Transformações da Educação Física escolar no Brasil: entrelaçando os relatos de experiência a uma revisão sistemática de literatura

João Paulo da Silva Maciel

Graduado em Educação Fisica (Centro Universitário Doutor Leão Sampaio)

O presente estudo busca perceber como as considerações e transformações a respeito da Educação Física escolar devem ser consideradas, levando em conta a sua evolução no Brasil. Ao longo de nossa história foram encontradas diversas influências que formataram momentos e situações de destaque na sua evolução e construção, ou seja, oferecem parâmetros para a prática pedagógica da Educação Física escolar, que vem sofrendo modificações que perduram até os dias atuais, cujos objetivos nos levam a estudar o processo evolutivo da Educação Física no país.

As práticas e ações historicamente construídas sobre a Educação Física ao longo de nossa história devem ser estudadas devido às comunidades locais, que acabam influenciando e sendo influenciadas pelo contexto social, político, econômico e cultural (Castellani Filho, 2017).

Sabe-se que a Educação Física aparece na história da educação brasileira desde o período do Brasil Império. Nos primeiros tempos da República no país, a constituição da área de Educação Física foi sistematizada, devido às influencias dos militares e médicos (Coletivo de Autores, 1992). Sabe-se também que os fatos referentes às transformações da Educação Física no contexto escolar nessa época se mostram relativamente obscuros e escassos devido à falta de relatos oficiais e fontes bibliografias pertinentes ao tema estudado (Corrêa, 2016).

A Educação Física escolar durante um longo tempo no Brasil foi patrimônio da nação portuguesa, fortemente negligenciada e afastada do amplo cenário escolar civil, ou seja, sendo basicamente desenvolvida para uso exclusivo das instituições militares, sem valorizar os traços pedagógicos. Era entendida de forma errada, apenas como sinônimo de ginástica e/ou de treinamento militar físico constituído pelo Brasil Império (Dantas Junior, 2018).

As transformações da Educação Física escolar vêm sendo uma das maiores referências sobre essa temática em diversos estudos; predominantemente, é a base para as pesquisas históricas da Educação Física escolar (Soares, 2016). Mediante essa análise prévia, percebe-se que a atividade física está presente no mundo desde os primórdios da humanidade, quando o homem sentiu a necessidade de sobrevivência na Pré-História. Sendo assim, o ser humano pode ser considerado uma raça amplamente ativa por natureza, pois os nossos ancestrais utilizavam o corpo como meio de subsistência e como forma de se manter vivo (Oliveira, 2019).

Entretanto, com o surgimento das primeiras comunidades organizadas, o homem passou por muitas mudanças de hábitos que o fizeram abdicar de atividades que supriam essa necessidade fisiológica de estar sempre ativo fisicamente (Moura 2017). Essas transformações atualmente são cada vez mais presentes na era da tecnologia e da informática.

Como consequência desses novos modos de vida, o ser humano passou a se dedicar a outras atividades cotidianas, como o trabalho e o seu “poder”. Desse modo, a necessidade de defender suas terras, seus suprimentos e sua comunidade fez com que o homem se preparasse para confrontar outros seres humanos, surgindo, assim, os princípios da guerra (Moura, 2017).

Durante vários séculos, os princípios das civilizações e a preparação do homem para a vida tiveram que passar por fundamentos guerreiros e, desta forma, a relação da sociedade com a Educação Física ficou centrada nesse contexto utilitário guerreiro (Pereira, 2016). No transcorrer dos anos, a Educação Física foi se modificando de acordo com as diretrizes dos diferentes governos e poderes; as influências internacionais e as mudanças na sociedade também foram fatores preponderantes para essas transformações. No contexto escolar, por meio de uma análise histórica, constatamos que a Educação Física está presente desde a Proclamação da República no Brasil (Soares, 2016).

Segundo Rodrigues e Darido (2018), a Educação Física escolar na década de 1970 era baseada em tendências pedagógicas que priorizavam o saber fazer, através de aulas de caráter prático. Ligadas aos pensamentos higienistas, militaristas e esportivos no ambiente escolar, o principal foco das aulas era tornar os sujeitos com bons hábitos higiênicos e mais saudáveis, preparando-os para a cidadania regente na época e para atuar em guerras, formando combatentes, bem como a formação de alunos atletas nos esportes coletivos no período, especialmente o futebol.

Só a partir do final da década de 1970 e inicio da década de 1980 que questões referentes à cidadania surgiram nos debates e discussões no âmbito educacional, com uma abordagem de Psicomotricidade, a qual vinha em contrapartida às abordagens desenvolvidas da Educação Física na escola (Capeloto, 2015).

O novo modelo idealizado por Le Boltcher tinha o intuito de desenvolver nos escolares o ato de aprender com processos ligados à cognição e fatores socioafetivos, por meio de estímulos e atividades psicomotores. Nesse momento, a educação nacional era consideravelmente reconhecida nos movimentos de ciência, tecnologia e sociedade, fundamentada na formação e no desenvolvimento econômico, cultural e social do país, passando a ser considerada um dos objetivos para diversos manifestos e movimentações para as políticas de ensino no país (Capeloto, 2015).

Na década de 1990, com a Política Nacional de Educação, o Ministério da Educação e do Desporto projetou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Nesse documento são apresentadas três dimensões pedagógicas para a Educação Física escolar: são as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, que devem estar sempre em conjunto na prática do professor na escola (Darido, 2016).

Passando por vários métodos pedagógicos, deste os tradicionais até os pensamentos pedagógicos renovadores, a Educação Física escolar chega a um ponto em que tem em sua prática elementos ligados diretamente à cultura corporal do movimento, como a dança, os esportes, os jogos, as lutas, os conhecimentos sobre o corpo e as ginásticas como conteúdos que norteiam a disciplina (Capeloto, 2015).

Nessa perspectiva, o presente estudo tem como principal objetivo refletir sobre as transformações da Educação Física escolar no Brasil, comparando relatos de experiências escolares a uma revisão sistemática de literatura.

Metodologia

O presente estudo é uma pesquisa bibliográfica e de campo, por meio de uma abordagem qualitativa e através de revisão sistemática de literatura, nesse ponto colocando o pesquisador em contado direto com tudo o que for escrito como também por meio de uma entrevista aplicada a profissionais da área de linguagens e códigos e da saúde como está inserida a educação Física.

Para o desenvolvimento, este estudo sobre as transformações da Educação Física escolar no Brasil foi dividido em duas etapas: a primeira etapa consistiu na procura dos descritores e fatos históricos na revisão de literatura sobre a história da Educação Física no Brasil através de pesquisa em livros e periódicos online.

Depois foram estabelecidos dois critérios para refinar os resultados: a abrangência temporal dos estudos definida entre os anos de 1970 e 2020 e, o idioma: textos em português, inglês e espanhol.

Os descritores utilizados no SciELO foram: Brasil imperial e Educação Física; Educação Física escolar; origens e surgimento e períodos históricos da Educação Física. A adoção do contexto Educação Física e Brasil imperial ou aspectos associados deve-se ao fato de que em muitos artigos os autores fazem referência às modificações da Educação Física escolar desde os primórdios ate os dias atuais. A busca foi feita por meio das palavras encontradas nos títulos e nos resumos dos artigos.

Cabe ressaltar que a pesquisa foi feita para obter uma referência histórica acerca das transformações da Educação Física escolar no Brasil. Essa busca privilegiou autores conhecidos que desenvolvem trabalhos nessa área. Por fim, outra estratégia adotada, e não menos importante, foi à busca manual de artigos por meio de autores ou de referências consideradas clássicas da literatura.

Todas as buscas nas plataformas SciELO e Google Acadêmico foram realizadas no período de dezembro de 2018 a maio de 2020. A seleção dos artigos caracterizou-se de acordo com a relevância para o trabalho em questão, ou seja, a seleção de artigos foi feita em conformidade com o assunto proposto, sendo descartados os estudos que, apesar de constarem no resultado da busca, não apresentaram metodologia para avaliação sobre as transformações da Educação Física e suas modificações ao longo dos tempos.

Nesse aspecto, conforme os dados coletados o pesquisador confere e exibe as ideias encontradas, assim definindo como pesquisa bibliográfica como modelo de revisão sistemática do assunto. Somando-se todas as bases de dados, foram encontrados 60 artigos.

Após a leitura dos títulos e resumos dos artigos, notou-se que alguns deles se repetiram nas diferentes bases, não preenchendo os critérios deste estudo, sendo assim excluídos na integra 38 artigos e incluídos 22 para leitura dos objetivos e resultados conforme o organograma apresentado abaixo.

Figura 1: Organograma dos resultados de busca nas bases de dados e seleção de artigos pertinentes ao tema em estudo

Para o desenvolvimento da segunda parte foi aplicado questionário para a realização de uma entrevista para uma amostra de onze profissionais formados em Educação Física, por meio de relatos de experiências desses personagens, que vivenciaram em grande parte essa transformação.

Com base no questionário foi possível obter relatos de suas experiências profissionais sobre as transformações vivenciadas na Educação Física desde sua formação até a presente data, pois ainda atuam na área escolar como professores de Educação Física e vivenciaram essa trajetória em nossa região caririense, nas cidades de Mauriti, Barro, Aurora, Milagres, Brejo Santo, Porteiras, Missão Velha, Barbalha, Jardim, Juazeiro do Norte e Crato, no estado do Ceará.

Sendo assim, para melhor compreensão e visualização dos resultados da pesquisa, os trabalhos foram sistematizados e estão apresentados por meio de tabelas e gráficos de compreensão estatística e por meio de diálogos conforme os relatos de experiência dos professores pesquisados.

Desse modo o estudo foi realizado através de uma analise sistemática e critica com uso de artigos referentes ao assunto e utilizados para interpretação dos possíveis resultados a serem obtidos.

Resultados

Com base em vários estudos, foi possível constatar que a Educação Física vem se tornando cada vez mais um instrumento de socialização para a formação de um cidadão capaz de saber viver em uma sociedade que cada vez mais vem se desenvolvendo e se transformando.

Sendo assim, com a pesquisa pôde-se contatar os seguintes resultados, que são apresentados de forma bem sistemática em consenso com as experiências de profissionais da área da educação; conforme sua vivência e trajetória em nossa região, esses relatos transcendem as conformidades e dificuldades com os aspectos do dia a dia, se tornando um conjunto de informações de grande relevância para o estudo, pois demonstra por meio de uma revisão sistemática de literatura e fontes bibliográficas como ocorreram as transformações de Educação Física ate os dias atuais.

Quadro 1: Classificação dos resultados conforme questionário de entrevista realizada para obtenção dos relatos de experiências conforme o avanço profissional de cada professor pesquisado

Professores/Cidade

Formação

Ano de formação

Especialização

Faculdade/Universidade

Mauriti

Educação Física

2000

Educação Física Escolar

Universidade Regional do Cariri - URCA

Barro

Educação Física

2015

Docência do Ensino Superior

Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - Unileão

Aurora

Educação Física

2014

Fisiologia do Exercício

Universidade Federal do Cariri – UFC

Milagres

Educação Física

2015

Educação Física Escolar / Gestão e Administração Escolar

Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - Unileão

Brejo Santo

Educação Física

1985

Educação Física Escolar

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Porteiras

Educação Física

1999

Educação Física Escolar

Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA

Missão Velha

Educação Física

2016

Educação Física Escolar

Universidade Regional do Cariri - URCA

Barbalha

Educação Física

2017

Fisiologia do Exercício

Universidade Regional do Cariri - URCA

Jardim

Educação Física

2014

Docência do ensino Superior

Universidade Regional do Cariri - URCA

Juazeiro do Norte

Educação Física

1978

Educação Física Escolar

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Crato

Educação Física

2013

Educação Física Escolar

Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - Unileão

Quadro 2: Classificação dos resultados por meio de questionário aplicado para obtenção dos relatos de experiência

Professor

Tipos de aulas

Conteúdos

Eventos esportivos

Forma de ingresso

Espaço para aulas

Modificações e transformações

Professor de Mauriti

Práticas e teóricas

Jogos e esportes

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Concurso publico

Quadra poliesportiva

Sim

Professor de Barro

Práticas e teóricas

Recreação; dança; jogos e esportes.

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Quadra poliesportiva

Sim

Professor de Aurora

Práticas e teóricas

Jogos e esportes

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Quadra poliesportiva

Sim

Professor de Milagres

Práticas e teóricas

Recreação; dança; jogos e esportes; anatomia e cultura corporal

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Parques de recreação

Houve mudanças ao longo dos anos

Professor de Brejo Santo

Práticas e teóricas

Jogos e esportes

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Concurso publico

Parques de recreação

Sim

Professor de Porteiras

Práticas e teóricas

Recreação; dança; jogos e esportes

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Concurso publico

Parques de recreação

Teve várias modificações ao longo dos anos

Professor de Missão Velha

Práticas e teóricas

Atividades recreativas

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Quadra poliesportiva

Sim

Professor de Barbalha

Práticas e teóricas

Esportes e jogos cooperativos

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Quadra poliesportiva

Sim

Professor de Jardim

Práticas e teóricas

Atividades recreativas

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Parques de recreação

Sim

Professor de Juazeiro do Norte

Práticas e teóricas

Recreação; dança; jogos e esportes; anatomia e cultura corporal

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Concurso publico

Quadra poliesportiva

Teve várias modificações ao longo dos anos

Professor de Crato

Práticas e teóricas

Recreação; dança; jogos e esportes; anatomia e cultura corporal

Campeonatos de futsal; handebol e vôlei

Seleção municipal

Quadra poliesportiva

Teve várias modificações ao longo dos anos

Quadro 3: Classificação dos estudos pesquisados em relação às transformações da Educação Física ao longo dos anos para a revisão sistemática de literatura

Autores

Títulos

Ano

Local

Publicação

BELTRAMI, D. M.

Dos fins da Educação Física escolar

2017

Maringá

Revista da Educação Física / UEM

CAPELOTO, L. R.

Dez anos dos Parâmetros Curriculares Nacionais: contribuições para o ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental

2015

Câmpus de Araraquara

Faculdade de Ciências e Letras, USP Dissertação (Mestrado)

CASTELLANI F. L.

Educação Física no Brasil: a história que não se conta

2017

Campinas

Editora Papirus

COLETIVO DE AUTORES

Metodologia do ensino de Educação Física

1992

São Paulo

Editora Cortez

CORRÊA, D.A.

Ensinar e aprender Educação Física na “Era Vargas”: lembranças de velhos professores

2016

Curitiba

Anais do VI Educere - Congresso Nacional de Educação – PUC-PR

DANTAS, J. H. S.

A esportivização da Educação Física no século do espetáculo: reflexões historiográficas

2018

Campinas

Revista Histedbr Online

DARIDO, S. C.

Educação Física na Escola: questões e reflexões

2016

Rio de Janeiro

Editora Guanabara Koogan

FREIRE, E. S.

A construção de valores nas aulas de Educação Física: hábitos e illusio no cotidiano de três professoras

2015

São Paulo

Tese (Doutorado em Educação Física) - Universidade São Judas Tadeu

GONDRA, J. G.

Combater a “poética palidez”: a questão da higienização dos corpos

2018

Florianópolis

Revista Perspectiva

GUIRALDELLI, J. P.

Educação Física progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a Educação Física brasileira

2016

São Paulo

Editora Loyola

MORAES, E. V.

O higienismo e a Educação Física brasileira

2015

Alagoas

Coletânea. Rio Grande do Sul, Editora Unijuí

MOURA, M.

Educação Física no Brasil: uma história política

2017

São Paulo

Webartigos

OLIVEIRA, M. V. T.

Educação Física escolar e ditadura militar no Brasil (1968-1984): entre a adesão e a resistência

2019

Campinas

Revista Brasileira de Ciência do Esporte

PEREIRA, M. G. R.

A motivação de adolescentes para a prática da Educação Física: uma análise comparativa de instituição pública e privada

2016

São Paulo

Dissertação (Mestrado em Educação Física) -Universidade São Judas Tadeu

RODRIGUES, H. A.; DARIDO, S. C.

As três dimensões dos conteúdos na prática pedagógica de uma professora de Educação Física com mestrado: um estudo de caso

2018

Maringá

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte

ROSA, S. P.; LETA, J.

Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física. Parte 1: uma análise a partir de periódicos nacionais

2017

São Paulo

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte

SOARES, C. L.

Educação Física: raízes europeias e Brasil

2016

Campinas

Revista Autores Associados

SOUZA NETO, S. et. al.

A formação do profissional de Educação Física no Brasil: uma história sob a perspectiva da legislação federal no século XX

2016

Campinas

Revista Brasileira de Ciências do Esporte

SOUZA, J.; MARCHI JÚNIOR, W.

Por uma sociologia da produção científica no campo acadêmico da Educação Física no Brasil

2015

Rio Claro

Revista Motriz

SOUZA, S. R. V.

Pesquisa em Educação Física: determinações históricas e implicações epistemológicas

1997

Campinas

Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas

VILLELA, H. O. S.

Entre o “saber fazer” e a profissionalização: a escola normal do século XIX e a constituição da cultura profissional docente

2015

Campinas

Revista Autores Associados

Discussão

Com base na pesquisa, as informações foram obtidas em entrevistas com professores da Educação Básica. A formação docente em Educação Física deu-se devido à paixão pelo esporte, que os mesmos sempre praticaram e quando se depararam com a situação de encarar como profissão, não pensaram duas vezes em fazer vestibular para Educação Física, curso de licenciatura plena com a duração de quatro anos.

Em relação a como eram as aulas práticas e teóricas, os professores explicaram que as aulas práticas tinham uma divisão por sexo; eram realizados testes com os alunos dos outros cursos da faculdade, porém sem dúvida havia mais aulas práticas que teóricas, que eram mais voltadas à educação. Nas suas formações acadêmicas, os conteúdos eram bem mais resumidos, em alguns casos a duração era de seis semestres de curso.

Os professores relataram que as disciplinas abordavam toda a área de educação, e algumas disciplinas eram voltadas para a saúde, como: Anatomia, Fisiologia, Cinesiologia e outras voltadas para o esporte.

Sendo assim, os eventos esportivos aconteciam em forma de jogos escolares, os alunos da universidade eram direcionados para as escolas para coordenar e organizar os eventos. Os órgãos responsáveis por esses jogos proporcionavam a oportunidade de vivenciar essa pratica e de colocar em prática os conhecimentos obtidos durante o curso.

Nesse aspecto, foi indagado como era o processo seletivo para ingressar no emprego após o termino do curso. Dentro do contexto, pode-se perceber que não existia concurso na época da formação, pois quem ministrava as aulas de Educação Física eram, nas formações mais antigas, os militares ou pessoas que tinham certo conhecimento de esporte; para os mais recentes, demais professores de outras disciplinas, entre outros. 

Os professores relataram que não tiveram nenhum obstáculo para trabalhar, como não havia muitos professores formados nem precisaram fazer seleção alguma e assim foram oferecidas 200 horas/aula. Para os professores recém-formados, o ingresso foi por meio de processo seletivo e alguns concursos. Com o passar dos anos, foram realizados concursos estaduais em que outros colegas foram aprovados.

Em consenso com a formação continuada, foi explicado que não existia, porém dentro da universidade havia umas cadeiras eletivas em que o aluno, se interessando por ela, pagava em outros semestres.

De acordo com os relatos desses profissionais, as aulas de Educação Física eram normais, muito parecidas com as aulas de hoje, porém as aulas teóricas eram dadas durante as aulas práticas, ou seja, não tinha uma aula só para teoria.

Em relação à adequação do espaço, eles afirmaram que não existia espaço adequado, mesmo em escolas particulares não havia quadras cobertas e tinha pouco material didático, geralmente as aulas eram no inicio da manhã ou no final da tarde, devido à temperatura do sol; as escolas foram se aprimorando e construindo espaços adequados para as aulas práticas.

No inicio da carreira não existia esse preconceito, muitos afirmaram com sua indagação, mas reconhecem que com o passar dos anos alguns colegas de Educação Física fizeram com que não só a classe de professores mais como a sociedade visse a profissão sem muito valor.

Devido a muitos colegas verem a Educação Física como recreação, mesmo com essas concepções sempre defenderam a bandeira da área; por mais que tivesse cunho recreativo, explicavam que as aulas de Educação Física não eram só entregar uma bola, dizendo que, mesmo entregando uma bola para os alunos requeriam uma preparação técnica e psicológica.

Os demais profissionais de Educação Física encaram as aulas normalmente e expõem que sempre amaram a sua profissão e que preconceito vai existir sempre; devido a isso, deve-se acreditar que pouco a pouco essa questão vai acabar e que isso deve ser extinguido por meio de uma luta diária, cabendo aos profissionais defender o que lhes é cabível defender.

Dentro do contexto de como eram divididas as aulas, afirmaram que havia a divisão por sexo, até porque da mesma forma que durante a suas vidas acadêmicas era exigida essa divisão nas escolas, os pais, a comunidade e a própria secretaria os pediam para que os alunos tivessem essa divisão.

Sendo assim, os conteúdos ministrados abordavam conhecimentos sobre corpo, saúde, mas principalmente esporte e rendimento. Dentro do contexto referente à resistência dos alunos, os relatos apresentados foram de que na época não havia tanta resistência, ao contrário de hoje, quando os alunos têm mais resistência às aulas de Educação Física do que antes (Freire, 2015).

Eles afirmaram que houve mudanças nas aulas de Educação Física com o passar do tempo; conforme as aulas foram ficando mais atraentes, fomos saindo dos exercícios mais resistentes e com isso aqueles alunos que não gostavam dessa parte mais robusta foram se interessando mais pela disciplina.

Nesse contexto, os relatos apontam que hoje as aulas de Educação Física têm um pouco de equilíbrio em relação às outras disciplinas e sendo assim estamos nadando contra a maré, e como profissionais de Educação Física não podemos perder essa esperança de que a nossa profissão ainda será valorizada. Sendo assim, em conformidade com esses relatos, pode-se constatar que a Educação Física vem sofrendo modificações desde a Pré-História até os dias atuais.

A Educação Física, durante a evolução histórica, sempre esteve presente no ambiente escolar, tendo como papel responder aos objetivos da sociedade; diante disso ela representa uma forma de pensamento coletivo como instrumento socializador que transformava a intenção da na escola e também se modificava (Souza, 2017).

Desse modo nota-se a Educação Física sempre visando atender as necessidades da sociedade; nesse contexto, ela foi regida por varias concepções ao longo dos anos, por meio da Educação Física higienista, militarista, pedagogicista, tecnicista e popular (Souza; Marchi Júnior, 2015).

Para compreender melhor a estrutura das aulas de Educação Física hoje é necessário entender as transformações pelas quais essa disciplina passou e vem passando, desde a concepção higienista até os dias atuais, quando busca conquistar seu espaço e importância junto às outras disciplinas; nota-se que ela ainda vem sendo um pouco discriminada, mas mesmo assim vem ganhando seu espaço mediante a escola e diante das outras disciplinas (Souza; Marchi Júnior, 2015).

Portanto, a Educação Física vem sendo pensada nos dias atuais como instrumento de formação integral do sujeito, tanto formação física como cognitiva e social. Entretanto, essa nova forma de pensá-la se confronta com os objetivos deixados pelas outras concepções e pela presença forte do esportivismo, enfatizado pela mídia desde o seu surgimento (Souza Neto et al., 2016).

Repensando todo o histórico da existência, a princípio a Educação Física surge dentro da escola sob o comando de caráter higienista, sua formação voltada para os sujeitos fortes e sadios que se enquadrassem para a área (Souza; Marchi Júnior, 2015).

Com o passar da sua evolução conforme datada em segundo momento, a Educação Física foi assumindo a função militarista, cuja principal preocupação era disciplinar e selecionar os indivíduos mais aptos. Em um terceiro momento, foi se obtendo uma Educação Física mais pedagogicista, que buscava obter um perfil mais educativo e evolutivo da área (Souza Neto et al., 2016).

Logo após esses períodos higienista, militarista e pedagogicista, a Educação Física assume aspecto de tendência competitiva, baseado na competição, tecnicista sendo um pouco mais técnico do que prático e esportivista, voltado para o rendimento e a formação do aluno atleta (Rosa; Leta, 2017).

Diante do contexto em torno da hegemonia que envolvia o capitalismo, ela passa a ter preocupação maior com o adestramento social e individualista, em torno da capacitação que envolve a manutenção da força desta por trás do trabalho; no entanto, essa concepção é denominada política e desenvolvimentista (Rosa; Leta, 2017).

Mediante toda essa etapa, transformações no último momento de concepção a Educação Física se torna popular, sendo criada pela classe trabalhadora que visava o lúdico e a cooperação dos alunos (Rosa; Leta, 2017).

Entretanto, é na atualidade que a Educação Física vem sofrendo transformações, sendo assim repensada com o intuito de assumir um aspecto de disciplina que é tão importante quanto as demais, é visando essa melhoria na busca pela formação integral do aluno, que na Educação Física vem sendo visto não mais como um corpo, mas como um ser integral que corrobora essa formação e visão de mundo (Gondra, 2018).

Dentro desse contexto, busca afirmar que a Educação Física teve antigamente e tem atualmente a busca incessante de enfocar suas concepções no aluno, tendo este como um ser humano integral do mundo, capaz de estar munido não só do corpo e da mente; esse enfoque está mais em um corpo abordando todas as dimensões, sejam elas psicológicas, cognitivas, motoras, afetivas e mediante vários aspectos no contexto social e cultural (Guiraldelli, 2016).

Nota-se atualmente que a forma como a Educação Física é vista também pode ser percebida na fala de Guiraldelli (2016), que aponta para a importância social que a Educação Física como disciplina escolar tem no desenvolvimento do aluno (Guiraldelli, 2016).

As transformações que ocorreram na educação Física ainda estão ocorrendo dentro da área escolar; nota-se que as concepções vistas anteriormente ainda vêm deixando resquícios no modo pelo qual são lidadas as aulas e como são planejadas devido aos conteúdos escolhidos, conforme esses conteúdos os professores concebem a Educação Física visando dentro de seus princípios principalmente formas que adotam o rendimento esportivo dos alunos em questão (Gondra, 2018).

Diante disso, sabe-se que esses conteúdos eram selecionados a partir do objetivo de formar alunos em modelo de atletas, ignorando plenamente o deveria ser aprendido pelos alunos sob as manifestações do aprendizado, como também apontando os significados e os sentidos da mesma como categoria escolar, diante do abordado sobre os fundamentos e critérios de uma cultura de movimento como se encontra nos dias atuais, ou seja, vem se apropriando por meio de uma ação crítica da coisa (Moraes, 2015).

“Faz parte da Educação Física ensinar todos os conteúdos historicamente produzidos, os quais são um patrimônio que deve ser tratado pela escola, cabendo a ela colocar seus alunos diante desse patrimônio (Coletivo de Autores,1992, p. 12; Moraes, 2015, p. 18).

A Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tem como conteúdos diversas formas de atividades, abordando as expressões corporais como jogos, esporte, dança, ginástica e lutas, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal (Coletivo de Autores, 1992; Morais, 2015). Porém estudos comprovam que as aulas de Educação Física não estão contemplando todos os conteúdos estruturantes que estão presentes dentro das aulas trabalhadas em sobressalência com os esportes coletivos (Guiraldelli, 2016).

Foi observado na pesquisa que o principal conteúdo nas aulas de Educação Física era o futebol, escolhido pelos próprios alunos; eles passam o ano todo apenas reproduzindo o que já sabem dentro das aulas e os alunos menos aptos vinham se contentando em ficar de espectadores e torcedores (Castellani Filho, 2017).

No entanto aulas estão visando o aumento do serviço dos jogos escolares, sendo assim mostrando a ênfase denominada de esportivização em torno do abandono existente do currículo destinado à Educação Física e deixando de lado as Diretrizes e Bases da Educação (Villela, 2015).

Outro estudo demonstra com maior exatidão essa transformação na forma de compreender a importância da Educação Física. As críticas estão dentro das concepções anteriores, reforçando a nova proposta para a disciplina (Freire, 2015). Portanto, é notório que as transformações até a atualidade em torno da Educação Física, ao invés do condicionamento à ordem social e da formação de alunos críticos e participativos, como também ao invés do adestramento físico e com a compreensão e o uso sadio do corpo, vem sendo um meio de esporte espetáculo e bastante ufanista, diante do esporte educativo (Castellani Filho, 2017).

A disciplina imposta e a repetição mecânica dos conteúdos imposta por ordens de alguns professores e do autodomínio da formação de caráter, sob a autovalorização da atividade física como instrumento de corpo, denominada de corpo como ser social (Villela, 2015).

Considerações finais

Considera-se, por meio desta revisão sistemática de literatura, que a Educação Física sofreu transformações bastante notórias desde a Pré-História, no período higienista, militarista e pedagogicista até a atualidade; com as transformações observadas por meio do entrelace e a consolidação dos relatos de experiências dos profissionais de Educação Física, pode-se constatar o seu processo de transformação até os dias de hoje.

Conclui-se que a Educação Física está em processo de transição, em torno de uma nova visão sobre sua função na escola, essa visão vem surgindo de um novo olhar que propõe uma Educação Física que torne seus alunos mais críticos, ativos e sociais, desde que alcancem por meio de seu corpo o amplo desenvolvimento integral, social e cultural. Considera-se que essa com nova proposta seu papel terá que enfrentar os resquícios existentes do passado, ou seja, suas antigas concepções e a forte influência da esportivização que tanto atrai os jovens.

Conclui-se também que os saberes de várias áreas da Educação Física convergem para ensinar temas relacionados à existência humana mediante aspectos sociais e culturais. A Educação Física dentro do amplo contexto trabalha necessariamente com conteúdos existenciais, pois remete diretamente à vida dos alunos na dinâmica concreta e complexa do ambiente em que vivem.

Referências

BELTRAMI, D. M. Dos fins da educação física escolar. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 12, nº 2, p. 27-33, 2º sem. 2017.

CAPELOTO, L. R. Dez anos dos Parâmetros Curriculares Nacionais: contribuições para o ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 2010. 135f. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Araraquara, 2015.

CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. 10ª ed. Campinas: Papirus, 2017.

COLETIVO DE AUTORES.  Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

CORRÊA, D. A. Ensinar e aprender Educação Física na “era Vargas”: lembranças de velhos professores. In: VI EDUCERE - CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PUC-PR. 2016, Curitiba. Anais... Curitiba: PUC-PR, v. 1, 2016.

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Publicado em 13 de julho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

MACIEL, João Paulo da Silva. Transformações da Educação Física escolar no Brasil: entrelaçando os relatos de experiência a uma revisão sistemática de literatura. Revista Educação Pública, v. 21, nº 26, 13 de julho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/26/transformacoes-da-educacao-fisica-escolar-no-brasil-entrelacando-os-relatos-de-experiencia-a-uma-revisao-sistematica-de-literatura

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