A parceria entre Biologia e Astronomia, pelas mãos de tutora e aluna, estagiária e professora
Alexandre Alves
Adriana Bernardes licenciou-se em Física pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Depois fez mestrado na UENF e hoje faz o doutorado na UFRJ; nesse período é professora de Física em escolas da rede estadual do Rio de Janeiro e tutora do Consórcio Cederj no polo de Nova Friburgo. Em todas essas instituições, organizou atividades para o ensino e divulgação de Astronomia e volta e meia envia para a Educação Pública artigos contando essas experiências. Aliás, Adriana é uma das colaboradoras mais antigas da revista. Um belo dia, sendo tutora de Física, convidou a licencianda Angela Ferreira Portella, hoje formada em Biologia pela UERJ, para realizar estágio não obrigatório em ensino de Astronomia. Após cinco anos de um trabalho bem-sucedido realizado em escola pública, nasceu o livro Astrobiologia no Ensino Médio, recém-lançado pela Editora Livraria da Fisica. Conversei com elas sobre o livro, sobre Educação a Distância, sobre tutoria e sobre suas experiências em sala de aula.
Como vocês relacionam a Biologia à Astronomia?
A busca por vida em outros planetas é um tema que fascina pessoas por todo o mundo. É essa incansável busca por nossas origens e a curiosidade de saber se estamos sozinhos ou não no universo que fazem a Astronomia e sua parente, a Astrobiologia, serem ciências extremamente interessantes. E é com o estudo da Biologia que temos conhecimento e instrumentos necessários para encarar esse obstáculo. O que é mais interessante é que, ao estudarmos outros planetas e astros, acabamos aprendendo ainda mais sobre nosso planeta e a vida que habita aqui, sendo então uma ferramenta de mão dupla.
Angela, que importância você atribui à tutoria num curso em EaD? E no Consórcio Cederj, especificamente?
Por mais que uma pessoa seja autodidata e consiga se aprofundar nos conhecimentos sem a ajuda de outra pessoa, a tutoria acaba sendo um facilitador e um norteador para todos os estudantes. Para mim, a tutoria do Consórcio Cederj foi fundamental, indispensável para a minha formação. Os alunos de um curso em EaD que comparecem às tutorias oferecidas, além de terem seu tempo otimizado, conseguem focar muito melhor no que é fundamental para seus estudos.
Adriana, você quer complementar?
Para mim, que trabalho no Cederj desde 2004 e vi tantos alunos se formarem como professores, sei que a tutoria é fundamental para eles terem a possibilidade de discutir seus temas de estudo; a tutoria abre uma possibilidade de discussão dos temas de estudo de forma ampla; o aluno nunca terá que estudar sozinho. Muitos alunos que vi se formar hoje são mestres e doutores; a própria Angela segue esse caminho – ela está cursando o mestrado em Genética na UFRJ.
Como nasceu a ideia de escrever esse livro? O que motivou vocês a mergulhar nessa empreitada?
A ideia do livro nasceu de maneira bem espontânea. Já tínhamos alguns trabalhos na área de Astrobiologia que foram feitos com alunos da rede estadual de ensino; aí resolvemos escrever um livro com nossas atividades acerca da introdução da Astrobiologia no Ensino Médio. Como é um assunto relativamente novo e não tem literatura específica em português, achamos interessante publicar um livro e compartilhar nossas experiências com outros professores, ajudando na divulgação científica, que é tão carente em nosso país.
Angela, como foi a experiência de escrever um livro junto com sua tutora?
A Adriana sempre foi uma grande motivadora para mim, e sua paixão pela Astronomia me incentivou muito. Escrever um livro com uma pessoa que claramente ama o que faz e é tão dedicada foi uma experiência enriquecedora, tanto pelo conhecimento científico quanto pessoal.
Figura 1: Angela Portella, uma das autoras, e o livro
Adriana, como foi a experiência de escrever um livro junto com uma aluna?
Foi maravilhoso. No polo Nova Friburgo do Consórcio Cederj temos o Grupo de Astronomia de Nova Friburgo (Geanf), que discute também aspectos do ensino desses conteúdos. A Angela se integrou ao grupo e a proposta que fiz a ela foi de trabalhar com Astrobiologia no Ensino Médio. Na época, conhecíamos apenas uma experiência semelhante, mas que não tinha ocorrido dentro de escola – muito menos em escola pública. A Angela fez seu estágio não obrigatório sob minha orientação no Colégio Estadual Canadá, em Nova Friburgo, de 2016 a 2018. Nesse período realizamos várias experiências para falar de Astrobiologia em turmas de 1º ano, em contextos interdisciplinares e utilizando recursos variados. Acredito que tenha sido importante para ela, como aluna de Biologia em curso de Educação a Distância, tomar contato com os alunos num contexto de aprendizado para eles e também para ela como futura professora. O livro surgiu como resultado desse trabalho, que foi feito inclusive posteriormente à defesa da monografia dela (que aborda o tema), pois continuamos com o trabalho em turmas de Educação de Jovens e Adultos. Hoje continuamos a realizar esses trabalhos dentro do Consórcio Cederj, e outros alunos vão trabalhar com o tema Astrobiologia – agora também com a orientação de alguém com formação em Biologia e formada pelo Consórcio Cederj.
Qual a diferença entre trabalhar Astronomia no Ensino Médio regular e na EJA?
Trabalhar com Ensino Médio é trabalhar na maior parte das vezes com adolescentes, e isso ajuda muito em relação à Astronomia. Jovens são mais eufóricos, e essa ciência aguça a curiosidade, o que torna as atividades bem divertidas e proveitosas. Inicialmente achamos que, com os alunos da EJA, por serem pessoas mais velhas que trabalham e têm mais responsabilidades, nossos resultados seriam diferentes, já que as prioridades dessas pessoas são outras. Mas uma surpresa aconteceu. As atividades foram tão animadoras quanto com os adolescentes. Vimos que podemos usar as mesmas ferramentas educativas em ambas as modalidades de ensino, o que mostra que a Astronomia tem um caráter bastante integrador, não fazendo distinção em virtude da idade ou da modalidade de ensino dos participantes.
Angela, quais os resultados do uso de jogos para estudar Astronomia?
Os jogos sempre foram usados como atrativos na prática escolar. Na Astronomia, temos vários deles sendo usados. Nosso objetivo foi elaborar um jogo específico de Astrobiologia que pode ser utilizado por professores de Biologia, Química e Física no Ensino Médio. Quando aplicado em turmas de 1º ano, o jogo foi um sucesso. Por ser inspirado em um jogo de tabuleiro já famoso, foi ainda mais fácil sua adaptação pelos alunos. Foi uma atividade extremamente divertida, com relatos de alunos querendo repetir a experiência.
E como foi pra você, Adriana?
Eu propus o trabalho com jogos para a monografia da Angela, pois já tinha trabalhado com temas de Astronomia no ensino de Física e tinha uma experiência boa na área. Com isso, achei que poderia fazer um bom trabalho de orientação. O entusiasmo dos alunos com o jogo pode ser visto nas fotos que tiramos do trabalho. A atração dos alunos pelo lúdico é grande, e como aliamos isso à Astrobiologia, envolvendo a busca por planetas extrassolares e a possibilidade de vida em outros planetas, que são temas que normalmente chamam a atenção do aluno, o trabalho foi um sucesso dentro da escola. Acredito que seja importante destacar a relevância desses trabalhos inovadores dentro da escola pública.
Angela, como o estágio supervisionado contribui para a formação do cursista para a carreira docente?
A prática na docência é muito importante. Somente com um estágio podemos ter a real dimensão do que é ser professor, seus desafios e angústias, mas também suas felicidades e realizações. Na fase inicial da vida profissional, um estágio supervisionado bem coordenado faz muita diferença; é o que irá, sem dúvida, preparar o aluno para a vida fora da universidade.
O que você acha, Adriana?
É importante considerar que a Angela realizou, com a minha orientação, um estágio não obrigatório na área de Ensino de Astronomia, acompanhando meu trabalho dentro da escola de maneira geral, participando de eventos como as Noites de Astronomia, nas quais fez palestras sobre o tema Astrobiologia. Então, ela participava das observações do céu que realizávamos em diversos outros eventos, como o Asteroid Day. Acredito que isso tenha colaborado para ela ter uma visão geral do trabalho com Astronomia que pode ser feito na escola junto aos alunos; acho também que isso tenha feito com que ela visse, por ela mesma, como aquele conhecimento era motivador para o aluno. Jogando um pouco de confete, ela respondeu com competência, dedicação e extremo interesse ao desafio que ela tinha, que era destacar a Astrobiologia entre as suas atividades.
Qual a perspectiva desse trabalho com o ensino de Astronomia com alunos do Cederj?
Eu pretendo lançar em outubro um livro que aborda de maneira geral o trabalho que fiz com os alunos do Consórcio Cederj no ensino de Astronomia. Convidei a Angela para organizar o livro; então vamos reunir todos os trabalhos realizados por alunos de Biologia e Geografia dentro da escola pública envolvendo o ensino de Astronomia; os trabalhos abordam interdisciplinaridade, recursos lúdicos, novas tecnologias no ensino e tratam de temas gerais de Astronomia. Todos esses trabalhos foram realizados no estágio não obrigatório dentro da escola pública. Acredito que tenha sido importante para o aluno do Cederj e para os alunos da escola. Apesar de estes já contarem com um trabalho nessa área dentro da escola, eles tiveram oportunidade de conhecer e aprender o tema também com futuros professores. A maioria dos licenciandos que participaram do estágio não obrigatório hoje está formada, e sei que eles contribuirão fortemente para o ensino e a divulgação desse tema em suas atividades como professores. Isto é algo que me deixa profundamente feliz: ter conseguido, dentro do meu trabalho, ir um pouco além das atribuições de tutora e ter apresentado esse mundo tão fantástico da Astronomia a futuros professores, com trabalhos realizados na prática dentro da escola pública.
Ah, faltou dizer: o livro Astrobiologia no Ensino Médio foi lançado pela Editora Livraria da Física no início do ano. Está disponível para venda em: http://www.livrariadafisica.com.br.
Publicado em 25 de maio de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
ALVES, Alexandre Rodrigues. A parceria entre Biologia e Astronomia, pelas mãos de tutora e aluna, estagiária e professora. Revista Educação Pública, v. 21, nº 19, 25 de maio de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/19/a-parceria-entre-biologia-e-astronomia-pelas-maos-de-tutora-e-aluna-estagiaria-e-professora
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