Educação Infantil ou pré-alfabetização? Concepções de professores e responsáveis sobre as práticas de alfabetização na Educação Infantil

Anderson Miguel dos Santos da Paz

Licenciado em Ciências Biológicas (UERJ), diretor da Escola Municipal Nossa Senhora de Nazareth (Prefeitura Municipal de Seropédica), especialista em Educação Infantil e Alfabetização (Facibas), pós-graduando em Docência (IFMG), graduando em Pedagogia (UNIRIO) e mestrando em Ensino pelo PPGEB - CAp/UERJ

A alfabetização é um dos assuntos mais discutidos entre os professores, principalmente quando se fala de Educação Infantil (EI). No que se refere aos responsáveis de crianças em idade pré-escolar, esse tema fundamenta alguns dos critérios para a escolha do local onde a criança dará seus primeiros passos no processo sistemático de aprendizagem. Portanto, é pertinente uma discussão a respeito do momento a partir do qual a alfabetização deve ser o principal objetivo do processo de ensino-aprendizagem.

Muitos responsáveis compartilham o senso comum segundo o qual na Educação Infantil a criança vai à escola para brincar, e não estudar. Esse estudo é definido como o ensino tradicional, em que a aprendizagem se dá apenas com a utilização de livros, cadernos, lápis e quadro. O que foge dessa ideia é apenas um passatempo, de modo que não existe a possibilidade de aprender pela brincadeira.

Partindo dessas reflexões, surge o questionamento alvo deste trabalho: Existe diferença significativa entre a visão dos professores da Educação Infantil (EI) em escolas públicas e em escolas privadas em relação à alfabetização nessa etapa da Educação Básica? Analogamente, é possível observar distinção entre as visões de responsáveis de alunos da EI matriculados em escolas públicas e matriculados em escolas privadas?

Espera-se obter como resposta para esse questionamento que a grande maioria dos responsáveis de alunos da escola pública respondam que as unidades escolares de EI atendam as crianças no período em que eles estejam no local de trabalho, por não terem com quem deixar as crianças. Espera-se dos responsáveis de alunos de escolas privadas a resposta de que a escola de EI seja um local que prepare as crianças para o mundo da leitura e escrita; dos professores de ambas as redes, espera-se a resposta de que as escolas de EI garantam que a aprendizagem ocorra de forma igualitária, oferecendo desenvolvimento integral para todos os alunos, independente se são da rede pública ou privada.

O objetivo geral desta pesquisa é compreender como os professores e responsáveis de alunos de escolas públicas e particulares veem o processo de alfabetização na Educação Infantil. O trabalho foi pautado em seus objetivos específicos:

  1. definir o perfil de professores e responsáveis de alunos da rede pública e privada de ensino;
  2. identificar expectativas de responsáveis de alunos da Educação Infantil quanto ao ensino nessa etapa de escolaridade;
  3. discutir o processo de alfabetização na Educação Infantil.

Visto que muito se fala na importância da EI na vida da criança, pensar em que momento se dá o processo de alfabetização se torna um assunto indispensável de reflexão e conscientização do papel da EI e das turmas de primeiro ano de escolaridade do Ensino Fundamental, evitando confusões a respeito da responsabilidade de cada segmento de ensino.

Com o intuito de se levantar dados e fazendo cumprir os objetivos delimitados, foi realizada uma pesquisa, por meio de formulário on-line, com responsáveis e professores.

Revisão bibliográfica

Para Sofiati e Toscano (2020), alfabetização é a aquisição das formas de escrita, por meio de símbolos, que foram construídos ao longo do desenvolvimento histórico da sociedade em que o indivíduo está inserido. Saraiva e Carvalho (2018), por sua vez, definem a alfabetização como o processo no qual o indivíduo desenvolve habilidades de leitura e escrita. De acordo com os mesmos autores, a alfabetização pode ser considerada não apenas o desenvolvimento dessas habilidades, mas também a aplicação delas no seu dia a dia, levando em consideração as suas funções sociais.

Partindo dessas afirmações sobre o processo de alfabetização, Sofiati e Toscano (2020, p. 6) dizem que,

historicamente, o processo de alfabetização foi tido como responsabilidade das séries iniciais do Ensino Fundamental, negando sua formalização na Educação Infantil. Entretanto, essa questão também se faz presente de modo intenso nesse nível de ensino, uma vez que passa a assumir uma intencionalidade educativa específica voltada para a faixa etária a que atende.

Hoje, estudos apontam que o processo de alfabetização começa bem antes da criança chegar ao primeiro ano de escolaridade. Desde o momento em que nasce a criança está inserida em um mundo de leitura e escrita, construindo assim uma série de competências e habilidades prévias ao processo de escolarização formal (Sofiati; Toscano, 2020).

De acordo com Santos (2013, p. 13),

antes de ingressar na escola, as crianças em algum momento de sua vida têm um contato precoce com letras e números, seja através de estímulos dos pais, pelos meios de comunicação, como a televisão e o computador. Esse contato com diversos meios e um ambiente alfabetizador são bastante significativos, mas cabe à escola a missão de que todos desenvolvam habilidades de leitura e escrita, e o mais importante: descubram a função social da leitura e da escrita.

Ainda de acordo com Santos (2013, p. 13), "convém desmistificar aquela ideia de que a criança na Educação Infantil só faz brincar [...]; ela irá aprender através do lúdico, mas de maneira contextualizada, objetiva e sistemática". Araújo (2017, p. 349-350) diz que "a Educação Infantil deve proporcionar situações em que a leitura e a escrita se façam presentes como interação e interlocução, prática discursiva, espaço de enunciação e de troca, espaço de dizer".

Segundo Lima e Casagrande (2020), a criança da classe de alfabetização não é um indivíduo sem experiências no processo de alfabetização; ela traz consigo, da EI, uma bagagem de experiências e hipóteses sobre a leitura e a escrita, assim se afirmando como "sujeito participante na sociedade que aprende através da interação com o mundo à sua volta, tornando-se um indivíduo ativo no seu processo de ensino-aprendizagem" (Lima; Casagrande, 2020, p. 72).

Metodologia

Para a coleta de dados do presente trabalho, foi realizada uma pesquisa de campo com professores e responsáveis de alunos de escolas públicas e privadas pertencentes ao segmento da Educação Infantil. Tal pesquisa foi realizada de forma on-line devido ao maior alcance desse formato e às limitações impostas pela pandemia da covid-19.

Segundo Costa (2018, p. 20), "o uso de questionários eletrônicos via internet no âmbito dos estudos acadêmicos afirma que a internet, entre outras utilidades, possui potencial para a realização de pesquisas científicas".

Os dados serão analisados de acordo com Ana e Lemos (2018):

A análise de dados [...] deve levar em conta algumas direções teóricas do estudo. Primeiramente, a construção de um conjunto de categorias descritivas, formuladas a partir de uma leitura sistemática do conteúdo, para classificar, de acordo com os conceitos mais abrangentes, as informações que comporão a apresentação de dados (Ana; Lemos, 2018, p. 539).

Perfil dos participantes da pesquisa

A pesquisa teve 70 participantes, cuja relação com alunos da Educação Infantil é detalhada na Figura 1.


Figura 1: Papel dos participantes na vida do aluno

A Figura 1 nos permite constatar a distribuição equitativa dos participantes entre as categorias, considerando ainda que um mesmo participante pode ocupar duas categorias simultaneamente, pois alguns professores participantes da pesquisa também são responsáveis de alunos do segmento estudado.

Na Figura 2 observamos que o número maior de participantes (18) apresenta formação acadêmica em nível de pós-graduação completa; onze deles, como demonstra a Figura 3, são professores que atuam na Educação Infantil da rede pública, quatro são responsáveis de aluno de escola particular, um é responsável de aluno de escola particular e atua como professor em escola pública, um é responsável de aluno de escola pública e um é responsável de aluno de escola pública e atua como professor de escola pública.


Figura 2: Nível de escolaridade

Figura 3: Participantes com pós-graduação completa

Ao analisar mais a fundo a Figura 3, vemos que a educação pública possui o número maior de profissionais com formação em pós-graduação, totalizado 12 professores. De acordo com Verçosa e Bassi (2019), o maior número de professores pós-graduados atuantes na rede pública de ensino se dá devido à existência do plano de carreira e valorização do magistério público, que possibilita ao professor receber um complemento ao seu salário-base, fazendo com que sua remuneração sofra um reajuste extra, tornando assim o magistério público mais atrativo para esses profissionais.

Na Figura 4 vemos que a maioria dos participantes acredita que a alfabetização na Educação Infantil não atrapalha o desempenho escolar do educando no Ensino Fundamental e a sua interação social.


Figura 4: Resposta dos responsáveis à pergunta "A alfabetização na Educação Infantil atrapalha o desempenho escolar e social do aluno no futuro?"

Além de responder à pergunta, foi solicitado que os participantes justificassem sua resposta. Algumas justificativas estão apresentadas a seguir.

Responsáveis de alunos de escola pública, exclusivamente (18 participantes):

Porque desde o início a alfabetização tem grande importância na vida das crianças para ter mais oportunidades que os pais.

Quanto mais cedo o aluno começar mais se adiantará no futuro a encontrar um emprego bom.

Eu acho que se meu filho ler cedo não vai ficar igual a eu, com dificuldade de encontrar emprego.

Vemos, pelas respostas (transcritas exatamente como os participantes escreveram) que os participantes supracitados pensam que a alfabetização sistemática deva ocorrer a partir da Educação Infantil, para assim garantir um emprego digno e evitar que seus filhos sejam vítimas de preconceitos e exclusões sociais, pois, como afirma Sousa (2012, p. 8),

a palavra analfabetismo sempre esteve ligada a termos negativos ou relacionada à ausência da visão. Esse pensamento é divulgado com muita ênfase nas grandes mídias, em especial na televisão e na internet, vídeos ou gravações com teor humorístico que parece engraçado, mas não levam em consideração a exclusão de direitos que carrega as pessoas que não tiveram e continuam não tendo o acesso à educação. O preconceito tem uma face muito triste, que compromete a vida social do analfabeto.

Responsáveis de alunos de escola particular, exclusivamente (15 participantes):

Pelo contrário, vejo a Educação Infantil como um dos pilares para o desenvolvimento e desempenho escolar futuro. Uma base infantil sólida dará aos alunos uma estrutura escolar e também social mediante ao futuro que os esperam...

Porque desde o início a alfabetização tem grande importância na vida da criança.

O futuro depende muito mais de investimentos na primeira infância do que se poderia imaginar. Eles são decisivos para todos os passos seguintes da escolaridade, que determina taxas de produtividade, renda e outros indicativos de desenvolvimento socioeconômico e de qualidade de vida.

Ao analisar as citações acima, percebemos que os responsáveis carregam consigo a ideia de que quanto mais cedo começar a alfabetização mais chance de ter sucesso na vida adulta a criança terá.

Responsáveis de aluno de escola particular, professor de escola particular (3 participantes):

Dependendo da maneira que irá alfabetizar não atrapalha. Tudo vai de acordo como a escola aborda. Se tiver o lúdico tudo flui.

Acredito que não. As crianças apresentam bastante interesse em descobrir, em aprender, estão abertas às novidades, ao que temos a oferecer, principalmente se tiver brincadeira envolvida. E querem também nos apresentar, mostrar suas novidades, o que já conseguem fazer. Depende da forma que vamos alfabetizar e letrar esse indivíduo.

É possível perceber que os entrevistados dessa categoria apresentam uma ideia de que a alfabetização na Educação Infantil ocorre de maneira lúdica e com cuidados para não antecipar o processo de leitura e escrita sistematizada. De acordo com a publicação do MEC (Brasil, 2016, p. 26),

o objetivo da Educação Infantil não é a alfabetização stricto sensu. Embora crianças da pré-escola possam se alfabetizar por interesse particular a partir das interações e da brincadeira com a linguagem escrita, não cabe à pré-escola ter a alfabetização da turma como proposta. Na Educação Infantil, muito mais importante do que, por exemplo, ensinar as letras do alfabeto é familiarizar as crianças, desde bebês, com práticas sociais em que a leitura e a escrita estejam presentes, exercendo funções diversas nas interações sociais.

Responsáveis de aluno de escola particular, professor de escola pública (4 participantes):

Acredito que não. Os meus alunos e meu filho apresentam bastante interesse em descobrir, em aprender, estão abertos às novidades, ao que temos a oferecer. E querem também nos apresentar, mostrar suas novidades, o que já conseguem fazer. E isso é pratica social, pois eles são pertencentes a sociedade.

Acredito que não, pois é um período importante para as atividades preditoras, um período preparatório, vejo muito isso na criança que tenho em casa e nos meus alunos.

Uma simples brincadeira na Educação Infantil já tem a proposta de alfabetização e socialização da criança, assim ela aprende a ler naturalmente. Logo, não atrapalha em nada; pelo contrário, torna a criança mais intima da leitura e escrita social.

Nunca irá atrapalhar o desenvolvimento do educando, porque é o futuro dele que está em jogo.

As respostas dos participantes dessa categoria evidenciam que as relações sociais com grande sucesso são aquelas em que o indivíduo tenha pleno desenvolvimento na leitura e escrita, práticas norteadoras da sociedade.

Responsável de aluno de escola pública, professor de escola pública (1 participante):

A alfabetização é um processo contínuo no qual precisa ser respeitada cada etapa do desenvolvimento do aluno. Tendo isso em vista, a antecipação desse processo não influencia de forma negativa na vida do aluno, quando as etapas são concernentes.

Este participante considera que a antecipação do processo de alfabetização não atrapalha o desempenho futuro tanto acadêmico quanto social da criança, desde que seja abordado de forma que as etapas do desenvolvimento cognitivo sejam respeitadas, tornando esse processo prazeroso para a criança.

Professores de escolas particulares, exclusivamente (13 participantes):

Porque a criança tem um desenvolvimento mental, na infância, apropriado para a aprendizagem

A criança aprende a ler como um passe de mágica, pois sua mente está fresca.

O aluno de Educação Infantil está no momento certo, mentalmente falando, para a aprendizagem.

As respostas dos professores levam em consideração o desenvolvimento cognitivo da criança, "visto que a cogni ção envolve o desenvolvimento do raciocínio, pensamento, memória, abstração, imaginação, linguagem, entre outras habilidades" (Cavalcante et al., 2020, p. 41.985). Ainda segundo os autores, as fases de desenvolvimento da criança devem ser respeitadas.

Professores de escolas públicas, exclusivamente (16 participantes):

A Educação Infantil é o momento de a criança viver experiências. O que pode acontecer é o letramento, leitura de mundo através das experiências vividas. Porém as etapas da infância devem ser respeitadas. Importante não robotizar essa etapa, por conta da preocupação com a alfabetização.

Antecipar um processo em que a criança tem um longo tempo para desenvolver, além de não respeitar o tempo do educando, ignora a Educação Infantil e todas as suas especificidades.

Na Educação Infantil há construção de autonomia, psicomotricidade atrelada à afetividade da criança. Nessa etapa, o que deve haver são estímulos para o processo alfabetizador e não o alfabetizar de forma obrigatória.

De acordo com a fala dos professores, conseguimos perceber que na EI se deve propiciar um ambiente alfabetizador, por meio de intervenções pedagógicas. Porém não se deve tornar a alfabetização como um processo obrigatório nessa etapa escolar da infância, pois antes de aprender a decodificar e codificar a criança precisa desenvolver outras habilidades que irão facilitar seu processo de alfabetização no futuro.

Linguagem e escrita na Educação Infantil

Foi perguntado somente aos professores participantes da entrevista, como eles trabalham o processo de linguagem e escrita com seus alunos. Em todas as respostas pode-se notar a presença da palavra ludicidade como a principal ferramenta diária de trabalho. Como afirmam Silva e Nogueira (2018, p. 162),

na Educação Infantil essa experiência é vivida cotidianamente, a oferta ao mundo lúdico possibilita que seu contato com a escrita aconteça de maneira lúdica, as crianças aprendam sem saber e acabem demonstrando através de suas atitudes e comportamentos.

Segundo Asquino (2019, p. 67),

a ludicidade na aprendizagem é fundamental, especialmente na Educação Infantil, pois é dessa forma que se garante um caráter significativo em que, brincando, a criança constrói conhecimentos e se relaciona de maneira profunda, vivenciando a diversidade de cada relação.

O que se espera da Educação Infantil

Para os responsáveis foi perguntado qual era a expectativa deles com o ensino na Educação Infantil, o que eles esperam que a criança aprenda ao decorrer da sua vivência nesse segmento de ensino. As respostas que obtivemos são apresentadas na Figura 5.


Figura 5: Expectativa dos responsáveis com a Educação Infantil

Na Figura 5 identificamos um total de 66,7% de responsáveis respondendo que esperam que a Educação Infantil promova a socialização e estimule a autonomia, mas que tenha como prioridade o ensino da leitura e escrita de palavras simples; 22,9% veem a Educação Infantil como um local em que se possa deixar a criança para poder ir trabalhar. Essa perspectiva é contestada por Moraes (2018, p. 88):

Sabemos que a infância é uma etapa decisiva, na qual [as crianças] se apropriam dos elementos da realidade e dão a eles novos significados; o espaço escolar há de ser um dos lugares que, ao atender os princípios de uma formação de qualidade pedagógica, não se torne apenas um lugar no qual os pais deixam seus filhos para irem trabalhar.

Um grupo minoritário (10,4%) respondeu que espera que seus filhos sejam estimulados a desenvolver a socialização e sua autonomia. Vemos aqui que poucos pais compreendem que é nessa etapa da infância que a criança necessita de intervenções pedagógicas que vão levá-la a desenvolver aspectos nos campos sociais, como a solidariedade, afeto com o próximo, a desenvolver a noção do que é certo ou errado, noções de localização e aspectos cognitivos que irão facilitar sua aprendizagem sistêmica nos próximos anos dentro e fora da escola (Silva; Sousa, 2017).

Faixa etária para início do processo de leitura e escrita sistemática

Em um último momento, foi perguntado aos participantes da pesquisa a partir de qual idade é o melhor momento para iniciar o processo de leitura e escrita em uma criança. A resposta pode ser conferida na Figura 6.

 
Figura 6: Idade para iniciar o processo de leitura e escrita

Nota-se que a maioria dos entrevistados acreditam que a melhor idade de iniciar o processo de leitura e escrita é entre quatro e cinco anos de idade; como registra a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96), em seu Art. 29: "Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos". Em seu Art. 30, § II, define que "A Educação Infantil será oferecida em: pré-escolas para as crianças de quatro a cinco anos de idade" (Brasil, 1996, p. 11).

De acordo com Montemor (2020, p. 33), "o processo de alfabetização e letramento [...] está relacionado ao conhecimento de mundo que o aluno já possui, mesmo antes de ser alfabetizado". Tal conhecimento de mundo é desenvolvido a partir da Educação Infantil e explorado no dia a dia da criança, por meio de atividades lúdicas que levam o aluno a criar e imaginar através do faz de conta. Ainda de acordo com esse autor,

ao empregar as práticas sociais na aquisição da leitura e da escrita, o educando vivencia o conhecimento, traduzindo contextos que percorrem seu ambiente social, aprendendo, desse modo, a relacionar diferentes situações presentes no seu cotidiano social e educacional (Montemor, 2020, p. 33).

Conclusão

Este trabalho teve como objetivo identificar a concepção de professores e responsáveis a respeito da realização de práticas de alfabetização durante a Educação Infantil.

O perfil do público participante da pesquisa foi equilibrado, dividindo-se entre as categorias professores da rede pública, professores da rede privada, responsáveis de escola pública e responsáveis de escola privada; os resultados apresentam uma ideia ampla do que é a alfabetização e a respeito dos benefícios desse processo durante o percurso da criança na Educação Infantil. Ao longo da análise dos resultados, foi possível identificar a intencionalidade de estimular o desenvolvimento da criança.

As analises mostram que, segundo a maioria dos respondentes, a brincadeira é ferramenta indispensável para o processo de alfabetização nessa etapa da vida educacional de um indivíduo, pois a criança ao brincar está o tempo todo interagindo com o meio em que está inserida e aprendendo em consequência dessa interação; através dela a criança aprende a ler e escrever, e tal prática, quanto mais cedo se adquire, trará mais chance de ter um futuro promissor.

Ao observar os resultados obtidos nas respostas da maioria dos participantes da pesquisa, conclui-se que eles enxergam que o processo de alfabetização é algo que está inserido na vida da criança muito antes da EI, pois se trata, segundo os entrevistados, de uma prática social. O que não se pode é forçar essa criança, na idade de Educação Infantil, a aprender de forma sistemática os aspectos técnicos e instrumentais da alfabetização, mas levá-la a compreender que ler e escrever faz parte do seu mundo, pois há campos de habilidades a serem trabalhados e explorados pela criança em seu processo de desenvolvimento.

Referências

ANA, Wallace Pereira Sant; LEMOS, Glen Cézar. Metodologia científica: a pesquisa qualitativa nas visões de Lüdke e André. Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar Mossoró, v. 4, nº 12, p. 531-541, nov. 2018.

ARAUJO, Liane Castro de. Ler, escrever e brincar na Educação Infantil: uma dicotomia mal colocada. Revista Contemporânea de Educação, v. 12, nº 24, p. 344-361, ago. 2017.

ASQUINO, Andreia Bugui. Educação Infantil: práticas pedagógicas lúdicas de alfabetização e letramento. 2019. 97 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2019.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394/96. Brasília: Senado Federal, 1996.

______. Ministério da Educação. Linguagem oral e linguagem escrita na Educação Infantil: práticas e interações. Brasília: MEC/SEB, 2016.

CAVALCANTE, Marilia Vieira; LÚCIO, Ingrid Martins Leite; VIEIRA, Ana Carolina Santa; BITTENCOURT, Ivanise Gomes de Souza; VIEIRA, Daniglayse Santos; BARBOSA, Lilian Christianne Rodrigues; CALDAS, Marcela Araújo Galdino; DAVINO, Cristiana Marques. Estimulação cognitiva e aprendizagem infantil: revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, v. 6, nº 6, p. 41.981-41.990, 30 jun. 2020.

COSTA, Barbara Regina Lopes. Bola de neve virtual: o uso das redes sociais virtuais no processo de coleta de dados de uma pesquisa científica. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 7, n. 1, p. 15-37, abr. 2018.

LIMA, Deise Justino; CASAGRANDE, Samira. Alfabetização e letramento na Educação Infantil. Saberes Pedagógicos, v. 4, nº 3, p. 67-86, dez. 2020.

MONTEMOR, Nelma Aparecida. Alfabetização e letramento: o processo de aquisição de leitura e escrita. Akrópolis - Revista de Ciências Humanas da Unipar, v. 28, nº 1, p. 27-35, 31 ago. 2020.

MORAES, Ana Paula de. Educação Infantil e os direitos da criança: por uma infância com dignidade. 2018. 98 f. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2018.

SANTOS, Andréa Ferreira dos. O processo de alfabetização na Educação Infantil. 2013. 37 f. TCC (Licenciatura Plena em Pedagogia), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013.

SARAIVA, Eliane Freitas Artigas; CARVALHO, Patrícia Alves. Pressupostos e implicações do(s) processo(s) de alfabetização e letramento à luz da ludicidade. JORNADA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO E LINGUAGEM / ENCONTRO DO PROFEDUC E PROFLETRAS / JORNADA DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL. Anais... v. 1, n. 1, 2018.

SILVA, José Ricardo; SOUSA, Fabiana Lohani de. Aspectos históricos da Educação Infantil no Brasil. Colloquium Humanarum, v. 14, p. 188-194, 15 dez. 2017.

SILVA, Márcia Gonçalves da; NOGUEIRA, Jane. Alfabetização e letramento na Educação Infantil: o acesso ao mundo da leitura e escrita na Educação Infantil. Revista de Pós-Graduação Multidisciplinar, São Paulo, v. 1, nº 5, p. 161-168, dez. 2018.

SOFIATI, Camila Alvares; TOSCANO, Carlos. A mediação pedagógica e a alfabetização na Educação Infantil. Comunicações, v. 27, nº 1, p. 3-25, 7 abr. 2020.

SOUSA, João Paulo Aguiar de. Analfabetismo no Brasil: história, realidade e preconceito. ABEP. Águas de Lindoia, 2012. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/180638732/4-Analfabetismo-No-Brasil. Acesso em: 05 jan. 2021.

VERÇOSA, Pelegrino Santos; BASSI, Marcos Edgar. Plano de cargos, carreira e remuneração do magistério público estadual do Acre: a configuração da carreira dos professores. Fineduca, v. 9, p. 1-21, 20 maio 2019.

Publicado em 09 de novembro de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

PAZ, Anderson Miguel dos Santos da. Educação Infantil ou pré-alfabetização? Concepções de professores e responsáveis sobre as práticas de alfabetização na Educação Infantil. Revista Educação Pública, v. 21, nº 40, 9 de novembro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/40/educacao-infantil-ou-pre-alfabetizacao-concepcoes-de-professores-e-responsaveis-sobre-as-praticas-de-alfabetizacao-na-educacao-infantil

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.