Análise crítica da proposta curricular para o 6º ano do Ensino Fundamental do Estado do Rio de Janeiro

João Pedro Pires Thurler

Graduando em Geografia (UERJ/Cederj)

Em busca de um aprimoramento do ensino nas escolas, o Currículo Mínimo foi estabelecido buscando uma maior homogeneização do ensino em todas as unidades educacionais do estado. Essa proposta trouxe consigo algumas polêmicas em relação ao seu conteúdo e a forma com que o mesmo foi inserido em meio a todo o processo de ensino-aprendizagem.

Sua finalidade é orientar, de forma clara e objetiva, os itens que não podem faltar no processo de ensino-aprendizagem, em cada disciplina, ano de escolaridade e bimestre. Com isso, pode-se garantir uma essência básica comum a todos e que esteja alinhada com as atuais necessidades de ensino, identificadas não apenas nas legislações vigentes, Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais, mas também nas matrizes de referência dos principais exames nacionais e estaduais (Seeduc/RJ, 2012).

Um dos grandes problemas encontrados é justamente trabalhar os conteúdos mirando apenas resultados nos exames que buscam mensurar a qualidade do ensino oferecido no estado, o que prejudica um aprendizado mais amplo e empobrece a experiência dos alunos em sala de aula.

Por esse motivo, torna-se fundamental uma análise que busque trazer à luz questões que poderiam ser revistas e modificadas, maximizando a qualidade do ensino, sem que tenhamos que nos preocupar apenas com o papel muitas vezes engessado que é proposto aos professores, já que é necessário seguir o currículo pré-determinado pela Secretaria de Educação.

O Estado e o Currículo Mínimo

Ao analisarmos o Currículo Mínimo, é preciso ter em mente as propostas apresentadas em busca de desenvolver a qualidade do ensino e deve ser feita da forma mais ampla possível, englobando não só as concepções e ideias de alguns docentes que irão realizar e desenvolver esse processo, mas também abrir um debate com o objetivo de que outros setores ligados à educação também estejam envolvidos.

É inegável que a adoção do Currículo Mínimo feita pelo Estado do Rio de Janeiro tem como objetivo atender de forma mais completa aos interesses dos professores e também dos alunos na construção e desenvolvimento de um saber que seja direcionado ao desenvolvimento dos mesmos, levando o currículo mínimo a todas as escolas do estado. Infelizmente, mais do que a preocupação com a qualidade do ensino, o que vemos é uma preocupação ainda maior em relação aos resultados nacionais obtidos por meio de exames que buscam avaliar a qualidade do ensino nos demais estados do país.

Dessa forma, a qualidade do ensino é reduzida a números, o que pode ser encarado apenas como uma forma de fazer com que a real avaliação e nível de ensino sejam maquiados graças a essa iniciativa, já que uma prova não tem a capacidade de definir o nível de aprendizado dos alunos, mas sim todo o contexto em que eles estão inseridos no dia a dia.

Infelizmente, o que vemos é a continuação do foco apenas no conteúdo, como abordado por Farias (2014, p. 91), algo que deveria ter sido modificado no início de todas as mudanças que se desencadearam posteriormente, já que esse é um dos problemas principais e que se manteve.

Foi possível observar essa preocupação com o conteúdo a ser trabalhado no período em que tive a oportunidade de estagiar. Muitas vezes, os professores gostariam de abordar determinado assunto, mas falta tempo para que seja possível trabalhar os itens que constam no currículo mínimo e mais algum material extra, fazendo com que aspectos importantes que poderiam ser melhores trabalhados fiquem pelo caminho, sem um devido aprofundamento.

Currículo Mínimo e transposição didática

O Ensino Fundamental é extremamente importante para o desenvolvimento dos alunos, já que é um momento onde os mesmos construirão uma base para os anos posteriores, com conceitos que serão levados para o resto de suas vidas.

O Currículo Mínimo do 6º ano atende aos requisitos de iniciação aos conceitos geográficos básicos. O que poderia ser mais detalhado são as formas com que esses conceitos serão trabalhados, de acordo com a necessidade e possibilidade de cada escola, como, por exemplo, trabalho de campo na abordagem de conceitos como lugar, território, entre outros inerentes à ciência geográfica, além de reconhecerem na própria cidade aspectos relacionados ao meio ambiente e as modificações realizadas pelo homem no espaço urbano de forma mais intensa realizando esse tipo de atividade de forma presencial.

Um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber a ensinar, sofre, apartir de então, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto aocupar um lugar entre os objetos de ensino. O ‘trabalho’ que faz de um objeto de saber a ensinar, um objeto de ensino, é chamado de transposição didática (Chevallard, 1991, p. 39).

Seguindo essa linha, cabe ao professor o papel de realizar a transposição didática da forma com que achar mais conveniente e que atraia o interesse dos alunos em relação ao que está sendo trabalhado. O conteúdo presente no currículo mínimo deverá ser seguido conforme as recomendações da secretaria de educação, mas o papel do professor continua sendo fundamental para que a transposição didática ocorra de forma satisfatória para todos os envolvidos nesse processo.

Proposta de atividade – um exemplo

Os alunos deverão entrar no aplicativo Google Earth e localizar a cidade onde se encontram. Em seguida, deverão abrir a aba de tempo que mostra o antes e depois de alguns bairros da cidade e relatar as mudanças ocorridas nos bairros escolhidos.

Considerações finais

Apesar dos esforços feitos na adoção de medidas que possam fazer com que a qualidade do ensino em suas escolas evolua de forma satisfatória, melhorando o rendimento do estado em nível nacional, é perceptível alguns efeitos adversos que não devem ser descartados, como um consequente engessamento no papel do professor em sala de aula, algo que precisa ser estruturado para que se atinja um nível onde o professor tenha mais liberdade também em relação ao conteúdo exposto.

Entretanto, não podemos negar fatores extremamente positivos provocados por essa iniciativa, como a padronização do conteúdo a ser seguido pelos professores de todas as escolas, fazendo com que os alunos tenham o mesmo conteúdo em diferentes realidades.

Referências

CHEVALLARD, Yves. La transpostion didactique: Du savoirs avant au savoir enseigné. Grenoble: La Pensée Sauvage, 1991.

FARIAS, Saulo Cezar Guimarães. Currículo e ensino de Geografia no Estado do Rio de Janeiro. Caderno de Geografia, Rio de Janeiro, v. 24, nº 41, 2014.

RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Educação (Seeduc/RJ). Currículo Mínimo. Rio de Janeiro, 2012.

Publicado em 03 de agosto de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

THURLER, João Pedro Pires. Análise crítica da proposta curricular para o 6º ano do Ensino Fundamental do Estado do Rio de Janeiro. Revista Educação Pública, v. 21, nº 29, 3 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/29/analise-critica-da-proposta-curricular-para-o-6-ano-do-ensino-fundamental-do-estado-do-rio-de-janeiro

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