O papel do professor como agente transformador da educação em meio à pandemia da covid-19
Keila Cristina Pinheiro de Sousa
Licenciada em Pedagogia (IFMA), bacharela em Administração, graduanda em Direito (FEST), especialista em Gestão Pública (UEMA)
Rodrigo Pereira Coelho
Pedagogo, pós-graduado em Educação em Direitos Humanos e em Psicologia da Educação, professor da rede estadual do Tocantins
A sobrevivência não é uma questão de força: ela depende da capacidade de adaptação.
Charles Darwin, naturalista, geólogo e biólogo britânico
Este trabalho insere-se em uma pesquisa relacionada ao papel do professor como agente transformador da educação em meio à pandemia da covid-19 e os reflexos da aprendizagem no contexto da saúde mundial, que limitou e excluiu a vivência das aulas presenciais nas escolas e universidades.
A mediação das novas tecnologias na aprendizagem tem propiciado a formação de espaços educacionais apoiados em teorias socioconstrutivistas que resultaram em mudanças no processo de formação no período da pandemia da covid-19, consequentemente, nas atitudes, percepções e usos dessas tecnologias nos processos de trabalho do docente. Em acréscimo, a associação da educação continuada com as tecnologias de informação e comunicação (TIC) e a flexibilidade da Educação a Distância resultaram na inclusão do local de trabalho como espaço importante para a aprendizagem. A adoção da abordagem pedagógica oriunda dos espaços tradicionais de educação e da educação on-line e as barreiras associadas às condições de trabalho e suas imbricações na vida pessoal demandam a investigação das melhores estratégias para a aprendizagem em determinados contextos educacionais; dessa forma, os desafios da prática pedagógica com a finalidade de ampliar e aprofundar a análise sobre a teoria e a prática, bem como suas dificuldades, busca elaborar uma imagem da disciplina que favoreça ações docentes eficazes na formação do cidadão comum.
Da Antiguidade até os dias de hoje, as epidemias assombram o ser humano, como foi a peste negra. Chegam sorrateiras e se instalam causando pânico e destruição. A desinformação impera e demora-se a descobrir como a doença se propaga e o que fazer para dominá-la. A famosa peste negra matou cerca de um terço da população europeia na Idade Média.
Na composição desta pesquisa, foi utilizada a abordagem qualitativa. Para sua realização, foram consultadas referências bibliográficas da área da Educação, em livros clássicos e artigos científicos publicados nos últimos cinco anos, disponibilizados na plataforma SciELO e na rede mundial de computadores. Não existe a pretensão de chegar a um material definitivo, mas de produzir um material que possa atrair estudantes e colaborar para que a iniciação do aluno seja mais sólida, efetiva e consistente, na busca crescente de sua melhoria, e assim alicerçar o edifício do conhecimento humano cada vez mais alto, porque assim é exigido pelas circunstâncias do mundo globalizado em que vivemos. Ao abordar essa temática, será feita uma reflexão sobre o papel do professor frente às tendências atuais, que cada vez mais promovem a interação entre o tradicional e o novo, muitas vezes exigindo do professor características e posturas mais inovadoras no ato de lecionar, como: criatividade, pensamento crítico, comunicação, capacidade de lidar com a tecnologia, empatia e liderança, entre outras.
O papel do professor teve que ser redefinido, remodelado em muitos contextos tradicionais. A tecnologia também assumiu papel fundamental no cenário atual, visto que serviu como base para continuidade do processo de ensino-aprendizagem.
O presente artigo fundamentou-se em pesquisa bibliográfica na Biblioteca de Teses e Dissertações sobre o tema e em artigos escritos recentemente, visto que a temática de educação e pandemia se refere ao ano de 2020.
Contextualização da pandemia
Segundo Ujvari (2020), a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu no dia 31 de dezembro de 2019 o alerta de uma nova doença na China que se instalava de forma epidêmica no interior, precisamente na cidade de Wuhan, com dez milhões de habitantes, a sétima maior cidade chinesa. Os doentes evoluíam com febre, tosse, indisposição e, o mais grave, falta de ar, podendo levar a óbito em poucas horas.
No dia seguinte ao alerta da OMS, o mercado central de frutos do mar de Wuhan, provável foco da epidemia, foi fechado. E, em uma semana, o inimigo foi identificado: um novo coronavírus, batizado nos meses seguintes como SARS-CoV-2; sua doença foi batizada como covid-19.
Naquele janeiro de 2020, enquanto as informações sobre a nova epidemia transitavam entre os escritórios das agências de saúde nacionais e internacionais, o vírus já se disseminava pelas cidades chinesas e ultrapassava fronteiras. O vírus era transmitido por gotículas eliminadas na fala, no espirro e na tosse. Dificilmente se conseguiria controlar a nova pandemia.
Casos começavam a aparecer na Tailândia, no Japão, na Coreia do Sul, em Taiwan, Vietnã, Austrália, Malásia, Camboja e Canadá. No final de janeiro, ocorreu o inevitável: a Organização Mundial da Saúde declarou a covid-19 uma emergência de saúde pública internacional e relatou já haver 18 países com a presença viral. O iminente colapso do sistema de saúde seguia a epidemia. Tornava-se claro que a melhor maneira de conter os riscos era o isolamento social precoce, logo após detectar os primeiros casos da doença.
Pela primeira vez na história, uma pandemia parou o mundo em 2020. Na pandemia, todos verbalizaram a grande frase de tranquilização: “Vai passar”. Sim, a covid-19 passará, porém, até que se concretize essa frase, a educação precisa se reinventar, inovar, para que a realização do ensino-aprendizagem aconteça de forma eficaz, neste momento, por muitos chamados de “novo normal”.
Família em tempo de crise
As mudanças provocadas por uma pandemia e por situações de morte de um ente querido ou perda de emprego costumam atingir duramente as famílias e dificultar as relações entre pais e filhos. É necessário encontrar um senso claro de direção e recuperar o equilíbrio diante da adversidade.
De acordo com Omer (2020), a liderança parental é importante na vida cotidiana – e crucial em tempos de crise. As crises representam um grande desafio para os pais, principalmente no que diz respeito ao senso de direção de que os pais necessitam para liderar a família durante a crise e no que se refere ao poder positivo necessário para fazê-lo de modo efetivo.
No período situado entre esses grandes acontecimentos, a família foi colocada à prova, não apenas na pandemia, mas também em crises familiares provocadas por diversos incidentes críticos, como o desemprego. É necessário dar continuidade funcional à capacidade de continuar agindo apesar das perturbações que afligem os momentos atuais.
Posto isto, a educação dos filhos precisou ser reelaborada, adaptando-se ao novo período. Para os filhos em idade escolar, a continuidade funcional compreende manter as rotinas diárias, como levantar-se na hora, vestir-se, tomar café da manhã, assistir a suas aulas online, fazer a lição de casa, realizar outras atividades rotineiras (como praticar jogos, atividades lúdicas, no ambiente de quarentena), cuidar da higiene pessoal e ir dormir no horário combinado.
Manter uma rotina de tarefas ligadas à escola tem consequências importantes que não são meramente educacionais. A criança que perde o senso de continuidade funcional como estudante torna-se vulnerável a uma série de ameaças comportamentais e mentais, como entregar-se ao ócio, tornar-se viciado em telas e sofrer declínio físico e mental.
Omer (2020) esclarece que, ao perder contato com amigos, colegas de classe e membros da família estendida, a criança pode cair em um vácuo interpessoal que mina seu senso de pertencimento. Essa sensação de desconexão afeta gravemente sua resiliência física e mental. Além disso, uma criança que não se sente mais aluna torna-se suscetível a tipos problemáticos de identidade.
Isso é comum em casos de evasão escolar, nos quais a criança desenvolve a sensação de ser incapaz, fraca ou perturbada. Com o passar do tempo, o retorno à normalidade fica cada vez mais difícil. O período de transição, quando as restrições da crise são gradualmente suspensas, pode ser desafiador tanto para os filhos quanto para os pais. A falta de recursos, aparelhos tecnológicos e acesso à internet tem dificultado a continuidade dos trabalhos escolares. Alguns estados optaram por conceder equipamentos adequados para os alunos da rede pública que não os possuíam, fato ocorrido por exemplo no Maranhão, com a distribuição de auxílio à inclusão digital (chip com acesso à internet e equipamentos) para que os alunos pudessem acompanhar as atividades remotas.
Segundo a matéria disponibilizada no jornal eletrônico Brasil de Fato, em 20 de agosto de 2020, confirmava-se a dificuldade de acesso à internet:
O Rio Grajaú tem 770km de extensão. O curso de água banha o estado Maranhão e deságua no Rio Mearim, mas antes disso é caminho para muitos estudantes das áreas rurais do estado terem acesso à educação. No entanto, em março, devido à pandemia do novo coronavírus, as aulas foram suspensas e alternativas de manter o ensino vêm sendo testadas. Desde agosto, um decreto do governo do estado tornou obrigatório o ensino remoto, o que tem sido um desafio ainda maior aos estudantes, pais e educadores. No Maranhão, quase 40% da população vivem em áreas rurais (IBGE, 2010), e a maioria das escolas do campo não tem acesso à internet, é o que confirma a Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras, de 2018. De acordo com a pesquisa, 69% das escolas rurais do Nordeste não possuem nenhum computador com acesso à internet, e, quando possuem, enfrentam o desafio de efetivação do uso por causa da baixa velocidade de conexão e falta de estrutura na região, que disponibiliza no máximo 2Mbps. (Brasil de Fato, 2020).
Pouco mais de 28% dos estudantes do Brasil têm acesso a computadores com internet nas escolas (a média global é de 55,9%), segundo dados do estudo organizado pelo IEDE (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional). O estudo foi baseado em informações coletadas no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
Figura 1: Acesso à internet
Fonte: Escolas do campo acompanham distantes a evolução da 'era da tecnologia' (Cetic, 2018).
A dificuldade de acesso, a falta de recursos e a dificuldade dos pais ou responsáveis podem e devem causar grave problema de evasão escolar, principalmente na rede pública. Segundo matéria publicada em 10 de setembro de 2020 no veículo jornalístico Congresso em Foco, verifica-se:
Os efeitos econômicos da pandemia do coronavírus devem ampliar o fosso entre os estudantes brasileiros e aumentar a evasão escolar e a desigualdade social. A avaliação é feita pelo líder de Relações Governamentais do Todos pela Educação, Lucas Hoogerbrugge. A entidade do terceiro setor é uma das mais atuantes na área.
“Já existe uma tendência maior de reprovação. A evasão, que tira o estudante da trajetória correta, é mais comum entre as famílias mais vulneráveis. Com a pandemia, deve haver uma necessidade maior de jovens começarem a trabalhar mais cedo. Muitas famílias não terão condições de pagar uma creche. Há um efeito de fragilização da família que levará à evasão”, explica Lucas.
Para o Todos pela Educação, pandemia escancara desigualdade educacional
A “Educação em tempos de pandemia” é tema de live promovida pelo Congresso em Foco nesta sexta-feira (11), às 11h15. Você poderá acompanhar a discussão pelo site e pelas nossas redes sociais.
Participarão do debate os deputados Marcelo Freixo (Psol-RJ), Tabata Amaral (PDT-SP) e Raul Henry (MDB-PE) e a presidente-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz. A organização apoiou a categoria Defesa da Educação, do Prêmio Congresso em Foco 2020. Os três parlamentares que participarão do encontro virtual ficaram entre os premiados da categoria.A preocupação de Lucas Hoogerbrugge está em consonância com o levantamento “Juventudes e a pandemia do coronavírus”, encabeçado pelo Conselho Nacional de Juventude em parceria com outras entidades.
De acordo com a pesquisa, divulgada em junho, 28% dos jovens pensam em abandonar a escola após a pandemia e 49% avaliam desistir do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao todo, 67% dos estudantes declararam que não estão conseguindo estudar para o Enem, uma das principais portas de acesso à universidade.
Outra pesquisa, feita pelo Unicef e pelo Instituto Claro, mostrou que, apenas em 2018, cerca de 3,5 milhões estudantes foram reprovados ou abandonaram os estudos no Brasil.
Para o líder de Relações Governamentais do Todos pela Educação, a pandemia está escancarando as desigualdades entre os estudantes brasileiros. Estudo divulgado semana passada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que mais de 6 milhões de estudantes brasileiros não têm acesso à internet.
“A desigualdade já era grande antes da pandemia. Agora ficará escancarada. Há estudantes que conseguem estudar em casa, que os pais estão em home office e têm acesso à internet. Em muitas famílias os cuidadores nem ficam em casa ou não têm internet”, exemplifica.
Levantamento feito pelo Todos pela Educação indica que as receitas vinculadas à educação, na rede pública, devem ter um tombo entre R$ 24 bilhões e R$ 58 bilhões em razão da pandemia.
Para Lucas, as autoridades públicas devem buscar o retorno das aulas presenciais observando todos os protocolos sanitários para evitar a propagação do vírus, seja entre crianças, professores, demais funcionários e familiares. “Devem implantar desde a marcação de espaço, o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), infraestrutura, distanciamento entre carteiras, revezamento de horário de entrada e saída da escola e intervalo”.
Professores em tempo de pandemia da covid-19
Na singularidade da pandemia como irrupção do desconhecido na cultura, as vivências da quarentena modificaram dois eixos fundamentais no dinamismo das relações eu-outro-mundo: (a) os modos e qualidades de distribuição dos investimentos afetivos em si e nas pessoas, que tornam-se intensificados na vida confinada ao domicílio; (b) a experiência do tempo marcado pela incerteza sobre o futuro como pela alteração dos ritmos de continuidade e descontinuidade no trabalho, na convivência familiar e seus distanciamentos e na duração de vivências afetivas interiores intensificadas pelo confinamento.
Segundo Pasternak (2020), muitos séculos se passaram até que Francis Bacon e Galileu Galilei delineassem os métodos pelos quais se buscassem causas naturais para os fenômenos naturais; essa busca pôde ser mais bem realizada, abrindo as portas para o mundo moderno de ciência e tecnologia dos dias de hoje.
No modelo de ensino tradicional, somente o professor era detentor do conhecimento; os alunos eram apenas ouvintes e o professor tinha dificuldade de identificar se o aluno havia aprendido ou não. Mas, diante das novas tecnologias, essa realidade mudou, o aluno passou a ter acesso a inúmeras informações, virou protagonista, e o professor, que antes era o único detentor em transmitir conhecimentos, passou a ser o mediador de conhecimento.
De acordo com Masetto (2015), as tecnologias digitais afrontam as organizações educacionais a descobrir possibilidades inovadoras no ensino tradicional e a atribuir importância na aprendizagem mais interativa, proporcionando momentos presenciais e outros com atividades virtuais; dessa maneira, docentes e discentes interagem virtualmente e podem manter vínculos pessoais e afetivos. O perigo está na fascinação com que as tecnologias com novidades constantes influenciam muitos jovens e adultos, mais para utilizar como distração e lazer do que para estudo e pesquisa, que ocorre quando existe falta de planejamento das atividades didáticas. Sem a mediação eficaz do docente, a utilização dessas ferramentas na escola pode favorecer a diversão e o lazer, comprometendo os resultados esperados.
O simples fato de viver no século XXI já nos torna beneficiários da ciência e dos seus frutos, mesmo que não nos demos conta dessa verdade. Acha-se que o mundo tal como existia desde o dia em que se nasce é a própria definição de “normal” e “natural”. O ser humano existe num mundo construído por técnicos e engenheiros, que trabalham com as ferramentas criadas por cientistas. Se forem ignoradas essas ferramentas, que são como os fios, cabos e engrenagens que operam debaixo do capô da civilização, a humanidade estará exposta a graves riscos.
De acordo com Silva (2015), desde o século XX, com a maior difusão dos computadores pessoais e o acesso crescente à internet, a informação e a comunicação passaram por transformações muito significativas, tanto na esfera da vida cotidiana (lazer, convívio pessoal) quanto em atividades especializadas de trabalho e pesquisa, que incluem o processo de ensino-aprendizagem.
Ao longo do século passado, a ficção científica na literatura textual ou em quadrinhos, além dos cinemas e dos seriados televisivos, entre outros gêneros artísticos, é possível perceber que já havia, ao menos a partir dos anos 1930, continuando nas décadas seguintes, a expectativa de uma transição para o século XXI marcada tecnicamente por grandes mudanças no campo dos transportes: foguetes, discos voadores etc.; isso cresceu muito nos anos 1950 e 1960, com a corrida espacial e as viagens tripuladas para a Lua.
Para Fanti (2019), o mundo virtual é parte integrante da vida dos cidadãos e a mobilidade proporcionada pelo uso de dispositivos móveis – que disponibilizam informação a qualquer lugar e a qualquer hora – traz um desafio para as práticas e ambientes educacionais estruturados em disciplinas que muitas vezes não se comunicam, em tempos de aulas definidos e centrados na figura do professor como principal organizador dos conteúdos.
Neste momento de pandemia da covid-19, o professor necessita pensar sobre algumas perspectivas básicas no contato com a informática no campo do conhecimento, tanto na pesquisa quanto no ensino e na aprendizagem. Por meio das redes de comunicação, os profissionais da Educação passaram a ter acesso facilitado a catálogos e tópicos de acervo de arquivos, museus, bibliotecas e instituições similares. Ao mesmo tempo, bancos de dados acumularam resultados de pesquisas e oferecem instrumentos de trabalho muito úteis. No campo do ensino, vale assinalar a existência de sites didáticos em geral.
As metodologias ativas surgiram devido à necessidade de remodelagem do modelo de ensino tradicional, com suas novas formas de abordagem para o ensino-aprendizagem. Nelas, os alunos são os principais agentes de construção do conhecimento. Inovam o conceito entre professor e aluno com caminhos que levem ao desenvolvimento da aprendizagem criativa, autônoma e colaborativa.
Para Durli (2018), a reformulação do papel do professor na relação pedagógica é uma das características fundamentais da EaD, que se apoia na “tutoria/orientação” realizada com o suporte de diferentes profissionais, meios e ferramentas pedagógicas.
De acordo com Moran (2019), metodologias ativas não são um tema novo; o assunto vem sendo trabalhado ao longo do século XX, mas a ênfase e a urgência, sim, o são. Cada pessoa, criança ou adulto, aprende de forma ativa e diferente a partir do contexto em que se encontra e do que lhe é significativo, relevante e próximo ao seu nível de conhecimento e desenvolvimento. Todos eles questionam também o modelo escolar de transmissão de informação e de avaliação uniforme para todos os aprendizes.
A aprendizagem mais profunda requer espaços de práticas frequentes (aprender fazendo/refletindo), ambientes ricos de oportunidades e bons mediadores. Está acontecendo um processo de transição da escola-biblioteca para a escola-laboratório. Na escola-biblioteca, o fundamental era o conhecimento organizado e transmitido; na escola-laboratório, é aprender fazendo, experimentando, vivenciando, refletindo e orientando.
Segundo Spanhol (2018), o poder da comunicação move a educação, se apropriando da informação desejada através da web, do Facebook, do Instagram, do YouTube, do Telegram, do mooc, no ambiente virtual de ensino-aprendizagem e construindo um entendimento, um conceito desejado, necessário mais próximo da realidade e mais distante das fake news.
É fundamental que os estudantes participem de ambientes ricos de experimentação, com atividades bem desenhadas para cada um, em que possam explorar, errar, refazer, empreender, cada um no seu ritmo, do seu jeito, ajudando-se e em contato com o mundo real, inserindo-se na cidade e no mundo.
Spanhol (2018) salienta que metodologias ativas se expressam nos conceitos maker (explorar o mundo de forma criativo-reflexiva, utilizando todos os recursos possíveis) design (desenhar soluções, caminhos, itinerários, atividades que ajudem os estudantes a aprender de forma mais rica e abrangente) e empreender (testar ideias com protótipos que permitam rápidas adaptações para corrigir erros e aprender a melhor forma de realizá-las).
Plataformas digitais
As plataformas digitais caminham para adaptar-se cada vez mais às diversas necessidades dos estudantes e tornam visíveis para todos (estudantes e docentes) os diversos percursos e ritmos, os avanços e dificuldades de cada um, o que contribui para que os professores possam planejar melhor as atividades em sala de aula e desenvolver seu papel tutorial, de orientação (Spanhol, 2018).
Nesse contexto, os processos de ensino-aprendizagem no período de pandemia são partes fundamentais do desenvolvimento dos educandos e estão nos objetivos dos referenciais curriculares que norteiam o trabalho do educador. Antes de pensar sobre técnicas e métodos, se faz necessária uma reflexão a respeito do papel do professor.
Para promover um ensino consistente, expressivo, associado à aprendizagem significativa e à ampliação do repertório do aluno, o professor precisa se colocar de modo que ofereça vivências e que estimule o educando a apreciar e refletir mediante o universo das artes visuais.
Assim, as técnicas e métodos passam pelos caminhos dessas vivências e possibilitam a ampliação da qualidade do ensino, trazendo para a escola um trabalho flexível de experimentações escolares. Desse modo, deve-se levar em consideração que os caminhos de trabalho são diversos e maleáveis.
O grupo de pesquisa em Mídia e Conhecimento (LabMídia) da Universidade Federal de Santa Catarina, certificado no CNPq, desenvolve ações voltadas à mídia, à educação, à inovação e ao conhecimento, tanto com foco no ensino quanto na pesquisa e extensão. Essas ações e pesquisas têm impactado as mais diversas áreas e, em especial, a educação. Um reflexo desse movimento por uma educação em rede tem se concretizado com uma rede em construção, tecida em vários formatos: articulações e projetos, vídeos e sites que tratam do assunto e eventos como o Encontro Nacional de Inovação na Educação, em um primeiro encontro em 2015, e um segundo encontro, agora internacional, realizado em 2017 (Spanhol, 2018).
Os procedimentos para praticar ensino-aprendizagem são inúmeros e devem estar pautados em ações flexíveis que construam caminhos para a escolha de bons métodos.
Os procedimentos para o ensino virtual são diversificados. Isso requer responsabilidade metodológica, pois desenvolver a criatividade e o espírito investigativo é primordial. Os caminhos de abordagens metodológicas não findam e tornam os processos de ensino-aprendizagem possibilidades de reconhecimento dos métodos dessa linguagem artística. O educador deve estar, portanto, atento a essas abordagens, que precisam acontecer de maneira flexível, criativa, com referência a seu contexto. Os direcionamentos dos conteúdos e das formas de trabalho e nova didática poderão ser efetivamente ampliados.
A avaliação faz parte da identificação das defasagens nos processos de ensino-aprendizagem e as ações devem ser pautadas em observações a respeito do desenvolvimento do fazer, de contextualização histórica, social, antropológica e/ou estética, e da leitura crítica e sensível de produções em artes visuais.
De acordo com Sa (2003), o trabalho docente na modalidade Educação a Distância, embora tenha a mesma natureza, o mesmo objeto e os mesmos aportes epistemológicos que a educação presencial, assume características específicas e complexas.
Na visão de Fanti (2019), o maior desafio é entender como mediar a aquisição do conhecimento de uma geração nascida na cultura digital, de uma geração conectada que tem disponível informação em qualquer lugar e a qualquer hora.
Para Sa (2003), enquanto na presencial o docente estabelece relação “face a face” com o aluno, em tempo e espaços definidos, na Educação a Distância essa relação pedagógica configura-se a partir de elementos mediadores com tempos e espaços muitas vezes distintos.
Programas e aplicativos na Educação a Distância em tempo de pandemia
Refletir sobre os métodos e abordagens em didática virtual é importantíssimo. Isso requer atenção e faz parte do processo que efetiva a qualidade do ensino. “Tradicionalmente, a escola é vista e colocada pela sociedade como um espaço de ensino, aprendizagem, transformação e emancipação pessoal e social por meio do conhecimento” (Santos, 2017, p. 90); através da didática virtual puderam-se ampliar as vias de acesso a esse conhecimento. Assim, se entende que refletir sobre qual método ou abordagem será usado é respeitar o próprio trabalho e, principalmente, os saberes dos estudantes.
Em momentos como o atual, a covid-19 nos levou a repensar a educação e todos os seus processos. A pandemia afastou os alunos presenciais, especialmente os da Educação Básica e técnico das salas de aula. Surgiram, então, as necessidades de adaptação e de superação, tanto por parte dos gestores e dos docentes quanto pelos discentes, incluindo toda uma sociedade.
Conforme mostrado a seguir, durante esse processo emergencial conhecemos e utilizamos alguns desses instrumentos para a educação. Existe uma diversidade de instrumentos; os apresentados no artigo foram testados pela autora, que teve a oportunidade de utilizá-los nas suas atividades. Esses programas e aplicativos, além da sua gratuidade como grande diferencial, possuem excelentes benefícios que contribuem para a tecnologia usual (computador, slides, projetor).
Quadro 1: Programas e aplicativos utilizados para as aulas em tempo de pandemia
Nome |
Finalidade |
Funcionalidades |
Sistema Moodle |
Organização de disciplina, cursos e aulas on-line |
O programa permite a criação de cursos on-line, páginas de disciplinas, grupos de trabalho e comunidades de aprendizagem. A plataforma é gratuita e riquíssima, aceitando vídeos e arquivos diversos. |
Google Classroom |
Organização de disciplina, cursos e aulas on-line |
O Google Sala de aula (Google Classroom) é um serviço grátis para professores e alunos. A turma, depois de conectada, passa a organizar as tarefas on-line. O programa permite a criação de cursos, páginas de disciplinas, grupos de trabalho e comunidades de aprendizagem. |
YouTube |
Transmissão de aulas e repositório de vídeos |
Plataforma de compartilhamento de vídeos e de transmissão de conteúdo (ao vivo – lives – ou gravados). O docente pode criar o “seu canal” e ser acompanhado pelos discentes, já acostumados com a plataforma. |
Google Meet |
Videoconferências |
Aplicativo para fazer videoconferências on-line, com diversos participantes, até 100 na versão gratuita, tendo o tempo máximo de 60 minutos por reunião, nessa versão. Existe uma versão paga, em que o tempo é livre e a quantidade de participantes aumenta para 250. |
Considerações finais
O uso do raciocínio tem garantido ao educador um processo crescente de inovações. Os conhecimentos daí derivados, quando colocados em prática, dão origem a diferentes equipamentos, instrumentos, recursos, produtos, processos, ferramentas – enfim, tecnologias. De acordo com essa perspectiva migrar-se-á do território de uma visão pedagógica behaviorista, reducionista e cartesiana, em que o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na educação é percebido com desconfiança, para promover uma nova visão pedagógica, holística e complexa, em que se consolidará o uso pedagógico e cognitivo das TIC na Educação.
Os vínculos entre conhecimento, poder e tecnologias estão presentes em todas as épocas e em todos os tipos de relações sociais. A educação também é um mecanismo poderoso de articulação das relações entre poder, conhecimento e tecnologias. Desde pequena, a criança é educada em determinado meio cultural familiar, em que adquire conhecimentos, hábitos, atitudes, habilidades e valores que definem a sua identidade social.
Em um momento caracterizado por mudanças velozes, as pessoas procuram na educação escolar a garantia de formação que lhes possibilite o domínio de conhecimentos e melhor qualidade de vida. Na ação do professor, e no uso que ele faz dos suportes tecnológicos, tão necessários nesta época de pandemia, são novamente definidas as relações entre o conhecimento a ser ensinado, a inovação do professor e a forma de exploração das tecnologias disponíveis para garantir melhor aprendizagem pelos alunos.
O professor, nesse tempo de pandemia da covid-19, tem dois trabalhos muito importantes: por um lado, está a preparação e conhecimento das experiências em TIC, a gestão dos diversos softwares utilizados na concepção do ambiente, o conhecimento dos objetivos e realizações que se pretendem; em segundo lugar, deve haver clareza sobre o seu papel de mediador do conhecimento, buscando caracterizar os conceitos do ponto de vista cultural, com base nas construções de seus alunos, nas várias etapas que a teoria das situações expõe.
Referências
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Publicado em 28 de setembro de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
SOUSA, Keila Cristina Pinheiro de; COELHO, Rodrigo Pereira. O papel do professor como agente transformador da educação em meio à pandemia da covid-19. Revista Educação Pública, v. 21, nº 36, 28 de setembro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/36/o-papel-do-professor-como-agente-transformador-da-educacao-em-meio-a-pandemia-da-covid-19
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