Acervo e técnicas organizacionais de uma coleção didática de Zoologia
Thaís de Assis Volpi
Instituto Federal do Espírito Santo
Lorrayne Santos Nunes
Instituto Federal do Espírito Santo
Marcos Vinicius Locatelli
Instituto Federal do Espírito Santo
Thiago Almenara Oliveira Martins
Instituto Federal do Espírito Santo
Vanderlei Pinheiro dos Santos
Instituto Federal do Espírito Santo
As coleções biológicas são representadas por material testemunho da biodiversidade ao longo do tempo. Por isso, exercem grande importância científica e didática para a conservação e entendimento de suas potencialidades. Quando associadas ao ensino, promovem melhoria no aprendizado pela observação, análise e manipulação dos espécimes biológicos (Azevedo et al., 2012). Para profissionais das áreas biológicas e afins, é essencial que tenham contato direto com os mais diferentes táxons, o que permite melhor aprimoramento de seu aprendizado teórico (Maricato et al., 2007). Assim, quando a instituição de sua formação possui acervos biológicos, há grande otimização na formação do profissional. Em relação às coleções didáticas de Zoologia, o conhecimento adquirido sobre a biodiversidade animal é mais eficiente, tornando o aluno capaz de difundir as informações da melhor maneira (Azevedo et al., 2012), em sua atuação como profissional ou como educador. No entanto, os animais devem estar em condições de conservação que permitam seu estudo, de forma a garantir o uso de todo o seu potencial pedagógico (Kury et al., 2006; Ingenito, 2014).
O acervo da coleção didática de Zoologia é de suma importância para o aprendizado das mais distintas disciplinas dos cursos oferecidos pelo Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia do Espírito Santo, no câmpus de Santa Teresa. O acervo é utilizado em disciplinas do Ensino Médio integrado ao Técnico (Técnico em Agropecuária e Técnico em Meio Ambiente), além dos cursos de graduação em Ciências Biológicas (licenciatura) e Engenharia Agronômica (bacharelado), em que há muitas demandas das mais diversas disciplinas. Essas disciplinas geralmente apresentam carga horária prática extensa e se faz imprescindível para o aprendizado dos alunos um acervo representativo e bem organizado, que também auxilie o professor na organização das aulas de maneira rápida e eficiente. Com o conhecimento e o registro de todo o material disponível no acervo, é possível planejar aulas que melhor o aproveitem. Por isso, se fazem necessárias a organização e a identificação correta de todo o acervo disponível.
No entanto, embora haja um acervo representativo no que diz respeito à biodiversidade, até o desenvolvimento do presente estudo não havia catalogação e identificação do material, o que dificulta muito seu uso. Por isso, o objetivo do presente estudo foi inventariar e catalogar a biodiversidade zoológica em via úmida da coleção didática do Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia do Espírito Santo – Câmpus de Santa Teresa.
Referencial teórico
A iminência do conhecimento da biodiversidade nunca se fez tão importante, porque a cada ano muitas espécies são extintas por causas antrópicas, mesmo antes de serem conhecidas (Myers et al., 2000). Conhecer a biodiversidade é de muita importância para a humanidade, porque dependemos diretamente dos recursos naturais disponíveis, além do conhecimento de seus potenciais econômicos e medicinais. Com esse conhecimento, é possível examinar os efeitos do homem sobre o planeta que podem ameaçar tais potenciais. É apenas pelo conhecimento da biodiversidade que se torna possível identificar suas potencialidades. O meio ambiente ecologicamente equilibrado, além de ser uma prerrogativa constitucional (Constituição Federal, 1988, Capítulo VI, Art. 225), é o que melhora a qualidade de vida dos seres humanos como um todo, garantindo a sobrevivência da espécie.
As coleções biológicas possuem grande importância para conservação e entendimento da biodiversidade, visto que representam o testemunho dela ao longo do tempo. Além disso, quando direcionadas ao ensino, seu acervo biológico pode promover melhoria na aprendizagem dos alunos pela observação, análise, manipulação e curadoria dos espécimes (Azevedo et al., 2012). Para um profissional das áreas biológicas e até mesmo futuros educadores ambientais, é de suma importância o conhecimento da biodiversidade, desde seus aspectos ecológicos, comportamentais, até o reconhecimento da diversidade nos aspectos taxonômicos. Para isso, é importante que, ao longo dos cursos de graduação em áreas biológicas e afins, os alunos tenham contato direto com a biodiversidade disponível em coleções biológicas, tornando o aprendizado mais efetivo.
Uma coleção biológica representa a documentação ou o testemunho sistematizados e padronizados da biodiversidade, sendo assim um conjunto de materiais de origem biológica que seja tratado, conservado e documentado seguindo normas e padrões que permitam segurança, acessibilidade, qualidade, longevidade, integridade e interoperabilidade dos dados do acervo da coleção de determinada instituição. As coleções biológicas têm como objetivo auxiliar atividades de ensino (capacitação de recursos humanos e/ou difusão científica), pesquisa, desenvolvimento tecnológico, inovação, divulgação científica, além de conservação ex situ, constituindo grande importância histórica diante da preservação de acervo biológico ao longo do tempo (Fiocruz, 2016).
Segundo a Instrução Normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) n° 160, de 27 de abril de 2007, são registradas as seguintes categorias de coleções biológicas: científica, didática, de serviços, de segurança nacional e particular. A criação de uma coleção biológica dependerá de sua finalidade. De maneira geral, toda coleção biológica tem por si só importância didática, visto que seu uso promoverá a atualização e geração de conhecimento (Pereira, 2011). Quando o material depositado apresenta dados de procedência, coleta e identificação taxonômica dos espécimes, confere-se à coleção o status científico (Martins, 1994). No entanto, quando faltam dados de procedência dos espécimes, estes podem ser destinados à coleção didática, pois perdem a importância para a pesquisa, já que não há dados suficientes para responder a questões nesse segmento. Assim, mesmo que a falta de dados torne inviável o uso de um espécime para fins científicos, esses exemplares podem servir para inúmeras finalidades didáticas. Entretanto, é importante que coleções didáticas sejam montadas de forma independente das coleções científicas, já que o acervo destinado para pesquisa deve apresentar acesso mais restrito (Martins, 1994), pois é necessário evitar a perda de espécimes de valor científico inestimável em sua manipulação inadequada, algo que pode ser feito quando o material é destinado a atividades didáticas (Pereira, 2011).
A Instrução Normativa do Ibama nº 160 define que coleções biológicas didáticas são um acervo de material biológico de instituições científicas, escolas de Ensino Fundamental e Médio, unidades de conservação, sociedades, associações ou organizações da sociedade civil de interesse público, que objetivam a exposição, demonstração, treinamento ou educação através dos espécimes contidos em seu acervo. Coleções didáticas apresentam grande importância para o ensino, pois despertam nos alunos a curiosidade por meio da observação e manipulação dos organismos, auxiliando também o professor no processo didático-pedagógico. As coleções didáticas são ferramentas essenciais para o estudo da biodiversidade, pois o contato com o acervo biológico das coleções permite o aprimoramento do aprendizado teórico (Maricato et al., 2007).
A elaboração de materiais didáticos tem como objetivo otimizar o processo de ensino-aprendizagem por meio da relação que o aluno estabelece com os elementos facilitadores de associação do conhecimento teórico com a prática vivenciada (Peixoto, 2012). As coleções didáticas auxiliam o ensino mediante exposições e demonstrações em aula, e os espécimes devem ser capazes de suportar manuseio e transporte frequente (Aurichio; Salomão, 2002). Por isso, certos cuidados de manutenção e reposição do material são de suma importância.
Quando vislumbramos coleções didáticas voltadas ao ensino de Zoologia, é fundamental que o aluno vivencie experiências com espécimes dos mais diferentes táxons. A correlação que o aluno estabelece entre a biodiversidade e os conceitos ensinados sobre evolução e sistemática permite sua condução para uma nova realidade não antropocentrista, que o faça compreender e se posicionar como parte do meio ambiente. Tais coleções tornam possível a observação da morfologia dos animais associada a suas respectivas funções, promovendo a reflexão sobre a importância da conservação da biodiversidade. O aluno é capaz de difundir o conhecimento adquirido quanto à biodiversidade animal de maneira mais eficiente, auxiliando da melhor maneira à preservação dos animais e dos ecossistemas a eles associados (Azevedo et al., 2012). Assim, o acervo zoológico didático é de suma importância para a construção do conhecimento, vista a importância de conhecer a biodiversidade e suas peculiaridades, principalmente para um profissional diretamente relacionado a essa área do conhecimento. Para tal, acervos de coleções biológicas devem se encontrar em plenas condições de estudo, além de devidamente identificados e catalogados, de forma a garantir o uso de todo o seu potencial pedagógico. Além disso, as coleções bem conservadas são um acervo duradouro que podem prolongar e otimizar a utilização do material biológico, fazendo com que muito mais alunos tenham acesso a este material (Kury et al., 2006; Ingenito, 2014).
Local de implementação do estudo
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia são parte de uma rede de educação composta de organizações variadas de Educação Superior, Básica e Profissional, pluricurriculares e multicampi, especializadas na oferta de Educação Profissional, científica e tecnológica. O Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), câmpus Santa Teresa, conta atualmente com 987 alunos e está englobado nessa diversidade educacional; atualmente oferta o Ensino Médio integrado ao Técnico (Técnico em Informática, Técnico em Agropecuária e Técnico em Meio Ambiente), tecnólogo (Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas), além da graduação (Bacharel em Engenharia Agronômica e Licenciatura em Ciências Biológicas) e a modalidade de Educação Jovens e Adultos (IFES, 2020).
A instituição possui diversos laboratórios, visando o ensino através de aulas práticas. O Laboratório de Biologia visa o ensino de disciplinas como Zoologia I, II e III para o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Entomologia Geral para o Ensino Médio integrado ao Técnico, além de Entomologia e Elementos de Sistemática, Anatomia e Fisiologia Animal para o curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica. Para a realização das aulas práticas de tais disciplinas, o laboratório conta com a coleção didática de Zoologia, que inclui animais em via seca (principalmente insetários) e via úmida. Dentre os animais de via úmida, há representantes de diversas categorias taxonômicas. No entanto, tal acervo não se encontrava catalogado e organizado até o desenvolvimento do presente estudo, e por isso não era possível saber sua representatividade ou seu potencial pedagógico.
Triagem
Entre agosto de 2018 e abril de 2020, foi realizado um projeto de organização e curadoria da Coleção Didática de Zoologia do Instituto Federal do Espírito Santo, câmpus Santa Teresa. Para inventariar a biodiversidade zoológica, foram necessárias sua triagem e a identificação prévia de todo o acervo em via úmida. Assim, além da experiência taxonômica dos envolvidos no projeto, foram utilizadas consultas bibliográficas e chaves de identificação para averiguação da identidade taxonômica, bem como a colaboração de especialistas da própria instituição.
Fixação dos espécimes em via úmida
Para a preservação do acervo da coleção zoológica, é importante estabelecer determinadas práticas corriqueiramente realizadas, tais como exames periódicos da integridade dos espécimes da coleção, evitar a incidência de luz e pó, acrescentar ou substituir periodicamente produtos preservativos, além de compensar periodicamente a evaporação do líquido preservador (Martins, 1994).
Por isso, foram adotados protocolos para fixação de material biológico com base nas recomendações que se seguem. O material fixador mais comumente utilizado é o álcool etílico, mesmo para animais que tenham sido previamente fixados em formol a 10%, porque o formol a 10% auxilia na preservação de coloração e estrutura morfológica do animal, mas em longo prazo danifica os tecidos, além de ser tóxico e não recomendado para manipulação. Assim, a recomendação é que o material fixado nessa solução seja posteriormente transferido para o álcool etílico a 70% após no mínimo uma semana, visto que o álcool etílico acima dessa concentração preserva a integridade do material por mais tempo. É importante salientar que a concentração do álcool etílico não pode ser inferior a 70%, tendo em vista que concentrações inferiores a essa se tornam ineficientes, além de permitir o aparecimento de bactérias e deterioração do material (Almeida et al., 1998).
Além disso, é importante que o volume do fixador no recipiente seja maior que o volume do animal, de forma que este seja completamente imerso no fixador. Para animais maiores (acima de 15cm), recomenda-se injetar o fixador com seringa e agulha, a fim de que atinja todas as partes corporais do animal, evitando assim putrefação de suas partes internas (Uieda; Castro, 1999).
Todos os animais foram lavados em água corrente com auxílio de peneira de malha fina. Posteriormente, foram fixados em álcool etílico 70% e acondicionados em vidros e frascos devidamente identificados. Todos os lotes de animais receberam número de tombo (numeração única para o vidro/lote em que foi acondicionado). Os lotes foram delimitados de acordo com a relação taxonômica dos espécimes, em que animais mais aparentados e sem dados de procedência foram incorporados ao mesmo lote – logo, armazenados no mesmo vidro/frasco. O critério de inclusão no mesmo lote dos espécimes foi arbitrário, buscando atingir ao menos a categoria hierárquica trabalhada nas disciplinas (Classe), embora se tenha objetivado separar os espécimes ao menor nível hierárquico possível (espécie). O número de tombo, a identificação taxonômica do material, o local de armazenamento (número do armário e da gaveta) e demais informações foram incluídas numa tabela de Excel de forma a manter todo o material triado e identificado devidamente catalogado.
Considerando que na literatura há pouca ou nenhuma descrição de condutas organizacionais de coleções didáticas, foram elaboradas metodologias de organização do acervo direcionadas à infraestrutura da coleção didática da instituição, a fim de otimizar seu uso e a manutenção de sua organização.
Organização dos dados do acervo
Foram realizados a identificação, a catalogação e o melhoramento estrutural do acervo zoológico da instituição, de forma a transformar a coleção didática num acervo duradouro e de fácil utilização. Assim, todo o material foi etiquetado, além de devidamente catalogado com dados planilhados; as informações se encontram disponíveis a todos os usuários do laboratório: professores, monitores e alunos. Com o conhecimento e o registro de todo o material disponível no acervo, é possível planejar aulas que melhor aproveitem o material, considerando que se tornou possível acessar previamente informações acerca da representatividade taxonômica do acervo, bem como a localização do material.
Os animais foram inicialmente triados, a fim de separá-los de acordo com sua categoria taxonômica. Considerando que a maior parte do acervo não apresenta dados de procedência do material (local de coleta), os espécimes do mesmo grupo taxonômico foram incorporados a um só lote (vidro). Quando previamente separados, os animais foram contabilizados e todos os dados do lote foram inseridos em uma planilha no Google Drive. Cada lote recebeu um número referencial único – o chamado número tombo, que também foi inserido no vidro correspondente a ele, sendo todos os vidros devidamente etiquetados (Figura 1). Os dados da planilha incluem informações como número tombo, identificação taxonômica, número de espécimes, dados de coleta, integridade do material, local de armazenamento (armário e gaveta) e dados do identificador taxonômico do material.
Figura 1: Exemplo de etiqueta incorporada ao lote/vidro do acervo da coleção didática de Zoologia do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES)
Organização logística do acervo
Cada lote recebeu um número único, de cuja identificação anteriormente planilhada constam todos os dados taxonômicos dos animais do vidro (lote), incluindo dados da localização (armário e gaveta) do material dentro da coleção. Em todos os vidros foram coladas tais identificações, em que constam o número único recebido pelo lote e dados taxonômicos, nome popular e localização do vidro no acervo.
No entanto, a dinâmica criada para otimizar o acesso e manutenção da organização do acervo partiu da premissa de seu uso sem qualquer conhecimento taxonômico prévio. Estabeleceu-se que os três armários, separados por quatro gavetas, fossem padronizados e distinguidos de acordo com diferentes cores (Quadro 1). Assim, para cada armário foi designada uma cor, a qual corresponderia à coloração das tampas dos vidros dos animais de via úmida daquele armário; o Armário 1 é de cor verde, o Armário 2 é de cor vermelha e o Armário 3 é de cor preta. Além disso, foi padronizada a posição por gavetas dentro de cada armário: todas as primeiras gavetas receberam a identificação de uma fita vermelha em volta do vidro; as segundas gavetas receberam a cor verde; as terceiras, a cor preta; e as quartas, a cor azul. Com isso, a identificação de cada gaveta de cada armário tornou-se única; por exemplo, a Gaveta 2 do Armário 2 tem vidros que apresentam tampa vermelha e fita verde. Assim, tornou-se muito mais prático e fácil encontrar o material e guardá-lo após o uso, visto que ele se encontra devidamente etiquetado, e os dados taxonômicos de cada lote se encontram na planilha gerada (Figura 2). Nela consta inclusive a identificação do local em que o lote se encontra na coleção.
Quadro 1: Dinâmica organizacional para armazenamento do acervo da coleção didática de animais fixados em via úmida do IFES - câmpus Santa Teresa
Armário 1 |
Armário 2 |
Armário 3 |
|
Cor do Armário |
Tampa verde |
Tampa vermelha |
Tampa preta |
Cor da Gaveta 1 |
Fita vermelha |
Fita vermelha |
Fita vermelha |
Cor da Gaveta 2 |
Fita verde |
Fita verde |
Fita verde |
Cor da Gaveta 3 |
Fita preta |
Fita preta |
Fita preta |
Cor da Gaveta 4 |
Fita azul |
Fita azul |
Fita azul |
Após a lavagem dos espécimes em água corrente com auxílio de peneira de malha fina, foi substituído todo o material de fixação do acervo em via úmida, sendo renovado o álcool 70% nos frascos, além da substituição do formol 10% por álcool 70%. Todos os frascos dos animais foram preenchidos com álcool 70%, a fim de evitar que os espécimes ficassem expostos à putrefação. Em animais maiores, foi injetada a solução fixadora ao longo de sua estrutura corpórea, de maneira que a solução atingisse toda a sua estrutura, evitando putrefação interna, conforme descrito na metodologia.
Acervo
Após a organização estrutural e o planilhamento dos dados da coleção, foi possível identificar a representatividade taxonômica do acervo. Assim, foi verificado que o acervo conta com representantes de nove filos de animais (Porifera, Cnidaria, Platyhelminthes, Nematoda, Mollusca, Annelida, Arthropoda, Echinodermata e Chordata), cerca de 3.590 espécimes distribuídos em 264 lotes (Tabela 1). Vale ressaltar que cada lote corresponde a uma variedade taxonômica distinta e pode conter de um a milhares de espécimes. A maior representatividade taxonômica está no subfilo Hexapoda, tendo em vista que o câmpusde Santa Teresa é uma instituição agrícola e a maior parte das disciplinas é voltada ao ensino de Entomologia. Considerando a importância de manter as coleções bem preservadas a fim de garantir o uso de todo o seu potencial pedagógico (Kury et al., 2006; Ingenito, 2014), a organização promovida ao longo do desenvolvimento do presente estudo viabilizou e otimizou o desenvolvimento das mais distintas atividades de ensino. Assim, é possível afirmar que a nova estrutura organizacional da coleção promoverá melhoria na aprendizagem dos alunos por meio da observação, análise, manipulação e curadoria dos espécimes, considerando este o objetivo de uma coleção, desde que bem estruturada (Azevedo et al., 2012).
Quadro 2: Relação da representatividade taxonômica do acervo da Coleção Didática de Zoologia fixada em via úmida do IFES - câmpus Santa Teresa
Filo |
Táxon |
Espécimes por táxon |
Lotes |
Espécimes |
Local |
Porifera |
- |
- |
1 |
1 |
Armário 1, Gaveta 2 |
Cnidaria |
Schyphozoa, Anthozoa |
Schyphozoa (1), Anthozoa (colônia) |
1 |
1 |
Armário 1, Gaveta 2 |
Platyhelminthes |
Tubellaria, Trematoda |
Tubellaria (1), Trematoda (centenas) |
2 |
1 |
Armário 1, Gaveta 3 |
Nematoda |
Secernentea |
Secernentea (2) |
1 |
2 |
Armário 1, Gaveta 3 |
Annelida |
Hirudinea, Oligochaeta, Polychaeta |
Hirudinea (3), Oligochaeta (28), Polychaeta (4) |
6 |
35 |
Armário 1, Gaveta 3 |
Mollusca |
Bivalvia, Cephalopoda, Gastropoda, Polyplacophora |
Bivalvia (241), Cephalopoda (21), Gastropoda (279), Polyplacophora (76) |
30 |
617 |
Armário 1, Gaveta 4 |
Arthropoda |
Chelicerata, Crustacea, Hexapoda, Myriapoda |
Chelicerata (196), Crustacea (226), Hexapoda (2.093), Myriapoda (43) |
113 |
2.558 |
Armário 2, Gavetas 1 a 3 |
Echinodermata |
Asteroidea, Crinoidea, Echinoidea, Holothuroidea |
Asteroidea (41), Crinoidea (5), Echinoidea (63), Holothuroidea (47) |
22 |
156 |
Armário 2, Gaveta 4 |
Chordata |
Peixes (Chondrichthyes, Actinopterygii), Amphibia, Reptilia, Aves, Mammalia |
Chondrichthyes (5), Actinopterygii (89), Amphibia (29), Reptilia (53), Aves (13), Mammalia (30) |
88 |
219 |
Armário 3, Gavetas 1 a 4 |
Total |
264 |
3.590 |
Potencial educativo do acervo
Embora o acervo seja destinado prioritariamente ao uso em aulas práticas para os alunos do IFES, a instituição recebe visitas de escolas públicas e privadas da região, nem sempre com agendamento prévio. Assim, o acervo da coleção já vem sendo utilizado para demonstração dos animais, a fim de promover atividades educativas voltadas ao conhecimento da biodiversidade zoológica. Com base na organização e catalogação do acervo realizada ao longo do presente estudo, tornou-se viável o acesso à informação da representatividade taxonômica do material da coleção, de maneira a disponibilizar espécimes mais bem preservados, além de tornar a escolha mais rápida e eficiente dos grupos taxonômicos a serem demonstrados para os visitantes.
Cabe ressaltar que as coleções didáticas otimizam o estudo da biodiversidade mediante o contato com espécimes biológicos, permitindo o aprimoramento e facilitação na associação dos aspectos observacionais ao aprendizado teórico (Maricato et al., 2007; Peixoto, 2012). Com isso, o aluno se torna capaz de promover a difusão do conhecimento de maneira mais eficiente, auxiliando da melhor maneira a preservação dos animais e os ecossistemas associados a eles (Azevedo et al., 2012).
Conclusões
O uso das coleções didáticas de Zoologia é de suma importância para otimizar o ensino-aprendizagem, e sua organização traz inúmeras melhorias para seu uso. Um acervo com grande representatividade taxonômica, como a verificada no presente estudo, contribui para que as aulas práticas possam proporcionar aos alunos o contato com grande biodiversidade. O conhecimento da diversidade biológica é central para sua conservação, visto que a difusão das informações faz com que alunos e educadores disseminem de maneira mais eficiente as informações, além de tornar os profissionais mais capacitados para atuar a serviço da preservação da biodiversidade, porque o contato com a biodiversidade torna possível a reflexão sobre sua importância numa visão não antropocêntrica.
A estruturação, organização e catalogação da coleção didática proporcionou, dessa forma, melhores condições de ensino, capacitação profissional e difusão científica na instituição. Com o conhecimento e a catalogação do acervo, foi possível planejar aulas práticas que façam melhor uso dos espécimes disponíveis, pois se tornou viável saber previamente a representatividade taxonômica da coleção didática de Zoologia.
Referências
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AURICHIO, P.; SALOMÃO, M. G. Técnicas de coleta e preparação de vertebrados. São Paulo: Parm, 2002.
AZEVEDO, H. J. C. C.; FIGUEIRÓ, R.; ALVES, D. R.; VIEIRA, V.; SENNA, A. R. O uso de coleções zoológicas como ferramenta didática no ensino superior: um relato de caso. Práxis, nº 7, p. 43-48, 2012.
FUNDAÇÃO INSTITUTO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Manual de organização de coleções biológicas da Fiocruz. 2016. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/vpplr-m-cb-001_manual_de_organizacao_colecoes_da_fiocruz_2.pdf. Acesso em: 10 abr. 2020.
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MYERS, N.; MITTERMEIER, R. A.; MITTERMEIER, C. G.; FONSECA, G. A. B.; KENT, J. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v. 403, p. 853-858, 2000.
PEIXOTO, L. S. V. Primeira coleção didática de Zoologia da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. 42f. Monografia (Especialização na Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Modalidade de Ensino a Distância) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, câmpus Medianeira, 2012.
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Agradecimentos
Agradecemos aos responsáveis técnicos do Laboratório de Biologia, Elvis Pantaleão Ferreira e Michelle Delunardo Nobre, por toda a assistência infraestrutural e logística.
Publicado em 02 de março de 2021
Como citar este artigo (ABNT)
VOLPI, Thaís de Assis; NUNES, Lorrayne Santos; LOCATELLI, Marcos Vinicius; MARTINS, Thiago Almenara Oliveira; SANTOS, Vanderlei Pinheiro dos. Acervo e técnicas organizacionais de uma coleção didática de Zoologia. Revista Educação Pública, v. 21, nº 7, 2 de março de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/7/acervo-e-tecnicas-organizacionais-de-uma-colecao-didatica-de-zoologia
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2 Comentários sobre este artigo
Deixe seu comentárioFabíola, pode me mandar um email: thaisvolpi@gmail.com
Bom dia, adorei o artigo, vem me norteando, mas precisava saber um meio de entrar em contato com os autores para solicitar mais informações.
Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.