Quiz como proposta de atividade lúdica em Ciências no Ensino Fundamental
Izadora Segatt de Azevedo Siqueira Batista
Licencianda em Ciências Biológicas (UERJ/Consórcio Cederj)
Ana Carolina Rodrigues da Cruz
Licenciada em Biologia (UFVJM), mestra em Ciências Ambientais e Florestais (UFRRJ), doutoranda em Ciências Biológicas - Botânica (Museu Nacional/UFRJ), tutora presencial de Ciências Biológicas (Consórcio Cederj - Polo Paracambi)
Atividades lúdicas são aquelas que envolvem o lazer – como jogos e teatro. No campo educativo, tais práticas pedagógicas ajudam na aprendizagem por meio principalmente da socialização (Knechtel; Brancalhão, 2009) e deve fazer parte das práticas do professor atual (Medeiros; Schimiquel, 2012). Esse tipo de atividade ajuda os alunos, na convivência, a terem união e cooperação nas atividades executadas dentro da sala de aula e atua na construção de uma aprendizagem efetiva (Jann; Leite, 2010), devido ao incentivo à atividade, ao estímulo, ao cognitivo e às relações sociais (Kishimoto, 1994). Quando utilizamos o lúdico no ensino de Ciências, conseguimos aulas mais dinâmicas e sem a monotonia da aula expositiva tradicional, da qual muitos alunos se queixam (Graciolli et al., 2008; Vargas & Ahlert, 2017).
O professor deve procurar uma maneira diversificada de ensinar os conteúdos de Ciências, renovando suas técnicas e métodos, tornando-os atuais e dinâmicos, destacando-se os jogos educativos nesse cenário (Longo, 2012). Tais atividades podem ser usadas como ferramentas que ajudam no entendimento de Ecologia, por exemplo, por meio de simulação de processos ecológicos, sendo esta uma excelente opção para o ensino (Marques; Salomão, 2014). O uso das metodologias ativas e das tecnologias ajuda o professor a ser criativo e deixar suas aulas mais atrativas, permitindo que o aluno seja o centro de atenção no processo ensino-aprendizagem (Vargas; Ahlert, 2017).
O emprego de jogos do tipo quiz em sala de aula como ferramenta pedagógica auxilia na aprendizagem significativa, motivando o aluno pelo conteúdo de forma lúdica (Silva; Faria, 2012; Pereira, 2013). O jogo facilita o diálogo entre alunos e professores, enriquece a aula e pode ajudar na identificação de alunos com dificuldade de aprendizagem (Silva et al., 2010); pode, inclusive, ser usado para facilitar a assimilação de conteúdos em Ciências (Silva; Moraes, 2014). O uso do quiz é uma forma interativa de aprofundar, concretizar, reforçar e avaliar a aprendizagem dos alunos; o jogo objetiva incentivar o pensamento, a reflexão e a discussão dos conteúdos por meio de questões práticas (Vargas; Ahlert, 2017). O quiz pode entrar como método avaliativo individual bastante inovador de aprendizagem (Giomazzo et al., 2010).
O ensino de Ecologia deve proporcionar ao aluno reflexão sobre a dinâmica ambiental e das relações com o meio ambiente (Severo, 2012). Em se tratando de práticas pedagógicas, podemos citar os trabalhos no campo, como visitas guiadas, excursões, alternativas que possibilitem uma percepção real de fenômenos da natureza estudados durante a aula (Vineiro; Diniz, 2009). Por isso, o ensino de Ecologia, devido à sua complexidade, precisa de estratégias para uma abordagem que promova um cidadão crítico do papel do homem nos meios abiótico e biótico (Motokane; Trivelato, 1999). Assim, no ensino sobre o meio ambiente, podemos instruir utilizando práticas educativas como música, teatro e jogos, como propostas de ensino (Figueiredo; Neto, 2010). Essas atividades são geralmente realizadas fora da escola e remetem ao prazer, estimulam a criatividade e podem levar de maneira mais eficiente à aprendizagem significativa (Oliveira; Correia, 2013).
A presente pesquisa visa demonstrar que jogos didáticos simples, como quiz, podem ser utilizados como atividade lúdica facilitadora do processo de ensino-aprendizagem de tópicos de Ecologia em uma turma de 7º ano do Ensino Fundamental em uma escola municipal de Paracambi/RJ. Além disso, analisamos a forma como os alunos preferem aprender Ciências e a comparamos com a mais utilizada pelo professor regente da turma.
Metodologia
Para o embasamento teórico desta pesquisa foram consultados os bancos de dados Google Acadêmico e SciELO com os seguintes termos nas palavras-chave: atividades lúdicas, quiz, ensino de Ecologia e ensino de Ciências. Após as buscas, os resultados foram selecionados conforme os objetivos do estudo.
A atividade foi desenvolvida na Escola Municipal Prefeito Nicola Salzano, localizada em Paracambi/RJ, em uma turma com alunos de 12 a 14 anos. Eles responderam a um questionário diagnóstico com cinco questões fechadas com cinco alternativas sobre as principais relações ecológicas. Após a análise do conhecimento prévio dos estudantes, foi realizada uma aula expositiva dialogada sobre relações ecológicas. Na aula seguinte, os alunos foram levados ao pátio e 20 balões coloridos foram colados na parede com perguntas referentes ao tema. Não houve incentivo à competição entre eles, mas à mútua cooperação. Os alunos foram divididos em dois grandes grupos. Após a atividade, foi aplicado um questionário avaliativo com cinco questões fechadas sobre relações ecológicas e duas abertas sobre qual os alunos julgam que seja a melhor forma de aprender Ciências e a mais utilizada pela professora da turma. Os dados foram tabulados e analisados de forma quantitativa e qualitativa.
Resultados e discussão
O questionário diagnóstico foi aplicado a 19 alunos; 42% acertaram quatro questões (n = 8 alunos), 15% acertaram três questões (n = 3), 5,3% acertaram uma ou duas questões (n = 1). Pode-se perceber que a maior parte da turma reconhece algum tipo de relação ecológica por meio de exemplos simples (61,1%), pois acertaram três ou mais questões propostas. Porém 36,9%, o que equivale a sete alunos, não souberam reconhecer nem a metade das relações ecológicas propostas no questionário e acertaram menos de três ou nenhuma questão.
Após a análise do questionário diagnóstico foi realizada uma aula expositiva dialogada. Apesar de os alunos já terem estudado o tema no 6º ano, muitos não se lembravam das definições e exemplos. Durante a aula, os nomes das relações ecológicas, conceituações e exemplos foram escritos no quadro e todas as dúvidas dos alunos foram discutidas. Na aula seguinte foi realizada a atividade lúdica com a realização do quiz. Durante a atividade, os alunos se mostraram bastante motivados e interessados, bem mais que na aula expositiva dialogada. Os alunos foram separados nos grupos Mico-leão-dourado e Leão. Três alunos não quiseram jogar e ficaram auxiliando à organização da atividade. Independentemente da pontuação que obtiveram, os dois grupos ficaram visivelmente contentes com a realização e o seu desempenho durante a atividade.
No questionário avaliativo aplicado após o jogo, percebeu-se o aumento no número de acertos em relação ao questionário diagnóstico; nenhum aluno teve zero, um ou dois acertos; três alunos tiveram três (15,79%), quatro (cinco alunos, 26,31%) ou cinco (onze alunos, 57,9%) respostas de acordo com o esperado.
O aumento significativo de acertos do questionário avaliativo em comparação ao diagnóstico indica que houve mudança no conhecimento dos alunos com relação às relações ecológicas após a aula e a realização da atividade, apontando para a eficácia do quiz como ferramenta pedagógica alternativa para alcançar a aprendizagem efetiva e significativa. Atividades lúdicas podem fazer com que os alunos obtenham melhor desempenho escolar, sendo um instrumento que auxilia na aprendizagem mesmo que de conteúdos considerados difíceis, além de estimular o raciocínio e a interação entre os alunos e entre aluno e professor (Knechtel; Brancalhão, 2009). Segundo Silva e Moraes (2011), tais atividades despertam o pensamento crítico; é fundamental para o professor investigar a aprendizagem do educando e favorece a compressão de seu papel no mundo.
O uso de jogos aumenta o interesse dos alunos para os temas das aulas, bem mais que somente aulas teóricas expositivas, como concluem muitos autores (Martinez et al., 2008; Silva; Faria, 2012; Voss et al., 2013). As atividades criam um clima amigável e foi possível observar claramente o quanto estimula a interação entre alunos e entre aluno e professor, assim como provoca a competição saudável e a cooperação mútua dentro do grupo, o que pode levar a aprendizagem de forma alegre e dinâmica, como asseguram Silva et al. (2008). Os jogos didáticos podem ser utilizados para proporcionar um ambiente prazeroso de aprendizagem, entrando como material de apoio para a prática pedagógica e até como ferramenta avaliativa do professor (Silva et al., 2008; Giomazzo et al., 2010; Leite et al., 2011). Os resultados mostram que a atividade lúdica deixa o conteúdo mais atraente de se estudar, estimulando a cognição e o afeto por parte dos estudantes (Tezani 2006; Martinez et al., 2008).
Dos 19 alunos que completaram o questionário avaliativo, 14 responderam à questão aberta que trazia a pergunta “Para você, qual a melhor forma de aprender Ciências?”. Dentre as respostas, citaram que gostam de pesquisar sobre ciências, de atividades que envolvem o contato com a natureza e de práticas dentro e fora de sala de aula. Com relação à segunda questão, “Qual forma seu professor mais utiliza para ensinar ciências?”, as respostas indicaram que é “passando matéria no quadro” ou os alunos copiando enquanto a professora explicava o conteúdo. Os resultados encontrados corroboram Silva (2012) quando diz que aulas expositivas são a principal ferramenta utilizada pelos professores. Assim, percebe-se que a forma como os alunos gostariam de aprender se diferencia da forma convencional com que a professora ensina Ciências. O método tradicional de ensino em que o professor “transmite” o seu conhecimento e o aluno apenas “recebe” é bastante criticado e pode ser considerado inadequado atualmente, devido ao papel passivo do aluno (Silva, 2012). O ensino de tópicos em Ecologia deve levar o aluno à reflexão sobre a dinâmica ambiental (Severo, 2012), bem como permitir a percepção de fenômenos naturais e relações ecológicas (Viveiro; Diniz, 2009). Entre as atividades de que os alunos mais gostam estão as de investigação, como propostas nas feiras de ciências que contribuem para a formação do estudante como pesquisador (Hattmann; Zimermann, 2009). Essas atividades auxiliam na construção de conhecimento ao unir teoria e prática (Setúval; Bejarno, 2009). Além disso, como práticas escolares diversificadas também entram em cena as visitas a museus que despertam a curiosidade e podem levar à aprendizagem efetiva e eficaz de forma prazerosa (Chagas, 1993). Outro exemplo, são as trilhas ecológicas, que correspondem à proposta para o ensino não formal, em que o aluno pode aprender especialmente sobre prática ambiental (Rendeiro et al., 2012). Ressalta-se, assim, que é de grande valia que atividades lúdicas formais e não formais façam parte do currículo escolar, trazendo para as aulas o lado investigativo da ciência (Cazato et al., 2008) e promova a pesquisa que leve à aprendizagem significativa de forma mais prazerosa (Santos, 2015).
Conclusão
O uso do quiz em sala de aula pode constituir uma excelente ferramenta para facilitar o processo de aprendizagem de tópicos de Ecologia em Ciências Naturais. Demonstrou-se que o uso de atividades simples, como jogos que necessitam de poucos recursos financeiros, contribui para a aprendizagem e, assim, permite atender os objetivos previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino de Ciências. Além disso, os resultados apontam que os alunos têm preferência por aulas diversificadas em lugar de aulas expositivas tradicionais e que os professores devem apostar em outros tipos de práticas pedagógicas, como aquelas mais investigativas e que tornem o aluno sujeito ativo no processo de aprendizagem, estimulando a sua cognição, a cooperação mútua e a formação do pensamento crítico.
Referências
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Publicado em 22 de junho de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
BATISTA, Izadora Segatt de Azevedo Siqueira; CRUZ, Ana Carolina Rodrigues da. Quiz como proposta de atividade lúdica em Ciências no Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, v. 21, nº 23, 22 de junho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/23/iquizi-como-proposta-de-atividade-ludica-em-ciencias-no-ensino-fundamental
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