Ensino remoto no Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães, em Ibipeba/BA, em tempos de pandemia: percepções e desafios dos discentes

Marcos Vinicius Almeida Conceição

Professor da rede estadual da Bahia, pós-graduando em Docência (IFMG – Câmpus Arcos)

Marcela de Melo Fernandes

Professora (IFMG – Câmpus Arcos), mestra em Educação, Cultura e Organizações Sociais (Funedi/UEMG)

No começo de 2020, as escolas brasileiras se preparavam para iniciar mais um ano letivo. Mas os rumos da normalidade estavam comprometidos diante de uma ameaça global, a Covid-19, uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. A rede estadual da Bahia, em especial, estava vibrante com os projetos que seriam desenvolvidos em comemoração ao centenário de Anísio Teixeira, o educador que inventou o ensino público no Brasil. Entretanto, toda a comemoração programada nas escolas teria que ser abortada. A ascensão da pandemia que fez o mundo parar trouxe consigo várias restrições, tais como: lavar periodicamente as mãos, uso obrigatório de máscara e principalmente o distanciamento social (Brasil, 2020).

Com base nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, o Governo do Estado da Bahia, assim como o município de Ibipeba, pelo Decreto Estadual nº 19.529, de 16 de março de 2020 (Bahia, 2020), estabeleceu várias restrições para conter a disseminação do novo coronavírus. Entre as restrições do decreto estava o fechamento de todas as unidades escolares, públicas ou privadas, fazendo com que milhares de estudantes ficassem sem aula presencial, recorrendo, assim, ao ensino remoto emergencial (ERE). Esse foi o ponto de partida desta pesquisa, que buscou responder: quais são as percepções e implicações do ERE na vida do/a estudante do Colégio Estadual ACM, localizado em Ibipeba/BA?

Mesmo sem qualquer posicionamento oficial da Secretaria Estadual de Educação da Bahia referente ao ensino remoto no ano de 2020, a coordenação, a gestão e o corpo docente do Colégio ACM concordou que parar as atividades acadêmicas afetaria drasticamente o processo de ensino-aprendizagem dos seus estudantes, estabelecendo assim a aprovação do ERE. Apesar de o empenho dos profissionais ser extremo, eles encontraram uma série de dificuldades relatadas nas suas vivências – que vão desde a falta de formação em cursos de recursos tecnológicos educacionais até a falta de entrega das atividades por parte de muitos alunos, conforme relatado pelos docentes em reuniões.

Por outro lado, a pesquisa aponta o dilema das desigualdades dos estudantes em relação ao acesso à internet, dificuldades de aprendizagem e no manuseio de tecnologias como apostilas online, elaboração de atividades em processadores de textos e anexação de arquivo em e-mail, dentre outras questões. Mesmo que o acesso à internet no Brasil tenha se expandido significativamente nos últimos anos, a distribuição desse serviço ainda é bastante desigual no que tange principalmente à localização geográfica e à renda da população (Santos; Silveira, 2001). Esses dilemas apresentados, quase sem apoio nas esferas federal, estadual e municipal, que pouco se preocuparam em planejar políticas sólidas voltadas para o ensino continuado, desencadearam um leque de desafios para estudantes e professores, em especial para as escolas públicas, que decidiram dar continuidade aos trabalhos acadêmicos, a exemplo do Colégio ACM.

O coronavírus no contexto escolar

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o coronavírus é uma ampla família de vírus que pode causar uma variedade de complicações patológicas – desde um simples resfriado até uma síndrome respiratória aguda. Devido à alta facilidade de transmissão, cientistas de todo o mundo recomendaram o distanciamento e o isolamento social, orientando para a abertura somente de serviços essenciais (Filho et al., 2020).

No Brasil, a crise sanitária no contexto educacional provocou uma série de inquietações entre especialistas da área de Educação, professores, estudantes e gestores escolares. Ressalta-se, de acordo com o Instituto Ayrton Senna (2020), que, com o alastramento do coronavírus pelo mundo, cerca de 1,5 bilhão de estudantes foram afastados do ambiente escolar. E a emergência de implantar um sistema de ensino remoto no Brasil trouxe consigo uma série de dilemas. A Rede de Políticas Públicas para a Sociedade (2020), em seu vigésimo segundo boletim, revela que a ascensão do coronavírus reforçou as desigualdades educacionais entre pobres e ricos. O principal motivo, segundo o boletim, está relacionado ao não acesso às tecnologias, à rede de internet e à falta de políticas públicas efetivas que minimizem essas desigualdades (Boletim Rede de Políticas Públicas e Sociedade, 2020).

O Decreto nº 19.529 (Bahia, 2020), que proíbe aulas presenciais em todo o território baiano, foi revalidado durante todo ano de 2020. Apesar do Decreto, o Conselho Estadual de Educação (CEE) aprovou o parecer nº 27/20, que regulamentou o ensino remoto de 742 escolas da rede privada e de algumas escolas públicas das redes municipais baianas (Bahia, 2020). No entanto, a Secretaria Estadual de Educação, considerando as desigualdades relacionadas ao acesso à internet e às tecnologias, preferiu não aderir ao modelo de ensino de forma obrigatório. Diante disso, cada escola da rede estadual ficou de decidir se aderia ao ensino remoto de forma voluntária. A Secretaria de Educação ainda disponibilizou diversos roteiros de estudos na internet e um canal de televisão com aulas focadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Bahia, 2020).

Ensino remoto

Apesar da grande repercussão na atualidade, o ensino de forma não presencial no Brasil não é novidade. O primeiro registro desse modelo de ensino data do final do século XIX, quando já se aprendiam técnicas de manejo e de plantio por correspondência (Costa; Faria, 2008). Posteriormente, no século XX, com o surgimento de novas tecnologias, o ensino não presencial passou a ser realizado por meio de materiais impressos, rádio, televisão e, recentemente, por dispositivos tecnológicos via internet.

A professora Patrícia Alejandra Behar, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em seu artigo divulgado no jornal da UFRGS, alerta para a diferença entre Educação a Distância e ensino remoto:

O ensino remoto emergencial e a Educação a Distância não podem ser compreendidos como sinônimos, por isso é muito importante, no contexto que estamos vivendo, clarificar esses conceitos. O termo “remoto” significa distante no espaço e se refere a um distanciamento geográfico. O ensino é considerado remoto porque os professores e alunos estão impedidos por decreto de frequentar instituições educacionais para evitar a disseminação do vírus. É emergencial porque do dia para noite o planejamento pedagógico para o ano letivo de 2020 teve que ser engavetado (Behar, 2020).

Desde então, entende-se que o ensino remoto surgiu da necessidade emergencial da escola de não interromper o processo contínuo de ensino-aprendizagem do corpo discente, perante a pandemia da covid-19. Geralmente, as aulas ou atividades remotas ocorrem seguindo os princípios das aulas presenciais.

A revolução técnico-científica, segundo Santos (2003), favoreceu que a população mundial tivesse acesso a diversos meios de comunicação, como televisores, smartphones, tablets e computadores, entre outros dispositivos. Essas ferramentas foram fundamentais para o funcionamento da educação remota. Entretanto, o ensino remoto traz consigo um leque de dilemas que devem ser pautados. A professora Elmara Pereira de Souza explana alguns desafios que devem ser enfrentados pelo ensino remoto:

Apesar de as TIC já fazerem parte, direta ou indiretamente, da rotina das escolas e da realidade de muitos professores e estudantes, a utilização delas no período de pandemia, para substituir os encontros presenciais, tem encontrado vários desafios, entre eles a infraestrutura das casas de professores e estudantes; as tecnologias utilizadas; a formação dos professores para planejar e executar atividades online (Souza, 2020, p. 113).

Os problemas listados pela professora fazem parte do cotidiano de diversos alunos e profissionais da Educação. De acordo com o nº 22 do Boletim Rede de Políticas Públicas para a Sociedade, no Brasil não houve políticas públicas eficientes vindas do Governo Federal que efetivassem o ensino remoto emergencial, fazendo com que diversos alunos ficassem sem acesso à educação.

Procedimentos do método

Para a realização deste trabalho, optou-se por uma pesquisa de observação direta extensiva, que se realiza, como técnica, por meio “do questionário, do formulário e de medidas de opinião” (Lakatos; Marconi, 2003, p. 201). Como já sugerem os objetivos, a pesquisa procurou revelar os desafios e percepções dos/as estudantes em relação ao cenário do ERE ofertado no Colégio Estadual ACM. É preciso destacar que o termo “ensino remoto emergencial” se refere aos diversos tipos de trabalhos realizados pelos professores e alunos. Sendo assim, o termo, além das aulas síncronas ou assíncronas, engloba: exercícios, pesquisas, provas, produção de pequenos vídeos e simulados, entre outros.

Os questionários foram elaborados na plataforma Google Forms e divulgados para serem respondidos nos grupos deWhatsApp de cada turma entre os meses de julho e agosto de 2020. Os estudantes sem acesso ao grupo de WhatsAppnão puderam participar da pesquisa, pois o principal meio de comunicação é justamente essa multiplataforma de mensagens.

Aplicação de questionários

A aplicação dos questionários para a coleta de dados foi realizada com alunos dos turnos matutino e vespertino, cursistas do Ensino Médio do Colégio Estadual ACM. De acordo com os dados do Sistema de Gestão Escolar divulgados pela direção da unidade de ensino, o Colégio possui 401 alunos/as matriculados/as em ambos os turnos. Desse total, 305 estavam inseridos/as nos grupos de WhatsAppdas suas turmas até a divulgação do questionário da pesquisa. O Quadro 1 revela a organização do questionário direcionada aos discentes, considerando o perfil e a repercussão das atividades remotas na vida deles.

Quadro 1: Organização do questionário

Perfil do/a estudante

Atividade remota na vida do/a estudante

  • Série que cursa no Ensino Médio;
  • Turno de aula;
  • Cor/etnia;
  • Gênero;
  • Local em que reside (zona urbana ou rural);
  • Trabalha ou realiza alguma atividade renumerada;
  • Renda familiar.
  • Frequência de realização das atividades remotas;
  • Motivos que o/a levaram à não realização das atividades remotas;
  • Motivos que o/a levaram a realizar as atividades remotas;
  • Percepção em relação ao método de ensino aplicado pelo professor no ensino remoto;
  • Percepção em relação à qualidade das atividades remotas em comparação com as do ensino presencial.

A resposta aos questionários contabilizou uma amostragem de 37,4% (113 respondentes), o que supera a média mínima de 25% de devolução (Lakatos; Marconi, 2003).

Resultados e discussão

Em atendimento aos objetivos da pesquisa, buscou-se analisar o perfil dos alunos e entender a percepção e os principais desafios encontrados por eles em relação ao ensino remoto emergencial no Colégio ACM.

Diante dos dados, constata-se que o perfil dos estudantes do Colégio ACM é bem diverso, o que faz com que o ERE seja tão desafiador. Como já discorrido, a pesquisa contou com a participação das três séries do Ensino Médio: primeiro ano (38,1%); segundo ano (37,2%) e terceiro ano (24,8%). Em relação ao turno de estudo, 56,6% dos/as respondentes pertencem ao turno matutino e 43,4% ao turno vespertino. Dos/as entrevistados/as, 70,8% são do sexo feminino e 29,2% do sexo masculino.

Os dados ainda apresentaram considerável percentual de estudantes negros (pretos e pardos), somando 70,8%, e um pequeno número de indígenas (2,7%). É sabido que os grupos citados têm direitos básicos como saúde, educação, moradia, emprego e renda historicamente negados (Henriques, 2001) e, com o advento e a expansão da pandemia, esse processo foi intensificado (Ferreira, 2020). O percentual de estudantes que se declararam brancos foi de 26,5%.

Em relação ao local de moradia, 63,7% residem na zona urbana e 36,3% na zona rural – em vilas, povoados ou lugarejos pertencentes aos distritos que compõem o município de Ibipeba. A localização geográfica de residência desses estudantes revelou que nem sempre é possível a informação chegar a todos os lugares, pois, segundo Santos e Silveira (2001), a péssima distribuição do serviço e do acesso à internet ainda é uma realidade brasileira. Assim, em pequenos municípios como Ibipeba e nas suas localidades rurais há dificuldade ao acesso à internet – seja pela falta de serviço ou pelo alto custo aos usuários –, o que gera diversas formas de desigualdades sociais. Nesse sentido, constatou-se que muitos estudantes do Colégio ACM não tiveram como realizar as atividades remotas pela falta da rede. Durante as atividades, ainda houve relatos de estudantes da zona rural mencionando dificuldades de acesso à internet por conta do mau sinal. As atividades impressas, infelizmente, ficaram inviáveis de ser realizadas por causa da distância entre essas localidades, pela dificuldade de transporte e das péssimas condições das estradas.

Pela renda mensal dos estudantes e seus familiares, é possível constatar que a classe social do público do Colégio ACM é de baixa renda. O maior contingente corresponde ao grupo que recebe menos de um salário mínimo (SM) ou que está desempregado (39,8%); 34,5% assinalaram que ganham 1 SM; 22,2% entre 1,5 e 2 SM; e somente 3,5% responderam que têm renda acima de 2 SM (Figura 1). Diante disso, é possível constatar que a pandemia, além de abalar a educação e a saúde dos alunos, provocou outras crises preocupantes, como o aumento significativo do desemprego ou de subempregos – o que reflete a mesma situação em nível nacional. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o terceiro trimestre do ano de 2020 fechou com a dramática taxa de 14,3% de desocupação no país.

Figura 1: Renda mensal dos/as estudantes e seus familiares

Fonte: Dados da Pesquisa (2020).

Esse contexto pode ser relacionado ao número significativo de alunos respondentes que exercem algum tipo de atividade renumerada (34,5%), embora a maioria (65,5%) não exerça. As dificuldades financeiras levam o estudante a ter que conciliar o estudo com um trabalho para ajudar no pagamento das despesas da família. As principais consequências desse efeito são a evasão e o baixo desempenho escolares (Silva; Araújo, 2017).

Atividade remota na vida do/a estudante

O “novo normal” passou fazer parte do cotidiano da sociedade e se fez também presente na vida escolar do/a estudante; apesar das dificuldades encontradas no ERE, a participação foi significativa, pois o projeto contou com o engajamento da direção, da coordenação pedagógica, do corpo docente e dos líderes de classe. Como aponta a Figura 2, 20% dos alunos que estavam nos grupos de WhatsApp não realizaram nenhum tipo de atividade remota. Em contrapartida, 26% realizaram todas as atividades e 54% realizaram as atividades parcialmente.

Figura 2: Participação das atividades remotas no Colégio ACM

Fonte: Dados da Pesquisa (2020).

O número elevado de alunos que realizaram as atividades remotas de forma parcial é compreensível e justificável, visto que são alunos de escola pública, de baixa renda, e alguns precisam trabalhar para ajudar no sustento da casa – além de contar com problemas de acesso à internet, caso tenham acesso. Ou seja, uma série de situações que pode influenciar no seu processo de aprendizado. Outro ponto importante é que as atividades não possuem caráter avaliativo, pois não houve regulamentação da Secretaria de Educação que fomentasse esse feito.

Os estudantes que realizaram de forma parcial ou não realizaram as atividades tiveram motivos variados. A Figura 3 aponta os principais motivos para o impedimento da realização das atividades.

Figura 3: Principais motivos para o impedimento da realização das atividades remotas no Colégio ACM (valores absolutos)

Fonte: Dados da Pesquisa (2020).

Os valores mais citados pelos respondentes, no que remete à realização das atividades remotas, se refletem na dificuldade de responder às atividades; na falta de interesse; no psicológico afetado por conta da pandemia e na falta de tempo em função de trabalho. Os motivos para o impedimento da realização das atividades não assinalados pelos estudantes foram: falta de incentivo da família e falta de equipamentos eletrônicos, como computadores e celulares; as atividades em excesso e o acesso à internet pouco foram assinalados.

A dificuldade de responder às atividades na modalidade remota é uma variante preocupante, já que influencia diretamente no processo de aprendizado do/a estudante. Duas principais causas podem explicar esse fenômeno: a dificuldade de aprendizagem dos próprios conteúdos, que pode se intensificar no modelo remoto; e o manuseio de ferramentas digitais, a exemplo de arquivos em PDF, do Word, do Google Classroom e do Google Forms.

O tipo de metodologia aplicada pelo professor direcionada ao ensino remoto também foi avaliado pelo corpo discente. Dos respondentes, 63% consideraram que as metodologias aplicadas condizem com a realidade do aluno no contexto da pandemia. Apesar de a maioria considerar que a metodologia está adequada ao ensino remoto, nesse contexto grande parte dos discentes acredita que a qualidade das aulas diminuiu em relação ao ensino presencial, como aponta a Figura 4.

Figura 4: Qualidade das aulas remotas em relação à presencial no Colégio ACM

Fonte: dados da Pesquisa (2020).

Por fim, foi consultada a percepção dos estudantes sobre o desempenho acadêmico em relação às atividades desenvolvidas durante o ensino remoto. Como pode ser verificado na Figura 5, mais da metade dos alunos consultados se sentem inseguros, já que 55% consideram seu desempenho regular. Outro ponto delicado refere-se ao fato de que 25% consideram seu desempenho ruim, sendo que somente 2% avaliam seu desempenho como excelente.

Figura 5: Autoavaliação do desempenho dos discentes em relação ao ERE no Colégio ACM

Fonte: Dados da Pesquisa (2020).

A última pergunta da pesquisa, de caráter opcional, deixou um campo em branco para que o/a estudante pudesse colocar a primeira palavra que remetesse aos desafios encontrados no ensino remoto. As palavras citadas estão explicitadas na Figura 6.

Figura 6: Palavras citadas em relação aos desafios encontrados no ensino remoto (em números)

Fonte: Dados da Pesquisa (2020).

Como aponta o gráfico, a palavra mais citada foi “Dificuldade”, seguida de “Acessibilidade”, “Sobrecarga”, “Interesse” e “Ansiedade”. As palavras menos citadas foram: “Desinteresse”, “Paciência” e “Medo”.

Considerações finais

A pandemia do novo coronavírus expôs as desigualdades do Brasil de forma jamais vista. No sistema educacional brasileiro, essas desigualdades são avassaladoras e suas consequências se perpetuarão por diversos anos – haja vista que os estudantes mais pobres nunca tiveram acesso eficiente à educação por falta de políticas públicas em nível federal, estadual e municipal, elas que deveriam garantir o direito constitucional à educação.

Na Bahia, consideramos que houve poucos esforços do governo estadual. Os planos de estudos e vídeos disponíveis na internet, que, segundo a Secretaria Estadual de Educação, “visa[m] contribuir para manter o engajamento dos estudantes e estimular a adoção de rotinas de estudo durante o período de isolamento social”, não contemplam um considerável grupo da população escolar. Como visto no texto, pesquisas apontam que uma parcela relevante dessa comunidade não possui rede de internet nem dispositivos eletrônicos para realização dos seus estudos. Os esforços de algumas escolas estaduais, a exemplo do Colégio Antônio Carlos Magalhães, é um mérito de gestores escolares, professores, coordenadores e principalmente dos alunos, que enfrentam diversas dificuldades listadas ao longo da realização dessas atividades, já que houve pouco apoio da Secretaria Estadual de Educação no decorrer do ano de 2020.

Com esta pesquisa pode-se perceber o quanto é desafiador estudar em tempos de pandemia. Muitos estudantes não responderam à pesquisa por não terem acesso de qualidade à internet. Apesar de o acesso à internet e os dispositivos eletrônicos serem importantes, outros desafios pesam na vida do estudante em relação ao ensino remoto. O contexto psicossocial em uma escola de alunos cuja renda familiar é baixa ou de alunos que precisam trabalhar para manter a renda da casa deve ser considerado. Os pontos apresentados pelos discentes como problemas psicológicos (ansiedade, medo), dificuldades de responder às atividades por causa do aprendizado e de utilizar ferramentas digitais, são questões emblemáticas reveladas nesta pesquisa. A falta de interesse, que também foi bastante citada, é um desafio para os/as professores/as, que devem buscar metodologias mais atrativas para esse modelo de ensino. Mas é preciso que a gestão pública também invista em cursos de capacitação para a execução desse modelo de ensino e disponibilize recursos didático-pedagógicos e tecnológicos para todo o corpo docente.

A pesquisa realizada no Colégio ACM é a ponta do iceberg, porém reflete o sistema educacional brasileiro, que agoniza no cenário da pandemia.

Referências

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Publicado em 24 de agosto de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

CONCEIÇÃO, Marcos Vinícius Almeida; FERNANDES, Marcela de Melo. Ensino remoto no Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães, em Ibipeba/BA, em tempos de pandemia: percepções e desafios dos discentes. Revista Educação Pública, v. 21, nº 32, 24 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/32/ensino-remoto-no-colegio-estadual-antonio-carlos-magalhaes-em-ibipebaba-em-tempos-de-pandemia-percepcoes-e-desafios-dos-discentes

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