Proposta de produto educacional como estratégia de ensino para a melhoria do aprendizado de estudantes de escolas públicas para a Educação Financeira

Eduardo Jabbur Machado

Professor substituto do IFMG - Câmpus Sabará, técnico em Eletrônica Industrial (E. E. Prof. Fontes), graduado em Sistemas de Informação (Infórium), especialista em Gerenciamento de Projetos (Faculdade da Grande Fortaleza), em Política e Estratégia (Adesg-MG) e em Docência (IFMG - Câmpus Arcos), mestre e doutor em Modelagem Matemática e Computacional (Cefet/MG)

Priscila Samara Freitas Lage

Técnica de laboratório (Unesa - Câmpus Presidente Vargas/RJ, licenciada em Química e Pedagogia (Unigranrio), especialista em Docência (IFMG -Câmpus Arcos)

Pedro Xavier da Penha

Professor do IFMG - Câmpus Ouro Branco, licenciado em Matemática, especialista em Gestão Organizacional, pós-graduado em Tecnologia Educacional, psicopedagogo clinico e institucional, mestre em Administração, doutor em Ensino de Ciências e Matemática (Unicsul)

Quando o tema Educação Financeira é mencionado, logo se pensa nos matemáticos e suas fórmulas. A Educação Financeira vai muito além da teoria possui aplicações importantes no nosso cotidiano nos auxiliando na organização financeira, melhoria da capacidade do indivíduo de lidar com o dinheiro trabalhando conceitos de economia, finanças, taxas de juros, inflação, aplicações financeiras, impostos, dentre outros.

Este produto educacional foi construído baseado em uma investigação realizada com 80 estudantes de cursos do Ensino Médio Técnico Integrado do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) – Câmpus Sabará.

Para Gonçalves e Cunha (2020), a Educação Financeira é a “maneira como as pessoas vivem, sentem e compreendem seu cotidiano, envolvendo, portanto, saúde, educação, transporte, moradia, trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito”.  Para Carvalho (2016), Educação Financeira é "a capacidade de fazer julgamentos inteligentes e decisões eficazes em relação ao uso e gestão do dinheiro”. Verificou-se que o estudo do tema Educação Financeira se faz necessário desde os ensinamentos iniciais, contribuindo para o desenvolvimento da ciência e desmistificando o pensamento errôneo de que dinheiro não é “coisa de criança”; isso é um equívoco, pois ela tem a função de auxiliar na realização de objetivos a partir de organização dos gastos e a alocação de recursos, contribuindo para o fim do consumismo, trabalhando com as escolhas conscientes.

Objetivo

O objetivo do presente trabalho é propor uma atividade de aprendizagem que relacione os conceitos sobre economia, despesas mensais familiares, endividamento familiar, juros e investimento no contexto da Educação Financeira através de estudo de caso.

Planejamento didático

A apresentação dos conteúdos sobre o tema Educação Financeira e a aplicação das suas respectivas atividades em formato de estudo de caso, tem um tempo estimado de cinco horas/aulas, conforme o cronograma da Tabela 1.

Tabela 1:  Cronograma do planejamento didático

Temática da aula

Horas / aula

Educação Financeira: economia

1 hora/aula

Educação Financeira: despesas mensais

1 hora/aula

Educação Financeira: endividamento familiar

1 hora/aula

Educação Financeira: juros

1 hora/aula

Educação Financeira: investimento

1 hora/aula

Metodologia

As estratégias metodológicas propostas para a realização deste estudo educacional foram elaboradas para um público específico do ensino médio, contendo as seguintes etapas:

  • Apresentação do tema e problematização em aula expositiva e apresentação de vídeos educativos;
  • Introdução de conceitos e teorias relativos ao tema da aula;
  • Realização de atividade de aprendizagem aplicando estudo de caso.

Roteiro de estudo

A importância de buscar conhecimento sobre Educação Financeira, desenvolver uma relação equilibrada com o dinheiro, adotar decisões de crédito, investimento, proteção, consumo e planejamento que proporcionem uma vida financeira mais sustentável gera impactos não só na vida de cada um, como também no futuro de qualquer país.

Diante desse cenário, como embasamento teórico sobre Educação Financeira, serão trabalhados os cinco conceitos básicos que compõem o mercado financeiro que impactam direta e indiretamente na vida financeira de todas as pessoas de acordo com o aplicativo da Caixa Econômica Federal. São eles:  juros, inflação, crédito, investimentos e seus tipos e imposto de renda, definidos a seguir:

  • Juros é o valor pago para usar um dinheiro que não é seu, como um “aluguel”. Se você pega uma quantia emprestada, deve devolver o mesmo valor e, também, uma quantia extra, como pagamento pelo uso do dinheiro. Caso você deixe um dinheiro no banco, aplicado, deve receber juros pelo uso que o banco faz do seu dinheiro. Cada banco define as taxas de juros que vai praticar em cada operação, porém, tem como base a taxa básica de juros do país, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central;
  • Inflação é o aumento dos preços de produtos e serviços que causa a redução do nosso poder de compra, sendo um dos termômetros mais importantes da situação econômica de um país representado pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), que afeta diretamente o valor do seu dinheiro em relação à serviços, gastos domésticos e investimentos;
  • Crédito é a oferta de uso de dinheiro por determinado tempo, no qual empresta-se o dinheiro confiando que ele será devolvido, com juros. Assim, o risco é um dos fatores mais importantes para a definição das condições de crédito. De acordo com o risco, o prazo e o volume das negociações, os juros mudam e são várias as ofertas de crédito disponíveis: cartão de crédito, cheque especial, compra parcelada (crediário), empréstimos, crédito consignado, penhor, financiamento, leasing, dentre outros;
  • Investimento é emprestar o seu dinheiro ao banco para receber os juros, ou aplicar o seu dinheiro em um negócio que vai render lucros e dividendos. Os investimentos devem atender aos seus objetivos de vida e você pode começar prevendo dois tipos de reservas: uma para emergências e uma para projetos de vida (aquisição de bens móveis e imóveis, viagens, estudos, aposentadoria, dentre outros) e, atualmente, existem várias modalidades como: poupança, previdência, fundos de investimento, tesouro direto, ações, CDB, dentre outros;
  • Imposto de Renda sobre Pessoa Física (IRPF) é a contribuição do cidadão aos cofres públicos, que retêm uma porcentagem dos salários e rendimentos anuais acima de R$ 28.559,70 ou recebeu acima de 40 mil reais em rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados na fonte no ano, como rendimento de poupança ou indenizações trabalhistas.

Dessa forma, é essencial conhecer e entender as diversas formas de crédito, as regras e modalidades que fazem parte do contexto do mercado financeiro para aprendermos a usá-las de modo consciente, pois uma escolha inadequada influência e compromete diretamente o orçamento e estrutura familiar por um longo período. Normalmente, as despesas mensais familiares fixas e variáveis são distribuídas nas seguintes categorias: moradia (prestação de financiamento, aluguel, taxa de condomínio), educação, alimentação (supermercado e refeições fora de casa), serviços públicos essenciais (água e energia), telefone (fixo e móvel), contratação de planos de internet e TV por assinatura, transporte (pessoal, público e privado), saúde (contratação de planos e compra de medicamentos), compras (roupas, calçados e higiene pessoal), lazer (viagens e entretenimento) e aquisição de novos bens de consumo. Quando as famílias não acompanham a destinação dos seus recursos financeiros e não planejam seus orçamentos, origina-se o endividamento familiar.

De acordo com Santos (2014), o endividamento familiar é muitas vezes potencializado com o uso do cartão de crédito, que provoca dissonância cognitiva entre os consumidores, já que eles não pagam a parcela do dinheiro à vista, em espécie, mas sim a fatura quando esta chega durante o mês. Existe ainda a possibilidade de as famílias ou consumidores pagarem o mínimo estabelecido pela operadora de cartão de crédito, a fim de assumirem gastos com outras necessidades, o que leva a um endividamento familiar ainda maior. Outro fator para o endividamento familiar é a inexistência de uma conta de reserva para emergências e imprevistos, a maior parte das famílias não possuem este hábito, daí quando aparece qualquer eventualidade a primeira saída é o cartão de crédito, tornando-se assim um meio vicioso e muito difícil de controlar. Além disso, outro ponto de endividamento é uma realidade vivida por algumas famílias brasileiras, que buscam um estilo de vida que não se adéqua à realidade financeira vivida no momento, ou seja, recebem um salário inferior à sua média de consumo.

Segundo Macedo (2007), o planejamento financeiro independe da renda do indivíduo, sendo este o procedimento adotado para gerenciar seu dinheiro com o intuito de atingir a satisfação pessoal, o que confere condições ao sujeito para controlar a situação financeira a fim de atender necessidades e alcançar objetivos no decorrer da vida. Para começar a aprender a lidar melhor com o seu dinheiro e realizar seus projetos de vida, é preciso saldar dívidas e ter um planejamento financeiro, fazendo valer a divisão entre despesas emergências e projetos futuros, tendo controle com gastos e se programando para reservar parte dos seus rendimentos para investir no futuro e, principalmente, não gastar mais do que se ganha.

Questões de aprendizagem

A seguir serão detalhadas as questões de análise de situações-problema relativas aos conceitos principais supracitados sobre Educação Financeira:

  • Análise de situação de economia: Maria foi ao mercado e verificou que o valor do café que ela usa está 30% a menos do que costuma pagar; perante a situação, Maria comprou dois pacotes, ao invés de um. O que Maria fez se caracteriza como? Justifique sua resposta.
  • Análise de situação de despesa: Paulo foi ao mercado e, ao invés de pagar sua conta com dinheiro, optou por pagar no cartão. Ao receber sua fatura, seu banco lhe fez uma proposta de pagar o valor mínimo da fatura que era equivalente a R$ 100,00, Paulo aceitou. No mês seguinte ao abrir sua fatura, Paulo se assustou, pois o valor total da dívida ficou maior do que era o valor inicial. Nessa situação o que ocorreu? Justifique sua resposta.
  • Análise de situação de endividamento familiar: Analise a situação: uma família é composta por três pessoas, elas trabalham e juntas ganham R$ 3.500. Jonas é o pai e gastou em seu cartão de crédito R$ 1.100, Magali é a mãe e ao somar as despesas da casa chegou ao valor de R$ 2.000, Eduarda, a filha do casal, teve gasto de R$ 1.000. O que ocorreu na situação? Justifique sua resposta.
  • Análise de situação de juros: Enrique aplicou a quantia de R$ 400,00 em um fundo de investimentos, após seis meses verificou que o valor era de R$ 460,00. O que ocorreu? Justifique sua resposta.
  • Análise de situação de investimento: Alice possui casa própria, mas recebeu uma oferta de seu amigo corretor, ele lhe ofereceu um terreno que possui grande especulação de valorização, ela aceitou e pagou por esse bem a quantia de R$ 20.000. Passados alguns anos o terreno sofreu grande valorização, chegando a uma oferta de R$ 80.000. O que ocorreu na situação?  Justifique sua resposta.

Considerações finais

Desta forma, este produto educacional visa enfatizar a importância da inclusão da temática Educação Financeira nos currículos escolares, com o intuito de despertar o interesse dos estudantes para a as questões monetárias, contribuindo para o desenvolvimento de conceitos de valores e conscientização de suas escolhas, assim como identificar estratégias e fazer escolhas mais assertivas para sua vida e, consequentemente, obter um melhor equilíbrio financeiro em sua vida pessoal e familiar.

Referências

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF). Educação Financeira. 2020. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/educacao-financeira/aulas/Paginas/default.aspx . Acesso em: 19 jul. 2020.

CARVALHO, Marília, Gomes.  Endividamento das famílias no Brasil: aspectos econômicos e financeiros. Faculdade das Atividades Empresariais de Teresina, 2016.

CUNHA, M. P. O mercado financeiro chega à sala de aula:  Educação Financeira como política pública no Brasil. Educação & Sociedade, 2020.

MACEDO Jurandir Sell. A árvore do dinheiro: guia para cultivar sua independência financeira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

SANTOS, Adila Carla. Importância do planejamento financeiro no processo de controle do endividamento familiar: um estudo de caso nas Regiões Metropolitanas da Bahia e Sergipe. Revista Formadores: Vivências e Estudos, Cachoeira, v. 7, nº 1, p. 05-17, junho 2014.

Publicado em 27 de julho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

MACHADO, Eduardo Jabbur. Proposta de produto educacional como estratégia de ensino para a melhoria do aprendizado de estudantes de escolas públicas para a Educação Financeira. Revista Educação Pública, v. 21, nº 28, 27 de julho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/28/proposta-de-produto-educacional-como-estrategia-de-ensino-para-a-melhoria-do-aprendizado-de-estudantes-de-escolas-publicas-para-a-educacao-financeira

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