Impactos da covid-19 na educação em Paulista/PB: uma influência das mídias digitais
Nailton Dutra dos Santos
Licenciado em Física (UEPB), pós-graduando em Ensino de Ciências e Matemática (IFPB) e professor da rede estadual de ensino da Paraíba
Francisca Adriana da Silva Bezerra
Licenciada em Pedagogia (Universidade Vale do Acaraú) e em Geografia (UEPB), especialista em Psicopedagogia (FIP) e Mestre em Ensino (UFRN)
Com o crescente avanço da pandemia da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, as instituições educacionais da maioria dos países tiveram que buscar alternativas para amenizar os prejuízos causados pela impossibilidade das atividades letivas presenciais em prol das medidas de isolamento social, prezando dessa maneira pela proteção dos estudantes, professores e demais profissionais da Educação.
No Brasil, a situação não foi diferente. Desde março de 2020, todas as instituições de ensino, sejam de Ensino Superior ou da Educação Básica, dos sistemas públicos ou privados, tiveram que interromper suas aulas. A suspensão temporária das aulas presenciais e das atividades escolares é uma medida baseada nas orientações dos órgãos de saúde pública, não somente a nível nacional, mas também mundial, com o objetivo de controlar a disseminação da doença e preservar a saúde coletiva.
No intuito de garantir que as aulas e demais atividades tenham continuidade, boa parte das instituições recorreram ao desenvolvimento de atividades remotas com a utilização de plataformas online como ferramenta de ensino, a exemplo do Google Meet e do Zoom, e pelo uso de redes sociais como WhatsApp, Facebook e o YouTube. Machado (2020) elenca várias medidas ofertadas como EaD (Educação a Distância), entre as quais está a criação de grupos para troca de informações em arquivos de texto digitais, imagens, fotos e vídeos; reuniões entre professores e estudantes, reuniões entre coordenadores de área e seus professores.
Com isso, o cenário acabou por gerar mudanças na execução das atividades de muitos profissionais da Educação, em especial os professores, que tiveram que lidar com o ensino remoto promovido pelo uso das mídias digitais. A questão é que boa parte desses profissionais não possui formação adequada para lidar com esse tipo de metodologia e devido a isso acabou por “bater de frente” com esse desafio.
As mudanças que a pandemia da covid-19 tem causado no cenário educacional fizeram com que os professores se deparassem com a necessidade de concentrar esforços para reinventar suas metodologias, visto que, segundo a Revista Educação (2020), “83% dos professores brasileiros não se sentem preparados para o ensino remoto e 88% revelam ter dado a primeira aula virtual após a pandemia”. Parte dessa dificuldade está no fato de que essa parcela de professores ou não possui formação para atuar com metodologias ativas no que se refere ao uso de mídias digitais ou simplesmente ignora essa realidade que tanto se desenha.
Seguindo essa problemática, nossa pesquisa foi motivada pela necessidade de saber o perfil profissional dos professores de Paulista/PB, a fim de permitir a discussão sobre sua adaptação ao ensino remoto. O presente trabalho tem por objetivo fazer uma investigação sobre como os professores da cidade estão lidando com essa realidade e de que forma eles vêm adaptando as suas metodologias. Para tanto, nosso estudo irá conter-se a uma investigação feita na referida cidade, onde foi feita uma pesquisa quantiqualitativa e de campo em escolas estaduais e municipais para fazer um levantamento da opinião dos professores quanto à adaptação a essa nova realidade.
Para o embasamento teórico desta pesquisa trazemos autores como Lupion (2020), Harasim et al. (2005), Vieira e Ricci (2020), Kenski (2007), entre outros que discutem a temática em seus estudos.
O foco desta pesquisa é investigar os desafios e expectativas, por parte dos docentes da cidade de Paulista/PB, sobre suas capacidades de experimentar e inovar nas práticas pedagógicas para que dessa forma possam avaliar o processo de aprendizagem de seus estudantes por meio do uso das mídias digitais como ferramenta de ensino e aprendizagem. Portanto, é válido analisar como esses professores estão se adaptando a essa nova abordagem de ensinar.
O cenário da educação no contexto da covid-19
Com o crescente aumento dos casos de contaminação pelo novo coronavírus, ainda não há previsão de retorno definitivo das atividades letivas presenciais no país. A literatura internacional vem chamando a atenção para diversos “choques educacionais” da pandemia. Com esse quadro, as autoridades educacionais enfatizam que haverá enormes riscos de agravamento das desigualdades educacionais tanto entre os estudantes considerados vulneráveis ao abandono quantos aqueles que se sujeitam à evasão escolar.
No entanto, esse não é o principal impacto que a pandemia tem levado à educação. É apontado pelo Instituto Unibanco (2020) o risco da taxa de crescimento do trabalho infantil bem como do abuso e da violência doméstica contra crianças e adolescentes nesse período. Além disso, a crise econômica que estamos vivenciando deverá acentuar a redução da renda das famílias carentes, dado que houve queda no investimento em educação.
Com o atual contexto que vivenciamos, a suspensão das aulas presenciais, foi aprovada a Lei nº 13.987/20, que autorizou as redes de educação a distribuir gêneros alimentícios adquiridos com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para as famílias dos(as) estudantes das escolas públicas de Educação Básica. Ainda segundo o Instituto Unibanco (2020), essa possibilidade é importante
para prover segurança alimentar aos(às) alunos(as), mas os riscos sanitários em razão das regras de distribuição limitaram seu potencial, e diversos estados não estão conseguindo utilizar esse recurso. Ainda sobre programas federais, o governo divulgou o adiantamento de parcela dos recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), de modo a permitir que as escolas pudessem comprar itens de cuidado sanitário, porém o Governo Federal não distribuiu ou sequer mencionou a possibilidade de aportar recursos adicionais para apoio às secretarias estaduais de Educação no enfrentamento à pandemia. Além disso, está em vigência a Medida Provisória (MP) nº 934/20, que dispensa – em caráter excepcional – a obrigatoriedade do cumprimento mínimo dos 200 dias letivos para a Educação Básica, mas preserva a carga horária mínima compulsória de cada etapa. Essa flexibilização dá maior segurança jurídica às redes de educação, mas não foi acompanhada de parâmetros mínimos, indicativos de apoio técnico e financeiro ou mesmo diretrizes gerais de como cumprir o indicado na medida (Instituto Unibanco, 2020, p. 5).
Vale destacar que boa parte das instituições das redes públicas e privadas de educação tem adotado a iniciativa de aulas remotas como método de dar continuidade ao ensino durante esse período de calamidade pública. Com isso, as instituições escolares realizam virtualmente suas aulas, reorganizaram sua carga horária e passaram a adotar ações pedagógicas não presenciais nas diferentes etapas da Educação Básica.
O ensino remoto emergencial recebe essa nomenclatura, segundo Behar (2020), porque
o termo “remoto” significa distante no espaço e se refere a um distanciamento geográfico. O ensino é considerado remoto porque os professores e alunos estão impedidos por decreto de frequentar instituições educacionais para evitar a disseminação do vírus. É emergencial porque do dia para noite o planejamento pedagógico para o ano letivo de 2020 teve que ser engavetado.
Segundo o Censo Escolar de 2019, havia 47,9 milhões de estudantes matriculados na Educação Básica em todo o Brasil, tanto em escolas públicas quanto privadas; atualmente, com o isolamento social, todos esses estudantes estão em casa, onde agora deverão efetuar suas atividades escolares e participar de aulas remotas via mídias digitais, redes sociais etc.
Com os estudantes agora em casa, seus familiares e responsáveis passaram a ter que equilibrar suas preocupações com a educação de seus filhos e a luta pelo sustento da família e outras rotinas domésticas. Como mencionado, as unidades escolares criaram meios para dar continuidade às rotinas de estudos e a internet foi o principal meio cotado para esse desafio. Com relação ao ciberespaço, Harasim et al. (2005) defendem que
todos aprendem juntos, não em um local no sentido comum da palavra, mas num espaço compartilhado, um “ciberespaço”, através de sistemas que conectam em uma rede as pessoas ao redor do globo. Na aprendizagem em rede, a sala de aula fica em qualquer lugar onde haja um computador, um “modem” e uma linha de telefone, um satélite ou um “link” de rádio. Quando um aluno se conecta à rede, a tela do computador se transforma numa janela para o mundo do saber (Harasim et al., 2005, p. 19).
É notório que essa nova forma de levar a rotina de estudo escolar até os estudantes está sendo bastante desafiadora para todos os envolvidos, seja para os professores que passaram a ter a importante missão de reinventar suas metodologias, principalmente para aqueles que nunca tiveram a oportunidade ou a vontade de estabelecer novos horizontes de estratégias metodológicas, seja para os pais ou responsáveis, que, além de lidar com suas preocupações e rotinas domésticas diárias, estão assumindo o papel de educadores de seus filhos.
Diante disso, a escola precisa mudar a forma de trabalhar, precisa se adequar às novas formas didático-metodológicas, uma vez que vivemos em diferentes tempos, espaços e ambientes de aprendizagem. Vale ressaltar que, apesar de tudo, o ensino remoto vem criando condições desiguais de suporte e acesso às tecnologias. Enquanto parte dos estudantes possui acesso às tecnologias de informação e comunicação, além de contar com uma boa conexão, a outra parcela, no entanto, não possui nem mesmo um simples aparelho de celular.
Sendo assim, cabe à escola provar que suas estruturas não são tão rígidas, isto é, ela deve promover articulação em seus currículos a fim de realizar flexibilidade de reinvenção capaz de se adaptar às novas mudanças que ocorrem. Nas palavras de Vieira e Ricci (2020, p. 3),
a palavra de ordem é flexibilidade, por meio de projetos adaptados à situação, envolvendo a leitura de bons livros, filmes, situações de aprendizagem vinculadas à experiência social de isolamento e enfrentamento de uma pandemia mundial, questões que independem de um currículo rígido, demonstrando às escolas que os desafios às crianças são de outra ordem.
Nesse contexto em que as aulas presenciais foram temporariamente substituídas pelas virtuais, há também outras opções em debate no setor educacional; uma delas é a do programa do ano eletivo após a reabertura das escolas. Em entrevista, Lucia Delagnello, diretora-presidente do Cieb, destaca que os gestores precisam ser mais flexíveis em relação ao currículo estabelecido para o ano e, em vez de cumpri-lo à risca, "identificar e selecionar quais conteúdos e habilidades são mais essenciais e trabalhar com eles" (Lupion, 2020).
Portanto, essa é a oportunidade ideal de colocar em prática um processo de avaliação que seja capaz de contemplar as diversas áreas de competências, considerando, é claro, uma aplicação transversal dessas avaliações e que seja possível o estudante fazê-la em casa.
Reinventando as metodologias
Com a pandemia instaurada pela covid-19, houve choque enorme nos setores educacionais, afetando não somente o Brasil, mas todos os países. Com isso, milhares de estudantes de todas as etapas da educação foram direcionados a ter aulas remotas em questão de poucos dias após o fechamento de unidades escolares. O sistema educacional precisou se reinventar e adotar a prática de atividades remotas diante da atual realidade.
O método do ensino remoto foi implantado em basicamente todas as unidades de ensino; até mesmo as escolas e/ou professores que ignoravam ou não eram adeptos das novas metodologias de ensino tiveram que, aos poucos, ir se adaptando a essa nova realidade de ensino baseada na utilização das mídias digitais.
Com o ensino remoto implantado, em poucos dias os gestores escolares e os professores tiveram que adotar e pôr em prática essa adaptabilidade, o que veio alterar enormemente as relações com estudantes e professores pela migração para a nova metodologia que agora surgia diante de seus olhos.
Há tempos já se fala na possibilidade de aulas diferenciadas e motivadoras através de recursos tecnológicos como ferramentas didáticas de ensino e aprendizagem, ferramentas que podem melhorar bastante a aprendizagem dos nossos estudantes, uma vez que vivemos em uma era digital em que as informações e as novas tecnologias parecem ter tomado conta da sociedade.
Na literatura, vários autores defendem a tecnologia como ferramenta mediadora do ensino e aprendizagem. Em seu livro Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação, Kenski (2007) faz uma abordagem entre a educação e a tecnologia, trazendo ênfase na ligação entre os avanços tecnológicos e seus reflexos nas formas de ensinar. Uma de suas passagens diz que “a internet é um espaço possível de integração e articulação de todas as pessoas conectadas com tudo que existe no campo digital, o ciberespaço” (Kenski, 2007, p. 34).
O ciberespaço pode ser um importante meio de compartilhamento de informações e conhecimento. Nele, a aprendizagem pode ser bastante significativa, desde que usada de forma correta e mediante prévios planejamentos do professor.
Aparentemente, as aulas remotas influenciadas pela covid-19 serviram como gatilho para que os professores “dessem uma chance” a essa nova maneira de ensinar, utilizando as mídias digitais como ferramenta de ensino. Na verdade, o isolamento social parece ter antecipado um futuro que se desenhava.
Sabe-se que o sistema educacional há tempos já propunha a reinvenção de suas práticas pedagógicas no quesito ensino remoto. Isso já vinha sido debatido mesmo antes da pandemia da covid-19. O empecilho, segundo Nagliati (2020, s/p), é que havia
grande resistência por parte de alunos e professores em usar essas práticas. O que a pandemia realmente impulsionou foi essa mudança de postura dos atores no processo de ensino-aprendizagem, que se viram obrigados a utilizar essas ferramentas e puderam perceber que há inúmeras vantagens nisso. Acredito que esse processo é sem volta. Isso não significa que o ensino presencial será substituído pelo ensino remoto, mas a tendência que já existia de avançarmos para um ensino híbrido foi sem dúvida acelerada pela pandemia.
De acordo com Nogueira (2020), os dados do censo educacional do Ministério da Educação (MEC) para o Brasil já revelavam que,
em 2011, 21% dos novos entrantes do Ensino Superior optaram pela modalidade de ensino a distância – cerca de 400 mil, num grupo de aproximadamente 1,9 milhão de novos alunos. Em 2018, esse porcentual já havia alcançado quase metade do total, chegando a 45% dos novos entrantes, ou 1,3 milhão em um universo de quase 2,9 milhões de novos alunos do Ensino Superior brasileiro.
No entanto, ainda é surpreendente que mesmo com esses dados houve tantas instituições de ensino que se apresentaram bastante despreparadas para lidar com a nova realidade do ensino remoto. Mas, de qualquer forma, esse cenário trouxe à tona um questionamento importante para os próximos tempos da educação: quais desafios teremos para dar uma educação remota de boa qualidade?
De início, temos que ter em mente que o que as instituições escolares vivenciam neste período não é de fato um ensino a distância (EaD), mas sim um modelo de ensino remoto. A principal diferença entre essas duas atividades é que em aulas de ensino a distância elas se apresentam geralmente pré-gravadas e com momentos de interação e avaliações feitos de forma escrita, por exemplo.
O que vivemos neste momento se classifica como ensino remoto pelo fato de as aulas serem feitas ao vivo com a utilização de plataformas digitais, tais como o Google Meet e o Zoom, entre outras. Além disso, essas ferramentas permitem uma maior e melhor interação entre os estudantes e seus professores. Sobre essa diferenciação, Machado (2020, p. 68) acrescenta que “ensino remoto não é o mesmo que Educação a Distância, visto que, apesar de também ser mediado pela tecnologia, continua seguindo os princípios da modalidade presencial”.
O que se percebe neste momento de ensino remoto é que essas práticas docentes poderão funcionar como uma espécie de metodologia ativa, uma vez que vem proporcionando na maior parte das vezes um maior engajamento, mais motivação e satisfação por parte dos estudantes. Temos certeza de que esse período veio nos possibilitar uma valiosa lição: a de que aspectos como sincronicidade e interatividade devem ser considerados nos ambientes on-line de ensino e aprendizagem.
Mas é claro que, assim como as demais metodologias, o ensino remoto também apresenta desafios, alguns deles dizem respeito à dificuldade de o professor conseguir manter a disciplina e a concentração de seus estudantes, uma vez que nesse modelo de ensino os estudantes terão muito mais oportunidades e opções que lhes permitem distrações.
Como parte da solução desse desafio, os professores são instigados, em suas aulas, a priorizar exemplos reais e diretamente ligados ao cotidiano de seu alunado como forma de atrair os estudantes à temática discutida, bem como incorporar a maior interatividade possível. Por isso, é importante ter em mente que se faz necessário trazer todo o potencial que as ferramentas digitais de aulas oferecem, dessa forma estaremos priorizando um maior engajamento dos estudantes através da criatividade, do lúdico e do novo, condições essas que ajudam na concentração e motivação dos alunos.
Não podemos esquecer também que a desconcentração e a indisciplina não são os únicos desafios a serem enfrentados durante o ensino remoto. A grande questão é como esse método torna ainda mais visíveis as desigualdades sociais, por meio de dificuldades de acesso e conexão às plataformas, sem falar, é claro, no ambiente social e familiar em que os estudantes estão inseridos.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Estado de São Paulo, mostram que o percentual de domicílios em que a internet é utilizada chega a 87,1%. Esse número cai para 86,6% entre estudantes de 10 anos ou mais que têm acesso à internet, mas não necessariamente com boa conexão.
Muitos estudantes ainda não possuem um bom celular ou computador, nem ao menos conexão com a internet, e por causa disso o seu acesso às aulas remotas tornou-se inviável. Claro que muitas instituições escolares optaram por promover estratégias para que esses estudantes menos favorecidos de acesso às atividades e comunicação possam “receber” essas atividades e/ou aulas. Algumas das estratégias foram a entrega de atividades impressas e aulas até em emissoras de TVs locais.
Nesse período, não há como negar que a principal figura responsável pelo processo de aprendizagem dos estudantes é o professor. Mesmo com as instituições escolares fisicamente fechadas, as aulas presenciais foram dando lugar às aulas remotas e os professores vieram mantendo o ensino e a relação de interação com os estudantes.
No início, é claro, houve muitos obstáculos a serem enfrentados. A migração para essa nova prática docente causou desconforto para muitos professores, que, mesmo sem nenhum preparo ou treinamento específico, vieram contornando com êxito as dificuldades, seja pela conexão com a internet, seja pelo hardware não tão moderno ou problemas de acesso às plataformas digitais. De todo modo, os professores vêm mantendo os estudantes motivados e atentos aos conteúdos básicos.
Portanto, como forma de reinventar novas metodologias de ensino durante o isolamento social proporcionado pela pandemia da covid-19, cada professor atua com autonomia para estabelecer novos métodos de ensino e continuar a proporcionar uma aprendizagem adequada. Entre esses métodos estão aulas ao vivo através da plataforma Google Meet, por exemplo, com a realização de atividades de fixação/avaliação pelo Google Classroom.
Há também aqueles professores que gravam videoaulas e as encaminham a seus estudantes para que eles possam assistir e posteriormente ter um momento para fazer comentários acerca do tema tratado. Vale destacar que as atividades planejadas pelos professores seguem as competências e os objetivos de aprendizagem previstos na Base Nacional Comum Curricular.
De todo modo, acreditamos que a pandemia trouxe uma lição para a classe educacional. Ela induziu os sistemas educacionais a reinventar suas metodologias a fim de continuar proporcionando a aprendizagem de seus alunados. Apesar de muitos professores não serem adeptos das novas metodologias ativas voltadas ao uso das mídias digitais ou ainda não terem a oportunidade de passar por cursos de formação continuada voltada a essa realidade, seguem fazendo o possível para ministrar suas aulas e tentar reaprender e modificar sua prática docente.
Metodologia
A fim de investigar a opinião dos professores da rede pública do município de Paulista/PB com relação à migração do ensino presencial para o ensino remoto com o uso recorrente das mídias digitais de ensino, bem como outros recursos tecnológicos de comunicação, foi realizada uma pesquisa quantiqualitativa e de campo através de aplicação de formulário on-line do Google Forms. Com as respostas coletadas, foi feito o levantamento e representadas em forma de gráficos e comentários para melhor compreensão.
Esse tipo de abordagem é feito de forma dupla: parte dos resultados é exposta em formato numérico com representações gráficas ou em tabelas e outra parte é discursiva. Nesse sentido, a diferença básica entre uma pesquisa quantitativa e qualitativa está no fato de que, Segundo Malhotra (2001, p. 155), “a pesquisa qualitativa proporciona melhor visão e compreensão do contexto do problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplica alguma forma da análise estatística”.
Na pesquisa quantitativa, a determinação da composição e do tamanho da amostra é um processo no qual a estatística tornou-se o meio principal. Como, na pesquisa quantitativa, as respostas de alguns problemas podem ser inferidas para o todo, a amostra deve ser muito bem definida; caso contrário, podem surgir problemas ao utilizar a solução para o todo (Malhotra, 2001).
A presente pesquisa se trata, portanto, de um levantamento (survey), pois envolve a interrogação com sujeitos dos quais necessitamos saber algo por meio de um questionário, que neste caso será um formulário on-line. Nesse tipo de pesquisa,
não são pesquisados todos os integrantes da população estudada. Antes selecionamos, mediante procedimentos estatísticos, uma amostra significativa de todo o universo, que é tomada como objeto de investigação. As conclusões obtidas a partir dessa amostra são projetadas para a totalidade do universo, levando em consideração a margem de erro, que é obtida mediante cálculos estatísticos (Gil, 2010, p. 35).
Para executar a pesquisa, foi disponibilizado um link do formulário em grupos de WhatsAppdos professores para que eles tivessem fácil acesso e agilidade na resolução do questionário. Para tanto, o formulário consistia em dez perguntas, sendo duas delas subjetivas; as demais eram objetivas.
A pesquisa foi realizada com 37 professores da rede pública do município de Paulista/PB que atuam nos anos iniciais e/ou finais do Ensino Fundamental ou no Ensino Médio. O critério de seleção dos sujeitos era bem simples: professores da rede estadual e/ou municipal que estivessem ministrando aulas via mídias digitais da educação. Sendo assim, na amostra dos participantes temos dez que atuam somente em escolas estaduais; os demais atuam ou somente em escolas municipais ou em ambas as redes.
Com relação ao perfil profissional desses professores, sete deles já atuavam entre um e cinco anos na educação, cinco lecionavam entre seis e dez anos, sete já trabalhavam há pelo menos 11 e 15 anos, seis dos pesquisados atuavam entre dezesseis e vinte anos e doze professores já lecionavam há mais de 20 anos. A formação acadêmica é bem variada, com professores atuantes em quase todas as áreas da Base Comum.
Resultados e discussão
Feita a aplicação do formulário on-line, os resultados foram convertidos em gráficos, dos quais alguns, os de mais interesse, foram selecionados para analisar e propor a discussão.
O Gráfico 1 representa as respostas à quarta pergunta do questionário, em que foi indagado se os professores costumavam utilizar, em suas aulas presenciais, algum recurso digital ou qualquer plataforma de ensino. O resultado foi um tanto satisfatório.
Gráfico 1: Você costumava lecionar utilizando algum recurso digital ou plataforma de ensino antes do isolamento social?
Pelo gráfico percebe-se claramente que a grande maioria dos colaboradores (78,4%) utiliza esses recursos para ministrar suas aulas; deles, uma parcela considerável utilizava ocasionalmente, seja para reforçar didaticamente ou trazer um novo visual para sua aula, seja para facilitar a compreensão dos estudantes quanto ao conteúdo ministrado.
Na sequência, ao serem questionados sobre como foi sua adaptação ao modelo de ensino remoto devido ao isolamento social, mais da metade dos entrevistados (64,9%) afirmou que, apesar de ter tido certa dificuldade, conseguiu se adaptar bem às novas atividades.
Gráfico 2: Como foi sua adaptação ao novo modelo de ensino remoto?
Isso se deve ao fato de já utilizarem tais recursos antes mesmo das aulas prensenciais terem sido suspensas. Esse resultado pode ser verificado, inclusive, pelos resultados expressos no Gráfico 1.
É possível verificar também que 8,1% da amostra, o que corresponde a três dos entrevistados, julgaram que ainda não conseguiram se adaptar bem ao ensino remoto.
Gráfico 3: Você fez algum curso ou treinamento para ajudar a se adaptar ao ensino remoto?
O fato de a maioria dos professores pesquisados ter respondido que não teve tantas dificuldades em se adaptar ao ensino remoto deve-se ao fato de boa parte deles (67,6%) ter feito treinamento ou curso de capacitação para atuar com essas ferramentas educacionais digitais. Isso pode ser verificado pelo Gráfico 3 que justifica o resultado apresentado no gráfico anterior (Gráfico 2).
Os 32,4% dos colaboradores da pesquisa que responderam nunca terem participado de treinamento ou curso de capacitação em mídias digitais na educação correspondem a doze professores; onze deles haviam afirmado que, apesar de terem tido certa dificuldade ao migrar para o ensino remoto, conseguiram se adaptar a essa situação e isso é muito bem explicado, tendo em vista os resultados esperados.
Ao serem questionados sobre as principais mídias digitais ou ferramentas de ensino remoto que costumam utilizar para ministrar ou fomentar suas aulas e/ou acompanhar os estudantes em suas atividades, a maioria deles (91,9%), que corresponde a 34 dos pesquisados, conforme representado no Gráfico 4, disse usar o WhatsApp para gerenciar grupos de estudantes, enviar atividades e discutir questões voltadas ao meio acadêmico, como marcar encontros ou aulas on-line e tirar dúvidas.
Gráfico 4: Quais mídias digitais ou feramentas metodológicas de ensino você costuma utilizar em suas aulas remotas?
Outra plataforma que ganhou força na cidade de Paulista/PB para a execução das aulas on-line foi o Google Meet. A pesquisa revelou que essa ferramenta é a preferida entre eles para ministrar suas aulas de forma remota, sendo utilizada com maior frequência pelos professores com vínculos na rede estadual de ensino.
A plataforma Google Classroom também não fica atrás, com 45,9% dos pesquisados, o que corresponde a dezessete professores que utilizam a feramenta como meio de gerenciar as atividades de suas turmas. Lá, eles postam as atividades semanais e acompanham seu desenvolvimento pelos estudantes.
Levando em consideração o uso das mídias digitais mencionadas e que são utilizadas pelos professores para ministrar suas aulas, estas são executadas com base em várias metodologias, confome a necessidade da turma, como podemos observar no Gráfico 5.
Gráfico 5: Quais metodologias você costuma usar no ensino remoto?
É possível perceber que o uso de aulas on-line explicativas e discursivas, geralmente efetuadas via plataforma Google Meet ou mesmo Zoom, a publicação de vídeos no YouTube e a aplicação de atividades periódicas disponibilizadas nas plataformas Google Classroom e grupos de WhtasApp constituem as metodologias mais adotadas pelos professores. Como método adicional e complementar de estudo também são feitas indicações de livros digitais e de livros didáticos.
Acerca do retorno das atividades disponibilizadas pelos professores nas plataformas de ensino, a maioria deles afirmou que parcela considerável dos estudantes não realiza as atividades e outra não as executa em tempo hábil. Podemos perceber tais afirmações nas palavras dos professores P1, P5, P11 e P18, por exemplo.
Os alunos apresentam pouco interesse pelas atividades e aulas dadas. Alguns entregam em dia, mas a maioria não (P1).
O retorno, acho um pouco lento, ainda. E poucos entregam as atividades em dia (P5).
Não muito bom, eles atrasam as atividades e poucos participam das aulas (P11).
O acompanhamento é insatisfatório, pois são poucos que demonstram interesse e responsabilidade em fazer a devolutiva e/ou acompanhar os conteúdos (P18).
Vale destacar ainda que os professores mencionados fazem parte do corpo docente que ministra aula em colégio da rede estadual, revelando assim que o comprimisso com as atividades acadêmicas não tem o devido valor para uma boa parcela desses estudantes que frequentam o Ensino Médio, talvez por não terem o acompanhamento das atividades pelos pais ou demais familiares, já que, por serem adolescentes, dispensam tais atitudes.
Por outro lado, diferentemente da situação dos estudantes que fazem parte da rede estadual, os da rede municipal parecem possuir mais responsabilidade com a devolutiva das atividades bem como com a participação nas aulas, se comparados com o caso anterior, como podemos observar nas afirmações dos professores P19, P21, P24 e P33.
Recebo a devolutiva, eles recebem a correção (P19).
A participação nas aulas tem melhorado conforme eles vêm se acostumando com esse modelo, a assimilação do conteúdo é boa (P21).
São assíduos. Entregam as atividades com muito capricho e o retorno quanto à aprendizagem é satisfatório (P24).
Acompanham e entregam as atividades, às vezes um pouco atrasado, mas entregam (P33).
Como podemos observar, a maioria dos professores que fazem parte do corpo docente da rede municipal afirma que a participação nas aulas e a devolutiva das atividades são razoavelmente satisfatórias. Possivelmente esses resultados são fruto do acompanhamento de pais ou responsáveis pelas atividades escolares dos filhos.
Considerações finais
Esta pesquisa trouxe resultados de uma investigação sobre como os professores das redes estadual e municipal da cidade de Paulista/PB vêm se adaptando à nova realidade educacional do ensino remoto devido à crescente disseminação da covid-19. Em outras palavras, teria o isolamento social contribuído positivamente para que esses profissionais passassem a dar uma chance às metodologias diferenciadas por meio da inserção das mídias digitais em suas atividades pedagógicas?
Os resultados revelaram que, de início, os professores tiveram dificuldade para se adaptar ao ensino remoto. Uma parte deles não possuía cursos ou treinamento na área, outros utilizavam de forma esporádica e outros nem ao menos tinham o costume ou a prática de usar tais ferramentas em suas aulas presenciais.
No entanto, com a iminente proposta das aulas remotas nas escolas de Paulista, todos de alguma forma tiveram que procurar meios para adaptar suas “antigas” metodologias a um formato mais “atual”, um modelo que tanto se desenhava para a educação. Certamente não foi nem está sendo fácil, mas aos poucos os docentes buscam cada vez mais trazer melhorias para os seus educandos, dinamizar suas aulas e atrair a atenção dos estudantes para que eles continuem tendo aulas de excelência.
Não podemos deixar de lado, é claro, que algumas limitações vêm sendo apresentadas, o que é comum nos quatro cantos do mundo; além do cansaço físico e mental pelos quais os professores vêm passando, tem-se também o fato de que o isolamento social intensificou as desigualdades de aprendizagem de muitos estudantes da cidade de Paulista: há aqueles que possuem um bom aparelho celular e uma conexão razoável para ter acesso às aulas remotas disponibilizadas pelos professores, mas também há aqueles que não possuem tais vantagens e que por isso foram obrigados a buscar atividades impressas na escola.
Essas e outras estratégias, mesmo havendo limitações, são muito relevantes no atual cenário de distanciamento social e fechamento provisório de escolas em que nos encontramos. Portanto, é necessário que haja reinvenção da escola como espaço de aprendizagem para que desta fora a mesma possa cumprir o seu papel como entidade formadora de estudantes e cidadãos conscientes com ética e responsabilidade na sociedade em que eles estão inseridos.
Vale ressaltar também a necessidade de criação de políticas públicas voltadas a essa problemática da educação e que a partir delas se possa garantir a reinvenção da escola, bem como o acesso a uma educação de qualidade para todos.
Referências
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BEHAR, P. A. O ensino remoto emergencial e a Educação a Distância. 2020. Disponível em: https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/artigo-o-ensino-remoto-emergencial-e-a-educacao-a-distancia/. Acesso em: 12 out. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.987, de 07 de abril de 2020. Brasília: MEC, 2020.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
HARASIM, Linda et al. Redes de aprendizagem: um guia para ensino e aprendizagem on-line. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
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VIEIRA, Letícia; RICCI, M. C. C. A Educação em tempos de pandemia: soluções emergenciais pelo mundo. Florianópolis: Observatório de Ensino Médio de Santa Catarina, 2020.
Publicado em 14 de setembro de 2021
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SANTOS, Nailton Dutra dos; BEZERRA, Francisca Adriana da Silva. Impactos da covid-19 na educação em Paulista/PB: uma influência das mídias digitais. Revista Educação Pública, v. 21, nº 34, 14 de setembro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/34/impactos-da-covid-19-na-educacao-em-paulistapb-uma-influencia-das-midias-digitais
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