Produção científica do ensino de Geografia no Brasil pela análise dos periódicos

Dimitri Andrey Scarinci

Pós-graduando em Docência com ênfase em Educação Básica (IFMG – Câmpus Arcos), licenciado em Geografia (UERJ)

Jardel Correia da Silva

Pós-graduando em Docência com ênfase em Educação Especial (IFMG – Câmpus Arcos), licenciado em Geografia (UFRJ)

Lílian Amaral de Carvalho

Professora doutora vinculada ao Curso de Especialização em Docência (IFMG – Câmpus Arcos)

Por muitas vezes, os cursos de licenciatura são relegados em segundo plano ao se comparar com os demais cursos universitários e, não raro, as discussões sobre as pesquisas acadêmicas desses cursos não alcançam as salas de aula dos licenciandos, o que impacta diretamente na formação dos professores de Geografia (Vesentini, 2015). Sob essa perspectiva, o desenvolvimento da subárea Ensino de Geografia é oriundo das disciplinas pedagógicas existentes nos currículos dos cursos de licenciatura e procura abordar reflexões sobre a prática docente.

Para muitos teóricos e educadores da Geografia, na contemporaneidade, o ensino dessa disciplina enfrenta o grande desafio de construir sua reflexão num mundo globalizado, onde o espaço geográfico precisa ser entendido numa perspectiva de complexidade que, segundo Straforini (2008), pode ser entendido como “sistêmico, desigual e combinado”. Tem sido cada vez mais discutida a necessidade de reformular a disciplina para além dos conteúdos descritivos e de forma contextualizada com a realidade da sociedade para o fortalecimento desse campo, que tem sofrido críticas desde o final dos anos 70, especialmente na formulação dos currículos conectados a realidade socioespacial (Kaercher, 2015).

O pensar e reformular o currículo escolar de Geografia, segundo Santana e Bispo (2015), é marcado por contradições e conflitos econômicos, culturais, políticos e ideológicos que levam à compreensão do próprio currículo como produto da seleção de conhecimentos e saberes que advém desses conflitos e das relações de dominação social. O currículo se manifesta tanto nos documentos oficiais quanto nas ações dos professores no cotidiano escolar, ações estas que, de acordo com Sacramento (2017), levam o professor a utilizar suas concepções geográficas, suas concepções didáticas e suas próprias impressões para orientar o conhecimento.

Este trabalho tem como objetivo analisar a distribuição dos periódicos dedicados ao ensino de Geografia, tanto espacialmente quanto temporalmente. Na escala espacial, estão compreendidas as localizações das universidades, institutos e colégios nos quais os periódicos estão localizados pelas regiões do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Na escala temporal ao longo do tempo de existência dessas publicações. A adoção da escala regional possibilita visualizar as disparidades e particularidades de cada região em um país com dimensões continentais, como é o caso do Brasil, além de reduzir a abordagem de 27 unidades federativas para cinco regiões classificadas pelo IBGE. Já no que diz a escala temporal, realizaram-se recortes temporais por períodos desde o primeiro periódico com seção específica até o final de 2020.

O primeiro objetivo específico procura identificar os periódicos sobre o ensino de Geografia ao longo do país. O segundo objetivo viabiliza esquematizar numericamente e por gráficos os periódicos e os artigos produzidos por estes. Ao ter conhecimento desse resultado, torna-se possível conhecer os principais polos de produção da área no país, como também as regiões em que essa produção não é tão expressiva, e transpor em resultados visuais e gráficos quais caminhos essa subárea pode vir a se fortalecer com o passar do tempo, o que pode ser utilizado, futuramente, para estabelecer relações com os cursos de licenciatura, disciplinas pedagógicas de Geografia e até fomentar linhas e grupos de pesquisa sobre o assunto, tanto na graduação quanto na pós-graduação.

A justificativa e, consequentemente, a relevância do presente trabalho, estão construídas ao servir como instrumento de conhecimento e divulgação da produção sobre ensino de Geografia, área tão importante a ponto de existirem periódicos dedicados completamente a esse campo ou com secções dedicadas em suas respectivas publicações. A divulgação dos resultados possibilitará o conhecimento e a reflexão do desenvolvimento dessa área, que procura abordar e melhorar a realidade prática do ensino de Geografia. Vale ressaltar que as publicações da área poderiam contribuir enormemente para os cursos de licenciatura em Geografia caso fossem amplamente discutidas na comunidade acadêmica, enriquecendo a formação dos professores (Vesentini, 2015).

Referencial teórico

O pioneirismo geográfico no Brasil foi iniciado pelas fundações do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro (SGRJ), em 1883 (Anselmo, 2015). Nesses ambientes, a Geografia praticada procurava modernizar seus métodos para corresponder às expansões e posteriores mudanças que o Brasil passaria no conturbado século XIX e os primeiros anos do século seguinte. O ambiente educacional e suas respectivas disciplinas buscavam atender a demanda em crescimento e, também, dialogar com as transformações na sociedade como resultantes da aceleração da urbanização e tamanho da população. A realidade era a de um país em que o acesso da educação não era universalizado, com atendimento prioritário das elites, e o que existia ainda carecia de estruturação e reformulação para formar e educar a sociedade.

O ensino de Geografia, ao longo da sua trajetória, confunde-se com a dualidade na qual Geografia é ensinada. Conforme Vesentini (2015), essa dualidade pode ser explicada pela diferenciação entre aquilo que é ensinado nas escolas e o descompasso com as diferentes abordagens acadêmicas que dão suporte à Geografia como ciência, principalmente nos cursos de licenciatura, como, por exemplo, as perspectivas das escolas germânicas e francesas. O início da Geografia, como disciplina, no Brasil, reflete esse descompasso pela sua adoção no Colégio Pedro II, no início do século XX, antes mesmo da existência de cursos superiores de Geografia no Brasil, conforme Anselmo (2015).

Esse autor afirma que a Geografia Brasileira se organizou em meio à necessidade de cursos de formação de professores, que tiveram Delgado de Carvalho e Backheuser como precursores no diálogo de modernização da sociedade brasileira e, ao mesmo passo, do sistema educacional. A criação dos cursos universitários, nos anos 30 do século XX, nas atuais Universidade de São Paulo e Universidade Federal do Rio de Janeiro, teve como base a escola francesa de Geografia, baseada na Geografia Regional (Anselmo, 2015).  Vale indicar que esses cursos desembocaram na discussão da criação do atual Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, pela procedência francesa, pouco se preocuparam na formação geográfica e espacial tanto dos alunos quanto da sociedade. A proximidade com a escola francesa encontrou suporte no discurso de modernização e desenvolvimento da sociedade, porém houve um conflito entre a necessidade da formação de professores e a institucionalização universitária.

A crítica ao modelo de Geografia praticado no Brasil ganhou força em meio ao contexto vivido no país nos anos 1970 e 80, em que a existência de uma ciência fracionada não dialogava com a falta de sentido da Geografia não corresponder à realidade e aos desafios, em diferentes escalas, que eram impostos a essa disciplina. Acrescenta-se o achatamento da disciplina, ao ser juntada com a História para compor os chamados Estudos Sociais, além da expansão universitária e precarização da formação docente, conforme averiguado por Vesentini (2015). Desse contexto, surge o movimento de discussão e reformulação para que a Geografia retornasse a ser uma disciplina contextualizada e independente da História, que abordasse temáticas pertinentes à sociedade e não mais a execução e a aprendizagem mecanizada dos aspectos físicos e políticos do país (Vesentini, 2015; Kaercher, 2015).

O Ensino de Geografia, como tema de pesquisa, é importante, pois tem por objetivo refletir os desafios na prática docente e reverter a expressão de disciplina desconectada da realidade em meio aos avanços do meio técnico-científico-informacional em que a sociedade está inserida. Vesentini (2009) assinala que o ensino da Geografia guarda em sua história e evolução no Brasil, assim como em outros países, forte cunho nacionalista, de criação de uma identidade nacional, de um sentimento de amor à pátria, de pertencimento a um território repleto de riquezas naturais e delimitado por uma sociedade que o demarca, por meio de sua entidade política, o Estado.

Neto e Barbosa (2010) afirmam que o ensino de Geografia deve permitir aos educandos uma análise crítica da realidade, pois estes devem se colocar de forma propositiva diante dos problemas enfrentados na família, na comunidade, no trabalho, na escola e nas instituições das quais participam, com o intuito de efetivamente tornar o aluno agente de mudanças desejáveis para a sociedade. Entretanto, o professor que está atuando no ensino básico, muitas vezes, fica à margem dessa busca pela inovação do ensino por causa de barreiras, como a falta de oportunidades de discussão da área durante a sua formação inicial, o que gera a falta de conhecimento, a falta de recursos, e a falta de oportunidade de realização de cursos de formação extras, como pós-graduações ou cursos de aperfeiçoamento, o que acentua as desigualdades socioeconômicas e espaciais existentes (Kaercher, 2015). Mendes e Scabello (2015) afirmam que, no caso do ensino de Geografia, pode-se dizer que hoje em dia ainda é muito comum a adoção da abordagem tradicional, pautada na utilização frequente do método expositivo e da transmissão de conteúdos pelo professor.

A abordagem proposta sobre o ensino de Geografia, e consequentemente, os resultados a serem apresentados nesta presente discussão, tanto pelo viés da regionalização onde estão localizados periódicos científicos sobre o assunto quanto pela evolução do número de artigos e periódicos organizados com essa temática, também servem de parâmetro para localizar quais cursos de licenciatura, departamentos, programas de pós-graduação, grupos de pesquisa ou outros arranjos institucionais ou coletivos possuem periódicos específicos para divulgar a produção desse campo de estudo da Geografia. A divulgação desses dados serve como diagnóstico e para conhecimento sobre a produção sobre o ensino de Geografia no país.

Metodologia

Foi feita uma pesquisa bibliográfica quantitativa, onde se buscou analisar os periódicos específicos ou com seções específicas sobre ensino de Geografia, avaliando a localização geográfica desses periódicos e a quantidade de publicações de cada um, por período. A metodologia foi dividida em três etapas: seleção dos periódicos, catalogação dos artigos destas publicações e análise dos dados. A primeira etapa constituiu-se da seleção dos periódicos específicos sobre ensino de Geografia, disponibilizados na Plataforma Sucupira. Essa etapa procurou revistas no estrato Geografia e Ensino com foco em publicações que tinham como objeto a temática abordada neste trabalho. A segunda etapa foi a computação dos artigos da área que foram publicados por cada periódico selecionado. A terceira etapa foi composta pela organização e análise dos dados.

Distribuição regional dos periódicos e publicações

Os resultados da busca no portal Sucupira mostraram 12 publicações disponibilizadas na plataforma Sucupira, sendo que 9 têm por objeto divulgar produções com o foco principal no ensino de Geografia e 3 têm seção dedicada ao assunto. O primeiro grupo é composto pelos periódicos Revista Amazônica sobre Ensino de Geografia (do Instituto Federal do Pará - IFPA), Revista Ensino de Geografia (da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE), Geoconexões (do Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN), Signos Geográficos ( do Núcleo de Ensino e Pesquisa de Geografia da Universidade Federal de Goiás - Nepeg/UFG), Revista Brasileira de Ensino em Geografia (da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp), Revista de Ensino de Geografia (da Universidade Federal de Uberlândia - UFU), Educação Geográfica em Foco (da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio), Giramundo (do Colégio Pedro II) e Pesquisar: Revista de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia (da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC). As publicações que compõem o segundo grupo são: Tamoios, (da Faculdade de Formação de Professores, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - FFP/UERJ), Geografia: Ensino e Pesquisa (da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM) e Geografia (da Universidade Estadual de Londrina - UEL). Na Figura 1, está mapeada regionalmente a espacialização desses periódicos.

Figura 1: Mapa da divisão regional dos periódicos

A Figura 1 evidencia a concentração dos periódicos nas Regiões Sudeste e Sul. A Região Sul foi pioneira na criação de seções de periódicos voltados para essa área, sendo seguida pela Região Sudeste. Essa discussão sobre o aspecto temporal dos periódicos será retomada adiante. Outro fator que colabora para a concentração no Sudeste é a situação do Rio de Janeiro, que concentra três periódicos e destoa dos outros estados. Além disso, a Figura 1 torna perceptível a ausência de periódicos específicos ou com seções específicas da área na maior parte dos estados da Federação. A Figura 2 mostra, em termos numéricos, a relevância do Sudeste em relação às demais regiões do país.

Figura 2: Gráfico da distribuição regional dos periódicos

No que diz respeito à natureza das instituições em que publicam os periódicos, independentemente da concentração na região Sudeste, estas abrangem quatro grupos: Universidades federais; Institutos e colégios federais; Universidades estaduais; e Universidades privadas. O primeiro grupo compreende os periódicos: Revista de Ensino de Geografia (UFU), Geografia: Ensino e Pesquisa (UFSM), Pesquisar: Revistas de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia (UFSC), Revista Ensino de Geografia (UFPE) e Signos Geográficos (Nepeg/UFG). O segundo grupo é representado pela Revista Amazônica sobre Ensino de Geografia (IFPA), Geoconexões (IFRN) e Giramundo (Colégio Pedro II). Já o terceiro grupo contém a Revista Brasileira de Educação em Geografia (Unicamp), Geografia (UEL) e Tamoios (FFP/UERJ). Por fim, o quarto grupo tem como representante a Educação Geográfica em Foco (PUC-Rio). A Figura 3, mostrada a seguir, ilustra o percentual da produção de artigos em ensino de Geografia publicados entre 1980-2020 pelos periódicos analisados, sendo divididos pelo recorte regional.

Figura 3: Gráfico da divisão regional de artigos

Conforme os dados presentes na Figura 3, o levantamento do total de artigos encontrados nos periódicos pesquisados foi de 1.541. Desse resultado, pode-se interpretar que a concentração regional apresentada na Figura 2 também se reflete na concentração de artigos publicados. No caso da região Sudeste, essa concentração ocorre pelo alto número de publicações na Revista Brasileira de Educação em Geografia (Unicamp) com 272 artigos, Revista de Ensino de Geografia (UFU), com 196 artigos, e Giramundo (Colégio Pedro II), com 120 artigos. A Região Sul apresenta alto número de publicações, em boa parte pela revista Geografia: Ensino e Pesquisa (UFSM), com 495 artigos publicados na área, periódico com seção específica de ensino com número consistente de publicações, e pela revista Pesquisar: Revista de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia (UFSC), com 117 artigos. Na Região Nordeste, destaca-se a Revista Ensino de Geografia (UFPE), com 94 artigos; nas demais regiões – Norte e Centro-Oeste –, os números são referentes aos únicos periódicos existentes em cada uma.

Distribuição temporal dos periódicos e publicações

Para fins de viabilizar a interpretação dos dados levantados sobre o total dos artigos e os periódicos consultados, adotou-se a divisão por períodos de 10 ou 20 anos. Esse recorte temporal compreende desde a primeira publicação, nos anos 80 do século XX, até o final de 2020. As décadas de 1980 e 1990 foram aglutinadas em um único período de 20 anos devido à baixa produção durante este período. Com isso, a distribuição temporal compreende a divisão em três períodos, a fim de demonstrar os resultados ao longo do tempo observado. Já no que diz respeito ao recorte espacial, se manteve a divisão regional para fins de comparação.

As duas primeiras décadas apresentam a concentração dos periódicos e do número de artigos na região Sul, com os periódicos Geografia: Ensino e Pesquisa (UFSM) e Geografia (UEL), que não são específicos para o ensino de Geografia. Pode-se considerar o pioneirismo desses dois periódicos na divulgação científica sobre o assunto, mas em número reduzido de artigos se comparado às décadas seguintes. Esse movimento pode ser lido como ações iniciais para o fortalecimento das publicações da área, posteriormente. Nessa época, ainda não existia uma regularidade das publicações e nem a divulgação informatizada dos periódicos, que remetia as publicações em volumes físicos, o que restringia o acesso. Nesse período, o número de artigos publicados na área foi igual a 77.

Na década seguinte, o número de periódicos salta de dois para quatro, e o protagonismo passa a ser dividido. A região Sudeste passa a contar com os periódicos Tamoios (UERJ/FFP) e Revista de Ensino de Geografia (UFU). Esta última se configura como o primeiro periódico específico sobre ensino de Geografia e, nessa perspectiva, indica o fortalecimento da divulgação científica dessa área como consequência do movimento iniciado na década anterior pela Região Sul. Os outros três periódicos existentes até então tinham os artigos sobre ensino como seções dos demais publicados em suas edições, que tinham como principal escopo o conhecimento geográfico em geral e não discussões e pesquisas específicas sobre ensino. No tocante ao número de novos artigos, o número foi igual a 65, sendo que a Região Sul manteve a maior parte, com 43 artigos, enquanto a região Sudeste foi responsável por 23.

A última década representou a diversificação da produção pelas demais regiões do país, que antes não tinham periódicos voltados para o ensino de Geografia. Nessa década, há o incremento de 8 periódicos da área e a presença de todas as regiões brasileiras na divulgação científica sobre o tema, mas não de todos os estados, como observado na Figura 1. O protagonismo se altera para a Região Sudeste, com o surgimento dos periódicos: Revista Brasileira de Educação em Geografia (Unicamp), Giramundo (Colégio Pedro II) e Educação Geográfica em Foco (PUC-Rio), sendo os dois últimos do Rio de Janeiro, estado que passou a ter a maior concentração de periódicos na área. Destaca-se também a Região Nordeste, que passa a ser representada por dois periódicos. No número de artigos, o salto foi de 1.399 novas publicações como reflexo da expansão do número de periódicos. A seguir, nas Figuras 4 e 5, estão dispostos os gráficos que retratam essas informações. A maior produção nesse intervalo de tempo coincide com os desdobramentos das críticas à Geografia e à formação de professores, contexto reafirmado por Vesentini (2015) e Kaercher (2015), que destacam a importância da abordagem contextualizada e renovada da formação docente de Geografia.

Figura 4: Novos periódicos criados na década 2011 – 2020

Figura 5: Artigos publicados na década 2011 – 2020

Diagnóstico da produção científica sobre o ensino de Geografia

O diagnóstico da produção científica sobre o ensino de Geografia regionalmente e através do recorte temporal procurou demonstrar a evolução e o fortalecimento da divulgação científica desde o primeiro periódico criado até o final da década passada. Essa análise indicou que a reflexão e as pesquisas sobre o tema passaram a ganhar relevância dentro das discussões que norteiam a Geografia como ciência. Reflexões teóricas, relato de experiências, aplicação de políticas públicas, desenvolvimento de modelos questionamentos sobre a problematização do ensino de Geografia ao longo do tempo são algumas das frentes de trabalho que indicam a pluralidade dessa área, que tem por objetivo a evolução e aperfeiçoamento da prática docente para atender tanto necessidades locais quanto discussões gerais que podem envolver o país como um todo.  A Figura 6 mostra a evolução da criação de novos periódicos por período e por região.

Figura 6: Criação de periódicos exclusivos ou com seções exclusivas de ensino de Geografia, por período e região

Entre 1980 e 2010 apenas as regiões Sul e Sudeste tinham periódicos específicos ou com seções voltadas para o ensino de Geografia. Em segundo ponto, atenta-se para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que só apresentaram periódicos específicos sobre o tema na última década. Outro ponto interessante é sobre a natureza das instituições, com expressiva participação dos Institutos e Colégios Federais, com três periódicos, passando a dividir o protagonismo com as universidades de diferentes matrizes – federais, estaduais e privadas. No caso da região Norte, o único periódico presente é organizado por um instituto federal. Os desdobramentos da Figura 6 estão ilustrados na Figura 7, que apresenta o número de artigos publicados por região e por intervalo de tempo.

Figura 7: Gráfico do número de artigos por região

O número de artigos expressa a produção da área publicada nos doze periódicos abordados. A dianteira levada pela região Sudeste é fruto da expansão do número de periódicos dessa região na última década, em especial os periódicos Revista Brasileira de Educação em Geografia (Unicamp), com o total de 272 artigos, e Revista de Ensino de Geografia (UFU), com 196 artigos. Outra evolução apontada é a ocorrida na região Sul: mesmo que duas das três revistas datem da primeira década catalogada, o aumento relevante do número de artigos se deu apenas na última década, com o incremento do terceiro periódico da região, direcionado totalmente ao ensino de Geografia.

Por fim, o diagnóstico da produção sobre este tema, tanto no recorte temporal quanto no recorte espacial, indica a organização e evolução desta área em coexistência com as críticas e reflexões sobre a Geografia como ciência e a formação de professores. A existência de periódicos consolidados, bem conceituados e com produções expressivas pode resultar em novas perspectivas para a área do ensino, como o fortalecimento das discussões pedagógicas na formação do professor de Geografia, linhas e programas de pós-graduação na área, entre outros produtos como grupos, núcleos e laboratórios de pesquisa, tal qual é a origem do periódico publicado pela Universidade Federal de Goiás.

Conclusão

O diagnóstico da distribuição sobre o ensino de Geografia revelou que a concentração espacial, em primeiro plano, e a temporal, em segundo, refletem o histórico da preocupação com a área no Brasil. Ressalta-se, atualmente, a participação das cinco regiões do país, feito que somente ocorreu na última década catalogada, mas com os periódicos concentrados em poucos estados. A identificação dos periódicos sobre a temática indica a predominância das regiões Sudeste e Sul ao longo do tempo. Destaca-se o desenvolvimento recente da área no Nordeste, com o surgimento de dois novos periódicos nos últimos 10 anos. Espera-se que os resultados deste trabalho sirvam como parâmetros para conhecimento e divulgação de como se encontra a produção sobre essa subárea da Geografia. Torna-se viável apontar que este trabalho trata apenas de um recorte temporal e espacial dentro de um número predeterminado de artigos específicos ou que possuem seções específicas sobre o ensino de Geografia, e que não encerra e nem atesta resultados definitivos e a totalidade do assunto.

Alguns desdobramentos do que foi apresentado ao longo dessas páginas podem ser traçados. Um desses caminhos é a categorização das produções. O estudo pelas categorias irá proporcionar a reflexão sobre qual tipo de produção existe, como também servir de ferramenta para as disciplinas pedagógicas que formam o currículo dos cursos de licenciatura, já que a possível existência de relatos de experiência ou instituição de novas metodologias pode funcionar com diálogo entre a academia e a escola, muitas das vezes desconectadas entre si. Este diálogo poderá contribuir para levar a transformações da sociedade ao longo do tempo, como, por exemplo, o acesso a recursos tecnológicos para atividades cotidianas do professor e dos estudantes de Geografia. Dessa forma, o enfoque sobre ensino de Geografia direciona para o conhecimento e a divulgação da área e, assim, pode contribuir para o desenvolvimento da Geografia como ciência mais próxima aos atuais desafios da sociedade.

Referências

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Publicado em 24 de agosto de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

SCARINCI, Dimitri Andrey; SILVA, Jardel Correia da; CARVALHO, Lilian Amaral de. Produção científica do ensino de Geografia no Brasil pela análise dos periódicos. Revista Educação Pública, v. 21, nº 32, 24 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/32/producao-cientifica-do-ensino-de-geografia-no-brasil-pela-analise-dos-periodicos

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