Uma boa história, um bom contador, uma criança e a imaginação: características da contação de histórias

Emanoela Cargnin da Silva

Graduada em Pedagogia (Famper), mestranda em Educação (Unioeste)

A arte da contação de histórias da literatura infantil, conforme Coelho (2001), “tem início a partir do século XVIII, quando a criança passa a ser considerada como um ser diferenciado de um adulto” (antes era considerada um ser igual ao adulto). As histórias promovem a união, distração e despertam a imaginação dos seres humanos, além de proporcionar trocas de experiências entre crianças e adultos.

Histórias despertam emoções, interesses e expectativas, ouvir e contar histórias representa cultura, valores e conhecimentos que muitas vezes são passados de geração para geração, segundo Cléo Busatto (2003, p. 9): “A arte de contar histórias traz o contorno, a forma. Reatualiza a memória e nos conecta com algo que se perdeu nas brumas do tempo”.

As histórias podem ser contadas em diversas ocasiões, como por exemplo, em casa por um familiar antes de dormir ou na hora de acordar, na escola por um professor, em um teatro reproduzido por autores, enfim, existem vários locais e possibilidades para se ouvir uma história, porém é de extrema importância analisar a maneira de transmiti-la, principalmente para crianças.

Os recursos para contar histórias são bastante amplos, porém existem muitos profissionais que não utilizam e aproveitam estes, e acabam utilizando sempre as mesmas técnicas ou nem utilizando-as; muitas vezes, acabam somente lendo as histórias para os educandos, segundo Cléo Busatto (2003, p. 10).

Acredita-se que ler histórias para os alunos é uma pratica que ocupa um significativo espaço no processo pedagógico, porém contar histórias vem a ser outra técnica, e nos remete aquela figura ancestral, que ao redor do fogo, ou ao pé da cama, contava histórias para quem quisesse ouvir, narrava contos do seu povo, aquilo que havia sido gravado na sua memória através da oralidade.

Na contação de histórias, deve-se criar, enfatizar o lúdico, explorar os recursos disponíveis e principalmente vivenciar a história contada, trazendo os ouvintes para o mundo desta.

Os professores precisam reconhecer a importância de contar histórias na Educação Infantil, essa prática instiga a imaginação da criança, e torna o aprendizado e o educar muito mais fáceis. É preciso também estar ciente da caracterização para se contar uma história, é importante utilizar recursos ou até mesmo o contador se caracterizar, para que essa pratica seja mais atraente e prazerosa para as crianças.

Devemos sempre lembrar que contar histórias não é apenas ler ou falar para as crianças, deve-se tornar esse momento mágico.

Também é importante o docente analisar o público que irá ouvir sua história, para que assim possa se preparar melhor, outro fato que influencia muito é o espaço onde será trabalhado, para cada classe e espaço deve-se haver um planejamento diferente.

Esta pesquisa tem como objetivo apresentar métodos que podem ser utilizados para contar histórias, maneiras de instigar a imaginação das crianças na Educação Infantil, proporcionando a estes momentos lúdicos, prazerosos e de aprendizagem. Dessa forma, apresenta teorias e práticas que demonstram as características do contador de histórias, desde a articulação e preparo até a transmissão do conhecimento de forma que os ouvintes possam se interessar e vivenciar a mesma, na Educação Infantil as histórias são de extrema importância, por isso devem ser bem elaboradas e transmitidas com diversidade de recursos e didática.

A origem da contação de histórias

Em todos os tempos existiram contadores de histórias, que narravam seus conhecimentos que eram aprendidos na oralidade, contavam histórias durante o trabalho, nas cozinhas, em baixo das árvores, em volta das lareiras, ou para as crianças antes de dormir.

Nessas épocas existiam bastantes lendas que eram transmitidas de geração para geração, já se trabalhava o imaginário através do que se ouvia de pais ou avós que geralmente contavam histórias de seu passado.

Nas sociedades antigas, contar histórias não tinha uma finalidade como hoje temos, as histórias eram contadas como conversa, passatempo entre família e amigos em suas casas ou comunidades, um instrumento utilizado para passar informações através do tempo.

Os brancos desenham suas palavras porque seu pensamento é cheio de esquecimentos. Nós guardamos as palavras dos nossos antepassados dentro de nós há muito tempo, e continuamos passando-as para os nossos filhos... são elas que nos fazem ver e conhecer as coisas de longe, as coisas dos antigos. É o nosso estudo, o que nos ensina a sonhar (Busatto, 2006, p. 10-11).

A trajetória da literatura infantil no Brasil está de uma forma geral, principalmente ligada à obra de Monteiro Lobato, que é considerado o precursor, pois promoveu a renovação do gênero infantil na literatura brasileira, uma vez que até a década de 70.

Até a referida década não existiu um conjunto de autores com uma produção literária voltada para o público infantil. A precariedade do gênero manifestava-se principalmente na forma descontinuada da qualidade estética dos textos, assim como na construção literária que ficou condicionada a um horizonte de dominação entre autor, texto e leitor.

Monteiro Lobato a partir de então promoveu à literatura infantil brasileira a renovação do gênero, inaugurando um novo período, com o aparecimento de novos autores, com obras que vão refletir as tendências estilísticas da época, num tom ousado e criativo, desenvolvendo uma história do gênero dentro de um novo estilo.

A produção literária infantil brasileira após esta estruturação tem uma nova fase que se iniciou na segunda metade do Século XX com as novas ideias em torno da criança e de sua aprendizagem, estas teorias abrem caminhos para um novo paradigma em relação à criança, pois visam o seu desenvolvimento integral através do lúdico, das brincadeiras, das canções, das imagens, dos jogos, entre outros.

Outros autores que contribuíram para o desenvolvimento da literatura infantojuvenil foram: Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes, Ziraldo, João Carlos Marinho, Luís Camargo e Ricardo Azevedo, entre outros; todos tiveram sua importância e criaram fantásticas histórias para o mundo infantil.

Como podemos perceber há muito tempo já se tem a prática de contar histórias, segundo Busatto (2003). Na área de história podemos ir longe, pois a história nos leva à história, as histórias e contos podem ser antigos, mas aparecem até hoje no universo infantil.

A importância da história na Educação Infantil

As histórias e contos de fadas na educação infantil são de extrema importância, pois dentro destes sempre está um problema ou um drama a ser resolvido, porém a criança não percebe isso com tanta gravidade, mas já vai aprendendo a enfrentar a vida de uma forma lúdica e simples; muitas vezes, as crianças até se colocam no lugar dos personagens das histórias, vivenciando o que acontece neles. Segundo Abramovich (2006, p 16), “É importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas histórias. E escutá-las é o início da aprendizagem, para ser um leitor e ter um caminho absolutamente infinitivo de descobertas e compreensão do mundo”.

Além das histórias e contos de fadas distrair e dinamizar as atividades com as crianças, ajudam também na educação desses sujeitos, trabalhando o respeito mútuo, cooperação, relação social e interação, auxiliando na construção do conhecimento da criança na Educação Infantil.

Quando ouvimos histórias enriquecemos ainda mais nossos exemplos de experiências, além de nos sentirmos integrados ao meio social onde notamos que não estamos sozinhos. O fato de encontrar histórias baseadas em conflitos e realidades como a nossa, nos tira a ideia de isolamento, pois essas histórias apresentam um exemplo de resolução que nos desperta vontade de buscar por outros tipos de resolução, como debates, conversas e trocas no geral.

Para a criança que vive com a mesma intensidade de um adulto, dentro de sua própria realidade, é tão importante se sentir segura em falar sobre um assunto levantado pela história quanto é para um adolescente ou adulto.

A história cria um ambiente seguro de troca, sem exposição direta, que permite, se assim for criada a atmosfera, debater, compartilhar pontos de vista e questionar novas vivências. Entrando no mundo mágico que a contação de histórias proporciona, a criança amplia seu vocabulário conhecendo novas palavras, trabalhando em novos significados, conhecendo novas maneiras de se posicionar e usar as palavras e contextos. Segundo Abramovich (2006, p. 18),

Contar histórias é uma arte... E tão linda! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por não e nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz. Daí que quando se vai ler uma história – seja qual for- para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro livro que se vê na estante.

Ouvir histórias provoca nos alunos emoções como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade, entre outras; isso é muito bom para estimular o imaginário e até fazer com que a criança crie ou conte suas próprias histórias, De acordo com Carvalho (2010, p. 26), “a contação de uma história deve ser um momento de fantasia e êxtase”. A criança (até mesmo o adulto) deverá sentir, naquele instante, que está encontrando um novo caminho. Algo que lhe ofereça uma possibilidade de ver a vida sob um novo prisma”.

Devemos contar histórias para as crianças desde bebês, ou até mesmo antes do nascimento, contar histórias é um ato de amor e envolve vários outros sentimentos, porém a mãe pode transmitir esse amor para seu filho mesmo ele ainda estando no seu ventre. Muitas vezes, acredita-se que não se deve contar histórias para bebês pois ainda não falam, não entendem, não são totalmente desenvolvidos. Muito pelo contrário, os bebês ainda estão em desenvolvimento e as histórias são fundamentais para isso, é importante que durante a contação de histórias para essa faixa etária sejam utilizadas imagens, músicas, fantoches, palitoches etc. E o contador deve chamar a atenção de seu público através de gestos e tendo uma fala suave que acompanhe a história. Para Kramer (2010, p. 34), “a importância da convivência das crianças com a literatura desde o berçário, ou seja, a premissa de que a oralidade pode anunciar o prazer da leitura e, portanto, o papel do contador de histórias é dos mais fundamentais na alfabetização”.

Com uma história ou conto podemos ensinar muito aos nossos alunos, por exemplo: a história da Chapeuzinho Vermelho, ensina que as crianças devem ouvir e seguir os conselhos de seus pais ou de pessoas mais velhas, se a chapeuzinho tivesse ouvido sua mãe o lobo não teria invadido a casa da vovó.

E na história dos Três Porquinhos, ensina que não se deve ter preguiça, se deve fazer as coisas bem-feitas; o lobo derrubou as casas malfeitas, que foram construídas com pressa, a de tijolos pode ter demorado mais tempo para ficar pronta, porem o lobo não conseguiu derrubar e eles conseguiram se esconder e ficarem seguros lá dentro.

É importante lembrar também quanto ao incentivo à leitura na Educação Infantil; as crianças devem ser incentivadas a ler desde cedo, e isso geralmente se dá através das histórias, os educandos infantis devem ouvir as histórias e se interessar por ler as mesmas assim que forem alfabetizados, esse incentivo pode se realizar desde o berçário.

O incentivo à leitura acontece mesmo que o ouvinte seja um bebê; nunca é cedo demais para incentivar. O importante é ser a leitura prazerosa e, ao mesmo tempo, despretensiosa.

Quando as crianças já começam a falar e a entender as situações é importante que o professor distribua livros com histórias e figuras interessantes para desde então começar o interesse pelos mesmos, assim vai ser desenvolvido o gosto e hábito pela leitura.

Porém devemos sempre ressaltar como deve ser trabalhado com os alunos esse incentivo, nesse momento devemos contar as histórias com riquezas de detalhes, criar, imaginar junto com eles, fazer com que eles se apaixonem pela ideia. Carvalho (2010, p. 15) afirma:

Ler, ver, ouvir, tocar o livro com todos os sentidos, entrar nele para vislumbrar encantos e novidades, fazer surpresas, imaginar irrealidade e viver, emoções reais. Esse caminho é aberto ao novo, às camadas profundas irracionais, que apreendem, fazem inferências e intuições e guardam imagens, sensações e sentimentos.

Além de incentivar a leitura e o interesse pela literatura nas crianças, a contação de histórias também pode promover a socialização em sala de aula, o professor pode trabalhar a história de várias maneiras, principalmente dinamizar com os alunos.

Pode-se, por exemplo, encenar uma história ou conto, assim o educador estará socializando a turma e as crianças vão se sentir como personagens, enfatizando a imaginação e o desenvolvimento das mesmas.

As histórias e contos têm várias funções e importâncias diferentes tanto na educação infantil quanto nas outras etapas e modalidades da educação, os educadores precisam deixar essas práticas presentes no dia a dia escolar; isso vai tornar a aprendizagem mais dinâmica e irá criar seres mais cultos e interessados por literatura desde a infância.

A importância dos recursos e características utilizados para a contação de histórias

Antes de falar sobre qualquer recurso audiovisual, ilustrativo ou dinâmico, é necessário reconhecer o melhor recurso que o professor, ou contador de histórias, tem a sua disposição: o próprio material humano. Seu jeito de ser, de falar, seus gestos, expressões faciais e a maneira como interage com a história que conta, pode determinar seu sucesso na hora de contar uma história.

A literatura infantil é bastante ampla quando se trata de falar com crianças, contar histórias, onde temos muitos recursos para se trabalhar nessa área, porém muitos ainda sentem dificuldade de se colocar ou se comportar dentro de uma classe cheia de crianças pequenas.

É possível ver hoje educadores que tendo bons recursos para trabalhar com a literatura infantil, mas não sabem como conduzir seus alunos, ou pelo mau uso desse recurso ou ele sendo usado demasiadamente, porém as histórias e contos devem ser transmitidos as crianças com paixão. Segundo Busatto (2003, p. 47): “ao contar, doamos o nosso afeto, a nossa experiência de vida, abrimos o peito e compactamos com o que se torna fundamental: que haja uma identificação entre o narrador e o conto narrado”.

O contador de histórias deve conhecer a realidade de sua turma antes de contar, também há diferenças entre a quantia de crianças e a idade das mesmas. Por exemplo, para uma turma de berçário, deve-se contar histórias curtas, pois se forem muito longas não iram prender a atenção das crianças, já em turmas de maternal e jardim pode – se estender mais, porém sempre utilizando a ludicidade.

A criança precisa ser estimulada, seja em casa ou dentro da sala de aula, com histórias e livros que possam desenvolver nela a imaginação, emoções e linguagens. Para que isso aconteça tanto os pais ou a família, quanto os educadores devem ter consciência da importância em dar estes estímulos, nesse caso também são de extrema importância pensar nos recursos e nas características utilizadas.

Devemos dinamizar quando lemos ou contamos uma história para uma criança onde ela passa a observar, acrescentar, transpor para si as impressões sentidas, fantasiando e até inventando situações para depois reproduzi-la, porém, segundo Busatto (2003, p. 47), antes de sensibilizar o ouvinte o conto precisa sensibilizar o contador.

Como podemos perceber, o educador deve antes de contar uma história ou conto se familiarizar com os mesmos, assim ficará muito mais fácil encantar as crianças e despertar a imaginação das mesmas.

Existem muitos recursos que são fáceis de produzir e que podem enriquecer a história, como, por exemplo, fantoches, palitoches, avental de histórias, caixa de histórias, etc. São matérias que chamam muito a atenção das crianças e que são de fácil acesso e de fácil uso em sala de aula.

Podemos também aproveitar os espaços em sala de aula e na escola para realizar a contação de histórias, nesses espaços podemos realizar dinâmicas e atividades diferenciadas para chamar a atenção dos alunos. Segundo Fonseca (2006 p 16): “a sala de aula, o espaço escolar, devido às interações e, principalmente, devido às possibilidades de intervenção do professor, é um local privilegiado para que as situações de aprendizagem aconteçam”.

Dentro de uma simples história, pode haver muita coisa para se aproveitar, e o contador deve aproveitar tudo isso, deve imaginar junto com o público ouvinte.

Também pode-se inventar, criar expectativas para os personagens, e também incorporar esses personagens, fazer como se os mesmos estivessem ali presentes no local, principalmente com crianças isso fará muito sucesso. Segundo Carvalho (2010, p. 26), “a contação de uma história deve ser um momento de fantasia e êxtase”.

Quando se pensa em contar uma história para uma criança, é importante pensar e planejar como vou usar os vários meios disponíveis, pois o ato de contar uma história é uma arte, e ela é quem dá o equilíbrio do que a criança ouve e o que ela sente; quando se trata de crianças, é preciso contar com calma, sensibilidade e principalmente com recursos muito dinâmicos.

Outras características importantes que devemos observar no momento de contar histórias são os sons e os movimentos, todas as histórias infantis têm seus sons de animais ou até mesmo a fala dos mesmos, ou de pessoas.

O contador deve prestar muito a atenção nisso e saber interpretar esses sons e movimentos, isso vai enriquecer a história, chamar a atenção das crianças, podemos usar nosso corpo para fazer vários gestos e sons, isso também vai instigar a imaginação da criança.

Devemos também dramatizar, criar, inventar, se movimentar, trazer imagens, vídeos, e junto com eles usar nosso corpo e mente, sempre lembrando que as histórias infantis devem ter uma linguagem simples e de fácil entendimento. Segundo Abramovich (1989, p. 21-22),

Ah, é bom saber começar o momento da contação, talvez do melhor jeito que as histórias sempre começaram, através da senha mágica “Era uma vez...”. Ou qualquer outra forma que o agrade ao contador e aos ouvintes... Ah, e segurar o escutador desde o início, pois se ele se desinteressa de cara, não vai ser na metade ou quase no finalzinho que vai mergulhar... Ah, não precisa ter pressa em acabar, ao contrário, ir curtindo o ritmo e tempo que cada narrativa pede e até exige... “E é bom saber dizer que a história acabou de jeito especial: Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra...” Ou com outro refrão que faça parte do jogo cúmplice entre a criança e o narrador...

Não podemos nos esquecer de que podemos contar histórias em qualquer lugar, em casa, na escola, no parque de diversões, ou até em baixo de uma árvore, porém precisamos nos sentir confortáveis para que possamos realizar a prática com tranquilidade e saibamos utilizar bem os nossos recursos. Segundo Busatto (2003, p. 67), “Contar histórias é lançar um fio de prata do plexo solar que vai envolvendo o narrador à plateia, criando uma teia mágica, onde ambos se perdem de boa vontade pelas tênues tramas da narração”.

A história é uma coisa mágica e encantadora, que deve sempre estar presente na educação, porém o educador deve saber utilizar os recursos e a imaginação, eles caminham juntos para uma boa história ser contada.

Resultados e conclusões           

A pesquisa foi realizada com o intuito de analisar sobre os recursos utilizados para contar histórias nos CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil), verificar a reação das crianças ao se depararem com uma história contada com recursos diferenciados, que benefícios esses recursos trazem tanto as crianças quanto aos professores.

A aplicação da pesquisa aconteceu no primeiro semestre de 2019 tendo como espaço da experiência o Centro Municipal de Educação Infantil Pequeno Anjo, na cidade de Realeza/PR, na turma do Maternal I A, contendo 20 alunos e três professoras.

A pesquisadora adentrou a sala usando uma fantasia de Chapeuzinho Vermelho, a fim de relatar tal história, carregava uma seta cheia de doces, se apresentou as crianças como Chapeuzinho Vermelho, e que estava ali para contar a sua história. Todos sentaram-se para ouvir a história e ficaram atentos e curiosos, a fantasia chamou muito a atenção das crianças, e a cesta de doces também. Ao questionar se já conheciam a história, algumas das crianças relataram que sim, mas não sabiam contar exatamente a história, então foi-se instigando os conhecimentos das crianças sobre o assunto.

A pesquisadora iniciou a história comentando sobre a Chapeuzinho de um jeito diferente, como se ela mesma, com a fantasia da personagem, tivesse vivido o que a personagem viveu na história, comentou sobre a floresta, o lobo, a casa aconchegante da vovó, pediu para as crianças sobre a casa de suas avós, como é, se gostam desse lugar, o que tem lá, se sempre frequentam essa casa, colocando que a Chapeuzinho estava indo levar doces para a sua vozinha, que estava doente e precisava de sua ajuda e seus cuidados.

Ao comentar que a Chapeuzinho saiu sozinha para levar os doces e sua mãe a orientou que fosse com cuidado e não conversasse com estranhos, pois era perigoso, enfatizando sobre ouvir o que a mãe e os mais velhos dizem, e sempre tomar cuidado por onde andam.

Também a Chapeuzinho encontrar o lobo na floresta, que ela conversou com o lobo, enfatizando que as crianças não devem conversar com estranhos em qualquer lugar, colocando que o lobo indicou um caminho mais perto para a personagem, mas fez isso para poder ir até a casa de sua avó e devorá-la; neste caso enfatizando para as crianças sobre não seguir conselhos de pessoas estranhas e sempre seguir os caminhos certos para não correrem perigo.

E, por fim, a pesquisadora contou o final da história, que o lobo devorou a vovozinha, se disfarçou até a Chapeuzinho chegar; quando ela chegou, o lobo conversou com ela tentando devorá-la também, a personagem pediu: “Vovó, por que seus olhos estão tão grandes?” E o lobo respondeu: “para te ver melhor minha netinha”; “por que seu nariz está tão grande?” “Para te cheirar melhor”, “E por que sua boca está tão grande?” “Para te comer”. E então Chapeuzinho saiu correndo e encontrou o caçador, que correu até a casa da Vovó, tirou-a de dentro da barriga do lobo e salvou a Chapeuzinho.

Ao finalizar a história, a pesquisadora comentou com as crianças sobre todos os fatos que aconteceram na mesma, comparando com a vida real, todos ficaram muito atentos, abordando sobre a obediência aos pais e professores, a atenção para que não saiam sozinhos e que não percorram caminhos estranhos, sem acompanhamento de um adulto, relacionando isso a vida real das crianças, segundo Rodrigues (2005, p. 4),

A contação de histórias é atividade própria de incentivo à imaginação e o trânsito entre o fictício e o real. Ao preparar uma história para ser contada, tomamos a experiência do narrador e de cada personagem como nossa e ampliamos nossa experiência vivencial por meio da narrativa do autor. Os fatos, as cenas e os contextos são do plano do imaginário, mas os sentimentos e as emoções transcendem a ficção e se materializam na vida real.

Durante a história, foi possível perceber a atenção e o silêncio das crianças, estavam vidradas e atentas com a fantasia que a pesquisadora estava vestindo. Ela abriu espaço para que os alunos comentassem sobre a história, se gostaram, o que sentiram, e o que aprenderam. As devolutivas foram boas, alguns não comentaram, outros disseram que gostaram, que a Chapeuzinho estava linda, que gostaram da Chapeuzinho, que aprenderam com essa historinha a não desobedecer a mamãe e a professora, não falaram muito pois são uma turma de maternal I, com três anos de idade, portanto não tem muita facilidade para se expressar.

Após o final da história e alguns comentários, a pesquisadora distribuiu os doces da cesta, as crianças se empolgaram ao receber e ficaram felizes e animadas, isso serviu também como um incentivo.

Foi possível perceber o quanto algo diferenciado chama a atenção das crianças, e como diferencia a história, os olhares ficaram o tempo todo voltados para a personagem Chapeuzinho Vermelho, e como podemos relacionar as histórias e contos de fadas com a realidade, como isso pode ajudar os professores e os pais a passarem ensinamentos para as crianças, utilizando o lúdico e o divertido.

Dessa forma, é possível observar os recursos diferenciados que o professor pode usar, principalmente na Educação Infantil, pois utilizando recursos diferenciados os alunos se prendem mais a história e conseguem entender melhor o conceito.

A criança deve se sentir atraída pela história, deve ter diversidade e criatividade, o docente deve sempre trabalhar o lúdico, na sala onde foi aplicado o projeto pode-se perceber que as histórias são contadas de forma diferenciada, o ambiente é lúdico e atrativo. Segundo Bettelheim (2009, p. 11):

Para que a história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam.

Ao conversar com as professoras, se pode verificar que elas utilizam bastante recursos diferenciados, comentaram que são feitos até teatros para contar histórias, e que as crianças adoram, comentaram também sobre as atividades realizadas através das histórias contadas.

Os recursos utilizados para contar a história foram de extrema importância, e ajudaram muito para que a história ficasse mais criativa, interessante e chamasse mais a atenção das crianças.

Ao finalizar a participação na sala de aula, a pesquisadora agradeceu aos alunos e as professoras por ser recebida, demonstraram alegria e satisfação, as crianças comentaram que gostaram da história e da caracterização da Chapeuzinho Vermelho. 

Considerações finais               

Conclui-se com este estudo que contar histórias não é algo tão simples como parece, o ato da contação de histórias é importante tanto na Educação Infantil, quanto nas outras etapas da educação básica, essa pratica enriquece os conteúdos e didáticas em sala de aula.

Porém, contar uma história não é somente ler o que está em livro para os alunos, é preciso inovar, criar, trazer recursos diferenciados para que isso se torne mais atrativo e inovador, e para que o educando se sinta atraído por essa pratica.

O educador precisa conhecer a realidade de seus alunos que irão ouvir a história, pois assim pode melhorar e atrair ainda mais os ouvintes, precisa também vivenciar a história, como se estivesse vivendo o que está narrando.

Como sabemos, existem inúmeros recursos que podem ser utilizados em sala de aula para contar histórias, principalmente na Educação Infantil, podem ser usados: fantoches, palitoches, avental de histórias, guarda-chuvas, caias de histórias, etc... E o professor nunca pode esquecer de seu principal recurso, o corpo humano, com ele pode-se fazer gestos, sons, mimicas, e incorporar os personagens, utilizando fantasias que são simples de confeccionar. E as fantasias podem ser utilizadas pelas próprias crianças, os alunos também podem contar as histórias.

Devemos lembrar também que as histórias podem ser contadas para bebes até pessoas de terceira idade, não se tem uma idade especifica para ouvir histórias, e essa pratica ajuda em muitas didáticas.

Para os bebês as histórias são de extrema importância, principalmente utilizando recursos atrativos, isso ajuda a desenvolver os sentidos e também a imaginação dos pequenos.

Todas as histórias ou contos de fadas trazem ensinamentos para as crianças, e o professor pode utilizar disso em sala de aula, ensinando e educando os alunos da Educação Infantil, como foi tratado nesse estudo, todas as histórias têm algo a ensinar, e também podem ser relacionadas com atividades do dia a dia em sala de aula, podem ser realizadas também atividades envolvendo as histórias contadas.

Os educadores precisam se conscientizar sobre essa prática de contar histórias, que isso não é uma atividade apenas para passar o tempo, ou para aplicar quando não se tem nada planejado, isso é muito importante e sério, reflete na educação, diversão e conscientização das crianças.

E os recursos são muito amplos, fáceis de ser confeccionados e disponibilizados por algumas instituições de ensino, o professor precisa saber aproveitar e se aprofundar nesses conhecimentos, pois isso é de extrema importância assim como as demais atividades realizadas com os alunos.

Referências            

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5ª ed. São Paulo; Scipione, 2006.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar – pequenos segredos da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2003.

CARVALHO, Audrey. O lúdico no desenvolvimento da criança. São Paulo: Rideel, 2010.

COELHO, Beth. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 2001.

FONSECA, Lúcia Lima. O universo da sala de aula. Porto Alegre: Mediação, 2006.

KRAMER, Sonia; LEITE, Maria Izabel; NUNES, Maria Fernanda; GUIMARÃES, Daniela. Infância e Educação Infantil. 11ª ed. Campinas: Papirus, 2011. (Coleção Prática Pedagógica).

MATEUS, Ana do Nascimento Biluca; SILVA, Andréia Ferreira; PEREIRA, Elaine Costa; SOUZA, Josiane Nascimento Ferreira de; ROCHA, Letícia Grassi Maurício da; OLIVEIRA, Michelle Potiguara Cruz de; SOUZA, Simone Cunha de. A importância da contação de história como prática educativa na Educação Infantil. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/viewFile/8477/7227. Acesso em: 12 maio 2018.

PIRES, Olivia. Contribuições do ato de contar histórias na Educação Infantil para a formação do futuro leitor. Disponível em: http://www.dfe.uem.br/TCC/Trabalhos%202011/Turma%2032/Olivia_Pires.pdf. Acesso em: 28 abr. 2018.

RODRIGUES, Edvânia Braz Teixeira. Cultura, arte e contação de histórias. Goiânia: Gwaya, 2005.

SILVA, Angela Borba de Oliveira Prates. A importância da Contação de História na Educação Infantil. WebArtigos, 2016. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-da-contacao-de-história-na-educacao-infantil/146813. Acesso em: 28 abr. 2018.

Publicado em 15 de junho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Emanoela Cargnin da. Uma boa história, um bom contador, uma criança e a imaginação: características da contação de histórias. Revista Educação Pública, v. 21, nº 22, 15 de junho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/22/uma-boa-historia-um-bom-contador-uma-crianca-e-a-imaginacao-caracteristicas-da-contacao-de-historias

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