Jogos e brincadeiras nas práticas pedagógicas: a concepção docente sobre a ludicidade no contexto da Educação Infantil

Ana Paula da Silva Peres

Pedagoga (UENF)

Sabrina Mendonça Ferreira

Pedagoga, doutoranda em Educação (UERJ)

Liz Daiana Tito Azeredo da Silva

Pedagoga, doutora em Cognição e Linguagem (UENF)

Luciana da Silva Almeida

Pedagoga, doutoranda em Cognição e Linguagem (UENF)

Considerações iniciais

Os jogos e brincadeiras são atividades essenciais no dia a dia da Educação Infantil. Entretanto, alguns estudos mostram que as brincadeiras infantis são mais do que meros passatempos da infância; são, sobretudo, meios de a criança se desenvolver e construir significações culturais e sociais importantes.

Diante disso, o trabalho proposto parte da reflexão sobre a importância das atividades lúdicas para o desenvolvimento da aprendizagem na Educação Infantil, buscando entender qual a concepção docente diante do lúdico na educação Infantil.

Para subsidiar tal problematização, elegeu-se como objetivo geral: apresentar a importância da ludicidade no processo de aprendizagem das crianças. Nos objetivos específicos: apontar o entendimento dos professores acerca do lúdico; refletir a abordagem e relevância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil; suscitar a ampliação da ludicidade no campo de trabalhos e pesquisas.

Para a composição do estudo, fruto de um trabalho monográfico apresentado ao curso de Licenciatura em Pedagogia, com caracterização qualitativo e descritivo, acerca da concepção dos profissionais que atuam na Educação Básica, especialmente no campo da  Educação Infantil sobre a importância da aplicabilidade do lúdico, tomando como base entrevistas realizadas com professoras que atuam no município de Bom Jesus do Itabapoana/RJ, como também o aporte teórico de Kishimoto (1993; 1994), Vygotsky (1998; 2007) e Kiya (2014), entre outros.

A estruturação se deu em quatro partes, a primeira parte foi intitulada “A ludicidade na Educação Infantil: reflexões iniciais”, em que são abordadas algumas reflexões basilares sobre a relevância do lúdico na perspectiva da aprendizagem significativa.  A segunda parte é “Sentidos de ludicidade em ambientes de Educação Infantil” e visa discorrer sobre processo de aprendizagem na construção de um ambiente profícuo para o despertar da curiosidade e encantamento. A terceira parte trata da aplicabilidade do lúdico por meio das práticas pedagógicas; tem o título “Usos de jogos e brincadeiras na escola”.

Quanto aos resultados obtidos, por meio da elaboração da quarta parte, “Sentidos de ludicidade em ambientes de Educação Infantil: a percepção das professoras”, foram apresentados de forma a demonstrar de que maneiras os docentes percebem que se apropriam do lúdico.

Assim, refletimos como os professores concebem e desenvolvem a proposta de métodos de exploração da ludicidade na escola, na concepção do entendimento da importância do brincar no desenvolvimento infantil no contexto da Educação Infantil, no compromisso de criar espaços de aprendizagem nos quais as crianças possam se manifestar, uma dimensão interativa e dinâmica.

A ludicidade na Educação Infantil: reflexões iniciais

A dimensão lúdica é própria da humanidade; acontece voluntariamente dialogando com a cultura, que impulsiona e contribui para a evolução social, como aponta Huizinga  (1993) quando diz que a sociedade humana sempre contou com o jogo em seu processo de evolução.

A utilização do termo ludicidade na Educação Infantil tem origem da palavra latina “ludus”, que significa jogo. Nessa perspectiva, hipoteticamente, considera-se que na educação, “ludicidade” tem um sentido mais amplo e está associado ao modo de aprender e se desenvolver na infância.

O principal objetivo desse trabalho é apresentar, a partir do aporte teórico e de uma entrevista realizada com um grupo de professoras de Educação Infantil, qual a importância das atividades lúdicas para o desenvolvimento dos estudantes nessa etapa do ensino. De forma mais específica, apontar, através da pesquisa bibliográfica os estudos que abordam a importância da ludicidade nas instituições de Educação Infantil, bem como compreender a concepção das professoras no que tange a realização das atividades pedagógicas por meio do lúdico.

Para Vygotsky (1998), compreender os meandros que perpassam as brincadeiras infantis é fundamental para compreender o próprio desenvolvimento da criança. Portanto, faz-se necessário elucidar a importância de contemplar as atividades lúdicas nas escolas, visando estabelecer um vínculo entre o brincar, o desenvolvimento infantil e a aprendizagem.   

Kishimoto (1993), baseada em ideias de Claparéde (1873-1940), aponta que todos os jogos são essencialmente educativos, na medida em que, através de atividades lúdicas, é possível promover aprendizagens - não só relacionadas a fins cognitivos, mas também relativos a aspectos motores, sociais, emocionais, proporcionando desenvolvimento sadio e integral.

Sentidos de ludicidade em ambientes de Educação Infantil

Existe uma estreita ligação entre a aprendizagem através de atividades lúdicas e o prazer que as crianças demonstram quando brincam. Os jogos aumentam a capacidade de aprendizagem e garantem a diversão em um ambiente que combina entretenimento e fantasia com regras (Revista Nova Escola, 2007, p. 28). Com a ludicidade tem-se a oportunidade de potencializar aprendizagens.

É nesse contexto que o poema "Se eu fosse ensinar", de Rubem Alves (2004), faz sentido ao apontar que no que tange a educação, “a experiência da beleza tem de vir antes”

Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
...que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical.
A experiência da beleza tem de vir antes.

(Alves, 2004).

No poema, o escritor narra a importância de trazer e permitir que o encantamento, a curiosidade, o querer descobrir façam parte dos processos de escolarização. Para ele, esse encantamento, essa magia da descoberta, é o que embeleza e significa o processo de construção de conhecimento. Nesse sentido, os encantamentos trazidos pelas atividades lúdicas são um caminho para descobertas prazerosas.

Carvalho (1992) destaca que desde muito cedo a brincadeira é de fundamental importância na vida da criança, pois quando ela brinca, explora e processa tudo ao seu redor, ela precisa fazer esforços físicos e mentais. Kishimoto (1994) diz que

o jogo como promotor da aprendizagem e do desenvolvimento passa a ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante de situações lúdicas como jogo pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola (Kishimoto, 1994, p. 13).

Já de acordo com Almeida (2008) no cotidiano das salas de aula de educação infantil, devem existir atividades lúdicas como recursos da prática educativa, objetivando não só o desenvolvimento emocional dos alunos, mas também que os educadores lidem com sua compreensão no âmbito da escola.

Complementando, de acordo com Valente (1993), no jogo educacional o usuário está livre para aprender através de um ambiente exploratório, usando uma abordagem da exploração autodirigida, em contraste com a instrução explícita e direta. Segundo o autor, do ponto de vista dos aprendizes essa é a maneira mais divertida e gostosa de aprender. Os estudantes ficam mais motivados a usar a inteligência, pois querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativos mentalmente.

Nessa perspectiva, os jogos e brincadeiras têm valor formativo para a interação e o relacionamento social; e vão além, pois contribuem também para a manifestação de atitudes que envolvam respeito mútuo, solidariedade, cooperação, cumprimento das regras, senso de responsabilidade e iniciativa individual e coletiva.

A esse respeito, Vygotsky (2007, p. 122) salienta:

Essa subordinação estrita às regras é quase impossível na vida, no entanto, torna-se possível no brinquedo. Assim, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além de seu comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.

Dadas às diversas possibilidades de aprendizagem por meio de atividades lúdicas, podemos afirmar que as crianças expressam, absorvem e constroem sua realidade por meio de brinquedos e jogos.

Usos de jogos e brincadeiras na escola

Brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças. Muitos são os objetos educacionais e a ludicidade não precisa ser vista isoladamente só como atividade recreativa - ela é e faz parte de uma gama de conteúdos e atividades com objetivos culturais e sociais.

Segundo Kiya (2014), deve-se sempre ter em mente que, qualquer que seja a prática pedagógica a ser desenvolvida, ela deve proporcionar felicidade para os alunos, por isso:

Na busca por respostas sobre como tornar o ensino agradável tanto para os alunos quanto para os professores descobrimos que o uso de jogos bem como de atividades lúdicas, como recursos metodológicos, podem ser a saída para melhorar o processo de ensino/aprendizagem e tornar o trabalho educacional realizado em nossas escolas mais dinâmico e prazeroso (Kiya, 2014, p. 9).

Percebe-se que o uso de atividades lúdicas na escola pode contribuir não só para o processo de ensino e aprendizagem, mas também para tornar o ambiente escolar mais feliz, isso porque, sabendo que as crianças gostam muito de brincar, se a elas for dada a oportunidade de fazer isso no espaço da escola, sem dúvida elas terão prazer em frequentá-la e em se envolver nas atividades propostas pelo professor.

Ainda de acordo com Kiya (2014), é através do uso de jogos e brincadeiras que o professor tem a oportunidade de estar em constante inovação de sua prática pedagógica, na medida em que desenvolve atividades que trazem diversão para as crianças ao mesmo tempo contribui para seu desenvolvimento e, nessa perspectiva o professor pode proporcionar situações em que a interação entre as crianças e os demais seja o foco principal.    

A esse respeito, Oliveira e Hackbart (2013) afirmam que qualquer jogo ou brincadeira que seja usada na escola pelo professor pode ser definido como um jogo educativo, isso porque ele está servindo ao propósito de auxiliar a aprendizagem. No geral, “pode-se dizer que todo jogo é educativo em seu cerne. Em qualquer tipo de jogo, a criança continuamente se educa” (Oliveira; Hackbart, 2013, p. 12). Os autores destacam que o jogo educativo pode ser dividido em dois significados:

sentido amplo: como material ou situação que permite a livre exploração em recintos organizados pelo educador, tendo em vista o desenvolvimento geral da criança, e sentido restrito: como material ou situação que exige ações orientadas com vistas à obtenção ou treino de conteúdos exclusivos ou de desenvolturas intelectuais. No segundo caso recebe, também, o nome de jogo didático.

Entende-se que essa distinção entre os significados de jogo educativo, serve como aporte para que o professor planeje sua prática, observando quais objetivos ele deseja atingir e quais os jogos e brincadeiras que melhor se adaptam a esses objetivos.

Ainda a respeito do jogo educativo, de acordo com Wajskop (1995), a atividade lúdica usada para facilitar a aprendizagem configura-se como uma situação privilegiada para o desenvolvimento infantil, uma vez que brincando, a criança tem a oportunidade de alcançar níveis mais complexos em seu processo de evolução, isso por causa das possibilidades de interação entre as pessoas e pela negociação de regras que ocorre durante o jogo. Sendo assim, o brincar permite para as crianças:

a) decidir incessantemente e assumir papeis a serem representados; b) atribuir significados diferentes aos objetos transformando-os em brinquedos; c) levantar hipóteses, resolver problemas e pensar/sentir sobre seu mundo e o mundo mais amplo ao qual não teriam acesso no seu cotidiano infantil (Wajskop, 1995, p. 67-68).

Nota-se que todas essas possibilidades citadas por Wajskop (1995) são fortemente marcadas pela presença da imaginação durante o ato de brincar, a qual permite que a criança vivencie inúmeras situações que fazem parte de seu cotidiano e vá satisfazendo a necessidade de entendê-las.

Segundo Winnicott (1979, p. 162), os adultos – nesse caso, representados pela figura do professor – podem contribuir para ampliar as experiências das crianças, apresentando novas brincadeiras para elas, “mas sem obstruir nem adulterar a iniciativa própria da criança”.

Dessa forma, no que diz respeito ao jogo educativo, o professor pode estar sempre apresentando novos jogos para as crianças, de acordo com os objetivos que almeja atingir, seja na busca de favorecer o desenvolvimento integral da criança, ou de facilitar a aquisição de algum conhecimento específico. Contudo, é preciso orientar as brincadeiras deixando, entretanto, que os discentes criem e recriem o jogo, o que amplia ainda mais as suas possibilidades.  

Sentidos de ludicidade em ambientes de Educação Infantil: a percepção das professoras

O documento normativo que tem pautado a organização do ensino é a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, a qual apresenta as competências e habilidades que devem ser observadas quando da construção das propostas pedagógicas em todos os seguimentos da educação básica.

De acordo com esse documento, especificamente na parte destinada a Educação Infantil, afirma-se que é direito da criança

brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais (Brasil, 2018, p. 36).

Nota-se que o brincar é visto como um direito da criança e que, por isso, deve ser assegurado em todos os espaços que ela frequenta, sendo assim, precisa estar presente também no contexto escolar.

Nessa perspectiva, é importante evidenciar e conhecer de que forma os profissionais atuantes nessa etapa de ensino concebem a ludicidade enquanto prática pedagógica capaz de mobilizar a aprendizagem dos alunos da Educação Infantil.

A pesquisa de campo foi realizada com três professoras que atuam na Educação Infantil, no município de Bom Jesus do Itabapoana. Destaca-se que não serão divulgados os dados pessoais das participantes, apenas as respostas dadas aos questionamentos da pesquisa.  Assim, como não foram divulgados os nomes das participantes, a referência a elas será feita como Professora 1, Professora 2 e Professora 3.

O primeiro bloco de perguntas buscava compreender qual formação desses profissionais, tempo de atuação na educação e, mais especificamente, tempo de atuação na Educação Infantil. As respostas foram as seguintes:

Quadro 1: Primeiro bloco de perguntas

 

Formação

Atuação na Educação

Atuação na Educação Infantil

Professora 1

Ensino Médio (formação de professores) com cursos complementares para a Educação Infantil

35 anos

35 anos

Professora 2

É preciso dedicação e comprometimento e uma formação continuada para a melhoria da qualidade do ensino, porque sem uma formação a gente não vai ter um ensino de qualidade

31 anos

Sempre trabalhei nessa área, nunca saí da Educação Infantil

Professora 3

Sou formada em Pedagogia

Entrei no dia 12 de novembro de 1978 (42 anos)

Sempre trabalhei na Educação Infantil

Nota-se que a Professora 2 não especificou qual a sua formação, mas em resposta a uma outra pergunta, ela afirma ter especialização para atuar na Educação Infantil. Por isso, é possível observar que todas as participantes possuem a habilitação necessária para atuarem nesse segmento da Educação.  

Em análise às respostas dadas para as perguntas dois e três da entrevista, observa-se que as professoras participantes sempre atuaram na Educação Infantil, portanto, possuem bastante tempo de experiência nesse seguimento.

A quarta pergunta visava saber sobre o uso de atividades lúdicas na prática das professoras, questionando como elas costumam usar a ludicidade em sala de aula, e as respostas obtidas foram as seguintes:

Quadro 2: Respostas para a pergunta 4

Professora 1

Sim, com jogos e brincadeiras.

Professora 2

Sim, através de jogos, brincadeiras, músicas, a criança desenvolve sua aprendizagem, aprende a construir, interagir, se expressar. É a partir disso que a criança expressa seus conhecimentos e passa a se socializar.

Professora 3

Sim, através de jogos e brincadeiras.

É possível observar que todas as professoras participantes da pesquisa, fazem uso de atividades lúdicas em sua prática pedagógica; duas delas se limitam a relatar que o modo como costumam usar a ludicidade em sala de aula, é através de jogos e brincadeiras e a Professora 2 amplia a reflexão, relatando que também faz uso de músicas como recurso lúdico e que através disso as crianças podem desenvolver melhor seu aprendizado, interação, expressão e socialização.

Pelas respostas dadas pelas professoras, é possível inferir que elas possuem a consciência de que as atividades lúdicas são, na maioria das vezes, baseadas no uso de jogos e brincadeiras em sala de aula, mas elas não aprofundam a questão, portanto, não explicando como fazem uso desses recursos, se o brincar é estimulado apenas como atividade livre ou também como aporte para aquisição de novos conhecimentos.  

A quinta pergunta era: No contexto de pandemia que estamos vivendo atualmente, como tem sido lecionar? É possível desenvolver atividades lúdicas nesse contexto? Como as crianças têm reagido? Quais têm sido os maiores desafios?

Quadro 3: Respostas para a pergunta 5

Professora 1

Nesta pandemia, não estamos com aula presencial e nem online, por serem crianças pequenas, meus alunos são de 3 e 4 anos, só estamos trabalhando com atividades escritas que os pais pegam na escola.

Professora 2

Nós estamos seguindo ordens da SEME EL, estamos fazendo planejamento utilizando o livro didático adotado pelo município, essa coleção se chama Mais Cores, esse livro foi adotado pelo município e a gente direciona as atividades da semana para os alunos, além disso, a gente também faz uma folhinha xerocada de acordo com o conteúdo que é direcionado naquela semana.

Sim, é possível desenvolver atividades lúdicas nesse contexto de pandemia, porém sem o nosso acompanhamento, sem a nossa interferência e por isso não tem a nossa avaliação, não podemos estar olhando para ver o desenvolvimento das crianças, porque as atividades que são propostas só quem tem que trabalhar é a família, o livro foi enviado para casa e a família que acompanha. Nós orientamos para que eles façam da maneira que puderem fazer junto com os primos, os tios, enfim a família, os vizinhos, quando tiver dúvidas e essas atividades lúdicas têm sido, porém, sem nosso acompanhamento, sem nossa vistoria.

Quanto ao modo como as crianças têm reagido, nós não temos esse retorno das famílias, então nós não sabemos como as crianças estão reagindo.

Com relação aos desafios, é você estar planejando e dando sequência a um conteúdo que na verdade a gente não sabe se está sendo alcançado. A gente está tentando fazer com que essas crianças se desenvolvam a distância, sendo assim de forma bem remota, as crianças através das atividades que tem no livro e que a gente direciona, mas infelizmente é assim, é um desafio que estamos enfrentando e não tem como saber realmente o retorno disso, se isso vai dar resultado, se eles vão ter um aprendizado bom, a gente não tem retorno. É um desafio muito grande porque nunca aconteceu isso, tanto para gente quanto para os alunos, como também para a família e é uma situação nova que a gente está vivendo, então nós não estamos acostumados com essa situação. Então o maior desafio é a gente estar planejando, organizando as atividades, sem que a gente tenha o retorno delas, para em cima disso a gente planejar outras. Está sendo uma coisa programada, mas sem retorno.

Professora 3

Seguindo ordem da SEME EL, só coordenando atividades do livro e folhinhas xerocadas. O livro didático adotado é muito rico em conteúdo escrito e sugestões lúdicas. Então orientamos no ato da entrega a distribuição de páginas destinadas à semana, para que as atividades sejam feitas com auxílio de um adulto e participação da família, assim as sugestões de atividades, como jogos e brincadeiras, não ficam dispersas no decorrer deste período de pandemia.

Não estamos em contato com os alunos, portanto não sabemos como eles têm reagido a essa situação. O que acaba sendo um grande desafio, administrar e avaliar sem o contato direto com o aluno, sem afeto e sem o aconchego, o que acaba sendo muito mecânico. A família leva as atividades e não podemos ver a evolução, o aprendizado, o entusiasmo, as emoções dos alunos.

Nota-se que todas as professoras afirmam que estão seguindo as ordens da secretaria de educação do município, portanto, as aulas na Educação Infantil não estão sendo online devido à idade das crianças; sendo assim, as atividades são planejadas apenas com o uso do livro didático e de atividades entregues em folhas xerocadas. As professoras relatam que as famílias têm sido as responsáveis por ajudar as crianças em casa no fazer das atividades, e que por isso elas não tem tido retorno sobre a evolução das crianças, nem de suas possíveis dificuldades.

Desse modo, as professoras relatam que está sendo um grande desafio a questão do ensino remoto, pois as atividades têm sido realizadas de um modo muito mecânico (nas palavras delas). Duas delas relatam que é possível desenvolver atividades lúdicas nesse contexto, mas ao longo das respostas não explicitam de que forma está sendo realizada, fazendo-nos perceber que a ludicidade não está sendo contemplada nas atividades fora do contexto escolar.  

Portanto, conforme relatado pelos professores que participaram da pesquisa, o ensino na Educação Infantil no contexto da pandemia está sendo um desafio, pois não há o retorno sobre a aprendizagem das crianças, e por isso até mesmo o planejamento das atividades que serão enviadas para casa se torna mais difícil, isso porque não se sabe ao certo quais aspectos ainda precisam de um maior aprofundamento, como relata a professora 2.

A sexta pergunta era: Você considera que brincar é importante para o desenvolvimento das crianças? Por quê?

Quadro 4: Respostas para a pergunta 6

Professora 1

Sim, ajuda no desenvolvimento motor e na interação com as outras crianças.

Professora 2

Sim, a brincadeira é a principal forma de expressão da criança, é nas brincadeiras que a criança vai interagir, observar, se expressar, criar e desenvolver sua coordenação e habilidades. Eu acho que a brincadeira é a principal na vida da criança; porque é através da socialização que as crianças desenvolvem suas habilidades.

Professora 3

Sim, na brincadeira o aluno externo sentimentos, emoções, aprende, supera desafios e aumenta possibilidades no desenvolvimento físico, social, cognitivo e psicológico.

Aqui se observa que todas as professoras participantes demonstram saber que o brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças, afirmando que é através dessa atividade que elas têm a oportunidade de se desenvolver plenamente, em seus aspectos físicos, sociais e cognitivos. 

A sétima pergunta buscava saber quais os benefícios que as professoras notam com relação ao desenvolvimento das crianças quando o brincar é usado com os alunos, e quais os objetivos principais ao utilizar atividades lúdicas.

Quadro 5: Respostas para a pergunta 7

Professora 1

Eles aprendem que nos jogos e brincadeiras existem regras.

Socialização, interação e respeito ao próximo.

Professora 2

Para mim, o brincar na Educação Infantil é a parte principal para a criança, porque ao brincar a criança está desenvolvendo suas habilidades, ela tem oportunidade de socialização, ela desenvolve afetividade, criatividade, companheirismo.

O meu objetivo de usar jogos com as crianças, é porque é um modo de interagir. Os jogos são muito importantes para as crianças, porque através dos jogos, a criança interage uma com a outra, desenvolve as habilidades de cada um, estimula a criança a participar de tudo, de todas as atividades, de todas as brincadeiras e ela vai socializar também.

Professora 3

Eles aprendem, desenvolvem física e mentalmente com prazer. O convívio social, que também na maioria dessas brincadeiras faz parte, ajuda o aluno a se soltar, externar emoções, demonstrando assim como está.

Aprender de forma prazerosa; conviver umas com as outras e desenvolver física e mentalmente, espontaneamente, sem obrigação.

Apesar de, já nas respostas para a sexta pergunta, as professoras terem relatado benefícios do brincar para a criança, a sétima pergunta vinha para buscar aprofundar essa questão; sendo assim, se na sexta pergunta elas afirmaram que o brincar é importante para o desenvolvimento e quais são os aspectos em que há evolução, na sétima pergunta as professoras, citam o que notam em sua prática e não o que aprenderam em teorias, demonstrando que no brincar praticado na escola a criança aprende sobre regras e ainda pode externar seus sentimentos, e tudo isso, com prazer, já que o brincar é visto como a parte principal da vida da criança.

No que tange aos objetivos de desenvolver atividades lúdicas, as professoras descreveram basicamente os mesmos, uma vez que todas citam o fato de contribuir para a socialização e interação das crianças, além do desenvolvimento de habilidades físicas e mentais.

A intenção ao início da pesquisa, ainda na fase de elaboração do projeto, era a de traçar um panorama a respeito das experiências lúdicas em Bom Jesus do Itabapoana, procedendo a uma investigação direta da realidade encontrada em algumas das escolas do município, contudo, a pandemia do novo coronavírus acarretou dificuldades que exigiram alterações e adaptações nos objetivos pré-estabelecidos para a pesquisa.

Sendo assim, foi possível conhecer um pouco a respeito das práticas usadas e dos entendimentos que as professoras possuem sobre os benefícios do brincar para as crianças, mas o aspecto que acabou chamando mais atenção foi o relato com relação ao ensino remoto que está sendo oferecido para as crianças que estão na Educação Infantil no município de Bom Jesus do Itabapoana.

Considerações finais

A realização do presente estudo tornou-se uma experiência muito relevante quando se trata de ampliação de reflexões sobre o novo quadro que estamos vivendo no contexto educacional, tornando claro que por ser uma situação nova, as possibilidades existentes para o ensino remoto ainda estão em análise, e talvez as melhores alternativas ainda não tenham sido encontradas, até porque isso envolve vários desafios ligados a questões de infraestrutura, preparo dos professores, receptividade das famílias, acompanhamento dos alunos à distância, entre outros que ainda precisam ser analisados, mas que emergem quando analisamos a eficácia das práticas de ensino remoto e o que se pode fazer para melhorá-las.

Com isso, destaca-se que esse estudo começou buscando analisar as práticas ligadas a atividades lúdicas dentro do contexto escolar, entretanto, não esperávamos “encontrar no meio do caminho” uma pandemia que transformaria todo o cenário educacional muito rapidamente, exigindo transformações e adaptações, sendo inevitável que surjam inúmeras reflexões e questionamentos sobre esse novo quadro educacional.

Desse modo, por meio da pesquisa bibliográfica realizada, foi possível demonstrar várias teorias de estudiosos que apontam como o brincar influência no desenvolvimento das crianças, tornando claro que se trata de um mecanismo natural na vida das crianças, pois o brincar faz parte de sua essência e por isso deve ser estimulado no contexto educacional para que a evolução de seus aspectos físicos, sociais e cognitivos seja cada vez mais beneficiada.

Por meio da pesquisa bibliográfica demonstrou-se ainda que no processo de ensino, o professor deve contemplar atividades lúdicas para tornar a aprendizagem mais prazerosa, além de procurar entender quais são os aspectos da criança que ainda precisam de mais estímulos de desenvolvimento e assim estruturar jogos e brincadeiras que sejam favoráveis para a aprendizagem.

Contudo, a pesquisa de campo demonstrou que as professoras não estão tendo essa oportunidade, uma vez que não possuem contato direto com as crianças, e nem conseguem acompanhar as atividades que estão sendo enviadas para casa; além disso, nem ao menos tem conseguido estimular jogos e brincadeiras nesse contexto.

Entretanto, o objetivo de identificar como a questão da ludicidade é compreendida pelos professores foi alcançado, na medida em que as perguntas realizadas na pesquisa demonstraram que as professoras defendem que o brincar é a principal via de aprendizagem da criança e por isso deve ser usado na escola como forma de estimular o desenvolvimento considerando os aspectos de interação, socialização, cognição, entre outros.

Entende-se que é realmente importante que a escola busque uma maior parceria com as famílias, na medida em que os familiares representam o apoio adulto mais próximo de que as crianças dispõem nesse momento. Entretanto, os professores, mesmo distantes, podem indicar materiais, jogos e brincadeiras, disponibilizar atividades impressas, entre outras possibilidades que podem contribuir para o desenvolvimento das atividades nessa fase.

Em detrimento desse fato, analisando as falas das professoras participantes da pesquisa apenas no que concerne ao uso de atividades lúdicas no contexto escolar, é possível inferir que todas reconhecem sua importância e benefícios, e que quando as crianças estão frequentando a escola regularmente, elas procuram fazer uso do brincar como forma de estimular a aprendizagem, a socialização, interação, criatividade, além de aspectos físicos e cognitivos.

Ao final da realização deste estudo, percebe-se que, mesmo não tendo sido possível alcançar os objetivos que foram pensados inicialmente, ele continua sendo relevante, pois trouxe a possibilidade de refletir sobre os desafios impostos por esse novo cenário educacional em meio a pandemia.

Referências

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WINNICOTT, O. W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

Publicado em 15 de junho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

PERES, Ana Paula da Silva; FERREIRA, Sabrina Mendonça; SILVA, Liz daiana Tito Azeredo da; ALMEIDA, Luciana da Silva. Jogos e brincadeiras nas práticas pedagógicas: a concepção docente sobre a ludicidade no contexto da Educação Infantil. Revista Educação Pública, v. 21, nº 22, 15 de junho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/22/jogos-e-brincadeiras-nas-praticas-pedagogicas-a-concepcao-docente-sobre-a-ludicidade-no-contexto-da-educacao-infantil

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