Laboratório de ensino de Matemática como recurso pedagógico: considerações de professores de Matemática
Ana Carla Ventura Gomes Medeiros
Licenciada em Matemática (UFPB)
Hannah Dora de Garcia e Lacerda
Mestra, doutoranda em Educação Matemática (Unesp – Rio Claro), professora
Apresentação do tema, justificativa e problematização
Tanto a evolução quanto a modernização da sociedade atingiram o ambiente escolar. Hoje, as crianças são diferentes das do século passado. A informação é mais rápida e acessível e as crianças estão mais questionadoras e investigativas. Com isso, a educação como um todo vem passando por transformações, acarretando problemas nas metodologias adotadas, na formação docente, na atualização dos livros didáticos, na falta ou má utilização dos recursos didáticos que vem sendo desenvolvidos.
As várias metodologias e recursos, em especial o uso de um laboratório de Matemática por sua essência lúdica ou o trabalho com material concreto são utilizados com o objetivo de aumentar a eficácia do ensino e de desenvolver no aluno o senso crítico, o pensamento improvável e dedutivo, a capacidade de observação, de investigação e interação. A educação e o processo de ensino-aprendizagem vêm passando por um processo de desenvolvimento e debates intensos acerca de vários estudos voltados à melhoria da qualidade de ensino. Em virtude disso, documentos oficiais nacionais revelam duas grandes questões:
A necessidade de reverter o quadro em que a Matemática se configura como um filtro social na seleção dos alunos que vão concluir, ou não, o Ensino Fundamental e a necessidade de proporcionar um ensino de Matemática de melhor qualidade, contribuindo para a formação do cidadão (Brasil,1998, p. 15).
Nessa perspectiva, os documentos oficiais trazem a ideia de que o papel da escola está além da simples transposição de conhecimento. Com isso, se faz necessário traçar elos entre a Matemática abstrata e a Matemática cotidiana. No entanto, para que esta prática seja mudada, se faz necessário que outras metodologias diferenciadas sejam utilizadas, como o uso de materiais didáticos (MD).
Os MD podem desempenhar várias funções, conforme o objetivo a que se prestam, e, por isso, o professor deve perguntar-se para que ele deseja utilizar o MD: para apresentar um assunto, para motivar os alunos, para auxiliar a memorização de resultados, para facilitar a redescoberta pelos alunos? São as respostas a essas perguntas que facilitarão a escolha do MD mais conveniente à aula (Lorenzato, 2006, p. 18).
Nessa visão, a utilização dos MD torna-se um instrumento importante para tornar menos abstratos os conteúdos de Matemática e possibilitar maior interação entre os próprios alunos, pois sua forma concreta permite que o aluno tenha maior interesse, por ser algo já vivenciado por ele no seu cotidiano, levando-o a compreender o conhecimento matemático.
Dessa forma, com a aplicação de atividades práticas, o aluno torna-se mais participativo e modifica o ambiente de aprendizado, transformando-o em um lugar de interação entre os colegas e socialização do conhecimento.
Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é investigar as considerações que os professores de Matemática da Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antônio (Piancó/PB) têm sobre o laboratório de ensino de Matemática (LEM) como recurso pedagógico.
A fim de alcançar o objetivo geral, elencamos os seguintes objetivos específicos:
- Levantar, junto à secretaria da Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antônio, o número de professores que lecionam Matemática do 1° ao 3° ano do Ensino Médio;
- Identificar a utilização do LEM pelos professores através da realização de entrevistas;
- Identificar o enfoque dado pelos professores em sala de aula sobre o uso do LEM;
- Verificar as dificuldades apresentadas pelos professores em utilizar o LEM nas aulas de Matemática.
A importância do lúdico na educação
É comum escutar dos alunos que eles não gostam de Matemática ou que não sabem Matemática. Um dos motivos dessas falas é a grande dificuldade existente na aprendizagem dos conteúdos matemáticos. Com isso, o professor utiliza propostas metodológicas e outros recursos didáticos que o auxiliam em sua metodologia na sala de aula. A utilização de jogos em sala de aula é um desses recursos pedagógicos, pois podem vir no início de um novo conteúdo com a finalidade de despertar o interesse do alunado, no meio do processo ou ainda no final, com o intuito de fixar a aprendizagem e reforçar o desenvolvimento de atitudes e habilidades. Isso acontece por sua natureza lúdica; mas o que é uma atividade lúdica? Para Santos (1999, p. 49), uma atividade lúdica
é uma experiência vivenciada que nos dá prazer ao executá-la. Por meio da ludicidade a criança se relaciona com o outro e aprende a ganhar e perder, a respeitar a ordem na fila, a aceitar as frustrações e a expressar as suas emoções. Qualquer atividade que cause uma experiência positiva, divertida e prazerosa pode-se chamar de lúdica.
Um desses possíveis espaços onde podemos trabalhar com a ludicidade é no laboratório de ensino de Matemática (LEM). No entanto, o que é um LEM? Lorenzato (2010, p. 7) define-o como “um local para criação e desenvolvimento de atividades experimentais, inclusive de produção de materiais instrucionais que possam facilitar o aprimoramento da prática pedagógica”, se caracterizando como “uma sala ambiente para estruturar, organizar, planejar e fazer acontecer o pensar matemático”.
A importância do lúdico no laboratório de Matemática e na sala de aula é possibilitar ao aluno a construção do seu próprio conhecimento de forma agradável e interessante, fazendo com que o aluno possa ser atuante no seu processo de aprendizagem, abandonando os modelos tradicionais em que o aluno apenas recebia as informações passadas pelo professor.
O jogo, por sua natureza lúdica e dinâmica, quebra a ideia das aulas tradicionais, que dão prioridade apenas ao repasse de conteúdo. O jogo como recurso pedagógico é um importante aliado do professor, pois permite aos alunos a assimilação de conteúdos muitas vezes difíceis. Nesse sentido, Grando (2004, p. 26) afirma que
o jogo em seu aspecto pedagógico apresenta-se produtivo ao professor que busca nele um aspecto instrumentador e, portanto, facilitador na aprendizagem de estruturas matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação e, também produtivo ao aluno, que desenvolveria sua capacidade de pensar, refletir, analisar, compreender conceitos matemáticos, levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las com autonomia e cooperação.
O papel do jogo no processo de ensino-aprendizagem permite a passagem do fazer para compreendê-lo, o que implica progressos cognitivos e conceituais, essenciais no contexto escolar, principalmente no aprendizado de Matemática. Essa ideia vai ao encontro da noção de conhecimento lógico-matemático proposto por Kamii (1995, p. 17), que é construído pelos alunos por um processo “de dentro para fora, em interação com o ambiente físico e social, e não por internalização, de fora para dentro, por meio da transmissão social”.
A autora também ressalta que os jogos, além de serem um recurso motivador para a aprendizagem das quatro operações, pelo fato de envolverem regras, contribuem para o desenvolvimento da autonomia. Ela defende sua utilização no ambiente escolar porque as atividades com jogos “são melhores que folhas de exercícios [...], fornecem oportunidades para criar estratégias, um trabalho intelectualmente mais estimulante” (Kamii, 1995, p. 147-148).
Com isso, os jogos são lembrados como alternativas interessantes para a solução dos problemas da prática pedagógica, tornando-a mais significativa. Essa ideia é defendida por Smole (2007, p. 170), quando argumenta que
a utilização do jogo é uma prática muito conceituada e válida para auxílio do ensino da Matemática, pois é um recurso que torna o processo de aprendizagem significativo para a criança no momento em que manipula tal material.
De acordo Smole (2007), o trabalho com jogos desenvolve a interação entre os alunos, pois, ao discutir as jogadas com seus pares, os alunos desenvolvem cooperação, respeito mútuo e participação crítica. Sem a interação entre as crianças, a lógica das pessoas não se desenvolveria, pois assim elas pensariam e agiriam sozinhas e, dessa forma, não seriam compreendidas.
Pensando na importância da ludicidade no professo formativo de Matemática, o laboratório de ensino de Matemática se caracteriza como um espaço propício para o desenvolvimento de atividades lúdicas. Dessa forma, apresentaremos, a seguir, considerações acerca do LEM na formação dos professores de Matemática.
O LEM na formação dos professores
Várias foram as pesquisas feitas na área da Educação Matemática indicando que a formação inicial do professor necessita do uso frequente do laboratório de ensino de Matemática. Atualmente, o ensino de Matemática tem priorizado novas técnicas que promovam um ensino-aprendizagem introspectivo, deixando para trás uma educação voltada para a memorização de regras e exercícios.
Portanto, outros recursos metodológicos ganham papel importante na sala de aula, de modo que a forma de ensinar se torne de fato atrativa para os alunos e favoreça sua criatividade na elaboração de estratégias de ensino para o professor e de aprendizagem para os alunos.
Libâneo (1998, p. 29) diz que o educador precisa se envolver no universo dos educandos para entender os seus processos de aprendizagem e não somente depositar conhecimento. Dessa forma, se torna um mediador, que deve se situar em novos assuntos e conhecimentos que já estavam preestabelecidos. Logo, tais mediadores precisam desenvolver em sua formação competências e habilidades que os levem para essa concepção, visto que sem o conhecimento adequado o real sentido de trabalhar no laboratório não terá bom êxito.
De acordo com Rêgo e Rêgo (2006, p. 41),
o laboratório de ensino da Matemática (LEM) em uma escola constitui um importante espaço de experimentação para o aluno e, em especial, para o professor, que tem a oportunidade de avaliar na prática, sem as pressões do espaço formal tradicional da sala de aula, novos materiais e metodologias, resultados de pesquisas disponibilizados na literatura [...], ampliando sua formação de modo crítico, ou seja, quando associado à formação docente, oportuniza a realização de atividades em que professores da Educação Básica e alunos do curso de licenciatura possam refletir e elaborar sua avaliação pessoal do sistema de ensino adotado em nossas escolas e construir modelos viáveis de superação de seus aspectos negativos.
Assim, é notória a importância de um LEM em uma escola, tendo em vista sua potencialidade no processo de aprendizagem dos alunos. No entanto, não pode se configurar um ambiente somente para guardar materiais didáticos e jogos, mas sim como um ambiente favorável para a criação de aulas dinâmicas e diferenciadas, de modo que possa tornar a aprendizagem matemática mais efetiva.
Dessa forma, os educadores precisam desenvolver, desde sua formação inicial, metodologias inovadoras, criativas, reflexivas e de intervenção para a aprendizagem dos alunos, sendo uma dessas alternativas a utilização do laboratório de ensino da Matemática.
Dificuldades para o uso do laboratório de ensino de Matemática
O LEM se caracteriza por ser um espaço físico que dispõe de várias ferramentas para a aprendizagem matemática, desde materiais concretos, como teodolito, ábacos, blocos lógicos, geoplanos, material Cuisinaire, material dourado etc., jogos matemáticos, como dominós matemáticos, torre de Hanói, tangram etc., além de outros materiais como livros de divulgação, didáticos e paradidáticos e filmes. No entanto, mesmo estando diante de todos os fatores positivos que o LEM proporciona na formação dos professores, existe a dificuldade de trabalhar com a falta de espaço físico e a falta de informação e conhecimento dos professores. Nesse sentido, “apesar de o LEM ser uma excelente alternativa metodológica, ele possui limitações didáticas, sofre prejulgamentos e algumas crendices o perseguem” (Lorenzato, 2006, p. 12).
Assim, torna-se importante desmistificar a Matemática e o uso do LEM por meio de um processo de ensino que facilite a construção da aprendizagem com significado. Esse é um caminho para desfazer algumas crenças e mitos que ainda permanecem vivos nessa área do conhecimento e no ensino com laboratórios.
Comparado ainda com esses fatos, Lorenzato (2006, p. 12) afirma que "na prática escolar é facilmente constatável que muitos professores não conheçam o LEM, outros rejeitam sem ter experimentado, e alguns o empregam mal”. Logo, os professores deveriam utilizar o LEM não simplesmente para utilizá-los, com procedimentos didáticos que nos parecem distantes do que aconselham os pesquisadores para tornar os LEM um recurso didático efetivo.
Nesse contexto, Mendonça (2010, p. 4) diz que,
a partir do momento em que houver conscientização dos professores sobre a importância do trabalho matemático junto com atividades lúdicas, saberemos que, além de dinâmicas, as aulas de Matemática serão muito mais atrativas e o objetivo da aprendizagem será conquistado: os alunos não apenas memorizarão os conteúdos, mas ainda aprenderão. Dessa forma, o ensino nas escolas terá uma alternativa metodológica para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, embora seja necessário haver um planejamento para que esse recurso seja bem utilizado.
Por meio do uso do laboratório, o educador poderá unir a teoria e a prática através de atividades lúdicas, e isso faz o aluno ter prazer em estudá-las. O jogo possibilita ao professor maior interação com os alunos e entre os próprios alunos. Além disso, sua forma lúdica permite que o aluno tenha maior interesse, pois é algo já vivenciado por ele no seu cotidiano, levando o aluno a compreender o conhecimento matemático. No entanto, a fim de que isso ocorra, cabe ao professor a responsabilidade de romper os métodos tradicionais e desenvolver metodologias diferenciadas que levem conhecimento do conteúdo com as atividades práticas.
Todavia, podemos notar que existe certa dificuldade em trabalhar com o uso do LEM: a indisciplina dos alunos é um item que desafia na hora da aplicação da aula, como também a comodidade dos professores em levar os alunos para o laboratório, que pode ser visto muitas vezes como passatempo.
Isso deixa a desejar a compreensão do sentido lúdico e o meio de incorporar uma metodologia diferenciada, como também sua má utilização não produz o efeito real trazido por essa ferramenta, fugindo na maioria das vezes do objetivo específico. Isso ocorre pela falta de planejamento e de vivenciar a atividade antes da aplicação.
Metodologia
Nesta seção, apresentam-se os procedimentos metodológicos da pesquisa, explicitando sua natureza, os métodos e instrumentos utilizados, o universo em que foram obtidos os dados, os sujeitos, bem como suas descrições e análises.
A pesquisa teve como objetivo analisar as considerações que os professores de Matemática do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de Piancó/PB têm sobre o uso do laboratório de ensino da Matemática como recurso pedagógico na sala de aula. Dessa forma, optamos por uma abordagem qualitativa de pesquisa, que, de acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 17), “é frequentemente designada por naturalista, porque o investigador frequenta os locais em que naturalmente se verificam os fenômenos nos quais está interessado, incidindo os dados recolhidos nos comportamentos naturais das pessoas: conversar, visitar, observar”.
A pesquisa qualitativa descritiva, como o nome já explicita, busca descrever as características de um grupo social e níveis de compreensão, entre outros aspectos. Determinando esse tipo de pesquisa, Gonsalves (2003, p. 65) relata que
pesquisas desse tipo objetivam escrever as características de um objeto de estudo. Dentre esse tipo de pesquisa estão as que se utilizam as características de um grupo social, nível de atendimento do sistema educacional, como também aquelas que pretendem descobrir a existência de relações entre varáveis. Nesse caso, a pesquisa não está interessada no porquê, nas fontes do fenômeno: preocupa-se em apresentar suas características.
Em consonância com Bogdan e Biklen (1994) e Gonsalves (2003), optou-se por uma pesquisa qualitativa descritiva, pois este estudo evidencia um grupo social, neste caso, os professores de Matemática da referida escola. Posteriormente à escolha metodológica da pesquisa, segue-se o universo da pesquisa e os sujeitos, que serão descritos na seção a seguir.
Universo e sujeitos da pesquisa
O universo da pesquisa foi o Laboratório de Ensino de Matemática da Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antônio, no município de Piancó, no estado da Paraíba. Os sujeitos investigados foram os quatro professores de Matemática da escola que lecionam na Educação Básica, do 1º ao 3º anos do Ensino Médio; todos aceitaram participar da pesquisa.
Instrumentos da pesquisa : entrevista
A entrevista foi o procedimento metodológico adotado para a produção de dados da pesquisa. Foram realizadas quatro entrevistas online, que foram gravadas para posterior análise. A entrevista é um instrumento de produção de dados com questões a serem respondidas sem a intervenção direta do pesquisador. Conforme Moroz e Gianfaldoni (2006, p. 79), “tanto o questionário quanto a entrevista devem ser cuidadosamente planejados, de forma que as questões especifiquem claramente o conteúdo que se pretende ser abordado pelo sujeito”.
A partir das entrevistas online, buscou-se identificar como se dá o uso do Laboratório de Ensino de Matemática na escola e como ele foi montado, se existia alguma dificuldade em trabalhar no LEM. Foi constatado, então, que o laboratório foi adquirido com recursos do estado, num edital em que a escola foi contemplada. A organização da entrevista se deu da seguinte forma; de início com questões de ordem pessoal e, depois, sobre conhecimentos mais específicos deixando explícito que iríamos manter sigilo quanto à identidade dos pesquisados e deixando claro o objetivo da pesquisa.
A primeira parte da entrevista foi composta por questões de ordem pessoal, na qual procuramos saber nome, sexo e idade do entrevistado. A segunda parte referiu-se à formação inicial, a instituição formadora e à função exercida na escola pesquisada. Na terceira parte, as perguntas foram voltadas a conhecimentos mais específicos sobre laboratório de Matemática, na qual procuramos saber acerca das concepções que os professores pesquisados têm sobre o LEM. Nas perguntas, os professores foram questionados se em sua formação inicial tiveram experiências com atividades práticas no ensino de Matemática e qual a importância que o laboratório de matemática tem em uma escola, dentre outras. Sabendo-se que a escola recebeu o material para a montagem do laboratório de matemática, foi questionado se junto com o material didático os professores receberam alguma formação.
Dentre as questões que fizeram parte das entrevistas, destacamos:
- Em qual faixa etária você se encontra?
- Há quanto tempo você atua profissionalmente?
- Para quais séries você está atuando?
- Nos últimos anos você participou de cursos de aperfeiçoamento relacionados à Matemática?
- Na escola que você está atuando tem um laboratório de Matemática?
- Qual a importância que você acha que o laboratório de Matemática tem na sua escola?
- Com que frequência você utiliza o laboratório de sua escola?
- Em suas aulas você acha conveniente ou necessário o uso de material didático concreto para facilitar a aprendizagem dos alunos?
- Quais materiais concretos você mais utiliza?
- Você costuma trabalhar com quais tipos de materiais didáticos em suas aulas?
- Quais foram as atividades mais interessantes desenvolvidas com os alunos no laboratório de sua escola?
- Na sua experiência como professor, como se dá a participação dos alunos em aulas com materiais concretos?
As informações obtidas trazem a interface da realidade da escola do município de Piancó, tornando-se conhecimento teórico indispensável para o desenvolvimento desta pesquisa, ou seja, explicações objetivas em depoimentos que expressam as concepções desses professores. Destarte, com base nas entrevistas, pode-se constatar que os professores têm concepções sólidas em seus conhecimentos e são habilitados para reconhecer a importância do laboratório como recurso pedagógico.
Percurso metodológico
Considerando os elementos apresentados, este trabalho foi desenvolvido de acordo com as seguintes etapas:
- Levantamento bibliográfico acerca de pesquisas sobre o LEM para o ensino de Matemática;
- Levantamento junto à secretaria da Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antônio, na cidade de Piancó, sobre o número de professores que lecionam Matemática do 1º ao 3º anos do Ensino Médio;
- Elaboração do instrumento da pesquisa (entrevista);
- Realização da entrevista online por meio do aplicativo Google Meet junto aos professores;
- Análise e discussão dos resultados alcançados nas entrevistas.
Aplicação e análise da entrevista de pesquisa
As entrevistas tiveram por objetivo levantar as informações necessárias para a nossa pesquisa sobre a importância do LEM na escola. Nesse sentido, foi aplicada aos professores de Matemática de forma a obter respostas aos nossos questionamentos.
A entrevista representa uma técnica de coleta de dados na qual o pesquisador tem um contato mais direto com a pessoa, no sentido de se inteirar de suas opiniões acerca de determinado assunto. Esse método não escapa ao planejamento antes mencionado, uma vez que requer do pesquisador um cuidado especial na sua elaboração, desenvolvimento e aplicação, sem contar que os objetivos propostos devem ser efetivamente delineados, a fim de que se obtenha o resultado pretendido (Duarte, s/d).
Todos os quatro professores de Matemática do corpo docente da escola aceitaram participar da entrevista em suas residências por via online, com a plataforma Google Meet, pois, diante dos problemas que estão assolando o mundo devido à pandemia da covid-19, não nos foi dada a oportunidade de entrevistar os professores pessoalmente.
Apresentação e análise dos resultados
A seguir serão apresentados e discutidos os dados produzidos na pesquisa realizada na escola junto aos professores de Matemática. Em seguida, será apresentada uma análise das questões. As primeiras questões abordam informações pessoais e a formação inicial dos professores. Com elas foi possível constatar que os professores pesquisados, todos do sexo masculino, atuam em um mesmo nível de ensino, o Ensino Médio. Também foi perguntado em qual faixa etária eles se encontram, dados que podem ser vistos no Gráfico 1.
Gráfico 1: Em que faixa etária você se encontra?
Todos os professores são licenciados em Matemática. Há, no entanto, uma diferença com relação ao término da sua formação (Gráfico 2). Percebemos que aqueles professores que se formaram mais recentemente responderam com mais conhecimentos aos questionamentos da pesquisa.
Gráfico 2: Há quanto tempo você atua profissionalmente?
De início, foi perguntado se, junto com o material, os professores receberam alguma formação sobre o LEM. As respostas foram distintas: três professores afirmaram ter recebido formação constituída por professores do Ensino Médio. Já o outro professor afirmou não ter tido formação alguma, pois no período em que houve a formação ele ainda não lecionava na escola.
Dessa forma, é perceptível que apenas parte dos professores recebeu formação para trabalhar com os materiais que a escola recebeu para a montagem do laboratório. No entanto, eles responderam que a formação não foi suficiente para que tivessem domínio sobre os materiais que o laboratório possuía.
Durante a entrevista, os professores foram questionados sobre a importância e concepções do laboratório de ensino de Matemática. Acerca desse ponto, os quatro professores afirmaram que acham importante o laboratório, evidenciando que, mesmo sem o conhecimento adequado na formação inicial para trabalhar com essa perspectiva, acreditam na importância de um laboratório para o ensino de Matemática, tendo em vista que se consegue mostrar melhor algumas teorias com materiais concretos.
O Professor A, ao ser indagado sobre a importância de um laboratório na escola, observou que o uso do material concreto facilita a aprendizagem e ganha tempo da aula.
No laboratório você consegue unir teoria e prática, consegue mostrar de forma prática o conteúdo do conceito matemático, é importante para abrir a mente do aluno e auxiliar nas aulas, principalmente. Por exemplo: as aulas de Geometria nós trabalhamos com os sólidos geométricos, ganhamos tempo na medida em que mostramos o material concreto ao aluno ao invés de desenhar no quadro (Professor A).
O Professor C relata que
o Laboratório se faz necessário em uma escola, pois ele é o responsável pela construção do conhecimento e tem a função de contextualizar os conteúdos, além de poder incluir o lúdico que faz com que os alunos sintam mais prazer nas aulas, pois a ludicidade torna a aprendizagem mais prazerosa e significativa.
Com essas respostas, fica evidente que os professores têm consciência do quão importante é um LEM em sua escola e a importância que ele tem em suas aulas. Chamou também nossa atenção a fala de um dos entrevistados, quando afirmou: “É essencial. O aluno vai aprender brincando” (Professor B). Mesmo sem ter entendido bem a pergunta e responder sobre o aluno e não sobre o professor, destacou a importância de o aluno aprender praticando, ou seja, que é importante o trabalho com atividades práticas, mais uma vez destacando a importância do LEM e a visão sobre a importância de aprender praticando. Ademais, segundo Aguiar (1999, p. 55), “o laboratório veio para unir a teoria e a prática, pois as mesmas estão ligadas na prática, e precisa haver uma união entre as duas”.
Logo depois, foi perguntado com que frequência eles utilizavam o laboratório da escola; a maioria respondeu que usa sempre a cada 15 dias.
Todos os pesquisados usam como material didático principal em suas aulas o livro didático, pois acham mais prático para ser trabalhado. O Professor D relata que “usa mais o livro didático porque é mais fácil de aplicar exercícios e de trabalhar em sala”. Em contrapartida, o professor Chagas (2002, p. 2) afirma que “os professores de Matemática tornam o ensino dentro das escolas de forma ‘rotineira’, trabalhando com conteúdo restrito dos livros didáticos, com aulas meramente expositivas e exercícios de fixação ou de aprendizagem”.
De acordo com Saviani (2007, p. 136),
os livros didáticos serão o instrumento adequado para a transformação da mensagem cientifica em mensagem educativa. Nota-se, ainda, que, nesse caso, o livro didático é não somente o instrumento adequado, mas insubstituível, uma vez que os demais recursos não se prestam para a transmissão de um corpo de conhecimentos sistematizados como o é aquele que constitui a ciência produto.
Dessa maneira, o livro didático é um importante parceiro do professor na hora de ensinar e do aluno na hora de aprender; no entanto, ele precisa ser bem trabalhado para que se possa aproveitar ao máximo seus benefícios.
Outra pergunta foi sobre os materiais concretos mais utilizados nas aulas. Os professores relataram: sólidos geométricos, torre de Hanói, cubo mágico, teodolito, material dourado, jogos matemáticos, indo ao encontro da ideia de que
o material concreto exerce papel importante na aprendizagem. Facilita a observação e a análise, desenvolve o raciocínio lógico, crítico e científico, é fundamental para o ensino experimental e é excelente para auxiliar o aluno na construção de seus conhecimentos (Lorenzato, 2002, p. 61).
Os materiais concretos são recursos didáticos que influenciam fortemente no processo de aprendizagem do aluno. Nesse sentido, o Professor B relatou “que a experiência com esses materiais já devia vir desde o Ensino Fundamental, pois quando chegam ao Ensino Médio alguns alunos ainda sentem dificuldade para manipular alguns materiais”.
Também foi indagado aos professores sobre como se dá a participação dos alunos nas aulas com materiais concretos no laboratório. “É completa. Os alunos se interessam muito, acham as aulas mais prazerosas quando têm o contato com o material, as aulas se tornam diferentes, é perceptível a aprendizagem dos alunos” relatou o Professor C. O Professor B, por sua vez, disse que os alunos conseguem desenvolver e compreender melhor os conteúdos. Já o Professor D disse que “é melhor a aprendizagem dos alunos quando se trabalha com materiais concretos”.
Foi pedido também para que aqueles que tiveram experiências no laboratório que destacassem as atividades mais interessantes desenvolvidas no laboratório da escola. O Professor A destacou a construção de sólidos geométricos (Figura 1); o Professor B disse que sua atividade mais importante foi a construção de um teodolito; o Professor C relatou que a atividade que os alunos acharam mais interessante foi o Jogo do Quadrado Perfeito; e o Professor D falou de um jogo sobre funções.
Figura 1: Atividade desenvolvida pelos alunos no LEM sobre sólidos geométricos
Dos quatro professores entrevistados, três retrataram ter dificuldade de usar o laboratório da escola, pelo fato de ser junto com um laboratório de Física, pois a escola no momento não dispõe de salas suficientes para que os laboratórios funcionem separadamente.
Todos os professores relataram a falta de estrutura física das salas dos laboratórios, que não acomodam bem os alunos, e a falta de limpeza da sala, que não é feita todos os dias. Apesar do material riquíssimo disponibilizado para trabalho, são notórios a desorganização e o descaso em que o ambiente se encontra, como mostram as Figuras 2 e 3.
Figura 2: Laboratório de Matemática da escola pesquisada
Figura 3: Caixas contendo materiais didáticos
As Figuras 4 e 5 mostram alguns dos materiais didáticos que a escola recebeu para montagem do laboratório de ensino da Matemática. Além desses, outros se encontram largados e embaixo de muitas caixas. A desorganização é surpreendente, dificultando também o manuseio para registrar em fotos.
Figura 4: Materiais didáticos de produtos notáveis
Figura 5: Os materiais didáticos
Dois professores também relataram não terem participado de cursos de capacitação, e os que participaram acham que não foram suficientes para a aprendizagem e manuseio dos materiais existentes; alguns nem sabem para que servem certos materiais.
Considerações finais
Com esses relatos, percebemos que uma escola, ao receber materiais para a montagem de um LEM, deve fornecer formação acerca do uso do laboratório, para que todos os professores tenham conhecimento e saibam como utilizar os materiais e as potencialidades que existem no LEM.
Podemos observar, com esses dados, a carência que existe na formação dos profissionais que atuam na escola, sendo este um fator que pode vir a ser um dos principais motivos que justifiquem a dificuldade de trabalho com essa metodologia de ensino, pois a escola que possui um LEM precisa qualificar seus docentes.
A formação sobre o LEM não pode ser superficial; os professores precisam tomar conhecimento de todos os materiais e de como utilizá-los, mas, antes de tudo, compreender a importância de um laboratório para o processo de ensino-aprendizagem. Segundo Lorenzato (2006, p. 10),
se lembramos que mais importante que ter acesso aos materiais é saber utilizá-los corretamente, então não há argumento que justifique a ausência do LEM nas instituições responsáveis pela formação de professores, pois é nelas que os professores devem aprender a utilizar os materiais de ensino.
Dessa forma, é indispensável e de extrema importância uma formação acerca do LEM, visto que podem existir docentes que nunca tiveram contato com o LEM, pois é preciso entender o que ele é, como utilizá-lo e para que utilizá-lo. Com as respostas citadas, fica evidente que os professores têm consciência do quão importante é uma formação acerca do LEM, tendo em vista que poucos deles tiveram essa oportunidade. Concluímos, assim, que somente o fornecimento do material didático para o LEM não é o bastante para sua eficaz utilização na escola, sendo necessária a formação dos docentes e a conscientização da gestão escolar.
O primeiro objetivo da nossa entrevista foi identificar se os professores utilizavam o laboratório da escola. Em nossa pesquisa, evidenciamos que todos costumam usar o laboratório mesmo com as dificuldades que enfrentam na sala, pois todos têm a concepção de que o LEM é um ambiente propício para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem.
O segundo objetivo foi identificar qual o enfoque dado pelos professores em sala de aula sobre o uso do LEM. Nesse sentido, podemos observar que todos os docentes afirmam que usam o laboratório e que sabem da sua importância para a aprendizagem dos alunos. No entanto, enfatizam a carência que existe na formação dos profissionais que atuam na escola, um fator que pode vir a ser um dos principais motivos que justifiquem a dificuldade de trabalho com essa metodologia de ensino, pois a escola que possui um LEM precisa qualificar seus docentes.
Assim, as dificuldades encontradas são: falta de formação adequada sobre do LEM para os professores; o descaso da gestão escolar com os materiais recebidos; a falta de infraestrutura adequada para uso do laboratório, visto que ele fica em uma sala com outros laboratórios; a dificuldade de inserir os conteúdos e a falta de capacitação dos professores.
Por fim, é interessante ressaltar que as escolas devem estimular os professores a utilizar o LEM como metodologia de ensino e disponibilizar uma formação específica que é de suma importância. Logo, o educador irá dispor de um recurso que servirá para facilitar o desenvolvimento do seu trabalho pedagógico.
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Publicado em 13 de julho de 2021
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MEDEIROS, Ana Carla Ventura Gomes; GARCIA E LACERDA, Hannah Dora de. Laboratório de ensino de Matemática como recurso pedagógico: considerações de professores de Matemática. Revista Educação Pública, v. 21, nº 26, 13 de julho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/26/laboratorio-de-ensino-de-matematica-como-recurso-pedagogico-consideracoes-de-professores-de-matematica
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