Efeitos da dança nos aspectos biopsicossociais: uma revisão sistemática

Daniele Vilela Itacaramby

Especialista, docente de Ed. Física na rede municipal de Cuiabá/MT, mestranda (PPGEn/UNIC/IFMT)

Cleonice Terezinha Fernandes

Doutora, docente universitária (PPGEn/UNIC/IFMT)

Gabriel Gomes de Souza Silva

Bacharel em Educação Física (UNIC)

Austrogildo Hardman

Mestre em Ensino (PPGEn/UNIC/IFMT)

Cilene Maria Lima Antunes Maciel

Doutora, coordenadora do PPGEn (UNIC/IFMT)

A dança traz muitos benefícios ao ser humano; Gariba (2007) relata que é uma das atividades mais complexas que permitem que se trabalhem o corpo e a mente juntos, em profunda conexão, tornando o sujeito criativo, expressivo, participativo, conhecedor de seu próprio corpo, desenvolvendo habilidades inter e intrapessoais.

O movimento corporal executado pelos povos primitivos era a principal forma de comunicação e comunhão; a dança utilizada não servia apenas como movimentação corporal, mas como a ligação entre o ser humano e seus deuses. Dançavam para a colheita, para a fertilização, para a diversão, para agradecer e, principalmente, para comunicação e entendimento entre os membros daquela sociedade (Medina et al., 2008).

Movimentos repetitivos, gestos incansáveis, o corpo levado ao êxtase marcam a fase da trajetória que a dança percorreu ao longo de toda sua existência. No princípio, não existia qualquer preocupação com a performance e o rendimento do corpo para atingir elevados níveis de qualidade técnica. No entanto, sua presença no cotidiano das pessoas era muito próxima, pois não se separava o momento em que se dançava dos demais fatos vividos. Tudo era muito orgânico e natural no dançar e viver em sociedade. No decorrer da história, a humanidade passou a viver em grupos isolados. Surgiram, então, diversas sociedades e cada uma passou a ter as suas próprias danças desempenhando função de identificação (Bourcier, 1987).

Merleau-Ponty (1999) traz uma reflexão no âmbito da fenomenologia que mostra justamente o corpo que ora trazemos:

Não somos apenas uma consciência perceptiva, somos também corpo, mas não apenas corpo num sentido restrito de “corpo objeto”, “corpo instrumento”, somos um entrelaçamento de corpo, e consciência – “corpo próprio”, que está aberto ao mundo para percebê-lo e interpretá-lo infinitamente (Merleau-Ponty, 1999, p. 193).

Durante todas as vivências da consciência corpórea, laços se vão tecendo, um mundo de movimentos e um mundo de pensamentos; sendo assim, é possível que esses estejam sempre à disposição, num entrelaçamento que faz desse momento um presente “unificado na ação” (Fraleigh, 1996 apud Marques, 2013).

Ainda sobre a conceituação de dançar, segundo Gil (2004), há uma ressignificação do que seja corpo, complementando a citação de Merleau-Ponty (1999):

Trata-se de “libertar o corpo”, entregando-o a si próprio: não ao corpo mecânico nem ao corpo biológico, mas ao corpo penetrado de consciência, ou seja, ao inconsciente do corpo tornado consciência do corpo (e não consciência de si ou consciência reflexiva de um “eu”) (Gil, 2004, p. 24-25).

A transformação do movimento em gesto é uma simbolização, que se caracteriza na abstração básica que organiza e efetua, e a ilusão da dança é efetuada e organizada (Merleau-Ponty, 1999, p. 183).

O movimento vivenciado ao se dançar gera informações que reforçam a ideia de orientação psicodinâmica, que predomina no movimento inconsciente, beneficiando a pessoa no entendimento das emoções que se relacionam com seu estado de saúde atual; pode ser visto como uma expressão que representa diversos aspectos da vida humana, considerada como linguagem social que transmite sentimentos, emoções vividas de religiões, trabalhos, hábitos e costumes (Coletivo de Autores, 1993).

Sobre os procedimentos da pesquisa

Por uma pesquisa prévia, viu-se que pouco ou muito pouco se tem investigado em danças no Brasil, o que pode demonstrar, por outro lado, o pequeno uso dela tanto como prática social, acadêmica, sobretudo em cursos de formação de profissionais professores, basicamente na Educação Física quanto ao seu uso por esses mesmos profissionais em práticas escolares.

As perguntas que motivaram esta investigação foram: quais benefícios a dança, em seus diferentes tipos e modalidades, pode trazer para seus praticantes? De que maneira o corpo/pessoa se cura e se expressa por meio da dança? Qualquer pessoa pode dançar? Para tanto, optou-se por realizar uma revisão sistemática e assim tomar contato com os estudos empíricos que foram realizados nos últimos dez anos acerca do tema, abrangendo o arco temporal de 2010 a 2020.

Para tanto foi traçado como objetivo geral deste estudo conhecer os efeitos da dança nos aspectos biopsicossociais de seus praticantes; e como objetivos específicos:

  1. Conhecer as lacunas para futuras investigações;
  2. Subsidiar grupos de estudo para novos desenhos e práticas curriculares em nossa região;
  3. Estimular a prática de dança escolar e de lazer como forma de desenvolvimento cognomotor de crianças (escolares), prevenção de estados depressivos e de estresse.

Para a realização desta investigação, foi usada a revisão sistemática (RS), considerada um dos melhores níveis de evidência para tomadas de decisões em saúde e que, a partir de 2003, recebeu forte recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003).

Segundo Liberali (2011), a RS se baseia em estudos para identificar, selecionar e avaliar criticamente pesquisas consideradas relevantes e que contribuem como suporte teórico-prático para a análise da pesquisa bibliográfica classificatória. Uma criteriosa RS permite que se encontrem estudos atualizados de boa qualidade metodológica, assegurada pelas revistas que os publicaram, e, assim, para que se consiga realizar uma síntese fiel e rigorosa do que há de produção e resultados ou lacunas de investigação na área estudada.

A RS é considerada método científico, portanto, e já está consagrada no meio acadêmico como estudo retrospectivo observacional primário, segundo Castro (2001), quando os estudos selecionados são tratados como sujeitos da investigação.

A busca foi realizada em três bases de dados eletrônicas: Lilacs, Redalyc, SciELO. Foram considerados os seguintes descritores para a localização dos artigos publicados em língua portuguesa: “psicomotricidade”, “dança/corpo” “dança/movimento”.

Recorreu-se aos operadores lógicos “AND”, “OR” e “AND NOT”, chamados operadores booleanos, para combinação das palavras-chave e dos termos utilizados para rastreamento das publicações.

Os critérios de inclusão da RS foram: i) pesquisas empíricas; ii) arco temporal de 2010 a 2020; iii) publicadas em Língua Portuguesa; iv) tema envolvendo quaisquer tipos de dança e suas derivações (dança circular sagrada, ginástica rítmica, por exemplo).

Como critérios de exclusão tivemos: i) estudos inconclusos, ii) publicados em revistas sem fator de impacto; iii) danças associadas a outras práticas para a mesma amostra “testada”; e iv) para estudos não publicados, apenas os pertencentes a programas stricto sensu já concluídos.

Resultados

A seleção dos estudos é mostrada na Figura 1 (fluxograma). Após a exclusão de 283 manuscritos com outros desenhos de estudos, procedeu-se à releitura na íntegra dos 86 estudos encontrados com potencial de inclusão, dos quais 51 foram excluídos: 09 repetidos, 11 por serem específicos da área médica e 31 publicados em revistas com baixo fator de impacto.

Figura 1: Fluxograma da seleção dos estudos

No total dessa revisão sistemática, 35 pesquisas de campo investigaram algum tipo de trabalho efetivo com dança, envolvendo percepção, testes motores, cognitivos, questionários sociodemográficos, formação e similares de seus praticantes, apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1: Características sociodemográficas e metodológicas dos estudos avaliados (n = 34)

Autor/ano

Localidade

Revista/Qualis

Amostra

Desenho do estudo

Instrumentos

1. ALMEIDA e ASSIS (2018)

Rio de Janeiro/RJ

Rev. Bras. Ciência e Movimento

B2 - Ensino

6 coreógrafos ou diretores

Descritivo qualitativo

Entrevista semiestruturada

2. ALVES et al. (2015)

Recife/PE

Pensar a Prática

B2 – Educação

50 professores – EF

Descritivo qualitativo

Questionário

3.ANJOSet al.(2015)

São Paulo/SP

Rev. Bras. Ed. Física e Esporte

B3 – Ensino

7 bailarinas profissionais

Pesquisa qualitativa fenomenológica

Entrevista semiestruturada

4. BOARETTO e PIMENTEL (2015)

Ivaí/PR

Movimento

A2 - Ensino

2 indígenas

Pesquisa qualitativa

Observação e entrevista

5.BOATO et al. (2014)

Brasília/DF

Pensar a Prática

B2 - Educação

1 criança

Qualitativo descritivo

Análise documental, entrevista e observações

6. BORGES et al. (2018)

Rio de Janeiro/RJ

Rev. Bras. de Enfermagem

B1 - Educação

60 idosos

Clínico randomizado simples

Miniexame do estado mental (MEEM); Protocolo de autonomia funcional (GDLAM)

7. BRAGA et al. (2015)

Florianópolis/SC

Rev. Bras. Medic. do Esporte

B1 – Educação

15 idosos com doença arterial coronariana

Longitudinal com amostragem não probabilística

Teste cardiopulmonar c/ FC ao VO2 pico + Protocolo de samba brasileiro

8. CACHOEIRA e FIAMONCINI (2018)

Florianópolis/SC

Pensar a Prática

B2 - Educação

8 adultos

Pesquisa exploratória (qualitativa)

Diário de campo e entrevistas semiestruturadas

9. CARDOSO et al. (2010)

Florianópolis/SC

Movimento

B2 - Educação

336 praticantes de dança (vários estilos)

Exploratório transversal

QIC - Questionário de Identidade Corporal

10. CARVALHO et al. (2012)

São Paulo/SP

ConScientiae Saúde

B3 - Educação

8 idosos

Quase experimental

Escala de qualidade de vida especifica (EQVE-AVE)

11. DARIDO e DINIZ (2015)

São Paulo/SP

Movimento

A2 - Ensino

6 professores – EF

Investigação qualitativa

Análise documental

12. FONSECA e GAMA (2011)

Alfenas/MG

Rev. Bras. Cien. e Movimento

B2 – Educação

15 indivíduos

Estudo quantitativo

Escala de silhueta Stunkard

13. FORTIN et al. (2010)

Montreal (Canadá)

Movimento

B2 - Educação

24 universitários de bacharelado em Dança

Pesquisa-ação

Aulas práticas de educação somática; avaliação da saúde

14. GARCIA et al. (2019)

Rio de Janeiro/RJ

Fractal

B2 - Educação

02 instrutoras de dança

Pesquisa qualitativa

Entrevista semiestruturada

15. GODOI et al. (2018)

Cuiabá/MT

Pensar a Prática

B2 - Educação

1 professor – EF

Estudo de caso

Análise documental e entrevista semiestruturada

16. HASS et al. (2011)

Porto Alegre/RS

Rev. Bras. Med. do Esporte

B1- Educação

40 bailarinas (adolescentes e adultas)

Pesquisa de campo descritiva

Questionário de imagem corporal (BSQ)

17. KROPENISCKI e KUNZ (2020)

Santa Maria/RS

Movimento

A2 - Ensino

Estudantes

(8º ano)

Qualitativa (participativa)

Análise documental e percepções

18. LOPES et al. (2019)

Campinas/SP

Pensar a Prática

B2 - Educação

2 crianças def. intel. e transtorno de aprendizagem

Estudo qualitativo

Entrevista semiestruturada

19. LUCCA et al. (2018)

Ipatinga/MG

Pensar a Prática

B2 - Educação

127 estudantes – EF

Estudo desc. transversal

Questionário

20. MACHADO et al. (2018)

Serra/ES

Pensar a Prática

B2 - Educação

17 adolescentes

Pesquisa qualitativa (estudo etnográfico)

Diário de campo e entrevista semiestruturada

21. MATOS (2014)

Vila Real (Portugal)

Dissertação

39 idosas institucionalizadas

Quase experimental

Mini Mental State Examination (MMSE); escala de depressão geriátrica (GDS-27); matrizes progressivas coloridas de Raven (MPCR); sociodemográficos

22. PEREIRA e LACERDA (2010)

Rio de Janeiro/RJ

Motriz

B1 - Educação

11 professores – EF

Descritiva e qualitativa

Questionário validado

23. REIS et al. (2018)

Campinas/SP

Interface

B2 - Educação

12 adultos

Pesquisa-ação

Diário de bordo e diário de implicação

24. SANTO et al. (2015)

Cuiabá/MT

Arquivos em Movimento

B4 – Educação

68 crianças

Transversal, descritivo/ correlacional

EDM – escala de desempenho motor

25. SANTOS et al. (2017)

Teresina/PI

Pensar a Prática

B2 – Educação

14 acadêmicos – EF

Qualitativa (analítico descritivo)

Questionário

26. SANTOS e CAMARGO (2018)

São Paulo/SP

Licere

B2 - Ensino

37 alunas e professoras (dança do ventre)

Pesquisa quantitativa

Questionário (inventário de motivação para prática desportiva

27. SBORQUIA e DALBEN (2017)

Londrina/PR

Pensar a Prática

B2 - Educação

1 coordenadora

(grupo de dança afro-brasileira)

Pesquisa

exploratória qualitativa

Análise documental e entrevista semiestruturada

28. SILVA, A. et al. (2016)

Campinas/SP

Estudos de Psicologia

B1 - Ensino

264 dançarinas(os) adolescentes

Pesquisa quantitativa

Questionário

29. SILVA, M. et al. (2015)

São Paulo/SP

CEFAC

B1 - Educação

40 (20 dançarinos e 20 não dançarinos)

Prospectivo transversal

Gaps-in-noise (GIN) e SSI- identificação de sentenças sintéticas com mensagem competitiva ipsilateral

30. SILVA, S. et al. (2012)

Toledo/RS

Motriz

B1 - Educação

68 dançarinos

Exploratório

Questionário

31. SILVA, T. et al. (2019)

Inhumas/GO

Pensar a Prática

B2 - Educação

12 crianças/ primeira infância

Pesquisa-ação

Diário de campo

32. SOUSA e CARAMASHI (2011)

Bauru/SP

Motriz

B1 - Educação

42 alunos

Qualitativa descritiva

Questionário e observação

33. SOUZA (2013)

Goiânia/GO

Pensar a Prática

B2 - Educação

14 acadêmicos de dança

Descritiva qualitativa

Questionário

34. TREVISAN et al. (2016)

Pirassununga/SP

Revista Port. de Educação

B1 - Ensino

10 professores (balé)

10 bailarinas

Estudo exploratório

Questionário aberto

35. TOLOCKA (2018)

Piracicaba/SP

Movimento

A2 - Ensino

25 idosos

Pesquisa qualitativa

Entrevistas

Discussão

O estudo de Silva, Medeiros e Marchi (2012) teve como objetivo descrever os tipos de valores que influenciam os adolescentes entre doze e dezessete anos à prática da dança na cidade de Toledo/PR para a escolha de diferentes modalidades e buscou descobrir quais disposições e variáveis influenciam a prática da dança. Como resultado encontrou que participantes enfrentam algumas dificuldades para a manutenção da prática dançante, porém incorporam por meio da dança novas disposições que os levam a se organizar e mobilizar esforços, inclusive de seus familiares, para manterem-se no “universo da dança” como praticantes e como apreciadores.

O estudo de Fortin et al. (2010) realizado numa disciplina do 2º ano do bacharelado em dança na Universidade do Quebec em Montreal (UQAM) no Canadá foi construído sob a metodologia da pesquisa-ação com o objetivo de que os alunos ampliassem seu pensamento crítico e se conectassem às questões acerca do cuidado de si para uma perspectiva maior do mundo da dança. Parece interessante que o resultado da experiência da educação somática tenha possibilitado a esses alunos desenvolver uma autoridade interna que os tornasse menos vulneráveis aos impactos acarretados à saúde pelo discurso dominante da dança. Passaram a fazer escolhas baseadas em suas experiências íntimas respeitando os limites de seus corpos. O estudo conclui que, para mudar, os dançarinos precisam se conscientizar de como o discurso dominante constrói seus corpos dançantes e revela ainda que a pesquisa-ação foi realizada com a aplicação do Método Feldenkrais, um sistema educacional centrado no movimento, visando a expandir e refinar o uso do self (eu interior/meu olhar interno), por meio da conscientização. Os professores do método sustentam não haver separação entre mente e corpo.

No estudo sobre o ensino da dança realizado com 50 professores de Educação Física da rede estadual que atuam em Recife/PE, foi demonstrado que, “pela perspectiva da sensibilização, e buscando o conhecimento através da formação continuada, os professores conseguirão superar as dificuldades e ajudarão os estudantes a conquistarem uma opinião reflexiva e autônoma sobre este conteúdo” (Alves et al., 2015, p. 350).

Essas dificuldades podem ser superadas a partir do momento que entendermos que a dança na escola deve proporcionar oportunidades para que os estudantes se apropriem de todo o seu acervo corporal. Corroborando Moreira (2004), a prática da dança na Educação Física escolar precisa assumir seu papel na construção de uma cultura reflexiva, e não mais a “prática pela prática” ou o “movimento pelo movimento”.

Lucca et al. (2019) investigaram a contribuição das vivências em dança na formação dos docentes em Educação Física em uma universidade de Minas Gerais e concluíram que a graduação viabiliza o primeiro contato com a dança à maioria dos graduandos e desperta o interesse pela modalidade, contribuindo para aplicação desse conteúdo no futuro.

A pesquisa qualitativa realizada por Santos et al. (2017) sobre a formação profissional em um projeto oferecido pela UFPI com 14 acadêmicos de Educação Física proporcionou ampliar suas potencialidades e possibilidades de atuação no mercado e visou oferecer aos futuros profissionais experiências concretas de dança no cenário pedagógico da Educação Física. Santos et al. (2017) complementam que “é de grande importância no processo de formação desses futuros professores por proporcionar conhecimentos a serem aplicados em contextos pragmáticos da educação” (Santos et al., 2017, p. 804).

Corroborando a pesquisa acima, Betti (1992) defende que projetos dessa natureza são importantes na formação inicial dos professores de Educação Física, pois proporcionam vivências extracurriculares e estabelecem uma relação dialética entre teoria e prática.

Na pesquisa realizada por Kropeniscki e Kunz (2020) com entrelaçamentos entre dançar, brincar e se movimentar, resultante de uma pesquisa qualitativa na experiência docente em Educação Física nos anos finais do Ensino Fundamental em uma escola estadual localizada em Santa Maria/RS (2017 a 2019), “buscou-se compreender, através de percepções das aulas e diário docente, a dança como caminho de possíveis (re)encontros com o brincar e se-movimentar” (Kropeniscki; Kunz, 2020, p. 1). Ficaram evidenciados a entrega, o estado de presença, a expressão de si entre os adolescentes que colocam em movimento o que não é verbalizado, comunicam histórias de vida, questionam-se padrões, enquanto outros conhecimentos são elaborados.

A pesquisa transversal de Santo et al. (2015) avaliou a correlação das variáveis dança e desempenho motor entre dois grupos, um praticante de dança curricular no ambiente escolar formal (D) e outro não praticante (ND), com amostra de 68 crianças entre 4 e 5 anos de idade. O teste motor utilizado afere marcha, equilíbrio, organização espacial e temporal, esquema corporal. Nas correlações pretendidas, encontraram que as crianças com quatro anos do grupo D dentro do currículo escolar apresentaram esquema corporal, organização espacial e organização temporal significativamente melhores que as crianças do grupo ND, muito embora como resultado final, para todas as demais variáveis, os autores não encontraram diferenças estatisticamente significativas entre crianças que dançam e que não dançam no desenvolvimento motor geral para essa faixa etária.

No estudo de Silva, Dias e Pereira (2015), a dança influenciou positivamente a habilidade auditiva de resolução temporal, pois o grupo de dançarinos apresentou desempenho melhor do que o grupo de não dançarinos; porém parece não ter influenciando a habilidade auditiva de figura-fundo. Em relação ao poder da música citado pelos autores, vale citar:

A execução dos passos na dança vem sempre acompanhada da música. O treinamento musical influencia a atividade elétrica cerebral associada ao processamento de padrões de frequência linguística e os efeitos nas redes neurais do córtex podem ser observados já na infância(Silva; Dias; Pereira, 2015, p. 1.034).

No estudo de Machado et al. (2018), realizado em uma escola de um bairro periférico do município de Serra/ES, entender os elementos que dão visibilidade e invisibilidade ao funk dentro de um ambiente escolar, mostrou a existência de conflitos e entraves dentro da escola investigada no que se refere àquele estilo musical.

Com o objetivo de descrever como a educação somática e a dança podem proporcionar o desenvolvimento da consciência corporal, Cachoeira e Fiamoncini (2018) apontaram que as “vivências de educação somática despertam nos participantes a sensação de relaxamento, relacionada ao alívio de tensões e dores, proporcionando um estado perceptivo e integral das dimensões corporais” (Cachoeira; Fiamoncini, 2018, p. 564).

A pesquisa de Trevisan et al. (2016) aponta para a investigação de como a expressão criativa é inserida no processo de ensino-aprendizagem dos cursos técnicos de formação em dança numa visão entre dez bailarinos e dez professores no interior de São Paulo. Por meio da Análise de Conteúdo, os resultados indicaram que a inserção da dança é minimizada nesse contexto educativo em contraposição à valorização dada aos aspectos técnicos.

No entanto, para que possamos permitir o processo educativo e criativo nas aulas de dança, é preciso quebrar paradigmas, pois se trata de um processo relativamente subjetivo. Apoiados em Ziberman (2013), entendemos que se trata de transformar em novo o próprio sujeito criador, não devendo ser considerada apenas como expressão individual, mas como base do desenvolvimento de uma identidade cultural das tecnologias e das realidades existentes.

Ainda nos entendimentos do processo de formação de profissionais da dança, a pesquisa de Souza (2013) teve como objetivo evidenciar qual a compreensão que têm pessoas que estão envolvidas em processo de formação na área das Artes acerca de Dança Contemporânea. Para tanto, realizou uma investigação de cunho qualitativo tendo como sujeitos alunos de um curso técnico em Dança Contemporânea da cidade de Goiânia. “Alguns aspectos que foram encontrados se referem à multiplicidade, liberdade de criação, improvisação, pesquisa de movimento, compreensão crítica da realidade e rompimento com padrões estéticos” (Souza, 2013, p. 1.014). Sendo assim, nota-se o sentido de compreensão do real significado da dança contemporânea, que passa a lidar com proposições e composições de ideias a partir da realidade a que o sujeito está submetido. Não há uma ideia estruturada e linear, e sim servir o propósito de quem está dançando. Quando esse futuro profissional for atuar em sua prática pedagógica, levará concepções socioculturais no processo de ensino-aprendizagem da Dança Contemporânea.

Pereira e Lacerda (2010) investigaram a intenção pedagógica e formativa de onze professores de Educação Física do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental ao levar seus alunos para participar da Mostra Municipal de Dança da Cidade do Rio de Janeiro, baseado no ensino da dança como componente curricular. A pesquisa é descritiva e qualitativa. Os resultados indicaram que:

tanto existem professores orientando seus critérios de escolha baseados no interesse dos alunos e na habilidade, como os que incluem todos das turmas nos trabalhos. Constatou-se também haver ressentimento de alguns professores quando seus grupos não são escolhidos, preteridos por grupos de alunos especiais. Percebe-se que nem todos os professores encaram o evento como a culminância de um processo educacional no qual a dança é a ferramenta. Para esses, a intenção é menos pedagógica e mais de espetáculo (Pereira; Lacerda, 2010, p. 440).

O achado não foge à realidade de muitos, segundo a literatura desta RS, de que a dança é focada apenas no resultado final. E como fica isso para o aluno que está inserido nesse processo? Ainda precisamos amadurecer essas ideias concebidas e enraizadas na formação do profissional de Educação Física quando em contato com o ensino da dança no espaço da escola (Lomakine, 2007).

Darido e Diniz (2015) elaboraram e avaliaram material didático complementar ao currículo de Educação Física do Estado de São Paulo sob a forma de blog educacional de danças folclóricas, cujo estudo foi organizado em três etapas: análise documental do currículo em relação à dança, produção do blog e avaliação por professores. “O blog foi apontado como ferramenta de formação continuada, possibilitando acesso rápido e reunião de diversas mídias em um mesmo espaço virtual” (Darido; Diniz, 2015, p. 701). No entanto, limitações foram encontradas para o emprego dessa ferramenta, como as condições de trabalho docente, a estrutura escolar e a organização dos conhecimentos da dança.

Por sua vez, Godoi et al. (2018) procuraram compreender o ensino da cultura e das danças regionais em projeto pedagógico de uma professora de Educação Física que, por meio de sua prática, dá atenção especial para as manifestações culturais dos povos afro-brasileiros e indígenas, sensibilizando seus alunos a valorizar essas culturas. Verificou como contribuição importante para o estudo dar “visibilidade às experiências pedagógicas com a dança, ancoradas nas perspectivas críticas de educação, especialmente na perspectiva crítico-superadora e no multiculturalismo” (Godoi et al, 2018, p. 631).

Ainda sobre as manifestações culturais, encontramos nos estudos de Sborquia e Dalben (2017) uma análise do significado das manifestações dançantes da cultura afro-brasileira de um grupo de dança no Paraná. Os autores concluíram que as ações promovidas pelo grupo “possibilitam uma permanente reconstrução da cultura afro-brasileira, em uma postura de resistência e de valorização da diferença que se apoia em um projeto de sociedade plural e democrática” (Sborquia; Dalben, 2015, p. 282).

Nos estudos de Boaretto e Pimentel (2015), também dentro da perspectiva da educação intercultural, foi discutida a dança da etnia Kaingang na busca de contribuições para a efetivação da Lei nº 11.645/08. Com uso de observação direta, entrevistas, filmagens e fotografias, a dança na comunidade ocorre como uma forma de educação e é fortalecida em suas tradições. Foi percebido que a educação intercultural apresenta-se como uma forma de contribuir para a Educação Física escolar e demais áreas, auxiliando na construção de valores sociais e culturais na perspectiva da educação intercultural, preconizada pelos nossos PCN (1995) e mais atualmente pela BNCC (2018).

São as práticas docentes que incentivam e fazem o professor acreditar que vale a pena ir em busca desse aprendizado e oferecê-los aos alunos, até mesmo porque passou a ser obrigatório pela já citada lei, desde 2008, o estudo da cultura negra e indígena como componentes curriculares nacionais. O retorno dos alunos com as vivências e diálogos que são estabelecidos no trabalho oportuniza uma relação de respeito e reconhecimento das culturas negra e indígena como componentes consagradas e originárias do Brasil; como pilares da formação da sociedade brasileira e como sujeitos históricos em resistência. Trabalhar com essa temática não é fácil por uma série de motivos, entre eles a predominância no currículo de uma gama de conteúdos eurocêntricos e desconhecimentos da cultura indígena e africana por parte de alguns professores (Almeida, 2010).

Os estudos de Santos e Camargo (2018), realizados com 37 mulheres praticantes da dança do ventre, por meio de um questionário baseado no Inventário de Motivação para Prática Desportiva de Gaya e Cardoso, tiveram como objetivo investigar o processo de transformação que esse tipo de dança sofreu no decorrer dos anos. Nos achados do estudo tem-se que a dança do ventre pode ser considerada um “exemplo de prática cultural que se desterritorializou e se transformou, guardando da tradição basicamente os movimentos, e hoje se apresenta com as mesmas propriedades de atividades similares de lazer, como a ginástica e outras danças” (Santos; Camargo, 2018, p. 22).

Dumazedier (1980) aponta que a relação entre dança e lazer tem sido explorada tanto como interesse social de estar com o outro quanto na sua relação com a saúde, pela melhoria da forma física, e interesse artístico, voltado à plasticidade corporal e estética.

Os estudos de Lopes et al. (2019), ao investigar duas crianças de onze anos com deficiência intelectual e transtornos de aprendizagem numa experiência com a dança e a expressão corporal como mediadoras no processo de ensino-aprendizagem, identificam que as atividades experimentadas pelas duas crianças possibilitaram desenvolvimento do processo e a exploração de potenciais comumente não identificados em outros contextos de ensino.

Para verificar as contribuições de um trabalho de expressão corporal e dança no desenvolvimento socio­emocional de um autista, Boato et al. (2010) utilizaram os relatórios psicológicos e psicopedagógicos do aluno, documentos e diários de classe da professora de dança, entrevista com a mãe e observações de aula durante um ano. Encontraram como resultado que a dança pode ser um meio efetivo na construção de perspectivas para a definitiva inclusão educacional e social do aluno em tela, extrapolando assim para outros casos de transtorno do espectro autista (TEA).

A fim de avaliar o equilíbrio postural, a cognição e a autonomia funcional de idosos com demência, Borges et al. (2018) observaram mudanças positivas na autonomia funcional deles para AVD (atividades da vida diária). O estudo contou com 60 idosos divididos aleatoriamente em dois grupos numericamente iguais, controle e experimental, e demonstrou que o grupo experimental, submetido a um programa de aulas de dança de salão, obteve resultados consideráveis não só na autonomia funcional, mas também na melhoria do estado mental em comparação com os integrantes do grupo controle.

Com o objetivo de identificar memórias e significados que a prática da dança trouxe ao longo da vida de 25 idosos de uma associação de grupos da terceira idade, Tolocka et al. (2018) concluem que os investigados, ao dançar, modificaram e foram modificados pelos diferentes ambientes e que o ato de dançar constituiu-se em possibilidade de resiliência, alimentando a própria possibilidade de dançar e vontade de viver.

O estudo de Matos (2014) realizado em Portugal no stricto sensu, teve como objetivo verificar o efeito e a interação entre idade, escolaridade, institucionalidade e exercício físico na função cognitiva e depressão em idosos institucionalizados. No caso, a autora não levou em consideração para efeito de resultado oficial o fato de que as idosas que dançaram melhoraram da depressão, fato que ela atribui à dança – que ela chamou de música/movimento e que compunham seu grupo experimental; o motivo é não ter usado um protocolo de dança rigoroso, segundo a literatura e os especialistas da área.

Na intenção de avaliar os efeitos da dança sênior em pacientes neurológicos, Carvalho et al. (2012) avaliam a qualidade de vida (QV) em oito pacientes hemiparéticos numa clínica de Fisioterapia por meio de sessões de terapia com dança sênior. Após um total de 24 sessões, sendo duas por semana, foi observada diferença estatística importante nos resultados da qualidade vida de maneira positiva nos pacientes que participaram da dança terapia sênior.

Em relação ao estudo de Braga et al. (2015), consideramo-lo inovador e ousado, por valer-se de um protocolo de samba. Os testes clínicos foram rigorosos e o autor alega que durante todo o tempo da prática do referido protocolo os pacientes referiam percepção de esforço leve a moderado. Os pacientes demonstraram boa adaptação ao protocolo, que se mostrou em condições de ser adotado como proposta de treinamento na reabilitação cardíaca.

Na pesquisa-ação de Silva, Almeida e Souza (2019), em que houve 15 intervenções em dança para uma turma de baby class com proposta metodológica de jogos, brinquedos cantados, brincadeiras e faz de conta, notou-se que as crianças aprenderam igualmente os passos do balé sem o rigor da formalidade habitual. No que diz respeito às técnicas corporais do balé clássico, em contrapartida, as companhias de balé contemporâneo não exigem mais um corpo treinado unicamente com a técnica do balé clássico.

Entretanto, os estudos de Almeida e Assis (2018) apontam que, no Rio de Janeiro, grande parte das escolas de graduação em dança oferece a técnica do balé aos alunos como ferramenta essencial para quem deseja se profissionalizar. Desse modo, as autoras citadas pretenderam “verificar os sentidos da utilização da técnica do balé clássico no atual mercado de trabalho da dança profissional carioca sob a ótica de coreógrafos e diretores de companhias contemporâneas profissionais da cidade do Rio de Janeiro” (Almeida; Assis, 2018, p. 115). Com o estudo, concluiu-se que deve-se considerar que os registros corporais da técnica não devam ultrapassar os limites a ponto de impedir novas possibilidades de movimentos expressivos da dança contemporânea.

Noutro estudo sobre a compreensão do ideal de corpo demandado pela prática do balé apoiada na fenomenologia de Edmund Husserl, Anjos, Oliveira e Velardi (2015) identificaram nas falas de bailarinas professoras que o ideal é a referência a um corpo “centrado nas produções feitas pelas grandes companhias de balé” (Anjos; Oliveira; Velardi, 2015, p. 439), ou seja, o ideal de corpo desejado para o balé clássico pode ser tanto inato ou transformado com grandes esforços pela dedicação da bailarina.

Já nos estudos de Garcia et al. (2019), numa análise psicológica e das lutas pela igualdade de gênero por meio de uma oficina de dança com ênfase na expressão corporal, conclui-se que a conexão entre psicológico, corpo e gênero representa uma possibilidade promissora no que se refere tanto à liberdade subjetiva quanto à superação das formas de dominação de gênero.

Outro estudo envolvendo as percepções psicológicas expostas ao estresse aliadas à dança foi tecido por Silva, A. et al. (2016) ao investigar a eficiência do Recovery-Stress Questionnaire for Dancers (RESTQ-Dance) com 264 dançarinos adolescentes – em situações de estresse em festivais de dança. Segundo os resultados obtidos, o RESTQ-Dance se apresenta como um “instrumento que pode ajudar na identificação de indicadores de estresse em dançarinos jovens, avaliação que pode colaborar na prevenção dos efeitos negativos do estresse sobre a saúde desses adolescentes” (SILVA et al., 2016, p. 257).

Reis, Liberman e Carvalho (2018) se propõem a discutir a experiência desenvolvida em um Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, abordando aspectos do trabalho cotidiano em um serviço de saúde mental, esboçando uma prática que cria, com base nas inquietações, uma estratégia de cuidado de si e do outro a partir da re-invenção da prática clínica permeada pela dança. Os autores, nesse estudo, puderam evidenciar nos usuários a conexão positiva na relação consigo mesmo e com outro durante as intervenções das aulas de dança/expressão corporal.

No estudo de Cardoso et al. (2010) sobre autopercepção corporal e preferências relativas ao sexo foram encontradas diferenças significativas entre homens e mulheres praticantes de dança em relação ao perfil de autoimagem e satisfação corporal. Os resultados apontam para o fato social de que os homens se tocam mais e, por isso, conhecem mais seus corpos do que as mulheres, o que, segundo os autores, se justifica, citando também a literatura, pelo fato de os primeiros terem uma visão mais funcional do que as mulheres, cuja visão corporal é mais estética. Na pesquisa os homens participantes declararem que gostariam de ser mais musculosos e as mulheres, mais magras.

Ainda em reflexões sobre a imagem corporal, o estudo de Fonseca e Gama (2011) teve como objetivo avaliar os benefícios na imagem corporal de sujeitos praticantes de dança de salão utilizando a escala de silhuetas proposta por Stunkard et al. (1983); concluíram que essa prática trouxe benefícios nos aspectos psicológicos para ambos os sexos e que as mulheres “passaram a se aceitar melhor, ou seja, não havia mais diferença estatística significativa entre o valor que apontavam como atual em relação ao que indicavam como ideal” (Fonseca; Gama, 2011, p. 40).

Na medida em que bailarinas e bailarinos se tornam profissionais, a busca da imagem corporal ideal vai aumentando para além dos parâmetros normativos da população em geral, segundo Hass, Garcia e Bertolet (2010). Sendo assim, as autoras verificaram o nível de satisfação de bailarinas de balé clássico e de jazz com sua imagem corporal e as diferenças e semelhanças entre estes dois grupos, bem como o nível de satisfação com a imagem corporal entre bailarinas clássicas que residem em países diferentes – no caso, Brasil e EUA. Os resultados encontrados “mostram que as bailarinas, independentemente de sua modalidade de escolha, apresentam níveis de insatisfação e distorção de sua imagem corporal. Não houve diferenças estatisticamente significativas (p = 0,96) entre os três grupos avaliados” (Hass; Garcia; Bertolet, 2010, p. 182).

A pesquisa de Sousa e Caramashi (2011) teve como finalidade identificar a reação e a percepção dos 42 adolescentes do Ensino Fundamental estadual do interior do Estado de São Paulo em relação ao contato corporal e expressões emocionais por meio da dança de salão. Os resultados demonstraram que:

É preciso oportunizar mais atividades dançantes na escola relacionadas ao desenvolvimento biopsicossocial, pois a dança de salão pode auxiliar a interação promovendo o contato corporal e, dessa forma, pode ser um facilitador no processo das relações interpessoais entre os adolescentes (Sousa; Caramashi, 2011, p. 618).

Todos os estudos citados nesta RS demonstraram os benefícios que a dança proporciona para quem a pratica: melhoria no equilíbrio, flexibilidade, agilidade; conhecimento do próprio corpo e da sensibilidade; contribui para a formação motora global e desenvolvimento dos aspectos cognitivos e afetivos; aumenta a autoconfiança; valorização pessoal, aumento da autoconfiança; diminui a depressão; melhora a habilidade espacial e temporal tanto em crianças quanto em idosos; e oportuniza a reflexão e a valorização de si e do outro quando inseridos numa sociedade multicultural. Constata-se que a dança e os movimentos expressivos contribuem de maneira indescritível para a melhoria da autoestima, a valorização pessoal e a satisfação de aprender a aprender, oferecendo uma melhor qualidade de vida.

Considerações finais

A dança é também conteúdo que deve ser ensinado. A revisão teórica preliminar para embasar nosso estudo revelou que as crianças devem ter contato com a dança desde a primeira infância, ou seja, nos 1.000 primeiros dias de vida, quando ainda tudo poderá ser potencializado em experiências, o que não tem acontecido na atualidade, infelizmente.

Na escola brasileira, nosso objeto tangencial nesta RS, compreendida desde a Educação Infantil, os professores têm dificuldade em aplicar a dança em razão de preconceitos e deficiência na formação durante a graduação, o que causa entre outros aspectos falta de afinidade com ela e ausência de infraestrutura escolar, sem falar das questões de gênero – menino não dança –, o que ocorre na realidade de nossa capital, Cuiabá; na capital de Mato Grosso existe uma legislação, a Lei nº 587, de 30 de setembro de 2014, que exige que exclusivamente professores de Educação Física graduados na área trabalhem no Ensino Infantil.

Em resumo, com base no diálogo teórico entre as pesquisas empíricas desta RS e os clássicos da área, pode-se concluir que a dança começa a ter visibilidade com potencial para melhoria da qualidade de vida de seus praticantes, estabelecendo uma relação de respeito sociocultural, porém a produção é pequena em relação às outras áreas do desporto voltados para a Educação Física. Apesar de grande potencial educativo e terapêutico devido à integração corpo-mente, infelizmente ainda não conquistou seu espaço de valorização social, mais especificamente na prática escolar.

No Brasil, desde a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (1995), a dança aparece como um dos cinco eixos de trabalho do professor de Educação Física: jogos e brincadeiras, lutas, esportes, dança, ginástica; atualmente, na BNCC (2018), atual base curricular comum para o país, continua figurando também como princípio balizador do trabalho, todavia é acrescentado um novo eixo: as PCA - Práticas Corporais de Aventura.

Referências

ALMEIDA, Ana Maria G. Literatura afro-brasileira e indígena na escola: a mediação docente na construção do discurso e da subjetividade. 32º CONGRESSO INTERNACIONAL DE IBBY. Santiago de Compostela, 8-12 set, 2010. Disponível em: https://pt.slideshare.net/Tupari/11-ibby2010-1. Acesso em: 07 abr. 2021.

ALMEIDA, H. S.; ASSIS, M. R. Alguns sentidos sobre o uso da técnica do balé clássico no mercado da dança profissional carioca contemporânea. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 26(4), p. 115-123, 2018.

ALVES, M. S.; FALCÃO, A. P. S. T.; BRASILEIRO, L. T.; MELO, M. S. T.; MEDEIROS, F. E. C. O ensino da dança no Ensino Fundamental e Ensino Médio da rede estadual de Recife–PE. Pensar a Prática, Goiânia, v. 18, nº 2, abr./jun. 2015.

ANJOS, K. S. S.; OLIVEIRA, R. C.; VELARDI, M. A construção do corpo ideal no balé clássico: uma investigação fenomenológica. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 29(3), p. 439-452, jul./set. 2015.

BETTI, M. Perspectivas na formação profissional. In: MOREIRA, W. W. (Org.). Educação Física & esportes – perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1992.

BOARETTO, J. D.; PIMENTEL, G. G. de A. Os kaingang do ivaí, suas danças e a educação intercultural. Movimento, Porto Alegre, v. 21, nº 3, p. 633-644, jul./set. 2015.

BOATO, E. M.; SAMPAIO, T. M. V.; CAMPOS, M. C.; DINIZ, S. V.; ALBUQUERQUE, A. P. Expressão corporal/dança para autistas: um estudo de caso. Pensar a Prática, Goiânia, v. 17, nº 1, p. 01­294, jan./mar. 2014.

BORGES, E. G. S.; VALE, R.G. de S.; PERNAMBUCO, C. S.; CADER, S. A.; SÁ, S. P. C.; PINTO, F. M.; REGAZZI, I. C. R.; KNUPP, V. M. de A. O.; DANTAS, S. H. M. Efeitos da dança no equilíbrio postural, na cognição e na autonomia funcional de idosos. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 71, supl. 5, p. 2.436-2.446, 2018.

BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

BRAGA, H. O.; GONZÁLES, A. I.; CARVALHO, G. M. D.; NETTO, A. S.; CAMPOS, O. A.; LIMA, D. P.; CARVALHO, T. de. Protocolo de samba brasileiro para reabilitação cardíaca. Rev. Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v.21, nº 5, set./out. 2015.

BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Torna obrigatório nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 10 mar. 2008.

CACHOEIRA; R. C.; FIAMONCINI, L. Educação somática e dança na consciência corporal. Pensar a Prática,Goiânia, v. 21, nº 3, jul./set. 2018.

CARDOSO, F. L.; SILVEIRA, R. A.; ZEQUINÃO, M. A.; CAROLINE, C.; SOUZA, C. A. Autopercepção corporal e preferências motoras de praticantes de dança. Movimento, Porto Alegre, v. 16, nº 1, p. 97-112, jan./mar. 2010.

CARVALHO, P. C.; SANTOS, L. A. D. dos; SILVA, S. M.; CAVALLI, S. S.; CORRÊA, J. C. F.; CORRÊA, F. I. Avaliação da qualidade de vida antes e após terapia com dança sênior em pacientes hemiparéticos pós-AVE. ConScientiae Saúde, v. 11(4), p. 573-579, 2012.

CASTRO, A. A. Curso de Revisão Sistemática e Meta-análise. São Paulo, Leddis/Unifesp, 2001. Disponível em: http://www.usinadepesquisa.com/metodologia/wp-content/uploads/2010/08/meta1.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1993.

DARIDO, S. C.; DINIZ, I. K. dos S. Blog educacional e o ensino das danças folclóricas nas aulas de Educação Física: aproximações a partir do currículo do Estado de São Paulo. Movimento, Porto Alegre, v. 21, nº 3, p. 701-716, jul./set. 2015.

DUMAZEDIER, J. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: Sesc, 1980.

FONSECA, C. C.; GAMA, E. F. A imagem corporal na dança de salão. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 19(3), p. 37-43, 2011.

FORTIN, S.; VIEIRA, A.; TREMBLAY, M. A experiência na dança e na educação somática. Movimento, Porto Alegre, v. 16, nº 2, p. 71-91, abr./jun. 2010.

GARCIA, C. A. R.; VIEIRA, L. S. M.; SANTIAGO, M. A.; GONÇALVES, H. S. Meu corpo me pertence: interfaces entre psicologia, dança e gênero. Fractal: Revista de Psicologia, v. 31, nº 2, p. 67-75, maio/ago. 2019.

GARIBA, C. Dança escolar: uma possibilidade na Educação Física. Movimento, Porto Alegre, v. 13, nº 2, p. 155-171, maio/ago. 2007.

GIL, J. Movimento total: o corpo e a dança. 2ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2004.

GODOI, M. R.; GRANDO, B. S.; XAVIER, G. S. Cultura e danças regionais em um projeto pedagógico de uma professora de Educação Física. Pensar a Prática, Goiânia, v. 21, nº 3, jul./set. 2018.

HAAS, A. N.; GARCIA, A. C. D; BERTOLETTI, J. Imagem corporal e bailarinas profissionais. Revista Brasileira de Medicina e Esporte, v. 16, nº 3, maio/jun. 2010.

KROPENISCKI, F. B.; KUNZ, E. Dança: caminho de possíveis (re)encontros com o brincar e se movimentar. Movimento, v. 26, e26089, 2020.

LIBERALI, R. Metodologia cientifica prática: um saber-fazer competente da saúde à educação. 2ª ed. Florianópolis: PostMix, 2011.

LOMAKINE, L. (Org.). Educação física: como planejar as aulas de Educação Básica. 2ª ed. São Paulo: Avercamp. 2007.

LOPES, K. F.; CARVALHO, L. P.; ARAÚJO, P. F. de; MOYSÉS, M. A. A. A dança e a expressão corporal como mediadoras no processo de ensino-aprendizagem de crianças com deficiência intelectual e transtornos de aprendizagem. Pensar a Prática, Goiânia, v. 22, p. 49194, 2019.

LUCCA, I. L.; ROSA, M. K. F.; ALVARENGA, P. L.; RABELO, P. C. R. Contribuição das vivências em dança na formação dos docentes em Educação Física. Pensar a Prática, Goiânia, v. 22, p. 49360, 2019.

MACHADO, F. X.; ALMEIDA, F. Q.; GOMES, I. M. A relação do funk com a cultura escolar: entre dilemas e tensões. Pensar a Prática, Goiânia, v. 21, nº 3, jul./set. 2018.

MATOS, A. I. P. Efeito de dois programas: intervenção psicomotora e treino cognitivo, na função cognitiva e depressão em idosos. 2014. Dissertação (Mestrado em Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso), Universidade de Trás-os-Montes e Alto D´Ouro, Vila Real, 2014.

MARQUES, A. P. Dança e expressividade: uma aproximação com a fenomenologia. Movimento, Porto Alegre, v. 19, nº 1, p. 243-263, jan./mar. 2013.

MEDINA, J.; RUIZ, M.; ALMEIDA, D. B. L. de; YAMAGUCHI, A.; JUNIOR, W. M. As representações da dança: uma análise sociológica. Movimento, Porto Alegre, v. 14, nº 2, p. 99-113, maio/ago. 2008.

MERLEAU-PONTY. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos A. R. Moura. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

MOREIRA, E. C. Educação Física escolar: desafios e propostas. Jundiaí: Fontoura, 2004.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Comunicado de imprensa conjunto OMS/FAO, 32, abr. 2003. Disponível em: https://www.who.int/nutrition/publications/pressrelease32_pt.pdf. Acesso em: 28 fev. 2021.

PEREIRA, A. A.; LACERDA, Y. Dança educacional nas escolas públicas do Rio de Janeiro. Motriz, Rio Claro, v. 16, nº 2, p. 440-449, abr./jun. 2010.

REIS, B. M.; LIBERMAN, F.; CARVALHO, S. R. Das inquietações ao movimento: um centro de atenção psicossocial (CAPS), a clínica e uma dança. Interface - Comunicação Saúde Educação, v. 22(64), p. 275-284, 2018.

SANTO, L. P. E.; FERNANDES, C. T.; MACIEL, C. L. A.; FILHO, A. D. As contribuições da dança no desempenho motor de crianças da Educação Infantil. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v. 11, nº 2, p. 29-46, jul./dez. 2015.

SANTOS, A. L. A. dos; CAMARGO, L. O. de L. Dança do ventre: da tradição à modernidade. Licere, Belo Horizonte, v. 21, nº 1, mar. 2018.

SANTOS, J. C.; RODRIGUES, J. de P.; NERY, S. S. S.; SILVA, E. P. de S.; NUNES, A. P.; BRITO. A. de F. Contribuições da dança na formação inicial de professores de Educação Física da Universidade Federal do Piauí. Pensar a Prática, Goiânia, v. 20, nº 4, out./dez. 2017.

SBORQUIA, S. P.; DALBEN, A. A dança afro-brasileira em Londrina – Paraná. Pensar a Prática, Goiânia, v. 20, nº 2, abr./jun. 2017.

SILVA, A. M. B.; ENUMO, R. S.; ARAÚJO, M. F.; CARVALHO, L. F.; BITTENCOURT, I. G.; AFONSO, R. M.; LUIZ, T. S. R. Adaptação e evidências de validade do Recovery-Stress Questionnaire for Athletes (RESTQ-Sport) para dançarinos adolescentes (RESTQ-Dance). Estudos de Psicologia, Campinas, v. 21(3), p. 249-260, jul./set. 2016.

SILVA, M. C. de C.; ALCÂNTARA, A. S. M.; LIBERALI, R.; NETTO, M. I. A.; MUTARELLI, M. C. A importância da dança nas aulas de Educação Física - Revisão Sistemática. Revista Mackenzie de Educação e Esporte, São Paulo, v. 11, nº 2, 2012.

SILVA, M. R.; DIAS, K. Z.; PEREIRA, L. D. Estudo das habilidades auditivas de resolução temporal e figura-fundo em dançarinos. Rev. CEFAC, São Paulo,v. 17, nº 4, jul./ago. 2015.

SILVA, S. S.; MEDEIROS, C. C. C.; MARCHI, W. Habitus e prática da dança: uma análise sociológica. Motriz, Rio Claro, v. 18, nº 3, jul./set. 2012.

SILVA, T. F.; ALMEIDA, F. S.; SOUZA, N. P. Dançar e brincar: uma experiência de balé com crianças pequenas. Pensar a Prática, Goiânia, v. 22, p. 50553, 2019.

SOUSA, N. C. P.; CARAMASCHI, S. Contato corporal entre adolescentes através da dança de salão na escola. Motriz, Rio Claro, v. 17, nº 4, p. 618-629, out./dez. 2011.

SOUZA, P. H. A. de. Dança contemporânea: percepção, contradição e aproximação. Pensar a Prática, Goiânia, v. 16, nº 4, p. 956­1270, out./dez. 2013.

STUNKARD, A. J.; SORENSEN, T.; SCHULSINGER F. Use of the Danish Adoption Register for the study of obesity and thinness. In: KETY, S. S.; ROWLAND, L. P.; SIDMAN, R. L.; MATTHYSSE, S. W. The genetics of neurological and psychiatric disorders. New York: Raven Press, 1983. p. 115-120.

TREVISAN, P.; SCHWARTS, Z.; RODRIGUES, N.; TEODORO, A. P. Educação e formação em dança: a inserção da expressão criativa nos cursos técnicos de dança na perspectiva de professores e bailarinos. Revista Portuguesa de Educação, v. 29(1), p. 185-206, 2016.

TOLOCKA, R. E.; LEME L. C. G.; SILVA, V. M. T. G. Memórias e significados de dançar por muitos anos: o que nos dizem idosos que dançaram ao longo da vida. Movimento, Porto Alegre, v. 24, nº 4, p. 1.281-1.294, out./dez. 2018.

ZIMMERMAN, E. Presences and absences: a critical analysis of recent research about creativity in visual arts education. In: THOMAS, K.; CHAN, J. (Eds.). Handbook of research on creativity. United Kingdom: Edward Elgar Publishing, 2013. p. 48-65.

Publicado em 06 de julho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

ITACARAMBY, Daniele Vilela; FERNANDES, Cleonice Terezinha; SILVA, Gabriel Gomes de Souza; HARDMAN, Austrogildo; MACIEL, Cilene Maria Lima Antunes. Efeitos da dança nos aspectos biopsicossociais: uma revisão sistemática. Revista Educação Pública, v. 21, nº 25, 6 de julho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/25/efeitos-da-danca-nos-aspectos-biopsicossociais-uma-revisao-sistematica

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.