Green Day: o despertar da consciência ambiental no CEFET/RJ - câmpus Maria da Graça
Fabiana Cordeiro
Professora do Ensino Médio Integrado (Cefet/RJ – Câmpus Maria da Graça)
Luciana Ferrari Espindola Cabral
Professora do Ensino Médio Integrado (Cefet/RJ – Câmpus Maria da Graça)
Rejane Gomes Cordeiro
Técnica em Assuntos Educacionais (Cefet/RJ – Câmpus Maria da Graça)
Saulo Santiago Bohrer
Professor do Ensino Médio Integrado (Cefet/RJ – Câmpus Maria da Graça)
Alberto Boscarino Junior
Professor do Ensino Médio Integrado (Cefet/RJ - Câmpus Maria da Graça)
Fernanda de Oliveira Cordeiro
Professora do Ensino Médio Integrado (Cefet/RJ - Câmpus Maria da Graça)
O Green Day é um evento de Educação Ambiental incluído no calendário anual do CEFET/RJ - Câmpus Maria da Graça. Desde 2016, o evento acontece mobilizando de forma interdisciplinar toda a comunidade acadêmica. As atividades do evento estão organizadas com base no eixo central, que é a proposta de Educação Ambiental (EA); são estabelecidas atividades de engajamento e palestras com temas diversos, incluindo Química verde, Agroecologia e ações em Educação Ambiental propostas para um CEFET sustentável.
As atividades propostas envolvem discentes, docentes e técnicos em assuntos educacionais (TAEs), permitindo o diálogo ao incentivar o entendimento do impacto das ações humanas sobre o ambiente e a busca da ação reflexiva a respeito da qualidade de vida. Segundo Loureiro e Lima (2009), a associação na escola da temática ambiental com as disciplinas de Ciências da Natureza e, em segundo lugar, com a Geografia fica evidenciada quando consideramos os resultados da pesquisa "O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental". Segundo Maknamara (2009), no caso das Ciências da Natureza e da Biologia, essa aproximação se justifica quando consideramos os próprios objetos de investigação das áreas.
Essa perspectiva sustenta uma EA que vai além de uma abordagem biológica ou naturalista e, por isso, reducionista da problemática ambiental. Em uma perspectiva denominada emancipadora, socioambiental e crítica (Loureiro, 2007; Tozoni-Reis, 2004; Trein, 2012), tem se ampliado a proposta para análises de problemas ambientais que passam a incorporar, entre outras questões, aspectos relacionados à justiça social e ambiental, sociedade de risco e relações entre sistema social de produção e degradação ambiental, dentre outros, como determinam os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) preconizados pela ONU.
Desta maneira, esperamos fomentar o entendimento das diversas possibilidades. A proposta Green Day visa fomentar o diálogo entre diferentes áreas do saber de modo interdisciplinar (Fazenda,1998), ao integrar docentes de áreas como Ciências Biológicas, Química, Língua Estrangeira, Artes e disciplinas do corpo técnico, além dos TAEs e discentes buscando um ensino crítico e orientado para a proposta de Ensino Médio Integrado, em que é buscada uma formação profissional e tecnológica contextualizada, banhada de conhecimentos, princípios e valores que potencializam a ação humana na busca de caminhos mais dignos de vida, adicionadas às questões ambientais e reflexões sobre ações futuras em nosso contexto escolar.
Allwright (2007) sugere, então, três grandes macroprocessos:
- contemplar para entender;
- agir para entender; e
- agir para mudar.
Segundo o autor, "contemplar para entender" é importante, pois pensar pode levar a um entendimento útil para uma ação futura, se necessário. "Agir para entender" é uma sábia decisão e significa que as pessoas envolvidas não estão procurando resolver problemas; ao contrário, estão tentando entender uma questão. "Agir para mudar" só deve acontecer se, após a "contemplação" de uma situação para entendê-la melhor, chegar-se à conclusão de que a mudança é desejável (Miller et al., 2006). Infelizmente, vivemos em uma sociedade que faz uso de um modelo de desenvolvimento altamente predatório, no qual a superexploração de recursos naturais leva à sua escassez, podendo acarretar mesmo o desaparecimento de diversas espécies em processos de extinção claramente provocados ou acelerados pela ação antrópica. A preocupação com a questão ambiental não é novidade; várias conferências foram realizadas para discutir o tema: Estocolmo (1972), Rio de Janeiro (1992), Johanesburgo (2002) e Rio+20 (2012).
Trata-se, portanto, de uma agenda global a ser realizada até 2030 para melhoria da qualidade de vida das pessoas e importantíssima para que os países, em especial aqueles em desenvolvimento, melhorem a qualidade de vida das pessoas. Nesse contexto, cabe a nós, os educadores, a missão de fazer o alerta e trabalhar na sensibilização dos jovens em relação à causa ambiental. Acreditamos que eventos como o Green Day podem contribuir para alcançar esse objetivo.
Metodologia
O Green Day acontece anualmente em nosso câmpus como forma de conscientização de alunos, docentes, discentes e população do entorno. Já aconteceram quatro edições em: 2016, 2017, 2018 e 2019. O evento de 2021 por ora está cancelado por causa da pandemia do coronavírus. Contamos com a participação de especialistas na área de Educação Ambiental, tanto internos quanto externos à instituição. As atividades envolvem palestras, gincanas, mesas-redondas com temas que envolvem sustentabilidade como forma de envolver todo o público e sensibilizar quanto à temática ambiental. O evento acontece no primeiro semestre de cada ano, sempre aos sábados. As temáticas sempre permeiam os objetivos do desenvolvimento sustentável, como mostrado na Figura 1.
Figura 1: Agenda 2030 da ONU e os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável)
Fonte: https://odsbrasil.gov.br/.
Desenvolvimento (resultados e discussões)
Os eventos contam com palestras em torno de temáticas ambientais, geralmente com visitantes externos. São temáticas como: Educação Ambiental, Movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), lixo e reciclagem, Química verde e sustentabilidade e Agroecologia; na última edição, o acidente/crime ambiental de Brumadinho foi trazido à tona para discussão entre especialistas e toda a comunidade escolar.
Ao longo desses anos, diferentes propostas são elaboradas. Os alunos, no final das atividades ambientais, deixaram recados em murais de cartolina colocados nas paredes do câmpus. O que foi percebido é que os alunos se sentiram muito motivados com as palestras e consideraram o evento, do ponto de vista educacional, esclarecedor e sensibilizador. Enfatizaram ainda em suas frases que é necessário cuidar e desenvolver a consciência ambiental para minimizar os efeitos de poluição e destruição ambiental que nos têm tanto afetado em situações como já observamos, como falta d'água e aumento da temperatura global terrestre.
Na edição de 2016 (Figura 2), o evento contou com a participação do professor Jorge Luiz Silva de Lemos, pertencente ao quadro docente do CEFET/RJ - câmpus Maracanã; ele tem vasta experiência em Educação Ambiental e apresentou a palestra "Educação Ambiental e Movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente: relato de experiência no CEFET/RJ", que envolveu os conhecimentos adquiridos por ele durante sua trajetória acadêmica de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
Figura 2: Imagens do encontro de 2016
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Figura 3: Imagens do Green Day 2016: (a) Cartaz; (b) Café da manhã sustentável, com a professora Luciana Ferrari Espindola Cabral e o professor Ricardo Benevides (in memoriam); (c) Palestra com o professor Luiz Antonio sobre "Química verde e sustentabilidade"; (d) Palestra da professora Fernanda sobre "lixo e reciclagem".
Na edição seguinte, contamos com a dra. Vanessa Pereira de Jesus, que apresentou a palestra "Agroecologia: por uma agricultura socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente correta". Segundo Altieri (1998), os enfoques que percebem o problema da sustentabilidade somente como um desafio tecnológico da produção não conseguem chegar às razões fundamentais da não sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Novos agroecossistemas sustentáveis não podem ser implementados sem que haja uma mudança nos determinantes socioeconômicos que governam o que é produzido, como é produzido e para quem é produzido.
Para serem eficazes, as estratégias de desenvolvimento devem incorporar não somente dimensões tecnológicas, mas também questões sociais e econômicas. Somente políticas e ações baseadas em tal estratégia podem fazer frente aos fatores estruturais e socioeconômicos que determinam a crise agrícola-ambiental e a miséria rural que ainda existem no mundo em desenvolvimento (Altieri, 1998).
A palestra levou o conhecimento agroecológico aos alunos, mostrando a importância da Agroecologia para o equilíbrio dos agroecossistemas, para a alimentação, conservação dos solos, dos cursos d'agua e da biodiversidade. Ficou claro que a Agroecologia não só prioriza a manutenção sustentável dos ecossistemas como também é um movimento social, político e cultural que valoriza a cultura dos povos tradicionais (indígenas, ribeirinhos, do campo e da floresta), a mulher e o homem do campo e a juventude rural; busca a justiça social e a equidade no campo.
Hoje nos deparamos com um modelo de agricultura hegemônica que se baseia nos interesses do capital, na agricultura exploratória, excludente, que não respeita qualquer forma de vida. Consequências catastróficas vêm surgindo ao longo do tempo, especialmente pelo uso indiscriminado de agrotóxicos: poluição das águas, degradação do solo, desmatamento, violência no campo, perda da diversidade genética com a chegada dos transgênicos, desigualdade social no campo, aumento da fome e aumento de doenças causadas por agrotóxicos, dentre outros. Nesse sentido, a Agroecologia surge como um movimento de contestação ao modelo de agricultura predatório de tratar o meio ambiente.
O tema da palestra buscou algumas questões para repensarmos o tipo de agricultura que nós queremos, como nós podemos adquirir alimentos saudáveis isentos de agrotóxicos, e que é possível, sim, alimentar a população de forma sustentável aliando o saber científico ao saber popular. Além disso, ocorreu no evento uma gincana, denominada 3 Rs (reduzir, reaproveitar e reutilizar), em que os alunos tinham que arrecadar garrafas, latas e roupas. O resultado foi a obtenção de 101 quilos de latinhas, 166 quilos de garrafas e roupas para serem doadas ao Abrigo Teresa de Jesus, localizado na Rua Ibituruna, 53, no Maracanã.
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Figura 4: Segunda edição do Green Day: (a) Cartaz; (b) Palestra sobre Agroecologia, com a dra. Vanessa de Jesus; (c) Copos distribuídos no evento para estimular os 3R's; (d) Oficina de suco verde.
Na terceira edição do evento, além do já tradicional café da manhã sustentável, recebemos a visita do gestor de resíduos do município de Belford Roxo (Baixada Fluminense), Denilson, que relatou sua experiência na gestão de resíduos sólidos no município. Além disso, o professor Luiz Antonio, do CEFET/RJ, falou sobre catalisadores e Química ambiental. Além disso, foi promovida uma roda de conversa entre docentes e discentes sobre aspectos históricos, geográficos e ecossistêmicos da Educação Ambiental.
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Figura 4: Terceira edição do Green Day: (a) Concurso de receitas sustentáveis; (b) Palestra sobre gestão de resíduos sólidos; (c) Palestra sobre catalisadores.
Na última edição do evento, mudamos o formato, iniciando com a palestra do dr. Alexandre Pessoa, engenheiro sanitarista da Fiocruz, seguida de uma mesa-redonda composta pelos professores Luiz Antonio Moreira Faria (CEFET/RJ), Beatriz Martins (CEFET/RJ), Maria Angélica Majia Caceres (Nuttes/UFRJ) e Leonardo Bauer Maggi, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Foram discutidos aspectos legais, rejeitos químicos e efeitos na população do entorno desses locais. As novidades desse ano foram a transmissão ao vivo do evento pelo Facebook e a transmissão ao vivo para o auditório localizado no andar térreo, para facilitar a participação de alunos com necessidades especiais. Além disso, um aluno do 1º ano integrado do curso de Manutenção Automotiva fez a tradução do evento para Libras.
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Figura 5: Edição 2019 do Green Day: (a) Cartaz; (b) Palestrantes e aluno fazendo tradução para Libras; (c) Palestra com o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa.
Considerações finais
Do ponto de vista mundial, há preocupação com os recursos ambientais esgotáveis e com a construção de sociedades sustentáveis. Esse conceito nos leva a pensar o ambiente como um todo e principalmente o conceito de justiça social. A adesão ao evento é grande (como pode ser visto na Figura 2), com grande mobilização de todos os integrantes da escola. Partindo do princípio de que a escola é protagonista de transformações sociais, procuramos construir um ambiente divertido e, sobretudo, conscientizador e interdisciplinar.
Referências
ALLWRIGHT, D. Três macroprocessos do desenvolvimento do professor e os critérios para desenvolvê-los e usá-los. Trad. Maria de Lourdes Sette. In: Pesquisas em discurso pedagógico: alunos e professores na prática exploratória 1. Rio de Janeiro: PUC-Rio/Instituto de Pesquisa e Ensino de Línguas, Departamento de Letras, 2007.
ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 4ª ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
FAZENDA, Ivani (Org.). Didática e interdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 1998. Disponível em: http://www.sociodialeto.com.br/edicoes/9/28092011072609.pdf
LOUREIRO, C. F. B. (Org.). A questão ambiental no pensamento crítico: natureza, trabalho e educação. Rio de Janeiro: Quartet, 2007.
______; LIMA, J. G. S. de. Educação Ambiental e educação científica na perspectiva Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS): pilares para uma educação crítica. Acta Scientiae, v. 11, nº 1, p. 88-100, 2009.
MAKNAMARA, M. Educação Ambiental e ensino de Ciências em escolas públicas alagoanas. Contrapontos, v. 9, nº 1, p. 55-64, 2009.
MILLER, I. K. de. Prática exploratória: dezembro 2006. Disponível em: http://www.praticaexploratoria.blogspot.com/2006_12_01_archive.html.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. 2021. Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/.
TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas: Autores Associados, 2004.
TREIN, Eunice. A Educação Ambiental crítica: crítica de quê? Revista Contemporânea de Educação, v. 7, nº 14, 2012.
Publicado em 31 de agosto de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
CORDEIRO, Fabiana; CABRAL, Luciana Ferrari Espindola; CORDEIRO, Rejane Gomes; BOHRER, Saulo Santiago; BOSCARINO JUNIOR, Alberto; CORDEIRO, Fernanda de Oliveira. Green Day: o despertar da consciência ambiental no CEFET/RJ - câmpus Maria da Graça. Revista Educação Pública, v. 21, nº 33, 31 de agosto de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/33/green-day-o-despertar-da-consciencia-ambiental-no-cefetrj-campus-maria-da-graca
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