Aprender a aprender: criação de um núcleo de inovação e aprendizagem em tempos de ensino remoto

Andrey Lopes de Souza

Professor de História (SEE/MG) e da Faculdade Funorte, de Janaúba/MG, doutor em História Social (UFU)

Uriel Borges da Silva Junior

Professor de Geografia (SEE/MG), graduado em Geografia (UERJ), mestrando em Ensino de Geografia (UFSJ)

Este trabalho constitui um relato de experiências da criação do Núcleo de Inovação e Aprendizagem da Cecília (NIAC), no âmbito da Escola Estadual Cecília Maria de Jesus, situada no município de Janaúba/MG, com o objetivo de relatar a experiência de criação, execução, avaliação e os resultados de um núcleo de aprendizagem (que está em processo de institucionalização) elaborado por educadores que, em razão da pandemia provocada pelo novo coronavírus, se viram diante de um Regime Especial de Aulas Não Presenciais (Reanp), elaborado pela Secretária de Estado de Educação (SEE/MG), em que as aulas remotas exigiam o conhecimento de tecnologias que até então não estavam presentes no cotidiano das escolas públicas. Um misto de medo e resistência instigou uma questão que se tornou o norte do NIAC: como aprender a trabalhar com novas tecnologias e elaborar aulas atrativas e produtivas em tempo tão rápido? Em uma escola pequena, localizada em bairro periférico de pequena cidade do Norte de Minas Gerais, pensar um núcleo de aprendizagem constitui um desafio e um esforço de educadores com distintos níveis de conhecimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) tecnologias de aprendizagem e convivência (TAC).

A Escola Estadual Cecília Maria de Jesus, localizada no bairro Algodões, na periferia da zona urbana do município de Janaúba/MG, está circunscrita à mesorregião Norte de Minas Gerais. O educandário possui 31 professores e funciona nos períodos matutino e vespertino, atende ao Ensino Fundamental, com 230 alunos (EF I) e 139 alunos (EF II). O município de Janaúba possui 2.181,319 km², população estimada em 2019 de 71.648 habitantes (IBGE, 2010), IDH de 0,696; sua formação histórica está marcada pela presença indígena e quilombola e pela construção da Barragem do Bico da Pedra e a criação do Projeto Gorutuba, nos anos 1970, via Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que, para além do suposto progresso, desapropriou/expulsou muitos trabalhadores de suas terras. A Escola Estadual Cecília Maria de Jesus traz na referência os algodões de seda que dão o significado ao nome da cidade. Além do mais, o bairro está localizado no leito do Rio Gorutuba, que foi alterado com a construção da Barragem do Bico da Pedra, o que explica as enchentes comuns nos períodos de chuva, acrescido de que parte dos habitantes dali é proveniente das expulsões para a construção da barragem mencionada e possui ancestralidade quilombola.

Essas histórias e características marcam a escola e, por isso, constituem um grande desafio para a equidade de acesso e de permanência na Educação Básica, ainda mais no modelo de ensino remoto. O NIAC tem desenvolvido diversas ações junto à escola. Resolver todos os problemas é um desafio que não se finda no Núcleo, mas iniciar com a formação continuada docente é um bom começo.

Teoria

Formação de professores é um tema que tem insuflado inúmeros debates. Tardif (2010), estudioso do tema, destaca que a formação docente é complexa e heterogênea, marcada pela história de vida de cada um, pelas experiências, pelo contato com teorias, concepções, saberes e práticas distintos.

Maurice Tardif (2010), referência na área de saberes docentes e na formação profissional, destaca que os saberes dos professores quanto à sua prática são provenientes:

  • dos saberes pessoais;
  • dos saberes provenientes da formação escolar anterior;
  • dos saberes provenientes da formação profissional do magistério;
  • dos saberes provenientes dos programas e livros didáticos; e
  • dos saberes provenientes de sua própria experiência profissional, na gestão da sala de aula e na escola.

Tardif destaca que grande parte dos saberes é exterior ao exercício de ensinar e provém de lugares anteriores à carreira, fora do seu trabalho na escola. O saber profissional está, de certo modo, na “confluência entre várias fontes de saberes provenientes da história de vida individual, da sociedade, da instituição escolar, dos outros atores educativos, dos lugares de formação” (Tardif, 2010, p. 67).

Tardif (2010), ao se valer de pesquisas diversas, destaca o peso que os saberes da formação escolar anterior têm na constituição do professor. Ele ressalta que “boa parte do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida, principalmente, e de sua socialização enquanto aluno”.

Em suma, tudo leva a crer que os saberes adquiridos durante a trajetória pré-profissional, isto é, quando da socialização primária e, sobretudo, quando da socialização escolar, têm peso importante na compreensão da natureza dos saberes, do saber-fazer e do saber-ser que serão mobilizados e utilizados em seguida quando da socialização profissional e no próprio exercício do magistério (Tardif, 2010, p. 69).

Ou seja, a prática docente está umbilicalmente relacionada às experiências dos docentes. No entanto, os jovens de hoje vivenciam um novo paradigma tecnológico que apresenta novas sociabilidades e interações que inquirem o modelo de ensinar e de escola a que muitos de nós, professores, tivemos acesso.

Além disso, o processo de ensino-aprendizagem não mais se restringe à estrutura física de uma escola; o conhecimento estende-se ao ambiente virtual, isto é, ao ciberespaço, onde, conforme Lévy (1999), habitam as comunidades virtuais de aprendizagem.

Na Geografia Critica, o espaço social ligado à pratica social transborda o entendimento do mesmo como absoluto, funcional e instrumento político. Segundo Lefébvre (1973), ele é “o locus da reprodução das relações sociais de produção”, ou seja, a reprodução da sociedade. Essas novas formas de se viver em sociedade são construídas na rede mundial de computadores e, com isso, as noções e concepções de ensinar e aprender estão transformando e sendo transformadas pela tecnologia.

Nesse panorama, marcado pela “sociedade em rede”, em que a tecnologia informacional está conectada em rede no globo, percebem-se alterações nas sociabilidades engendradas pelos sujeitos sociais. Cada vez mais crianças e adolescentes estão íntimos dessas tecnologias, o que destaca essa geração net (Tapscot, 1996), Homo Zapiens (Veen; Vrakking, 2009), nativos digitais (Prensky, 2001) e geração polegar (Rheingold, 2003). 

Sob tal raciocínio, faz-se fundamental a adequação das instituições de ensino quanto às suas metodologias e seus posicionamentos referentes não apenas à quantidade, mas, principalmente, à qualidade da leitura e da escrita de seus estudantes, em razão de haver agora a necessidade de desenvolver competências que os tornem sujeitos aptos a utilizar e vivenciar eficazmente as ferramentas digitais.

Com o avanço das tecnologias, os livros como objetos físicos perdem espaço para e-books, smartphones, tablets e outros. Como destaca Robert Darnton, estudioso da história do livro e da leitura, “o futuro, seja ele qual for, será digital” (Darnton, 2010, p. 15).

Na concepção de Amaral (2017), a defasagem no ensino-aprendizagem é consequência da relação não dialógica entre o que é ensinado e as necessidades reais do aluno, fato decorrente dos métodos tradicionais. A descontextualização e a falta de aplicabilidade da aprendizagem oferecida trazem aos discentes a concepção de que os saberes da escola não lhes serão úteis. Por isso, as metodologias ativas surgem como recurso e atitude pedagógica para favorecer o processo de autonomia do estudante, instigando-o à curiosidade e estimulando-o na resolução de problemáticas cotidianas, ao trabalho em grupo e a tomadas de decisões.

Manuel Castells (1999), na trilogia “A Era da Informação”, analisa o papel que as tecnologias da informação e da comunicação têm auferido na sociedade. Ele destaca que tanto a tecnologia modifica a sociedade como a sociedade apropria e altera a tecnologia, em processo dinâmico.

Metodologia

O Núcleo de Inovação e Aprendizagem da Cecília (NIAC) foi criado em junho de 2020 por um grupo de educadores da Escola Estadual Cecília Maria de Jesus. Em virtude da pandemia provocada pelo novo coronavírus, a sociedade foi obrigada a realizar distanciamento social, que trouxe para o contexto escolar o modelo de ensino de aulas remotas. O Estado de Minas Gerais, via Secretaria de Estado da Educação, adotou o modelo de aulas remotas a partir dos planos de estudos tutorados (PET), que constituem uma ferramenta do Regime Especial de Aulas Não Presencial (Reanp) como alternativa para a continuidade no processo de ensino-aprendizagem durante período indeterminado, enquanto as aulas presenciais estiverem suspensas.

Como o uso das tecnologias da informação e comunicação a cada dia se torna comum na Educação Básica com a emergência de uma juventude conectada à internet e às redes sociais, a criação do NIAC tornou-se uma necessidade inadiável. Com o período de afastamento social, reuniões via Google Meet (serviço de comunicação por voz e vídeo) foram realizadas desde maio com vistas a constituir objetivos, atribuições, integrantes e ações do grupo. O Núcleo, em seu objetivo inicial, constituiu um espaço de troca e compartilhamento de experiências e ideias em vistas de fomentar um coletivo de boas práticas que teriam como meta a sistematização e a constituição de roteiro de ensino da escola e a capacitação docente. Por isso, a logomarca do NIAC é uma lâmpada formada a partir de balões de pensamento que, juntos, lançam luz e norteiam a prática docente.

O NIAC é composto por professores do Ensino Fundamental I e II, da direção e de supervisores da escola. Inicialmente, todos foram convidados a participar da primeira reunião; o NIAC atualmente conta com quatro professores (de disciplinas distintas), dois supervisores, diretora e vice-diretora. A criação do Núcleo foi realizada em seis fases:

  • Primeira: concepção com a definição de nome, objetivos, atribuições e integrantes;
  • Segunda: planejamento com reflexão sobre metodologias viáveis a serem utilizadas com nosso público-alvo, elaboração de documentos e roteiros de estudo, avaliação diagnóstica com professores sobre nível de conhecimento na área de informática;
  • Terceira: execução com a proposição de formações nas áreas de interesse dos professores;
  • Quarta: avaliação das ações realizadas pelo Núcleo;
  • Quinta: reflexão sobre os rumos a serem tomados pelo Núcleo e a proposta de novas formações;
  • Sexta: elaboração de regulamento do NIAC para propor à Secretaria de Estado da Educação a sua oficialização e institucionalização.

A partir das reuniões online e da motivação dos professores envolvidos, o NIAC está na sexta fase. O período de aulas remotas exigiu atitude rápida, visto que a maioria de nós, professores, não possuía habilidades com as tecnologias da informação e da comunicação. Por isso, a criação do Núcleo tornou-se tão necessária e se justificou social e intelectualmente. Como justificativa social, o apoio ao professor constitui uma função social que se localiza na disponibilização ao estudante, independente de sua condição social, das ferramentas e tecnologias o mais acessível e eficaz possível, com vista a firmar o compromisso com uma educação libertadora, como nos ensinou Paulo Freire. Como nunca havíamos passado por situação semelhante, a falta de instrução, metodologia ou prática testada que contribuísse para aproximar escola e aluno reforçou a importância do Núcleo como uma ação, dentre tantas outras possíveis, em vista de buscar soluções para promover minimamente o processo de ensino-aprendizagem.

Após a fase da concepção, foi realizado o planejamento do Núcleo. Primeiro foi criado um quadro de horários de publicações nos grupos do software de mensagens instantâneas WhatsApp de cada turma. Com as aulas remotas, a escola, além de disponibilizar as apostilas dos planos de estudos tutorados elaborados pela SEE-MG para todos os alunos, criou grupos de WhatsApp para cada turma. Assim o Núcleo partiu para a fase do planejamento. No início do trabalho remoto, a falta de padronização de horários fez com que houvesse desorganização nas postagens; em alguns casos, havia professores que publicavam ao mesmo tempo que outro, o que não contribuía para o repasse de informação clara. Por isso, o primeiro passo foi a criação de um quadro de horário de postagem que seguisse a grade de horários do programa “Se Liga na Educação”, em que as aulas são transmitidas pelo aplicativo Conexão Escola, criado pela SEE MG, e pela Rede Minas. Posteriormente, foi criado o manual Orientações de postagens no WhatsApp: roteiro pedagógico no WhatsApp. Esse manual teve como objetivo padronizar as publicações de forma a ficar clara a postagem do professor, visto que cada um postava de uma forma, alguns com poucas informações e outros com excesso. Um padrão representava familiarizar o aluno com a informação atribuída pelo professor, facilitando sua recepção e contribuindo para atingir os objetivos das aulas. Nesse roteiro pedagógico, dicas de utilização da ferramenta WhatsApp web, formatação de textos no aplicativo e orientações gerais contribuíam para melhorar a performance pedagógica.

Na fase de execução, uma reunião via Google Meet foi realizada com todos os docentes da escola para repasse e debate de maneira democrática do roteiro pedagógico que foi enviado antes para leitura prévia. Na reunião houve a apresentação de objetivos, atribuições e ações a serem desenvolvidas pelo Núcleo. Foram ofertadas três formações: Criação de Formulário via Google; Criação dePodcasts; e Uso de Tecnologias), em que os professores fizeram inscrição via formulários enviado no grupo de WhatsApp da escola. No momento da inscrição, os professores responderam diversas perguntas, como nível de conhecimento em informática e sugestões de cursos. De posse dessas informações, as formações foram elaboradas atendendo a um público com diversos níveis de conhecimento na área das tecnologias da informação e comunicação. Como o público é heterogêneo, uma dificuldade presente foi a resistência de alguns docentes em participar da formação e da recepção do núcleo – afinal, o novo assusta. No entanto, aos poucos, com apoio da direção e da supervisão pedagógica, as ideias foram sendo incorporadas de maneira democrática.

As ações previstas foram cumpridas conforme o cronograma elaborado inicialmente. Ao fim das formações, foi aplicado um formulário de opinião do Google para verificar/mensurar as impressões que os docentes tiveram dos trabalhos desenvolvidos pelo Núcleo. Mediante as respostas, realizamos a primeira avaliação dos trabalhos, apresentando a necessidade de novas formações nas ferramentas do Google for Education, a saber: Drive, documentos, apresentações e Meet, entre outras. O formulário apresentou gráficos que indicam avaliações positivas que podem ser verificadas através dos relatos recebidos e no grupo institucional do WhatsApp. Registrou-se grande participação dos professores nas formações e a utilização/apropriação das sugestões do roteiro pedagógico nos grupos de WhatsApp. Embora o Núcleo seja direcionado diretamente ao professor, o objetivo precípuo é a aprendizagem do aluno. É de conhecimento de todos a dificuldade de muitos alunos no acesso à internet; essa é uma preocupação do Núcleo que, apesar de não possuir essa função inicial, não se furta ao debate de problematizar o desafio da inclusão educacional/digital/social.

Mediante os resultados positivos alcançados com a criação do NIAC, houve necessidade de torná-lo um núcleo permanente, que integre a gestão pedagógica e possa ser um parceiro da supervisão pedagógica. Administrativamente, foi sugerido que o NIAC componha o organograma escolar, servindo de apoio também de capacitação de funcionários técnico-administrativos. Nesse ínterim, foi esboçado o regulamento do NIAC, que será apresentado à 45ª Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais, localizada em Janaúba-MG, para fins de oficialização do núcleo.

Resultados e discussão

O Núcleo teve sua formação e atuação em seis fases; a primeira foi realizada a partir de reuniões virtuais com o software Google Meet e teve como principal objetivo a criação do núcleo. Durante essas reuniões, definimos objetivos e atribuições e elegemos o nome do núcleo, tendo em vista que seria necessário apresentá-lo de maneira formal diante dos outros professores da escola, da inspeção escolar e também perante a Superintendência Regional de Ensino (SER) e instâncias superiores.

É importante destacar que no início contávamos com outros colegas da escola, porém após a elaboração inicial do Regulamento do NIAC fora deliberado que fariam parte ativa do núcleo: a direção, a vice-direção, a equipe pedagógica e os professores formadores que ainda representariam o núcleo nas instâncias que se fizesse necessário.

Em tempo, foram delegadas funções para cada membro; ficou decidido que nos desdobraríamos em criar um Google Forms para podermos realizar uma avaliação diagnóstica junto aos professores e entender suas potencialidades e dificuldades. Houve a oferta de três cursos de formação que continham em seus conteúdos práticas consideradas exitosas diante dos/as nossos/as alunos/as durante o primeiro mês do Regime Especial de Aulas Não Presenciais (Reanp) e que haviam sido do interesse dos professores da escola: “Criação de podcasts durante as aulas remotas em 10 passos”, “Utilização de tecnologias: métodos de facilitação do uso de tecnologias” e “Elaboração de testes e avaliações no formulário”.

Foi elaborado um formulário no Google para avaliar as três primeiras formações realizadas pelo Núcleo; 26 professores da Escola Estadual Cecília Maria de Jesus responderam o seguinte:

Primeiro curso de formação: Podcasts

Dados avaliativos

Professores

Considerações

19

Professores da escola participaram da formação

18

Consideraram que a parte teórica da formação atingiu os objetivos propostos

14

Consideraram que a parte prática da formação atingiu os objetivos propostos

18

Consideraram que a apresentação por uma live com chat em tempo real através do YouTube atingiu os objetivos propostos

15

Consideraram a apresentação através do software Prezi como algo que atingiu os objetivos propostos

Essa primeira formação foi realizada pelo professor de Geografia Uriel Borges da Silva Junior; durante a parte teórica foram demonstrados dez passos primordiais para conseguir alcançar o objeto de aprendizagem, que seria um “podcast da aula”. Esses passos estão alinhados à escolha de um aplicativo gratuito de gravação de voz, isolamento acústico do local de gravação, escolha de um software gratuito e livre para edição e posteriores orientações de postagens no aplicativo de mensagem instantânea WhatsApp, que foi apresentado pelo software de apresentações Prezi.

Na parte prática realizamos a edição de um podcast, em que foi demonstrado como localizar o arquivo no computador, manejo do arquivo para o software de edição Audacity, como editar a gravação, formas de salvar e posteriores postagens nos grupos das turmas no WhatsApp. A plataforma de transmissão escolhida foi o canal do YouTube Geo Temas (canal criado para divulgação de conteúdos geográficos para os alunos da nossa escola) e ocorreu durante uma live. Contou ainda com um chat em tempo real com professores, supervisão pedagógica e direção.

No formulário de avaliação, foi criado um espaço para criticas referentes às formações; uma professora escreveu que “a parte teórica ficou muito vaga, mas a parte prática sanou as dúvidas”, o que a deixou satisfeita. Outra colega pediu “mais aulas práticas”; então, diante desses comentários, podemos pensar em mudar nossa estratégia metodológica e em um próximo momento deixarmos mais dinâmica a parte teórica para focar mais na parte pratica, por parecer ser a preferência dos professores.

Segundo curso de formação: utilidade das tecnologias

Dados avaliativos

Professores

Considerações

21

Professores da escola participaram da formação

14

Consideraram que a parte teórica da formação atingiu os objetivos propostos

14

Consideraram que a parte prática da formação atingiu os objetivos propostos

15

Consideraram que a apresentação através do Google Meet com microfone aberto e chat em tempo real atingiu os objetivos propostos

17

Consideraram a apresentação através do software Prezi como algo que atingiu os objetivos propostos

Essa segunda formação foi ministrada pelo professor de Ciências João Paulo Salomão. Durante a parte teórica, foram trabalhadas formas de utilizar o WhatsApp Web, realizar pesquisas na internet e salvar arquivos de imagens, além de abordar as ferramentas mais utilizadas pelos professores nos softwares Microsoft Word, Microsoft Power Point, Microsoft Paint, Adobe PDF e na plataforma de vídeos YouTube. Foi uma formação mais dinâmica que as outras, pois, enquanto era feita a parte teórica, ocorriam demonstrações práticas através do software de apresentação Power Pointe com comunicação em vídeo e áudio via Google Meet.

Um supervisor pedagógico da nossa escola escreveu no formulário avaliativo: “acredito que será de muita importância quando voltarmos às aulas presenciais; além de capacitação docente, pode e deve ser uma ferramenta que poderá também ser utilizada com os discentes como forma de aprendizagem e de mudança de suas realidades”, o que corrobora a ideia de continuidade do Núcleo e das formações oferecidas por ele, atualmente de forma virtual, mas no futuro podendo ser também presencial e com nossos alunos participando.

Terceiro curso de formação: Google Formulários

Dados avaliativos

Professores

Considerações

23

Professores da escola participaram dessa formação

17

Consideraram que a parte teórica da formação atingiu os objetivos propostos

15

Consideraram que a parte prática da formação atingiu os objetivos propostos

18

Consideraram que a apresentação por uma live com chat em tempo real através do YouTube atingiu os objetivos propostos

17

Consideraram a apresentação através do software Prezi como algo que atingiu os objetivos propostos

A formação sobre como elaborar testes e avaliações pelo Google Formulário foi ministrada pelo professor de História Andrey Lopes de Souza. A primeira parte, que foi teórica, utilizou o software de apresentações Power Point, via Google Meet, para trazer o passo a passo de criação, objetivos e funcionalidades do formulário. Na parte prática, os professores foram instruídos na criação de um teste via formulário.

Diante da lacuna elaborada no formulário de avaliação referente às sugestões, uma professora escreveu que “não participei de todas as formações, porém gostei muito do Google Formulários e pretendo utilizar a ferramenta para criar atividades para os alunos”.

Padronização

Concomitantemente à realização das formações, foram criadas e lançadas durante uma reunião de planejamento pedagógico, as Orientações de Postagens no WhatsApp: Roteiro Pedagógico, um manual de padronização das postagens no aplicativo WhatsApp. O manual teve a seguinte avaliação por parte dos professores/as:

Dados avaliativos

Professores

Tipo de padronização

Considerações

18

Horários de postagens nos grupos das turmas

Está sendo muito útil durante o Reanp

22

Formatação dos textos por meio do WhatsApp

Está sendo muito útil durante o Reanp

20

Modo de utilização do WhatsApp Web

Está sendo muito útil durante o Reanp

22

Modelo de postagem nos grupos (tema, data, semana, conteúdo, professor etc.)

Está sendo muito útil durante o Reanp

20

Hora da correção

Está sendo muito útil durante o Reanp

23

Orientações gerais

Está sendo muito útil durante o Reanp

Após essa avaliação de uso e aplicação do manual de orientações de postagens, começamos a perceber que os professores começaram a postar nos horários definidos pelo quadro de postagens existente nas orientações, o que facilitou a organização dos professores e padronizou as aulas remotas via WhatsApp. Além disso, a formatação dos textos escritos no WhatsApp auxiliou no momento de postar conteúdos sobre suas aulas (como exercícios, atividades complementares, data etc.).

Outra importante ferramenta que vem auxiliando nossos professores é o WhatsApp Web, que permite trabalhar com o aplicativo usando o navegador de internet. Isso permite que professores preparem seus materiais nos seus desktops ou notebooks e enviem diretamente para os alunos, sem a necessidade de um smartphone. Havíamos sentido falta de corrigir as atividades entregues pelos alunos; logo, criar uma “Hora da correção” permitiu que os alunos sanassem suas dúvidas com os professores. Esse momento é realizado antes do inicio das atividades, para somente assim iniciarem a ver novos conteúdos.

Após essas primeiras ações, estamos revendo a regulamentação do núcleo, com o objetivo de formalizar o NIAC junto à 45ª Superintendência Regional de Ensino – Janaúba/MG e iniciar nossas novas propostas de formações. Refletir com outros professores sobre a avaliação realizada tem sido primordial para criarmos um novo norte, além de continuar acompanhando como os docentes utilizam o roteiro pedagógico e aplicam os aprendizados das formações.

Considerações finais

A criação de um Núcleo de Inovação e Aprendizagem no âmbito de uma escola pública constituiu um desafio ousado. Em meio à situação imprevista em todos os manuais de didática produzidos, de Comênio até a vertente culturalista da Didática, nos vimos sem qualquer amparo teórico-prático testado na Educação Básica pública. O desafio, a princípio “impossível”, apresentado pela direção escolar, de criação de um núcleo de inovação, foi aos poucos vencido pela motivação de uma equipe de professores. O Núcleo (com regulamento e em processo de institucionalização) já é reconhecido na escola e na Superintendência de Janaúba; suas práticas estão sendo compartilhadas com outros educandários. As orientações do NIAC normatizam as publicações no WhatsApp. A grande maioria dos professores está utilizando as ferramentas ensinadas nas formações; outros estão sendo motivados a aprender a utilizar aplicativos de gravação de áudio ou voz, o que contribuiu para a criação de um “ciclo virtuoso” de boas práticas.

Embora tenha como público direto a formação do docente, a constituição do Núcleo desembocará no acesso a boas práticas para o aluno, objetivo final da aprendizagem. Verificamos que muitos alunos ainda não têm acesso à internet suficiente para acompanhar muitas atividades. Por isso, tornou-se objetivo do Núcleo, ao propor uma atividade aos professores, refletir sobre a quantidade de dados móveis ou internet a ser consumida por um vídeo ou imagem publicada nos grupos de WhatsApp. Uma atividade utilizada para uma escola nem sempre serve para outra, podendo caracterizar exclusão digital para os alunos, caso não seja contextualizada.

Da próxima vez, podemos entrar em contato com os alunos e pais para fazer um diagnóstico do que eles estão achando dos materiais publicados no WhatsApp, como está sendo esse período de aulas remotas, as principais dificuldades, as aulas mais interessantes, a fim de identificar as técnicas mais eficazes. Ao fim de tudo, percebemos que as tecnologias precisam entrar de vez no cotidiano das escolas, independentemente da localidade e das condições sociais. A dificuldade nos fez aprender a aprender e, com resiliência e apoio mútuo, refazer nossas práticas e ressignificar nossos conceitos de sala de aula.

Referências

AMARAL, Rita de Cássia Borges de Magalhães. In: DIAS, Simone Regina; VOLPATO, Arceloni Neusa. Práticas inovadoras em metodologias ativas. Florianópolis: Contexto Digital, 2017.

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CASTELLS, Manuel.A sociedade em rede.São Paulo: Paz e Terra, 1999.

DARNTON, Robert. A questão dos livros: presente, passado e futuro. Trad. Daniel Pellizari. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Brasileiro de 2010. 2010.

KEARSLEY, Greg.Educação on-line: aprendendo e ensinando.São Paulo: Cengage Learning, 2011.

LEFEBVRE, Henri. A re-produção das relações de produção. Porto: Escorpião, 1973.

LÉVY, Pierre. Cibercultura.São Paulo: Editora 34, 1999. 

PIRES, Simeão Ribeiro. Gorutuba: o padre e a bala de ouro. Belo Horizonte: Barvalle, 1982.

PRENSKY, M. Nativos digitais, imigrantes digitais. Horizon, v. 9, nº 5, out. 2001.

RHEINGOLD, H., Smart Mobs. The next social revolution. New York: Perseus Publishing, 2003.

TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Anthony D. The Prosumers. In: Wikinomics: how mass collaboration changes everything. New York: Penguin, 1996.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

VEEN, Win; VRAKKING, Ben. Homo zappiens: educando na era digital. Porto Alegre: Artmed, 2009.

Publicado em 15 de junho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

SOUZA, Andrey Lopes de; SILVA JUNIOR, Uriel Borges da. Aprender a aprender: criação de um núcleo de inovação e aprendizagem em tempos de ensino remoto. Revista Educação Pública, v. 21, nº 22, 15 de junho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/22/aprender-a-aprender-criacao-de-um-nucleo-de-inovacao-e-aprendizagem-em-tempos-de-ensino-remoto

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