frequentava a praia, como o morro era visto etc. E usando sempre filmes para fazer a analogia com a realidade.

No sexto e último artigo da primeira parte, o Coletivo Foto Expandida apresenta um artigo bem curto. E este grupo procura apresentar a luta pela moradia na zona portuária do Rio. Eles trazem fotografias e imagens de como fica o local após a desocupação das pessoas e demolição das casas, para uso de comercial ou de lazer. Ele também mostra o sofrimento do povo mais pobre que, com esse despejo, fica sem lugar para morar.

Na segunda parte do livro, o foco fica em personagens e lugares do Rio. Isso em mais seis ensaios fotográficos. Onde eles fazem a ligação entre as pessoas que marcaram a cidade do Rio e os lugares que são marca da cidade.

O sétimo artigo do livro fica com Maria Isabela Mendonça dos Santos, que utiliza das fotografias de Guilherme Antonio dos Santos. Esse homem era um apaixonado pela cidade e fotografava várias partes da cidade, desde missas até as partidas de futebol. E assim passava por bairros como Urca, Leblon, Copacabana e até festas populares, sempre tentando trazer uma visão tridimensional para a fotografia. E o marco desse artigo é que duas fotos iguais ficam lado a lado.

Flávia Brito do Nascimento, com o oitavo artigo, mostra como os postais retratam o centro da cidade. Diferente dos outros artigos, este não mostra as belezas naturais, e sim foca na arquitetura do centro do Rio e no cotidiano das pessoas que ali vivem, de forma que leva a uma reflexão sobre o dia a dia.

No nono artigo, Paula Ribeiro, Aline Santiago e Douglas de Andrade Figueiredo trazem um material extenso relembrando o centenário do fotógrafo Carlos Moskovi, que era húngaro e se naturalizou brasileiro. E neste artigo são apresentadas várias fotografias do fotógrafo, assim mostrando sua história e fatos marcantes em sua vida. Vemos com isso que ele era um fotografo mais midiático, ou seja, fotografava para revistas, desfiles etc., mas sempre trazendo a beleza da cidade do Rio de Janeiro.

Igor Sacramento, no décimo artigo, retoma a beleza das praias focando nos personagens de Ipanema e da zona sul do Rio, como Helô Pinheiro, a Garota de Ipanema. E apresenta aquele estereótipo de beleza da época, que era branco com pele dourada pelo sol e a bossa-nova como música.

Em seguida, no décimo primeiro artigo, Pio Figueiredo e Mariana Lacerda apresentam um olhar para a favela, mais especificamente o Morro da Santa Marta. Naquele local, registram os principais personagens e seu cotidiano. Artigo atual que apresenta como as pessoas do morro lutam pela moradia, transporte e emprego.

Ericka Tambke, no décimo segundo ensaio, mostra de forma interessante como é a vivência dos moradores da Maré. Mostrando como eles vivem na favela em meio ao trafico, violência e pobreza. Mas mesmo assim andam livres, pois para eles aquilo é comum. Com poucas fotos, mas muita informação, ela busca mostrar como aquele povo vive, seu dia a dia em meio a tantos conflitos e como é diferente a visão do asfalto e a visão de quem está ali todo dia. Na parte final, trazem narrativas visuais e sensíveis à memória urbana, e é composto de apenas três artigos.

Começa com Américo Venceslau e Bruno Leonardo, que mostram a presença velada de algo que não existe mais, mas está presente na memória de muitos. Eles apresentam com várias fotografias a reflexão sobre a memória do Elevado da Perimetral, que já foi uma das marcas da cidade do Rio de Janeiro. Hoje em dia, não está mais lá, mas não se faz esquecido por muitos.

No décimo sexto ensaio, João Mauricio Bragança apresenta o Cais do Valongo - aquele local foi por muito tempo o porto do tráfico de negros. Ele mostra a cultura daquele lugar, a forte resistência da cultura afro, a pobreza e a vontade de ser livre, que eles ainda possuem, pois hoje são vitimas do sistema.

E, ao final, Rogério Reis mostra várias fotos com as pessoas e culturas que fazem parte do Rio. E assim mostra uma das paixões da cidade: o futebol. Apresenta também pessoas que passaram pelo Rio, história de vida do próprio fotógrafo, movimentos políticos e, assim, a história da cidade, a cultura do povo e a arte em cena, com pessoas marcantes como Carlos Drummond de Andrade, chegando aos dias de hoje, com as pessoas na praia e seu divertimento nessa cidade maravilhosa, palco de tantos acontecimentos.

Conclusão

O que de maior relevância que podemos destacar neste livro é a forma como foi organizado. Foi feito de forma didática, apresentando cada parte da cidade e sua história visual.

Escrito de forma simples, clara e objetiva, a autora mantém o foco no tema central, que é fazer homenagem os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.

De forma surpreendente, supera as expectativas do leitor quando apresenta não só a memória visual, mas todo um leque de informações, dados e fatos.

Para estudantes de História, esse livro se faz de grande importância, quando se quer saber da historia do Rio de Janeiro a partir do século XX, pois apresenta de vários modos como a cidade foi se transformando.

Um dos artigos a se destacar no livro é do Carlos Eduardo Peixoto, pois nele o autor apresenta a realidade dos anos 1950 e 1960 da cidade do Rio, que muitas vezes é glamorizada e se esquece de como era realmente a vida daquelas pessoas.

Esta obra, de forma aparentemente singela, mas de grande importância, consegue produzir um gosto pelo estudo aprofundado da história da cidade do Rio de Janeiro - algo que se faz necessário não somente para estudantes de História, mas para todos aqueles que passam pela cidade ou desejam conhecê-la.

Enfim, a ideia de homenagear o Rio em seus 450 anos foi cumprida de boa forma, mostrando nos artigos toda a trajetória da cidade com suas vitórias, derrotas, recomeços e, principalmente, com a alegria do povo e a beleza natural desta cidade maravilhosa que se chama Rio de Janeiro.

Referências

MAUAD, A. M. Fotograficamente Rio, a cidade e seus temas. Niterói: Labhoi, 2016.

Publicado em 11 de maio de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Renan Furtado Cordeiro da. Resenha do livro: "Fotografando o Rio" - 450 anos. Revista Educação Pública, v. 21, nº 17, 11 de maio de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/17/resenha-do-livro-fotografando-o-rio-450-anos

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