Resenha do livro “Desaprender, Reaprender, Desobedecer”

Damião Carlos Freires de Azevedo

Pós-doutor em Educação (UFPB), doutor em Recursos Naturais (UFPB), professor da Facsu

Máximo Luiz Veríssimo de Melo

Licenciado em História, especialista em História do Brasil-República, mestre e doutor em Ciências da Educação, professor da rede pública municipal e estadual em Alto do Rodrigues/RN

Aldenize Santana de Souza Melo

Mestranda em Educação (Iscecap), professora da rede privada em Alto do Rodrigues/RN

O livro Desaprender, reaprender, desobedecer é mais uma obra do renomado professor, palestrante e escritor Hamilton Werneck, publicada em 2019. Essa obra possui 105 páginas, divididas em 28 capítulos.

Os capítulos, ou partes são assim intitulados: “a raiz das diferenças; as diferenças aumentam entre os seres humanos; a inteligência artificial é uma faca de vários gumes; exilados e nômades; a vida invadida pela non order; resiliências no dia a dia; a vida necessita de realidade; quem faz a cabeça de nossas crianças; de onde vem a sala de aula que conhecemos? Precisamos abrir cadeados; algumas escolas aniquilam as inteligências; o algoritmo pode nos dominar; não há vaga para o troglodita digital; fracasso é desistir do sonho; quando aprender? Qualidade, o que é isso? Onde ler? No tablet ou no papel? O que o monge Beda ensina? Todos somos filmados e fotografados; a mulher e a defesa da vida; as distorções provocadas por certas mudanças; o dilúvio informacional; ser humano, conhecimento e valores; um caldo grego, judaico e cristão; o caldo cultural está fervendo no caldeirão das bruxas; a prática da ética; aparentemente domados”; e por fim, “considerações sobre a consciência ingênua”.     

Para Werneck (2019), o mundo vem passando por mudanças que são provocadas pela tecnologia, principalmente a biotecnologia e a bioengenharia, e com o advento da inteligência artificial, isso está trazendo diferenças enormes entre as pessoas, diferença em conhecimento, em poder de aquisição de bens, poder de domínio, etc. E essas diferenças só aumentam. Porém, ele adverte que, ao mesmo tempo em que todo esse avanço serve para melhorar e facilitar a vida das pessoas, pode também ser algo ruim, que nos aprisione e nos domine. Por isso, é preciso que tenhamos domínio sobre nós mesmos ou seremos dominados pela inteligência artificial.

De acordo com Werneck (2019, p. 61-62), para conseguirmos viver nesse mundo que está passando por mudanças, é preciso resiliência. E, não obstante isso, esse autor ainda sugere os ensinamentos de um monge, o monge Beda, ensinamentos esses que são três: “ensinar aos outros aquilo que aprendemos; ensinarmos e praticar”; e, por fim, “não podemos ignorar nada”. Aqui, por fim, o autor ainda diz que aquele velho conselho dos avós, de que não sejamos curiosos, é para ser esquecido.

Werneck (2019) também aborda que as nossas escolas, e crianças, estão sendo afetadas por essas mudanças, e as escolas têm que mudar também, deixar de ser escolas do século XX e passarem a permitir a criatividade das crianças, assim como era nas escolas da Grécia Antiga; e, para isso, é preciso abrir cadeados, libertar-se do passado. E alerta o autor: ou farão isso, ou estarão aniquilando as inteligências das crianças. Ainda com relação às nossas crianças, o autor afirma que elas estão tendo as cabeças feitas pela televisão, por programas feitos diretamente para elas.

Werneck (2019, p. 44) também coloca que podemos ser dominados pelo algoritmo, pois “vomitamos tudo pelas redes sociais”, podemos estar passando informações para um robô a serviço de um império de dados, um Big Data, que reunirá dados a nosso respeito, e assim poderá nos dominar. Porém, o autor coloca que não devemos ser um troglodita digital, uma pessoa que não tenha domínio algum sobre a tecnologia, pois a tecnologia traz mudanças rápidas, e uma máquina logo é trocada por outra mais moderna, deixando desempregado quem só sabia manusear aquela primeira. Assim, para ele, “não há vaga para o troglodita digital” (Werneck, 2019, p. 47).

Continuando, Werneck (2019) propõe que devemos sonhar e buscar realizar esses sonhos, pois “os grandes cientistas sonharam e realizaram muitos dos seus sonhos”. E que a escola é o lugar do sonho, é o lugar onde os sonhos devem ser construídos, mas que é na escola e na família que os sonhos das pessoas estão sendo desconstruídos, “uma apela para a presença mandonista e a outra pela ausência e descompromisso”.

Werneck também coloca que hoje não há mais um momento específico para aprender. Para ele, não se aprende somente antes, para depois executar. Hoje, é possível executar uma tarefa e nesse momento aprender algo novo. Werneck (2019) também fala da qualidade, de que ela não pode ser total. No dia em que ela for total, deixa de existir. “A qualidade é um estágio em movimento”. “Hoje é uma, amanhã precisa ser melhor” (Werneck, 2019, p. 55).

Outro ponto que é abordado por Werneck (2019) é a questão da presença do liberalismo que está sendo responsável por trazer uma série de discussões sobre assuntos que antes eram tratados como tabus e que, portanto, não eram discutidos. Aqui ele adverte que não adianta a ascensão de governos, mundo afora, com agendas conservadoras, tentando barrar isso, que não vão conseguir barrar. Isso vai continuar. E o que cabe a cada um de nós é procurar conviver com as diferenças, ou casos de intolerância vão acontecer, ou continuar acontecendo.

Para Werneck (2019), somos uma sociedade marcada por dois valores principais – o bíblico/cristão e o pagão ou da ciência – que estão sendo cada vez mais discutidos e estão aumentando as diferenças entre as pessoas, mas que precisamos conviver com essas diferenças. Que sejamos éticos, e não queiramos pessoas domadas. E também não sejamos ingênuos, acreditando que não exista outro mundo diferente do nosso, pois, segundo Werneck (2019, p. 100), “o tombo do ingênuo é muito grande, e ele geralmente não tem forças para suportar a queda”. O autor ainda fala que precisamos ser éticos, e diz o que é preciso fazer para saber se estamos sendo éticos.

A tecnologia vai continuar mudando as nossas vidas e nossas relações. Assim, para Werneck (2019), temos que “Desaprender” tudo que aprendemos ou sabíamos, pois tudo já se encontra superado, em seguida, “Reaprender” a viver no mundo. Para Werneck (2019), temos que “reaprender até a “respirar e comer, [...] reaprender a olhar, ver, ouvir e escutar o mundo que nos cerca”. Reaprender é, segundo Werneck (2019), a questão principal a ser tratada neste livro. E, por fim, “Desobedecer”, que, para o autor, consiste em uma característica da sociedade atual, que “assume o controle sobre sua própria vida, rebelando-se contra as propostas que ferem nossos princípios e valores”.

Para finalizar, esta obra do professor Hamilton Werneck está permeada por discussões muito atuais, não somente pelo ano de publicação, 2019, mas principalmente pelas questões que nele são tratadas, como, por exemplo, as mudanças que vêm ocorrendo no mundo, e nas relações das pessoas entre si e com o mundo, provocadas pela tecnologia, como também o debate político, que está muito presente aqui em nosso país. Por essa razão, aconselha-se a sua leitura, como maneira de entender melhor essa realidade hoje presenciada e vivenciada por todos nós, nas nossas escolas, em sociedade etc.

Referência

WERNECK, Hamilton. Desaprender, Reaprender, Desobedecer. Rio de Janeiro: Wak, 2019.

Publicado em 24 de agosto de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

AZEVEDO, Damião Carlos Freires de; MELO, Máximo Luiz Veríssimo de; MELO, Aldenize Santana de Souza. Resenha do livro “Desaprender, Reaprender, Desobedecer”. Revista Educação Pública, v. 21, nº 32, 24 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/32/resenha-do-livro-rdesaprender-reaprender-desobedecerr

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