O aplicativo Google Classroom no ensino remoto da rede pública estadual de Minas Gerais

Gustavo Gomes Siqueira da Rocha

Mestre em Letras (UFJF), especialista em Literatura, Cultura e Artes na Educação, em Docência do Ensino Superior e em Tutoria em EaD, graduado em Letras (UFF), professor da Educação Básica (SEE/MG) e tutor presencial no curso de Letras (UFF/Cederj)

Carina de Almeida Coelho

Mestra em Letras (UFJF), especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e Espanhola (UCAM), graduada em Letras - Espanhol e Português (UFJF), professora da Educação Básica e do curso técnico em Administração e Logística (SEE/MG)

Este estudo possui como tema o uso do aplicativo Conexão Escola 2.0, reformulado e adaptado para acesso à plataforma Google Sala de Aula, do inglês Google Classroom, e sua importância para a interação professor-aluno durante o ano de 2021 no ensino remoto do Estado de Minas Gerais.

Diante disso, parte-se da seguinte pergunta de pesquisa: como o aplicativo Google Sala de Aula auxilia os alunos e professores na continuidade dos estudos, que tiveram sua modalidade presencial interrompida em 2020 devido à pandemia da covid-19?

Em termos metodológicos, este trabalho realiza uma análise qualitativa de dados e informações obtidas em documentos oficiais emitidos pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) durante os anos de 2020 e 2021, encontrando aporte teórico em Pereira (2016); Rocha e Coelho (2020); e Schiehl e Gasparini (2016). Vale ressaltar que serão apresentados relatos de dois professores que atuam na rede, com o objetivo de observar suas percepções e sentimentos em relação ao uso do aplicativo.

A ferramenta Google Sala de Aula

Com o objetivo de regime de teletrabalho no âmbito da rede pública estadual de Minas Gerais, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) teve seu início, em 2021, no dia 8 de março. É válido ressaltar que o modelo de ensino passou a vigorar a partir de maio de 2020 com vistas a dar continuidade ao processo de ensino, interrompido pela pandemia da covid-19. O REANP está ancorado a três pilares: Plano de Estudo Tutorado (PET), programa Se Liga na Educação e aplicativo Conexão Escola. Rocha e Coelho (2020, p. 2) explicam:

Nesse aspecto, o Plano de Estudo Tutorado (PET) é um módulo mensal disponibilizado para cada ano de escolaridade, contendo atividades de cada disciplina a serem realizadas semanalmente com a mediação do professor a distância. O programa Se Liga na Educação é disponibilizado como complemento e auxílio quanto à realização das tarefas do PET e é transmitido de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 11h15, pela emissora Rede Minas e plataforma de vídeos YouTube.

Os Planos de Estudos Tutorados (PET) são apostilas mensais que em 2021 se tornaram bimestrais, utilizadas para subsidiar o estudo e a aprendizagem dos discentes do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio; esses conteúdos são fundamentados no Currículo de Referência de Minas Gerais (CRMG) e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

O programa de TV Se Liga na Educação é transmitido na Rede Minas, em Belo Horizonte e na Região Metropolitana, no canal 9 da TV aberta. Nas outras cidades, os estudantes devem acessar o site da emissora. Em 2021, a postagem teve início no dia 15 de março, uma segunda-feira. Essas aulas podem ser utilizadas como material complementar e acontecem de segunda-feira a sexta-feira, pela manhã, de 07h30min a 11h10min. Há programação por área: na segunda-feira, os conteúdos de Linguagens, como Língua Portuguesa, Literatura, Inglês, Arte e Educação Física; na terça-feira, os de Ciências Humanas, como História, Geografia, Sociologia e Filosofia; na quarta-feira, somente o conteúdo de Matemática; na quinta-feira, os conteúdos de Ciências da Natureza, como Biologia, Física e Química; por fim, na sexta-feira, o estudo fica focalizado no Enem.

Acerca do aplicativo Conexão Escola, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) esclarece que,

a partir da consulta pública realizada entre 15 de dezembro de 2020 e 15 de janeiro de 2021 e atendendo às solicitações da rede, este ano foi disponibilizada uma nova versão do aplicativo, o Conexão Escola 2.0, que foi reformulado e agora oferece novas possibilidades de interação entre os professores e estudantes por meio da plataforma Google Sala de Aula. Também no aplicativo está disponível o acesso às avaliações diagnósticas e ao Plano de Estudos Individual, que estará disponível ao estudante na semana seguinte à finalização dos testes (Minas Gerais, 2021, p. 1).

De acordo com Schiehl e Gasparini (2016, p. 6),

o Google Sala de Aula é uma sala virtual, onde o professor organiza as turmas e direciona os trabalhos, usando ou não as demais ferramentas do Google Apps. O professor acompanha o estudante no desenvolvimento das atividades e, se necessário, atribui comentários e notas nas produções realizadas.

O Google Sala de Aula recebe também o nome de Google Classroom, que é uma ferramenta de auxílio aos professores para realizar e postar atividades, fazer chamadas e tirar dúvidas dos estudantes de modo remoto, sendo um dispositivo gratuito que ajudou muitas escolas do Brasil a manter contato com os discentes de modo estruturado e organizado, já que o docente pode deixar suas aulas salvas e agendá-las para que não ocorra falha na hora de sua postagem.

O aplicativo oferece também interface direta com outros serviços Google, tais como: Google Drive, Google Meet e Google Forms, dentre outros que compõem o Google Apps for Education, e podem ser utilizados de modo a aprimorar as aulas remotas durante o período da pandemia da covid-19.

Pereira (2016, p. 3) afirma que o Google Sala de Aula

se configura como uma [sic] plataforma muito similar ao Moodle, porém, com um design seguindo os padrões da empresa, o que possibilidade uma empatia e usabilidade muito positiva no uso. Além disso, possibilita que o professor desenvolva tarefas nesse AVA (Google Sala de Aula) e utilize outras ferramentas (aplicativos) que compõem o Google Apps for Education.

Vale ressaltar que o acesso às salas de aula do Google Classroom

é restrito aos estudantes e funcionários cadastrados pela escola. Esse cadastro é vinculado a um domínio relacionado à instituição, promovendo assim mais autenticidade e organização dos assuntos relacionados à escola (Schiehl; Gasparini, 2016, p. 6).

No âmbito da rede estadual de ensino, o grande entrave dessa ferramenta tem sido o fato de os alunos não se se adaptarem e não criarem o hábito de fazer atividades e se planejar para não acumular tarefas. Para controlar e evitar esse acumulo, o professor pode dar um prazo de entrega e limitar o acesso ao exercício por um período de tempo. Outra questão importante para se discutir é que muitos desses discentes também alegam ter dificuldade de acessar o Google Sala de Aula, uma vez que é preciso um e-mail institucional (normalmente criado pela SEE/MG) e eles preferem a facilidade de pedir por WhatsApp o exercício.

Alguns relatos de docentes

O autor deste trabalho, Gustavo Gomes Siqueira da Rocha, professor na Escola Estadual Ilka Campos Vargas na cidade de Tombos, pertencente à Superintendência Regional de Ensino de Carangola, compartilha suas percepções acerca do uso do aplicativo.

Em 2020, o aplicativo Conexão Escola era muito limitado e sofria muita rejeição, tanto da parte dos docentes quanto dos discentes, uma vez que sua navegação não era intuitiva e seus recursos eram insuficientes para atender à grande demanda. Em 2021, houve o anúncio da reformulação do aplicativo para sua versão 2.0, contendo uma versão da plataforma Google Sala de Aula, já conhecida e amplamente difundida em escolas das redes pública e privada. O maior desafio, no entanto, foi incentivar o uso do app pelos discentes e tirá-los do hábito de enviar as tarefas no privado do WhatsApp, procedimento que ocorria em 2020.

Os alunos tiveram muitas dificuldades para acessar o e-mail institucional e cadastrar na plataforma. Aos poucos, os problemas iniciais de acesso foram vencidos e o uso foi sendo aumentado. As funções do aplicativo maximizam o tempo do trabalho remoto tanto para alunos quanto docentes, uma vez que nele é possível postar instruções, links e vídeos explicativos, dentre outros recursos, e os alunos têm a possibilidade de enviar suas tarefas e receber notas e feedbacks.

A coautora deste trabalho, Carina de Almeida Coelho, docente na Escola Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes, na cidade de Juiz de Fora, Zona da Mata de Minas Gerais, relata sua experiência:

Os alunos inicialmente demonstraram muita resistência ao uso dos meios eletrônicos oficiais, sendo postada a atividade adaptada do PET no Google Forms através do WhatsApp, mas em 2021 foi obrigatória a inclusão no Conexão Escola 2.0. Assim, os estudantes tiveram explicação tanto pelos professores quanto pelos especialistas para migrar para o aplicativo exigido pelo Estado de Minas Gerais.

Demorou um mês para que os discentes aprendessem a manusear o Conexão Escola 2.0, depois da mudança do aplicativo WhatsApp. Como relatado pelo Gustavo, muitos discentes tiveram dificuldade, nessa adaptação, em inserir o e-mail e lembrar da senha.

É importante ressaltar que o aplicativo Google Sala de Aula é bastante interessante, pois é possível fazer as atividades e programar o horário e o dia da postagem, mas é necessário configurar o exercício no momento em que é inserido no sistema para que o discente consiga realizar a tarefa, pois há uma desconfiguração da permissão de uso. De modo geral, o aplicativo é um meio eficaz e relevante para o contexto de ensino remoto existente.

Considerações finais

Conforme discussões apresentadas neste artigo, o aplicativo Google Sala de Aula foi e está sendo um meio muito utilizado por professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem no ensino remoto emergencial.

Neste trabalho, foram constatados a dificuldade e os desafios na implementação do aplicativo Google Sala de Aula, através da atualização do Conexão Escola 2.0, pelos relatos dos autores, professores-pesquisadores que atuam na rede estadual de Minas Gerais enquanto refletem acerca de suas experiências.

Por fim, a ferramenta Google Classroom é uma realidade do novo ensino, que se deve perpetuar por algum tempo, pelo menos enquanto houver tantas mortes em decorrência da covid-19, sendo importante por simular uma sala de aula presencial com o recurso do Meet, em que há interação sincrônica entre aluno e professor, postagem de exercícios e material, o que auxilia o docente na aprendizagem do discente no modo remoto ou híbrido.

Referências

MINAS GERAIS. Memorando-Circular nº 6/2021/SEE/SB. Belo Horizonte, 2021.

PEREIRA, Ives da Silva Duque. Uma experiência de ensino híbrido utilizando a plataforma Google Sala de Aula. SIED:EnPED - SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ENCONTRO DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 2016.

ROCHA, Gustavo Gomes Siqueira da; COELHO, Carina de Almeida. Ensino remoto emergencial na rede estadual de Minas Gerais: como tem sido a percepção discente? Belo Horizonte: UFMG, 2020.

SCHIEHL, Edson Pedro; GASPARINI, Isabela. Contribuições do Google Sala de Aula para o ensino híbrido. Renote - Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 14, nº 2, 2016.

Publicado em 26 de outubro de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

ROCHA, Gustavo Gomes Siqueira da; COELHO, Carina de Almeida. O aplicativo Google Classroom no ensino remoto da rede pública estadual de Minas Gerais. Revista Educação Pública, v. 21, nº 39, 26 de outubro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/39/o-aplicativo-google-classroom-no-ensino-remoto-da-rede-publica-estadual-de-minas-gerais

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