Educação e saúde: identificação morfológica e a importância médica dos escorpiões para alunos do 7º ano do Ensino Fundamental

Camila da Silva Moutinho

Bióloga, especialista em Análises Clínicas e Toxicológicas (Unesa), pós-graduanda em Ciências Naturais (UEAP)

Yuri Nascimento do Nascimento

Biólogo, mestre em Biodiversidade Tropical (Unifap), pós-graduando em Educação (Ifsul)

Raimundo Nonato Picanço Souto

Biólogo, doutor em Zoologia (Museu Emílio Goeldi/UFPA), professor do Colegiado de Ciências Biológicas (Unifap)

Os acidentes envolvendo animais peçonhentos constituem um problema de saúde pública em países em desenvolvimento, dadas a incidência, a gravidade e as sequelas deixadas na vítima (Martins et al., 2008). Dentre os países sul-americanos, o Brasil é o que apresenta maior número de acidentes com animais peçonhentos de interesse médico por ano. O Ministério da Saúde notificou que os envenenamentos por serpentes representam aproximadamente 29 mil casos por ano; em relação aos escorpiões, durante o ano de 2013 foram registrados 69.036 casos, que resultaram em 80 óbitos (Brasil, 2019).

Os acidentes com escorpiões devem ser sempre tratados como um agravo que necessita de atendimento médico, tendo em vista as complicações clínicas, especialmente para a faixa etária pediátrica. Além disso, o quadro de envenenamento é dinâmico e pode evoluir para um quadro clínico mais grave em minutos ou poucas horas; por esse motivo, todas as vítimas do escorpionismo, mesmo que o quadro clínico seja considerado leve, devem permanecer em observação hospitalar pelas primeiras 4 a 6 horas após o acidente, em especial as crianças (Barbosa, 2011; Cupo et al., 2003).

Diversos fatores criam ambientes favoráveis para a proliferação de escorpiões, resultando em contato com as pessoas nos centros urbanos: crescimento desordenado das áreas urbanas; precariedade de saneamento básico; falta de moradias adequadas; desmatamento e mudanças climáticas, entre outros (Lisboa et al., 2020). Apesar de os escorpiões apresentarem especificidade no que se refere ao seu hábitat, algumas espécies possuem considerável plasticidade ecológica e padrões irregulares de distribuição, como os indivíduos do gênero Tityus (Furtado, 2015).

No entanto, os escorpiões realizam um papel fundamental no equilíbrio ecológico por serem predadores de outros seres vivos, necessitando ser preservados na natureza; de acordo com Cardoso et al. (2009), não seria viável nem correto eliminar todos os escorpiões da Terra, visto que são animais milenares e importantes para a manutenção do equilíbrio ecológico. Portanto, o mais importante é a prevenção do acidente, que deve ser feita baseando-se nos hábitos e no habitat do animal (Lira et al., 2014) e orientando os estudantes nas escolas com a rápida multiplicação das medidas necessárias para o combate aos acidentes com animais peçonhentos. Assim, a presente pesquisa teve como objeto de análise promover o conhecimento sobre a identificação morfológica e a importância médica dos escorpiões junto aos alunos de escolas públicas da área urbana da cidade de Macapá/AP.

Os scorpiones

O filo Arthropoda (Gr. Arthros, articulação + podos, pé) contém a maioria dos animais conhecidos, aproximadamente um milhão de espécies, muitas delas extremamente abundantes em número de indivíduos. Inclui caranguejos, camarões, cracas e outros crustáceos (subfilo Crustacea), insetos (classe Insecta), aranhas, escorpiões, carrapatos e afins (classe Arachnida), centopeias (classe Chilopoda), os piolhos-de-cobra (classe Diplopoda), outros menos conhecidos e formas fósseis (Ruppert et al., 2005).

O corpo desses animais é segmentado extremamente em graus diversos e as extremidades pares são articuladas, sendo diferenciados em forma e função para o desempenho de atividades especiais. Todas as superfícies externas são revestidas por um exoesqueleto orgânico contendo quitina. Sistema nervoso, olhos e outros órgãos sensitivos são proporcionalmente grandes e bem desenvolvidos, próprios para respostas rápidas aos estímulos. As diversas espécies são adaptadas para a vida no ar, na terra, no solo e em água doce, salobra e salgada (Ruppert et al., 2005).

Os escorpiões são artrópodes quelicerados, pertencentes ao filo Arthropoda, classe Arachnida (por possuírem quatro pares de pernas) e ordem Scorpiones. A denominação escorpião é derivada do latim scorpio/scorpionis. Em certas regiões do Brasil, também é chamado de lacrau (Pardal et al., 2003).

Educação e Saúde

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), aprender Biologia na escola básica permite ampliar o entendimento sobre o mundo vivo e especialmente contribui para que seja percebida a singularidade da vida humana relativamente aos demais seres vivos, em função de sua incomparável capacidade de intervenção no meio (Brasil, 2000). Assim, os estudantes devem ser estimulados a observar e conhecer os fenômenos biológicos, a descrevê-los utilizando alguma nomenclatura científica, elaborar explicações sobre os processos e confrontá-las com explicações científicas.

Conforme apontam os PCN, “é uma aprendizagem muitas vezes lúdica, marcada pela interação direta com os fenômenos, os fatos e as coisas” (Brasil, 2000). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ciências Naturais (Brasil, 1998), para formar cidadãos críticos que possam acompanhar os avanços tecnológicos; a evolução cada vez maior da Ciência; possuir saber científico; e exercer plenamente a cidadania, faz-se necessário ter um olhar diferente e especial para o ensino de Ciências nas séries iniciais.

No ensino de Ciências, é preciso estimular o desenvolvimento de um conjunto de atitudes e capacidades no aluno para que ele investigue, questione, construa conhecimentos, utilize novos meios tecnológicos disponíveis e ganhe autonomia ao longo da aprendizagem, adquirindo capacidade de resposta às situações novas que irá encontrar no futuro (Aragão et al., 2019). Essa perspectiva está de acordo com os objetivos educacionais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998), que se definem em termos de capacidades de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal e inserção social, ética e estética, tendo em vista uma formação ampla, iniciada nos primeiros anos de escolarização.

Ensino de Ciências – incluindo temas que envolvem saúde e condições de vida do ser humano – pode se constituir num aliado para o desenvolvimento da leitura e da escrita, uma vez que contribui para atribuir sentidos e significados às palavras e aos discursos (Martins, 2019). A saúde deve, também, ser tratada como tema transversal, levando em conta todos os aspectos envolvidos na formação de hábitos e atitudes saudáveis, valorizando o significado social dos procedimentos e conceitos próprios das áreas convencionais, relacionando-os às questões da realidade e ampliando o valor da escola e do professor na formação integral dos cidadãos (Brasil, 1997).

A ciência, nesse sentido, é a grande aliada para estabelecer tal aprendizado e o desenvolvimento da capacidade cognitiva do aluno e da formação de sua integridade pessoal, da autoestima e, principalmente, contribuir para que o aluno se posicione com fundamentos necessários sobre assuntos polêmicos para ser capaz de orientar, de forma consciente, sua própria ação (Carlesso et al., 2015).

Compreende-se, assim, que saúde e educação estão fortemente ligadas e são interdependentes, pois, como mencionam Rodríguez e colaboradores (2007), “para se ter educação, precisa-se da saúde, ao mesmo tempo que a saúde só é alcançável quando se tem uma boa educação”. O ensino de saúde, porém, é um desafio para a educação no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hábitos de vida (Brasil, 1998).

Material e métodos

O projeto foi realizado com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Dr. Coaracy Nunes. Inicialmente, foram entregues aos alunos duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado, com todasas informações do projeto a ser realizado, levando em consideração o item IV.2 daResolução nº 466/12, de que o TCLE deve ser feito em duas vias, com a assinatura dosujeito da pesquisa e/ou seu representante legal.

Após os alunos entregarem o TCLE preenchido pelos seus responsáveis, foram realizadas aplicações de questionários semiestruturados. O primeiro questionário aplicado teve como principal objetivo sondar os conhecimentos prévios sobre escorpiões e escorpionismo que eles possuíam. O segundo questionário foi aplicado após a intervenção pedagógica, com o intuito de analisar o conhecimento dos alunos após as aulas ministradas e se elas foram favoráveis aos educandos.

Foram ministradas duas aulas teóricas, sendo utilizados como recursos pedagógicos, quadro, pincel, o livro didático Ciências e Vida na Terra,utilizado pela escola; cada educando portava o seu livro didático, e um livro técnico científico de Brusca e Brusca (2007), além de projetor multimidia e computador.

A primeira aula teórica teve explanação geral sobre artrópodes, evidenciando as semelhanças entre os animais que fazem parte de um mesmo grupo. Além dessas características, a aula trouxe em seu conteúdo as classes dos Arthropoda para que os alunos pudessem tomar conhecimento da diversidade do grupo com o qual iriam trabalhar, pois, em meio à grande diversidade existente no Reino Animal, o Filo Arthropoda é o que possui maior variedade de formas, conceitos e funções a serem estudadas e visualizadas.

A segunda aula teórica teve como temática os animais peçonhentos; mostrou, por meio de imagens, as principais características morfológicas desses animais, suas características gerais, métodos de prevenção e procedimentos em caso de acidentes.

Aulas práticas

Na primeira aula prática foi explanado sobre o grupo de aracnídeos, dando ênfase aos escorpiões e fazendo a abordagem da morfologia, habitats, alimentação, as principais espécies perigosas para o homem e métodos de prevenção. Nessa aula prática, a turma se dividiu em equipes com seis alunos. Cada equipe recebeu duas lupas de mão, luvas e exemplares de escorpiões conservados em álcool a 70% oriundos da coleção didática do laboratório de Arthropoda da Universidade Federal do Amapá (Unifap); os estudantes tiveram oportunidade de manipular os animais e de fazer perguntas sobre sua morfologia, fisiologia e ecologia.

Na segunda aula prática, realizou-se a construção, pelos próprios alunos, de modelos tridimensionais que representassem as características principais dos animais estudados, utilizando materiais de baixo custo, como massa de modelar infantil e biscuit. Ao final de toda a construção, os alunos puderam verbalizar as características morfológicas e evolutivas aprendidas.

Resultados e discussão

A amostra da pesquisa foi constituída por N=35 alunos, com idade variando entre 11 e 14 anos. Destes, 45% (N=16) eram do sexo masculino e 55% (N=19) do sexo feminino.

No primeiro questionamento aos educandos, “Você sabe o que é um escorpião?”, um quantitativo de 60% (N=21) respondeu que sim e 40% (N=14) que não. Na segunda indagação, “Você já viu um escorpião pessoalmente?”, 82,85% (N=29) das respostas disseram que sim e 17,14% (N=6) que não. Deve-se levar em consideração que a maioria dos alunos questionados é de outras regiões do Brasil, como Nordeste, Sul e Sudeste, e que em certas regiões do Brasil os escorpiões são chamados lacraus (palavra que veio de Portugal e costuma causar incerteza com o termo lacraia, que são as centopeias, muito diferentes e menos perigosas que os escorpiões); isso pode ter influenciado a resposta incorreta dos alunos. Os escorpiões, por sua vez, são também confundidos com as tesourinhas ou lacrainhas, cujo corpo termina por uma pinça com a qual agarram suas presas e que são inofensivas ao homem (Nájera, 2019).

Quando indagados se “Escorpião e aranha são os mesmos animais com nomes diferentes”, 42,85% (N=15) disseram que sim e 57,14% (N=20) afirmaram que não; quandoquestionados se “O escorpião é um inseto”, 68,57% (N=24) disseram que sim e31,42% (N=11) que não. Contudo, é comum que as crianças classifiquem aranhas e escorpiões como insetos e que os vejam como sendo o mesmo animal, por pertencerem à mesma ordem (aracnídeos), o que facilita, nessa idade, a comparação. Porém nessa idade é preciso primeiro que elas aprendam a anatomia externa dos artrópodes para depois, facilmente, poderem classificá-los e diferenciá-los (Lopes et al. 2018).

Na quinta interpelação, “Você sabe onde o escorpião pode ser encontrado? Se sim, cite alguns exemplos”, 88,57% (N=31) dos educandos responderam que não sabem onde um escorpião pode ser encontrado e 11,42% (N=4) responderam que sim; dentre alguns exemplos citados está o ambiente de mata e areia. Os escorpiões, assim como outros aracnídeos, são animais que habitam o ambiente terrestre, em praticamente qualquer habitat e micro-habitat. São animais comuns nas áreas tropicais e subtropicais, existindo tanto em regiões desérticas quanto de florestas tropicais úmidas (Ebrahimi et al., 2017).

A maioria dos escorpiões existentes não representa perigo para o homem por ter veneno suficientemente forte apenas para matar pequenos artrópodes que lhe servem de alimento. Quando ocorre de um desses escorpiões picar um homem, geralmente há apenas dor local e no máximo mal-estar (Cardoso, 2009). No interior do último segmento da cauda de todos os escorpiões há duas glândulas de veneno. O veneno é eliminado para o exterior através de dois orifícios situados lateralmente perto da ponta do ferrão, semelhante a uma agulha de injeção. Qualquer espécie de escorpião pode inocular veneno pelo ferrão; poucas, entretanto, oferecem risco de vida para o homem (Brasil, 2009).

Considerando esse embasamento, foram questionados os estudantes: “O escorpião possui algum veneno?”; 94,28% (N=33) responderam que sim e 5,71% (N=2) que não. Quando questionados se “O escorpião pode causar alguma doença?”, 80% (N=28) dos educandos disseram que sim e 20% (N=7) disseram que não podem causar doença.

Em resposta à indagação “Você conhece algum sintoma do escorpionismo?”, 51,42% (N=18) disseram que sim, que conhecem algum sintoma do escorpionismo; 48,57% (N=17) responderam que não sabem ou não responderam.

Finalizando o questionário, foi solicitado aos educandos que marcassem a opção certa de qual era o escorpião, analisando assim o conhecimento sobre outros animais. A letra “A”, representada por uma formiga (opção incorreta), apresentou 25,71% (N=9) das respostas; a letra “C”, representada por um escorpião, apresentou 62,85% (N=22) das respostas.

Intervenção pedagógica: aulas teóricas e práticas

Quando se realizou a abordagem da temática animais peçonhentos, houve questionamentos sobre a existência de mitos e dificuldades em saber como agir no caso de acidentes envolvendo esses animais; também foi observada a dificuldade que os estudantes tinham em diferenciar animais peçonhentos (aqueles que possuem aparelho inoculador de veneno) de animais venenosos (que possuem apenas as substâncias tóxicas). Porém, no decorrer das aulas, foram transmitidas as diferenças entre animais peçonhentos e venenosos do filo, o que permitiu que o alunado nas aulas ficasse mais atento.

O interesse lúdico do trabalho em questão ocorreu intensamente nas aulas práticas, pelo fato de os alunos nunca terem visto um escorpião pessoalmente, o que os deixou em êxtase, pois os alunos costumavam dizer que os escorpiões eram insetos e, fazendo a comparação dos exemplares com as imagens, acabaram percebendo as grandes diferenças. Como os alunos não tinham conhecimento prévio algum sobre os artrópodes, logo, myriapodas e aracnídeos também eram considerados insetos por eles.

Os alunos ainda explicitaram os conhecimentos acerca das diferentes letalidades dos animais, o que gerou debates entre eles, permitindo troca de informações, o que foi altamente gratificante, pois demonstrou quanto conhecimento os alunos adquiriram nas aulas e como estavam convictos das suas informações. Os discentes atentaram para vários detalhes; alguns aprendizes apenas observaram e, quando foram questionados o porquê disso, apenas relataram medo, o que normalmente acontece. Esse fato corrobora o trabalho de Jotta et al. (2017), que afirma que as aranhas e os escorpiões se destacam por possuírem má fama para com o homem, uma vez que, por serem considerados frequentemente animais perigosos e que causam aversão, devem ser evitados.

A aula prática de modelagem despertou interesse particular nos educandos, pois os modelos tridimensionais serviram para incitar a criatividade deles, impulsionando a imaginação, o que resultou em cada educando a confecção de mais de um modelo, já que eles tinham adquirido grandes informações sobre os artrópodes e principalmente sobre os escorpiões para tal procedimento. De acordo com Nascimento et al. (2017), as estratégias metodológicas visando à superação da aula verbalística, substituindo-a por práticas pedagógicas, são capazes de auxiliar a formação de um sujeito competente apto a reconstruir conhecimentos e utilizá-los para qualificar a sua vida.

Com as aulas finalizadas, observou-se que o método aplicado aos alunos corrigiu as deficiências em relação à taxonomia básica dos artrópodes, em especial dos escorpiões. A considerável participação dos alunos permitiu a interação positiva com a metodologia aplicada, pois totalizaram 45 modelos confeccionados (Figura 1) de cada táxon, representando insetos, crustáceos, aracnídeos e miriápodes; as características morfológicas (número de pernas, divisão do corpo e quantidade de olhos de cada animal confeccionado) foram lembradas pelos educandos. No que se refere ao ensino, a criação de modelos tridimensionais foi relevante, pois permitiu construir conhecimento sobre o objeto, ao invés de apenas transformar o aluno num receptor de informações teóricas. Além disso, a diversidade de material pedagógico facilitou o aprendizado, tornando as aulas práticas dinâmicas e produtivas.

Figura 1: Modelos tridimensionais de artrópodes produzidos pelos alunos

Conhecimento dos alunos após a intervenção pedagógica

Com as aulas práticas finalizadas, foi novamente aplicado o questionário para identificar os conhecimentos dos alunos sobre escorpiões. No questionamento referente a “Qual animal possui no último segmento da cauda um ferrão com veneno?”, 94,14% (N=33) responderam a letra “D”, correspondente ao escorpião, 2,85% (N=1), “A”, 2,85% (N=1) a letra “B” e 0% a letra “C”. De acordo com Brusca e Brusca (2007), o corpo do escorpião é formado pelo tronco e pela cauda. Na extremidade da cauda está o télson, onde se localizam as duas glândulas de veneno que desembocam no ferrão.

No questionamento se “O escorpião é um inseto”, observou-se que os alunos apresentaram bastante dúvida no primeiro questionário e, analisando as aulas, os educandos no segundo questionário responderam firmemente com 97,14% (N=34) que o escorpião não é um inseto (Figura 2). Os escorpionídeos, conhecidos popularmente como escorpiões, pertencem ao filo Arthropoda, classe Arachnida, e não são insetos, como pensam erradamente algumas pessoas. Juntamente com as aranhas, os carrapatos e os ácaros, que são seus companheiros de classe, os escorpiões chegam à maturidade entre um a três anos e atingem normalmente um período de vida de dois a seis anos (Cordeiro et al., 2015).

Figura 2: Resultado das respostas dos alunos quanto à pergunta se “o escorpião é um inseto”

A pergunta “Quantos pares de pernas têm um escorpião?” teve resposta de 0% para a letra “A”, 82,57% (N=29) “B”, 11,42% (N=4) para “C” e 5,14% (N=2) para letra “D”. Os escorpiões possuem quatro pares de pernas articuladas (todas inseridas no cefalotórax), que permitem locomoção e são usadas para escavar o solo. A porção de cada perna que se conecta com o corpo é denominada coxa, e segue o trocanter, fêmur, patela, tíbia, basitarso, tarso e apotele (Carvalho et al., 2017; Brusca; Brusca, 2007).

As aranhas compõem a ordem mais numerosa dos aracnídeos, sendo consideradas válidas cerca de 35.000 espécies em todo o mundo, embora, segundo alguns autores, esse número possa chegar a 100.000. Habitam praticamente todas as regiões do planeta, incluindo uma espécie aquática. Muitas espécies vivem próximas (e até mesmo dentro) de habitações humanas, favorecendo a ocorrência de acidentes (Ruppert et al., 2005). Tendo isso como base, devido ao alto índice de acidentes com aranhas, foi questionado aos alunos: “Escorpião e aranha são os mesmos animais?”, 97,14% (N=34) responderam que não; 2,85% (N=2) disseram que sim (Figura 3).

Figura 3: Resultados das respostas dos alunos quanto à pergunta “Escorpião e aranha são os mesmos animais?”

Os educandos foram questionados quanto ao habitat dos escorpiões na pergunta “Você sabe onde um escorpião pode ser encontrado?”; 91,42% (N=32) responderam que sim, que sabem onde um escorpião pode ser encontrado, sendo mencionados lugares como floresta, lugares úmidos, folhas; 8,57% (N=3) não sabem onde encontrar (Figura 4). Os escorpiões são animais que apresentam considerável plasticidade de ambientes, podendo ser encontrados inclusive nas áreas urbanas (Álvares et al., 2006). Tal fator, ligado a possíveis acidentes, confere importância de trabalhar esse grupo animal nos espaços escolares, para que os alunos conheçam as suas características e evitem contato ao se deparar com esses animais.

Figura 4: Resultado das respostas dos alunos quanto à pergunta sobre “Você sabe onde um escorpião pode ser encontrado?”

À pergunta “O escorpião possui algum veneno?”, de acordo com as informações obtidas, a grande maioria dos educandos respondeu que sim (97,14%) (Figura 5). Quando inquiridos se “O veneno do escorpião pode ser fatal?”, 100% (N=35) responderam que sim, pode ser fatal. Animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ferrões ou agulhões, por onde o veneno passa ativamente. Portanto, peçonhentos são os animais que injetam veneno com facilidade e de maneira ativa; o escorpião é um animal peçonhento.

Figura 5: Resultado das respostas dos alunos quanto à pergunta “O escorpião possui algum veneno?”

Acidentes escorpiônicos ou escorpionismo é o quadro de envenenamento provocado pela introdução de veneno através de aparelho inoculador (ferrão) de escorpiões. De acordo com a distribuição das espécies de escorpiões encontradas no país, pode haver variação nas manifestações clínicas. Porém, de modo geral, o envenenamento escorpiônico determina alterações locais e sistêmicas decorrentes da estimulação de terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo (Carmo et al., 2019). Sabendo disso, foi questionado aos alunos: “Você conhece algum sintoma do escorpionismo?”; 82,85% (N=29) responderam que sim, que conhecem alguns sintomas, sendo mencionados: dor na cabeça e febre alta; 17,14% (N=6) não souberam responder (Figura 6).

Figura 6: Resultado das respostas dos alunos quanto à pergunta “Você conhece algum sintoma do escorpionismo?”

A grande maioria dos acidentes é leve e o quadro local tem início precoce e duração limitada, no qual adultos apresentam dor imediata, eritema e edema leves, piloereção e sudorese localizadas, cujo tratamento é sintomático. Mioclonias e fasciculações são descritas em alguns acidentes por T. paraensis. Crianças abaixo de dez anos apresentam maior risco de alterações sistêmicas nas picadas por T. serrulatus, que podem levar a casos graves e requerem soroterapia específica em tempo adequado (Brasil, 2009; Carmo et al., 2019).

Conclusão

Foram obtidas informações dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema, pela aplicação de questionários, mostrando que eles não possuíam conhecimento do assunto, o que corrobora que esse tema é pouco abordado na comunidade em geral.

Observou-se que o método aplicado corrigiu as deficiências em relação à taxonomia básica dos artrópodes, em especial dos escorpiões. A metodologia empregada permitiu a interação positiva dos alunos com 45 modelos didáticos confeccionados.

A utilização de modelos tridimensionais é uma alternativa que deve ser estimulada, pois promoveu a relação do conteúdo teórico com as aulas práticas em que os alunos tornaram mais assimiláveis e compreensíveis os saberes.

Referências

ÁLVARES, E. S. S.; MARIA, M.; AMANCIO, F. F.; CAMPOLINA, D. Primeiro registro de escorpionismo causado por Tityus adrianoi Lourenço (Scorpiones: Buthidae). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 39, nº 4, p. 383-384. 2006.

ARAGÃO, A. M. S.; SILVA, J. J. J.; MENDES, M. S. Ensino de Ciências por investigação: o aluno como protagonista do conhecimento. Revista Vivências em Ensino de Ciências, v. 3, nº 1, p. 75-84, 2019.

BARBOSA, A. D. Caracterização e distribuição espacial dos acidentes escorpiônicos em Belo Horizonte, Minas Gerais, 2005 a 2009. Dissertação apresentada à Escola de Veterinária da UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza e Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2000.

______. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e quarto ciclos: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de controle de escorpiões. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

______. Boletim Epidemiológico: acidentes de trabalho por animais peçonhentos entre trabalhadores do campo, floresta e águas, Brasil 2007 a 2017. Brasília, 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html. Acesso em: 2 jul. 2021.

BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2007.

CARDOSO, J. L. C.; FRANÇA, F. O. S.; WEN, F. H.; MÁLAQUE, C. M. S.; HADDAD, J. V. Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica de acidentes. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 45, nº 6, p. 468, 2003.

CARLESSO, J. P.; TOLENTINO-NETO, L. C. B.; MORAES, A. B. As contribuições do ensino de Ciências para o desenvolvimento cognitivo de alunos nos primeiros anos de escolarização – estudo de caso comparativo. Ciência e Natura, v. 37, nº 3, p. 777-795, 2015.

CARMO, E. A.; NERY, A. A.; RIOS, M. A.; CASOTTI, C. A. Factors associated with the severity of scorpio poisoning. Texto & Contexto Enfermagem, v. 28, nº 46, p. 1-14, 2019.

CARVALHO, L. S.; BRESCOVIT, A. D.; SOUZA, C. A. R.; RAIZER, J. Checklist dos escorpiões (Arachnida, Scorpiones) do Mato Grosso do Sul, Brasil. Iheringia Série Zoologia, v. 107, p. 1-7, 2017.

CORDEIRO, F. A.; AMORIM, F. G.; ANJOLETTE, F. A. P.; ARANTES, E. C. Arachnids of medical importance in Brazil: main active compounds present in scorpion and spider venoms and tick saliva. Journal of Venomous Animals and Toxins, v. 21, nº 24, p. 1-14, 2015.

CUPO, P.; AZEVEDO-MARQUES, M. M.; HERING, S. E. Acidentes por animais peçonhentos: escorpiões e aranhas. Medicina, Ribeirão Preto, nº 36. p. 490-497, 2003.

EBRAHIMI, V.; HAMDAMI, E.; FARD, M. D. M.; JAHROMI, S. E. Predictive determinants of scorpion stings in a tropical zone of south Iran: use of mixed seasonal autoregressive moving average model. Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases, v. 23, nº 39, p. 1-13, 2017.

FURTADO, S. S. Estudo epidemiológico dos casos de acidentes com escorpião no Estado do Ceará de 2007 a 2013. Dissertação (Mestrado em Ciências Naturais e Biotecnologia), Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, 2015.

JOTTA, P. A. C. V.; COSTA, M. T.; QUEROL, M. V. M.; PESSANO, E. F. C. Percepções de crianças sobre aranhas em diferentes escolas de Uruguaiana, com vistas à educação ambiental. Educação Ambiental em Ação, v. 61, p. 1, 2017.

LIRA, A.; REGO, F.; ALBUQUERQUE, C. How important are environmental factors for the population structure of co-occurring scorpion species in a tropical forest? Canadian Journal of Zoology, v. 93, nº 1, 2014.

LISBOA, N. S.; BOERE, V.; NEVES, F. M. Scorpionism in the Far South of Bahia, Brazil, 2010-2017: case profile and factors associated with severity. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 29, nº 2, p.  1-11, 2020.

LOPES, M. M.; ANDRADE, L. P.; SABINO, J.; JUNIOR, F. P. C. Incrustação de artrópodes em resina poliéster: kit didático para o ensino de Ciências. Educação Ambiental em Ação, v. 17, nº 64, p. 1-13, 2018.

MARTINS, I. Educação em Ciências e Educação em Saúde: breves apontamentos sobre histórias, práticas e possibilidades de articulação. Ciência & Educação, Bauru, v. 25, nº 2, p. 269-275, 2019.

MARTINS, M. R.; RAFAINE, D.; NEVES, M. F.; SACCO, S. R. Escorpiões: biologia e acidentes. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v. 6, nº 10, 2008.

NÁJERA, J. M. Scorpion body size, litter characteristics, and duration of the life cycle (Scorpiones). UNED Research Journal, v.11, nº 2, p. 102-104, 2019.

NASCIMENTO, Y. N.; SÁ, D. M. C.; DIAS, P. C.; MOUTINHO, C. S.; MENDES, B. M. O conhecimento de alunos do Ensino Médio sobre a conservação e biodiversidade do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 17, nº 1, p. 66-71, 2017.

PARDAL, P. P. O.; CASTRO, L. C.; JENNINGS, E.; PARDAL, J. S. O.; MONTEIRO, M. R. C. C. Aspectos epidemiológicos e clínicos do escorpionismo na região de Santarém, Estado do Pará, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, nº 3, p. 349-353, 2003.

RODRIGUES, C. A.; KOLLING, M. G.; MESQUIDA, P. Educação e saúde: um binômio que merece ser resgatado. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 31, nº 1, p. 60-66, 2007.

RUPPERT, E. E., FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. 7ª ed. São Paulo: Roca, 2005.

Publicado em 21 de setembro de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

MOUTINHO, Camila da Silva; NASCIMENTO, Yuri Nascimento do; SOUTO, Raimundo Nonato Picanço. Educação e saúde: identificação morfológica e a importância médica dos escorpiões para alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, v. 21, nº 35, 21 de setembro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/35/educacao-e-saude-identificacao-morfologica-e-a-importancia-medica-dos-escorpioes-para-alunos-do-7-ano-do-ensino-fundamental

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.