A dança como elemento facilitador na Educação Física escolar para crianças com síndrome de Down
Lívia Maria Cesário Palmeira
Licenciada em Educação Física
Fabio José Antonio da Silva
Licenciado em Educação Física, mestre em Educação, doutor em Educação Física, atua em Apucarana/PR
Com esta pesquisa, busca-se esclarecer as potencialidades das crianças com síndrome de Down. Partindo desse pressuposto, será enfatizada a dança como facilitadora do desenvolvimento de suas capacidades e para a integração da criança com essa síndrome no contexto escolar. A diferença muitas vezes isola a criança do mundo tanto no que diz respeito à sua participação quanto à compreensão dos fatos. A arte pode, nesse caso, assumir importante papel como facilitadora de comunicação. Ela oferece à criança novas formas de expressão de suas ideias e seus sentimentos e possibilita a aquisição de novos conceitos.
Muitos ainda entendem a Educação Especial como uma modalidade que substitui a escolarização, voltada exclusivamente para crianças com necessidades especiais. Isso significa que uma criança com necessidades especiais passaria a infância e a adolescência em uma escola especializada, convivendo apenas com colegas com deficiência e recebendo conteúdos escolares adaptados e terapias.
Aos poucos, essa confusão está se esclarecendo. Hoje, a Educação Especial é entendida como a modalidade de ensino que tem como objetivo quebrar as barreiras que impedem a criança de exercer sua cidadania.
Através da expressão, da música, dos exercícios em grupo, as crianças com síndrome de Down têm oportunidade de se expressar, se apresentando ao mundo com prazer e alegria; aprendem a conviver com harmonia, a dar e receber afeto. Por meio da dança, a criança Down tem acesso ao mundo da arte, tendo oportunidade de ampliar suas capacidades de aprendizagem; ela necessita de uma escola viva, onde possa expressar-se em sua singularidade, aprendendo a conviver de forma lúdica, afetiva e solidária.
Nesse sentido, a dança pode dar a sua contribuição tecendo novas teias solidárias e de saberes utilizando como instrumento a música, o movimento, o encontro humano.
Essa possibilidade envolve um campo novo em que o afeto, o direito, a ternura, a liberdade de criação e a expressão dos sentimentos são facilitadores no processo de conexão consigo mesmo, fortalecendo a identidade e a autoestima.
Profissionais da Educação Física que se trabalham nesse sentido do autoconhecimento estarão contribuindo para uma qualidade humana e social de uma escola preocupada com a cidadania.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar as possibilidades positivas de desenvolvimento corporal, cognitivo, social e afetivo desencadeados com a dança na escola, especialmente para as crianças com de síndrome de Down. A dança, na escola, é uma das maneiras mais divertidas e adequadas para ensinar na prática todo o potencial de expressão do corpo humano.
O interesse pelo tema surgiu da preocupação com a capacitação dos professores de Educação Física. Nesse caso, colher informações a respeito de pessoas com síndrome de Down, cuja presença é cada vez maior no ensino regular, para poder adaptar e relacionar as atividades físicas que melhor se enquadrem ao tipo de aluno. Optou-se pela dança por acreditar que é a única manifestação artística que integra o corpo e a mente.
Revisão de literatura
A síndrome de Down ou trissomia do 21 resulta de um distúrbio da divisão dos cromossomos que influencia regularmente a formação do corpo das crianças afetadas. Explica-se, assim, por que as crianças Down possuem tantas características em comum e até são um pouco parecidas entre si. Essas características são geralmente típicas e, por isso, desde o nascimento, as dúvidas quanto ao diagnóstico das crianças com síndrome de Down são mínimas. Algumas delas apresentam outras características, porém possuem muitas ou todas as típicas.
A síndrome de Down pode ser definida como uma anomalia congênita muito complexa no número de cromossomos. Pessoas com síndrome de Down possuem 47 cromossomos – um a mais no par de número 21. Por isso também é chamada de trissomia do 21.
Como características mais marcantes pode-se relacionar: na boca, dentes pequenos, língua sulcada e protusa (para fora da boca); abertura das pálpebras inclinada, com a parte externa mais elevada, e uma prega no canto interno dos olhos; mãos grossas e curtas, com dedo mínimo arqueado e prega palmar única, incluindo os quatro dedos maiores; dedos dos pés com disposição semelhante à do polegar e do indicador da mão normal; rebaixamento intelectual e estatura baixa; cardiopatia em 40% dos portadores; hipotonia (moleza e flexibilidade exageradas) nos músculos e articulações; retardo variável no desenvolvimento psicomotor (Lefèvre, 1981).
As crianças nascem com estatura normal, mas em seu desenvolvimento não costumam ultrapassar 155cm. Mesmo no adulto persistem as características indicadas, ressaltando os traços faciais próprios dos orientais, com os olhos oblíquos e pouca abertura das pálpebras, as mãos são pequenas e largas com os dedos grossos. Também costumam apresentar má-formação do coração, falta de tônus muscular, hérnia umbilical, defeitos de visão etc. (Lefèvre, 1981).
As crianças com a anomalia não podem manter a cabeça erguida nem sentar até uma idade muito acima da normal e não começam a andar antes dos três anos. Sua inteligência é sempre inferior à normal e, embora às vezes sejam afetuosas, de vez em quando têm crises de agressividade.
Diagnóstico
Para o diagnóstico, Lefèvre (1981, p. 19) destaca do quadro clínico geral o aspecto da face, a hipotonia, as mãos e um retardo variável no desenvolvimento psicomotor. É possível fazer um diagnóstico antes do nascimento por meio de um exame do líquido amniótico, onde se encontram células procedentes do feto que darão a informação necessária para isso. Não há possibilidade de tratamento, pois a alteração cromossômica é incurável, mas pode haver solução para os problemas orgânicos mediante um exame médico que possibilite detectar algum tipo de má-formação cardíaca ou qualquer outro problema.
Ao nascer, uma criança com síndrome de Down é facilmente reconhecida pelas características mencionadas. Por isso, desde os primeiros instantes da vida essa criança coloca seus pais diante de um problema que não pode ser resolvido e que precisará ser aceito, o que provoca diferentes reações, como estado de ansiedade aguda, profunda tristeza, confusão mental ou enorme revolta contra o mundo. Esses sentimentos quase sempre vêm acompanhados de certa rejeição, o que completa a descrição de um quadro de muito sofrimento e insegurança.
Tratamento
Ao nascer, uma criança com síndrome de Down, além do acompanhamento pediátrico normal, necessita que se lhe ofereça orientação de geneticista e de outros eventuais especialistas. E mais: a criança deve ser submetida a um tratamento com estímulos (terapia ocupacional), entre outros que minimizarão os efeitos das alterações neuromotoras e fonoarticulatórias (Lefèvre, 1981).
Esse tratamento deve iniciar-se tão logo seja diagnosticada a síndrome e precisa ser desenvolvido por equipe integrada de fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e psicólogo, que irá estimular a criança para que tenha melhor desenvolvimento motor e intelectual. É importante não perder de vista a família e as dificuldades que enfrenta desde o nascimento de seu filho com síndrome de Down. Sabe-se que as crianças que estão desde o nascimento se submetendo a esses tratamentos têm melhoras em seu desempenho, mas ainda não se conhece sua efetiva contribuição na vida adulta. Então, o objetivo do tratamento que atualmente se faz é colaborar para acelerar e melhorar as condições motoras e intelectuais do portador da síndrome de Down. De acordo com Vygotsky (1998, p. 110), "aprendizagem e desenvolvimento não entram em contato pela primeira vez na idade escolar [...], mas estão ligados entre si desde os primeiros dias de vida da criança".
A pessoa com síndrome de Down, como qualquer outro aluno, tem o direito de ser escolarizada da infância à idade adulta, entre os seus pares da mesma idade e no ambiente regular do ensino, pois esse é o ideal para a estimulação do seu desenvolvimento. Os serviços de acompanhamento especializado nas demais áreas do desenvolvimento devem complementar a educação escolar dessas pessoas. "A maior limitação para que as pessoas com síndrome de Down se tornem adultos integrados, produtivos, felizes e independentes não é imposta pela genética, mas sim pela sociedade" (Cavalcante, 2005).
A inclusão das crianças com síndrome de Down na rede regular de ensino
Fazer a inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais é estar diante de um grande desafio; poucos temas despertam tanta polêmica quanto a educação inclusiva: o que é? A quem interessa? Quais são suas repercussões, envolvendo os aspectos políticos, ideológicos, econômicos e sociais? Ela gera mudanças de atitudes e ações planejadas sendo abordadas em contexto mais amplo.
O direito à escola, até hoje, é negado a uma grande parte da população, principalmente aquela que possui necessidades especiais. Estima-se que 10% da população brasileira apresentem necessidades especiais, e menos de 3% dessa população tem acesso a algum tipo de atendimento.
A maioria das escolas tem justificado a não inclusão desse público devido à falta de condições de sua estrutura física e de profissionais qualificados para atender a várias especificidades de desses alunos. Apesar de ser uma justificativa legítima, não se pode descartar a questão do preconceito e da falta de competência no trabalho com as diferenças.
A convivência dos alunos com a diversidade nas instituições educativas contribui para que aprendam muito. Por outro lado, para aqueles que apresentam necessidades especiais, o convívio com os outros alunos é enriquecedor, pois permite inserção no universo social e favorece o desenvolvimento e a aprendizagem, possibilitando a formação de vínculos estimuladores, o confronto com a diferença e o trabalho com a própria dificuldade.
Surgem, hoje, no mundo inteiro, iniciativas com relação à inclusão daqueles que possuem necessidades especiais. A Declaração de Salamanca (Unesco, 1994) determina que a escola se firme como espaço privilegiado das relações sociais para todos, não ignorando, portanto, aqueles que apresentam necessidades especiais. Segundo o documento, "o princípio fundamental da escola inclusiva consiste em que todas as pessoas devem aprender juntas, onde quer que isso seja possível, não importam quais dificuldades ou diferenças que possam ter. Escolas inclusivas precisam reconhecer e responder às necessidades diversificadas de seus alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando educação de qualidade para todos, mediante currículos apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com suas comunidades".
Fica claro que a inclusão não se limita a um ato de matrícula em classe comum ou à realização de um ou outro recurso facilitador, como criação de rampas ou alguma adaptação material. O conceito tem que ser encarado de forma mais ampla para assegurar o desenvolvimento das potencialidades de cada um, atendendo com qualidade às diferenças das crianças.
A Lei nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), dispõe que a Educação Básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurando-lhe a formação comum e indispensável ao exercício da cidadania. Assim, a inclusão abrange não só os portadores de necessidades educativas especiais, mas todos aqueles que ao longo da história foram segregados da sociedade por não estarem dentro do perfil desejado.
No entanto, a segregação de pessoas com necessidades educativas especiais tem sido ainda praticada, existem atitudes, leis, políticas e estruturas educacionais arraigadas, que atuam contra a total inclusão dos alunos de maneira generalizada. Segundo Cavalcante (2005, p. 42), "os especialistas em inclusão afirmam que a escola, organizada como está, produz a exclusão [...]. A escola trabalha com um padrão de aluno e quem não se encaixa nele fica de fora".
Valorizar as peculiaridades de cada aluno, atender a todos na escola, incorporar a diversidade, sem qualquer tipo de distinção, nunca o tema da inclusão de crianças com necessidades educativas especiais esteve tão presente no dia a dia da educação; cada vez mais professores estão percebendo que as diferenças não só devem ser aceitas como também acolhidas como apoio para montar ou completar o cenário escolar.
Neste momento que a Educação Inclusiva se torna um enorme desafio para o sistema educacional, a escola deve ser definida como uma instituição social que tem por obrigação atender todas as crianças, sem exceção. A escola deve ser aberta, pluralista, democrática e de qualidade; deve manter suas portas abertas às pessoas com necessidades educativas especiais.
Acreditava-se que a Educação Especial era uma modalidade que substitui a escolarização, voltada exclusivamente para crianças com necessidades especiais. Isso significa que uma criança com síndrome de Down, por exemplo, passaria a infância e a adolescência em uma escola especializada, convivendo apenas com colegas que têm deficiência e recebendo conteúdos escolares adaptados e terapias. Aos poucos, essa confusão está se esclarecendo. Hoje, a Educação Especial é entendida como a modalidade de ensino que tem como objetivo quebrar as barreiras que impedem a criança de exercer a sua cidadania. O atendimento educacional especializado é apenas um complemento da escolarização, e não substituto (Cavalcante, 2005).
Um novo paradigma está nascendo, um paradigma que considera a diferença como algo inerente na relação entre os seres humanos. Cada vez mais a diversidade esta sendo vista como algo natural. O estar junto no cotidiano vai ensinando a todos o respeito às diferenças e a aceitação das limitações (Mazzotta, 1996, p. 47).
A escola inclusiva se preocupa com o bem-estar, é aquela que aceita e se prepara para a diversidade como algo natural, em que o respeito e a tolerância existem; tem como o objetivo a formação integral do discente, em que as relações humanas são evidenciadas e valorizadas e em que cada discente é único, com limitações ou não.
Portanto, a constituição de uma sociedade inclusiva é um processo fundamental para o desenvolvimento e a manutenção de um Estado democrático. Entende-se por inclusão a garantia, a todos, de acesso continuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo e de oportunidades de desenvolvimento, com qualidade em todas as dimensões da vida. O sentido de qualidade aqui se refere ao conviver, compartilhar, desfrutar, participar, relacionar, interagir e trocar.
Enfim, a escola inclusiva é aquela que abre espaço para todos, abrangendo aqueles com necessidades especiais. O principal desafio da escola inclusiva é desenvolver uma pedagogia capaz de educar a todos sem discriminação, respeitando suas diferenças, uma escola que dê conta da diversidade e saiba oferecer respostas adequadas às suas características e necessidades; dessa maneira, contribuirá para o fortalecimento de uma sociedade democrática, justa e solidária (Cavalcante, 2005).
História da dança na educação
Desde a Antiguidade cultivavam-se formas expressivas como as danças, os jogos e as lutas. Como todas as formas de organização social, a dança sofreu, através dos tempos, várias influências.
O encontro entre a dança e o ritmo mostrava as relações entre os deuses e a natureza, sendo utilizadas nas manifestações religiosas para explicar fenômenos da natureza ou para agradecer pela colheita. Para os povos primitivos, esse sentido ritualístico da dança tinha o propósito de trazer a paz, a saúde e a felicidade.
Durante a Idade Média, na Índia e na China, a dança se apresentava de várias formas. Quando o objetivo era adoração de divindades, os dançarinos usavam máscaras e trajes coloridos que acentuavam o poder de representação e abstração. Ao mesmo tempo, executavam movimentos acompanhados por cantos e danças e eram registrados como um esquema (método) para ser seguido pelas gerações. Dançavam durante o ano novo lunar, por ocasião das colheitas e para louvar aos deuses. Mais tarde, foram incluídas acrobacias e mágicas representando as crenças e costumes.
Na Grécia, onde a beleza do corpo e a perfeição dos movimentos norteavam os estilos, a dança estava inserida no plano educacional elaborado por Platão, sendo muito importante para a formação dos jovens. Para alguns filósofos, a música deveria ser o início, pois desencadeava um processo emocional e era fundamental na educação das crianças e dos jovens. Outros povos, como os gregos, utilizavam a dança para educação dos guerreiros como forma de preparação para as lutas. Afirmavam que os melhores dançarinos se tornavam os melhores guerreiros.
Com o Renascimento, grandes modificações ocorreram com a dança. Surgiram as expressões teatrais com o objetivo de educar o povo por intermédio da religião; levam às danças teatrais. A partir delas, passaram a ser utilizados elementos macabros como fantoches que representavam os demônios. Com isso, a Igreja interveio de forma austera, reprimindo todas essas manifestações de dança, pois representavam, aos olhos da Igreja, os demônios.
Por volta do século XIV, a dança começou a tomar novas formas e passou a fazer parte da educação dos nobres. Surgiram então os estilos de dança, que se distinguiam entre nobres e camponeses pelas vestimentas e sapatos. Os nobres passavam por um ensino mais específico de aperfeiçoamento, chamado atualmente de balé.
Segundo Nanni (1995, p. 15), "com o virtuosíssimo italiano e a finesse francesa, a dança que já academizava transforma-se em dança teatral para espetáculos. Estabelece assim um hiato entre a Dança/Educação e a Dança/Arte".
Na Rússia, a dança incorporou elementos do folclore de vários países, passando para um novo estilo e permitindo a criatividade. Impulsionados pelos russos, os Estados Unidos e a América do Sul abriram suas portas para a dança e para seus espetáculos.
A dança passou a ter um estilo modernista, e os professores necessitavam de aperfeiçoamento específico, além de suas competências educacionais. Essa nova tendência teve princípios filosóficos de Rousseau, Marx e Darem, que enfocavam o movimento expressivo do homem, introduzindo no ensino da dança outros valores e atitudes e conhecimentos mais abrangentes, permitindo assim uma expressão global do movimento.
Com isso, a dança não tem mais privilégio de uma classe, se torna uma forma de desenvolvimento e aprimoramento do homem em que a emoção, a sensibilidade, a criatividade se tornam o foco central, possibilitando enveredar para os caminhos da autorrealização.
O professor de Educação Física e a dança
A atual época indica que a improvisação para as aulas de Educação Física já não é mais aceita. A sua tarefa demanda muitas e difíceis medidas, pois tem exigência imperiosa de lidar com crianças e adolescentes em formação – matéria-prima do futuro da nação.
A tarefa de um professor de Educação Física é árdua e exige que sejam pessoas habilidosas, atentas, pois deve procurar ajudar cada criança a crescer não só na habilidade de dominar os próprios movimentos, mas também na capacidade de fazer ajustamentos seguros aos problemas diários.
Verderi (1998) acredita em uma ação pedagógica na qual possa incluir o desenvolvimento do organismo como complexidade biofísica e mental, procurando suprir as eventuais deficiências que o educando apresente em sua constituição nativa ou no decorrer de seu desenvolvimento, criando condições para o desabrochar de processos corporais mais complexos no que se refere a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes.
A Educação Física é uma área de conhecimento diretamente relacionada ao movimento humano consciente e sua capacidade de movimentação; a Educação Física como ciência preocupa-se com o estudo do simbolismo e da materialização do movimento corporal no espaço.
Segundo Nanni (1995), "o professor de Educação Física deve buscar subsídios para uma atuação afetiva e positivamente nesse campo da Educação Física, buscar a essência, as características e as peculiaridades da dança". A aplicação da dança deverá ser feita por meio de suas experiências criativas ou pela redescoberta da expressão do movimento e pelas possibilidades de comunicação não verbal com seus semelhantes via dança, o que possibilitará tornar a dança disponível para o máximo possível de pessoas, fazendo com que cada um possa dançar dentro de seus limites.
Com as atividades de dança, a criança evolui quanto ao domínio do seu corpo, desenvolvendo e aprimorando suas possibilidades de movimentação, criando oportunidades para se expressar, se mover, ser criativa, espontânea, integrando-se ao meio em que vive e adquirindo melhores condições de se socializar. O professor deve saber aplicar a técnica precisa para conseguir uma atuação efetiva e positiva, para melhor perceber o crescimento e desenvolvimento do educando, adequando estratégias para despertar o interesse, desenvolvendo métodos de ensino e aprendizagem que possibilitem um bom desempenho, levando assim a dança a ser descoberta e valorizada.
A funcionalidade da dança nas aulas de Educação Física dependerá, portanto, de como e de quem a aplica; cabe ao professor aprimorar cada vez mais seus atributos e valores como educador, promovendo um bom desempenho didático-pedagógico e científico.
Fundamentos pedagógicos
Na aula de dança, o professor deve oportunizar seis tipos de experiências, segundo Fahhbusch (1990, p. 110):
- uso total do corpo;
- exploração de muitas quantidades do movimento;
- uso do espaço;
- uso de variações rítmicas;
- criatividade individual no movimento;
- prática nas combinações específicas de movimento de dança.
Uma aula bem planejada deve ter a introdução da forma básica de composição da dança, jogos de grupos, coreografias e, numa forma mais adiantada, ser realizada com o aperfeiçoamento técnico. O processo de ensino-aprendizagem da dança inicialmente deve se processar com a exploração do movimento, fazendo com que o aluno descubra uma forma pessoal de movimento, compreenda e interiorize suas capacidades. Portanto, o caminho é realizado por partes, planejado cuidadosamente numa sequência de ideias e de áreas de movimento.
Ainda segundo Fahhbusch (1990, p. 111), "os exercícios de dança não são fáceis, os iniciantes partem de uma boa base para realizar as atividades mais complexas". Aos poucos o professor deve introduzir novos elementos, repetição de movimentos simples, variações, combinações de movimentos de acordo com a assimilação e o desenvolvimento dos alunos.
Aspectos metodológicos
Em uma aula de dança, o professor deve obedecer aos princípios pedagógicos básicos, que são, segundo Fahhbusch (1990, p. 104):
- partir do conhecimento para o desconhecido;
- do fácil para o difícil;
- de combinações elementares para novas formas de movimentos cada vez mais significativas.
A transmissão dos movimentos deverá seguir as etapas evolutivas:
- condições de aprendizagem facilitadas;
- condições de aprendizagem normal;
- condições modificadas de aprendizagem;
- sequências rítmicas;
- combinações de movimentos.
Assim sendo, a aula de dança deve promover uma soma de transformações no pensamento (compreender e interpretar), na linguagem técnica (símbolos), na maneira de executar (aplicar habilidades) e no comportamento do aluno (dinâmica).
A dança na Educação Física para crianças com síndrome de Down na rede regular de ensino
A dança é a arte que utiliza o corpo em movimento como meio de expressão, comunicação e criação. Ela é capaz de liberar sentimentos e emoções e, sobretudo, refletir manifestações culturais transformando-se em linguagem social.
Constitui-se em conteúdo importante da Educação Física, pois contribui significativamente para o estímulo da livre expressão, para o desenvolvimento rítmico, por meio do aperfeiçoamento dos movimentos naturais, para o favorecimento do contato social, além de proporcionar momentos de alegria e prazer.
A dança na escola, associada à Educação Física, deverá ter papel fundamental como atividade pedagógica e despertar nos alunos uma relação concreta com o sujeito mundo. Deverá propiciar atividades geradoras de ação e compreensão, favorecendo a estimulação para a ação e decisão no desenrolar delas e reflexão sobre os resultados de suas ações para, assim, modifica-las frente a algumas dificuldades que possam aparecer e, com essas mesmas atividades, reforçar a autoestima, a autoimagem, a autoconfiança e o autoconceito (Verderi, 1998).
Nas escolas, a arte e a Educação Física estiveram e ainda estão ligadas a momentos de mera distração e relaxamento, e muitas vezes suas possibilidades de acesso ao saber, ao conhecimento de si, do outro e do mundo que nos cerca são negligenciadas. Caminhamos, hoje, em direção às mudanças, e os Parâmetros Curriculares Nacionais versam sobre a importância da arte na Educação e reconhecem seu caráter formativo e integralizado. As crianças apresentam "inatismo" para explorar o ambiente e assim fazem; exploram suas mãos, levam os pés à boca, buscam integração com as pessoas, com o mundo físico e social que as envolve, concretizando uma interação ativa com o meio. Entretanto, as crianças que apresentam alguma deficiência podem encontrar dificuldades nessa interação com o mundo, o que provavelmente irá ocasionar consequências desastrosas na construção de seu aprendizado, de sua autoimagem, de sua personalidade e de sua sociabilidade.
Muitas vezes as dificuldades emocionais, sociais e educacionais ou seu exacerbamento não são causas primárias e não estão relacionados somente com o tipo de deficiência específica que as crianças apresentam, mas sim com fatores relacionados às privações pelas quais passam e com as condições da excepcionalidade em geral.
A questão da pessoa com necessidades especiais remete à questão da diversidade humana. Diversidade que, embora aceita no discurso aparente, causa desconforto às pessoas quando vivenciada no seu cotidiano. Assim, a criança com necessidades especiais é muitas vezes rejeitada pelo grupo social por não atender às expectativas dos demais, fazendo com que a criança com síndrome de Down sinta mais dificuldade para se integrar à sociedade.
Com as atividades de dança, a criança com síndrome de Down tem a oportunidade de desenvolver e evoluir quanto ao domínio do seu corpo, desenvolvendo suas possibilidades de movimentação e descobrindo novas formas de superar suas dificuldades.
A dança como processo educacional não se resume simplesmente em aquisição de habilidades, mas sim poderá estar contribuindo para aprimoramento das habilidades básicas, dos padrões fundamentais do movimento, para o desenvolvimento das potencialidades humanas e sua relação com o mundo. Como benefício no desenvolvimento social deve-se criar condições para que estabeleça relações com as pessoas e com o mundo (Verderi, 1998).
Cabe ao profissional de Educação Física saber explorar o potencial da criança com síndrome de Down, possibilitando assim que ela se desenvolva naturalmente, despertando sua criatividade.
Para Nanni (1995), a aplicação da técnica de dança deve ser feita por meio de suas experiências criativas ou da redescoberta da expressão estética do movimento, das possibilidades de comunicação não verbal com seus semelhantes pela dança, o que possibilitará tornar a dança disponível para o máximo de pessoas, sem caráter elitista, fazendo com que cada um possa dançar dentro dos seus limites e suas capacidades.
As aulas devem ser ricas em variação de estímulos, tanto na parte musical como corporal; deve haver exploração do conhecimento do corpo e de suas capacidades e noções básicas de diferentes ritmos e estilos de dança.
As crianças com síndrome de Down necessitam de mediação, e a dança irá auxiliar no desenvolvimento do potencial expressivo, sensorial, artístico, cultural, social e cognitivo, com o intuito de ampliar suas capacidades de aprendizagem de si, do outro e do mundo que as cerca.
A nova Educação Física deve promover e observar os corpos em movimento e possibilitar a seus alunos participar da construção do conhecimento de si mesmo e de seus colegas; deve revelar a opinião de seus alunos e considerar suas percepções para que se torne uma ação educativa libertadora que possibilite ao aluno descobrir-se como sujeito se sua própria história e não um objeto dela (Verderi, 1998).
De acordo com Nanni (1995, p. 100), "a escola deverá estar sensível ao mundo daqueles que são a maioria: as classes populares, e se valer da vontade de chegar a elas conteúdos significativos que tenham relação com sua vida e que permitam a compreensão em si, das coisas que a cercam, e da relação entre ambos".
Na escola, o ensino da dança visa o processo criativo, devendo estar professor e aluno sempre motivados para as aulas. É de fundamental importância que haja planejamento profundo e consciente dos objetivos a serem alcançados, bem como a utilização de estratégias pluridimensionais que estabeleçam relações entre as demais disciplinas que permitam ao aluno desenvolver sua criatividade por meio da dança, atividades que poderão fluir tanto como sensação de alegria favorecida pelo aspecto lúdico de movimentar-se alegremente ou poder retratar e canalizar o seu humor, seu temperamento pela expressão de movimentos liberados em outra dimensão contida do inconsciente.
Se a dança na escola que se pretende pode ser uma possibilidade de superação para as crianças com síndrome de Down, temos que conhecê-las, entendê-las, verificar seus anseios e necessidades para assim pensarmos na elaboração de um projeto adequado. Formas de extrapolar expressões infantis de alegria, tristeza, euforia permitirão a essas crianças com necessidades especiais vazar a expressão das emoções reprimidas contidas no seu mundo subjetivo. E com essas experiências vivenciadas nas aulas de Dança, motivadas pela emoção, podem transmitir expressões francas, diretas dos sentimentos reprimidos.
O sucesso, a alegria, a satisfação e a realização que as crianças experimentam nas atividades de dança permitem a elas receber esforço positivo, imediato, auxiliando assim na formação de sua personalidade, pois reforça o autoconhecimento, a autoestima, autoconfiança e sua autoimagem. A prática da dança proporciona ao aluno uma ampla consciência corporal em relação ao mundo e às coisas que evoluem, desenvolvendo a criatividade, a liderança e a exteriorização de seus sentimentos. A participação das crianças com síndrome de Down nas aulas de Dança pode ser valiosa para melhorar, enriquecer, incentivar e nortear a aprendizagem das crianças de modo geral.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 40-41), "é fundamental que alguns cuidados sejam tomados para que esses alunos possam frequentar as aulas de Educação Física. É necessário que haja orientação médica e, em alguns casos, a supervisão de um especialista em Fisioterapia, um neurologista, psicomotricista ou psicólogo, pois as restrições de movimentos, posturas e esforço podem implicar riscos graves".
É importante que as aulas tenham condições de garantir a segurança das crianças, em que o professor pode até mesmo fazer algumas adaptações, criando situações que possibilitem a participação e o bem-estar desses alunos especiais. A maior dificuldade é o preconceito e o medo, que decorrem, infelizmente, da desinformação.
Quando o indivíduo conhece bem a síndrome de Down, dificilmente rejeita a pessoa deficiente. Perde o medo e a inibição, passa a ver as qualidades do Down e a aceita muito bem. A integração total é difícil, pois as características estão estampadas na face de quem a possui; parece que a deficiência sempre se apresenta antes do que a pessoa e sua individualidade. A batalha do Down é vencer a rotulação inicial e mostrar seu modo particular de ser potencialidade.
A atitude dos alunos diante dessa diferença é algo que se construirá, e irá depender principalmente do professor em relação às suas atitudes; é possível integrar a criança com Down ao grupo, respeitando suas limitações, dando oportunidade para que desenvolva suas capacidades e potencialidades. A aprendizagem tem sempre que partir do concreto, pois o Down tem dificuldade de abstração. O aprendizado não pode ser isolado; tem de acompanhar a vida prática, tem que ser inserido num contexto real, em que o Down possa perceber o seu significado concreto na vida real.
As atividades de dança deverão ser combinadas com a música, com as artes em geral, com as ciências, com a matemática e outras linguagens artísticas. Os movimentos básicos e as habilidades motoras fundamentais e especializadas, quando desenvolvidas sob o aspecto lúdico, são mais alegres, com a participação ativamente vivida, em que a criança aprende a liberar seus movimentos e a expressar suas emoções pela exploração do movimento, do espaço e do tempo rítmico (Nanni, 1995, p. 40).
A criança precisa passar por experiências que façam com que trabalhe a criatividade, atividades que favoreçam a sensação de alegria; trabalhando a dança de forma lúdica, o professor estará contribuindo para que a criança Down possa se descobrir por meio da liberdade de movimentos e expressões.
Um fator importante na estruturação das aulas é a simplicidade, dando foco nos exercícios básicos das linhas de vivência. A repetição é um elemento fundamental no trabalho e deve estar mais presente, principalmente no início do grupo, podendo depois ser mantida de forma dosada, de acordo com as respostas das crianças.
A criança Down necessita se sentir segura e protegida. Ela se solta mais quando está em um universo conhecido, familiar. O novo a ameaça, estimulando suas defesas. Pequenas alterações, como uma música que não conhece, uma vivência que nunca fez, uma sequência diferente dos exercícios, de disposição da sala, necessita de tempo para serem incorporadas.
Quando as aulas apresentam uma curva de desenvolvimento relativamente estável, com a repetição de vivências e músicas, a criança se sente mais segura e se permite se expressar com desenvoltura. A repetição também auxilia a criança a se situar melhor nas aulas e principalmente com seus colegas, aceitando com mais facilidade as vivências que estimulam maior entrega; através da repetição, ela vai aprendendo a "hora de ativar" e a "hora de relaxar".
As aulas devem possuir estímulos que favoreçam o trabalho cooperativo entre a criança com síndrome de Down e os outros alunos, para que assim elas possam aprender a conviver entre si. As estratégias devem estar baseadas nas datas comemorativas e eventos esportivos.
Uma vez definido o tema específico da dança, o professor parte para um propósito interdisciplinar, explorando a origem histórica do tema, incluindo-as nas áreas do conhecimento.
De acordo com Nanni (1995, p. 40),
a interdisciplinaridade deverá permitir tanto quanto possível a integração da [criança] ao processo de aprendizagem como um todo ao convergir os objetivos gerais da mesma oferecendo oportunidade de a criança mover-se; aprender por meio dos movimentos, ser criativa através dos movimentos, aprender modelos e ritmos dos movimentos; manipular o corpo em relação à dimensão espaço-espaço, aprender a relacionar com o outro e com o mundo.
Muitos são os conceitos de dança e seus benefícios para as crianças, porém são poucos os estudos sobre a aplicação dela como atividade escolar. Portanto, é de grande importância que o professor tenha consciência de respeitar as diferenças, pregar a inclusão e valorização à participação de todos para que haja maior integração com o grupo e que se firme em cada aluno a autoconfiança, desafiando a criança e estimulando a superação dos seus próprios limites.
o nativa ou no decorrer de seu desenvolvimento, criando condiçdeve procurar ajudar cada criança a crescer n
Conclusão
A proposta deste trabalho é pela consciência e reflexão da carência de estudos e pesquisas na área da Dança escolar voltadas para as crianças com síndrome de Down no contexto da escola. Por meio da dança, as crianças com síndrome de Down têm acesso ao mundo da arte e ampliam suas capacidades de aprendizagem.
Cabe a nós, profissionais de Educação Física, provocar modificações no processo educacional, visando novos paradigmas, abandonando o mecanismo tradicional e assim buscar novos caminhos para proporcionar dentro da escola uma educação mais humana, em que os alunos com necessidades especiais possam se integrar à sociedade, favorecendo um desenvolvimento global desses alunos.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC, 1997.
CAVALCANTE, Meire. A escola que é de todas as crianças. Nova Escola, São Paulo, nº 182, 2005.
FAHHBUSCH, Hannebore. Dança moderna e contemporânea. Rio de Janeiro: Sprint, 1990.
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Publicado em 30 de novembro de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
PALMEIRA, Lívia Maria Cesário; SILVA, Fabio José Antonio da. A dança como elemento facilitador na Educação Física escolar para crianças com síndrome de Down. Revista Educação Pública, v. 21, nº 43, 30 de novembro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/43/a-danca-como-elemento-facilitador-na-educacao-fisica-escolar-para-criancas-com-sindrome-de-down
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