Oficina pedagógica sobre metodologias ativas para o Ensino Médio no IFMT - Câmpus Confresa: percepções dos professores participantes

Marcelo Franco Leão

Doutor em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professor do IFMT Câmpus Confresa

Mônica Strege Médici

Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Tocantins, Professora da Rede Estadual de Mato Grosso (SEDUC/MT)

Dhennyfe Almeida Nascimento

Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza com habilitação em Química pelo IFMT Câmpus Confresa

Geisa Pires da Silva

Mestra em Física (UFG) professora (IFMT - Câmpus Confresa)

O processo educativo está em constante transformação, o que possibilita refletir sobre as novas abordagens para o ensino de Ciências. Com essas mudanças, é preciso que a aprendizagem ganhe significado para os estudantes, de forma com que eles compreendam os conceitos científicos e os relacionem com situações reais.

No entanto, mesmo estando em pleno século XXI, o que se tem observado em muitas escolas brasileiras é que a aprendizagem ainda se dá por meio de transmissão e repetição, sem a devida preocupação com a validação dos conteúdos desenvolvidos. Ou seja, falta proporcionar um ensino que leve à reflexão, ao desenvolvimento da autonomia, permeado por questionamentos e investigação.

Ao considerar o sistema educacional brasileiro, é possível elencar aspectos capazes de influenciar diretamente na qualidade do ensino, o que é tema de constantes debates entre pesquisadores e professores, que buscam incessantemente encontrar soluções para promover melhorias no ensino. Um desses aspectos são as concepções metodológicas e como elas ocorrem em sala de aula.

No intuito de enfrentar essa realidade, surge a proposição de desenvolver metodologias ativas (MA) nas aulas, pois elas proporcionam autonomia e protagonismo dos estudantes e fazem com que os conceitos tenham uma compreensão mais aprofundada.

Segundo Paiva et al. (2016), para ocorrer essa mudança de perspectiva, é necessário entender que o ensino tradicional utiliza estratégias repetitivas e aulas expositivas como forma de transferência de informações hierarquizadas, o que favorece o esmorecer e o desinteresse dos estudantes. Os autores destacam que essa metodologia tradicional vem sido substituída por métodos inovadores, denominadas de MA, sendo que a sua principal caraterística é o envolvimento de todos por meio do diálogo, da comunicação efetiva, que são estruturadas de tal maneira que todos os participantes atuam como sujeitos protagonistas do processo.

Nas palavras de Moran (2016, p. 2), “a combinação de metodologias ativas e competências digitais é poderosa, dinamiza todos os processos, atrai o interesse dos alunos, mobiliza a escola. Não é uma revolução, mas uma movimentação, que prepara uma revolução mais estruturada”.  Portanto, a discussão de hoje não é por que mudar, mas como mudar a Educação brasileira e quais caminhos poderão ser percorridos. Novos caminhos serão percorridos pela sociedade e a Educação precisa buscar novos horizontes por meio de novas perspectivas capazes de transformar e alicerçar a sociedade brasileira.

Inúmeras pesquisas atestam que os estudantes criam condições para ter sua visão de mundo ampliada, que a aprendizagem deles ocorre por meio de estímulos, em que os conhecimentos prévios são considerados e aliados aos novos saberes para ocorrer assimilação de novas informações cognitivas, o que os torna capazes de elaborar pensamento crítico sobre os conteúdos estudados (Bacich; Moran, 2015).

Frente ao exposto, o objetivo desse estudo foi descrever as percepções dos professores que atuam no Ensino Médio e que participaram de uma oficina pedagógica sobre as contribuições das metodologias ativas para o ato educativo na Educação Básica.

Reflexões sobre as metodologias de ensino

O desenvolvimento de metodologias de ensino diferenciadas do modelo tradicional não é algo recente. Na Educação brasileira, é possível entender que teve início por volta da década de 1930, por Anísio Teixeira, baseado nas ideias propostas pelo americano John Dewey para contrapor-se ao ensino tradicional. Dewey foi filósofo e profundo defensor da democracia e da liberdade em seu contexto; em seus estudos, defendia que a Educação não é para a vida e sim ela é a própria vida e o próprio desenvolvimento da pessoa. Em suas palavras: 

As escolas passam a constituir um mundo dentro do mundo, uma sociedade dentro da sociedade. Isto, no melhor dos casos, que, no pior, elas se tornam simplesmente livrescas, atulhando a cabeça da criança de coisas inúteis e estúpidas, não relacionadas com a vida nem com a própria realidade (Dewey, 1973, p. 21).

Conforme o pensamento de Dewey (1973), a escola tem um papel fundamental no alicerce da sociedade na construção de uma perspectiva crítica, ou seja, ela não pode ser um veículo de transmissão de conhecimento, mas sim um espaço de construção aliando o conhecimento teórico e a vida de cada estudante.

No Brasil, essas ideias que relacionam a Educação ao desenvolvimento humano, fundaram o movimento escolanovista ou escola nova. Teixeira (2000) acredita que uma nova concepção educacional emergiu no país e ressaltou que “a criança não mais como um meio, mas como um final em si mesma. A personalidade infantil aceita, respeitada, ouvida, e não mais ignorada ou, conscientemente, reprimida” (Teixeira, 2000, p. 56). Em outras palavras, a escola precisa evoluir com a sociedade para atender suas demandas temporais, ou seja, não é possível conceber uma Educação que não reconheça o estudante como sujeito central do processo de aprendizagem.

O autor citado defende que a escola precisa estar em constante processo evolutivo e só avança quando reformular a maneira de ensinar e a concepção de que as formas de aprender são diversas. “Por tudo isso, a escola teve que deixar de ser a instituição isolada, tranquila, do outro mundo, que era, para se impregnar do ritmo ambiente e assumir a consciência de suas funções. Se depressa marcha a vida, mais depressa há de marchar a escola” (Teixeira, 2000, p. 111).

Contudo, essa mudança defendida por Teixeira (2000) não se constitui uma ruptura entre a escola inovadora frente à escola tradicional de maneira repentina, até mesmo porque o ensino tradicional persiste até os dias atuais. Assim, para que haja a renovação da escola e do processo educativo é preciso uma reformulação didática, amparada em novas concepções metodológicas.

Para Freire (1997), defensor da concepção humanista de Educação, uma das tarefas mais importantes da prática educativa crítica é propiciar as condições para que os estudantes tenham as condições de construir saberes em meio às relações com os outros, na qual ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Sua defesa é por uma escola que ensine ler não apenas as palavras, mas também ler o mundo; e isso contrapõe-se à escola tradicional.

Desse modo, “o estudante precisa assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos” (Freire, 1997, p. 46). O autor também defende que o papel do professor vai além da transmissão de conhecimento é muito mais amplo, é promover condições para que cada estudante possa construí-lo. Assim, poderá entender não apenas sobre o tema proposto, mas passa a entender sobre seu papel como protagonista na construção do conhecimento.

Considerando o exposto, as mudanças pedagógicas necessárias para a Educação contemporânea podem ser favorecidas quando se desenvolvem metodologias ativas (MA), pois elas deslocam o centro do processo educativo, cujo foco não mais é o resultado e sim o processo, não mais somente o professor quem sabe, mas os estudantes também, ainda assumindo o papel de protagonistas do saber (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014). Os autores defendem que, nesses novos métodos educativos, há uma migração do ensinar para o aprender e a inversão do papel do professor, que antes era o centro do processo, pelo do estudante, que assume este papel de corresponsabilidade pelo seu aprendizado.

Segundo Moran (2017, p. 2), as “metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada, híbrida”. Desse modo, o estudante tem na figura do professor um orientador e não mais um transmissor de conhecimento. Diante desta perspectiva, há uma diminuição ou até mesmo o fim das aulas expositivas, a teoria passa a ser buscada por meio das mídias e o espaço das aulas presenciais são utilizados para o desenvolvimento dos projetos.

Moran (2015, p. 24) afirma que “o papel do professor é mais o de curador e de orientador. Curador, que escolhe o que é relevante entre tanta informação disponível e ajuda a que os alunos encontrem sentido no mosaico de materiais e atividades disponíveis”. Em outras palavras, a relação entre professor e estudante precisa ser próxima no sentido de que os dois possam trilhar o mesmo caminho em busca da construção do conhecimento. Sendo assim, a aula inovadora precisa ser apresentada como uma das possibilidades para a construção do processo de aprendizagem, mas não deve ser a única.

Nessa linha de pensamento, a escola precisa explorar as competências digitais como meio de subsidiar as inovações necessárias para o sistema de ensino e, nesse sentido, além de inovar, adotá-las como recursos para atrair o estudante. Moran (2016) destaca que há mil formas de mobilização dos educandos que fazem sentido, que dão resultados imediatos, que mexem com as aulas convencionais. Estas possibilidades se apresentam diante da existência das mídias digitais e a capacidade do estudante em utilizá-las.

De acordo com Moran (2017), para explorar esse espaço de aprendizagem mesclado não bastam pequenos ajustes como inserir o uso dos recursos da mídia em sala de aula. Para o autor, para desenvolver MA é necessário que se façam grandes mudanças, inclusive nas concepções que o professor possui sobre Educação. Ou seja, é necessário romper alguns paradigmas e inovar no sentido de promover aprendizagem significativa com foco nas MA.

Já segundo Santos (2017), os métodos ativos fazem com que os estudantes atuem no processo educativo de forma colaborativa, sendo os próprios protagonistas na construção do saber. As metodologias ativas se caracterizam como métodos de ensino que trazem benefícios na formação de vínculos democráticos na relação entre estudantes, professor e conteúdo (KIM, 2018).

Yamamoto (2016) define MA como um termo genérico para expressar uma vastidão de ideias, pois são inúmeras definições existentes sobre o assunto na atualidade, ou seja, são inúmeros os significados e diferentes olhares sobre as MA, realizados por diversas áreas do conhecimento.

Conforme defendem Fernandes et al. (2005), as MA procuram o protagonismo dos estudantes, ocupando o lugar de ativo na construção de sua aprendizagem, tornando-os reflexivos e críticos, tendo capacidades de enfrentar problemas complexos.

Andrews et al. (2011) complementam no que se refere ao Ensino Superior; uma das principais causas de dificuldades dos estudantes desses cursos pode ser decorrente de ter tido um papel passivo, atuado pelo mesmo em aulas tradicionais; dessa forma, a aprendizagem ativa atua como um remédio.

No decorrer do processo histórico, outras propostas de MA surgiram, tais como instrução por pares, complexo temático, centro de interesse, sala de aula invertida, ensino híbrido, entre outras. Essa diversidade de metodologias ativas se fortalece na contemporaneidade devido às demandas da sociedade, dadas ao avanço da tecnologia, que ampliam possibilidades e o desenvolvimento de novos métodos, que se apresentam de modo a promover transformação no processo de ensino-aprendizagem a iniciar-se pela concepção de Educação diante do mundo conectado.

Procedimentos metodológicos

Essa formação continuada foi realizada no início do mês de fevereiro de 2020, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) - Câmpus Confresa, situado no município de Confresa/MT, distante aproximadamente 1.200km da capital, Cuiabá.

A oficina sobre MA ocorreu durante a Semana Pedagógica, em dois turnos, e envolveu 31 professores participantes que atuam na Educação Básica Técnica e Tecnológica. Cabe ressaltar que a participação foi efetiva de todos no momento da formação, porém o questionário foi preenchido e entregue no dia seguinte por 21 participantes.

Na ocasião, foram realizadas reflexões e leituras sobre o que são MA e a necessidade de o ato educativo ser envolvente e inovador nos dias atuais. Ao longo dos dois turnos, foram realizadas quatro metodologias ativas, sendo duas delas em cada turno. Foram elas: estudo de caso de ensino, rotação por estações, elaboração de mapas conceituais e galeria de ideias. Para o texto não ficar extenso, optou-se por relatar apenas as duas primeiras MA.

Na primeira atividade, foi solicitado que, em equipes, os professores solucionassem um caso de ensino que ilustrou a situação de um estudante do Curso Técnico em Agropecuária que não conseguiu compreender os conceitos de uma disciplina que só utilizava metodologias tradicionais. A solução desse caso foi que as equipes apresentassem três diferentes maneiras que utilizariam para ensinar esse estudante.

Para a segunda atividade, formaram-se grupos menores que percorreram no ambiente de aprendizagem, as três estações de maneira alternada, rotacionando, para que todos os grupos realizassem as três atividades no final do percurso. As atividades foram: uma estação solicitou a realização de um caça-palavras e posterior conceituação de dez competências necessárias para a atualidade; outra estação solicitou a realização de um quiz contendo quatro questões sobre as MA, bem como a pesquisa sobre o assunto para embasar as respostas; a última estação solicitou a elaboração de desenhos para diferenciar o modelo tradicional daquela aula que desenvolve uma metodologia ativa, acompanhado da descrição sobre esses diferentes estilos de ensinar.

Ao término dessa oficina pedagógica, no intuito de coletar as percepções dos professores participantes dessa oficina, foi proposta uma avaliação desse momento formativo. O instrumento utilizado para a coleta dessas informações foi um questionário impresso, constituídos por quatro questões, sendo a primeira fechada e as demais abertas.

Cabe ressaltar que a questão fechada avaliou sete aspectos das metodologias ativas. Foram as seguintes questões:

1) Utilizando escala de 1 (insatisfatório) a 5 (plenamente satisfatório), avalie como as metodologias ativas contribuem no processo educativo: a) Facilitam a compreensão sobre os assuntos; b) Possibilitam ampliar os saberes por meio das pesquisas; c) Possibilitam estabelecer relações entre os conceitos teóricos com a vida cotidiana; d) Favorecem o desenvolvimento da capacidade comunicativa de se expressar em público; e) Podem ser consideradas boas maneiras de ensinar e também servir como instrumento de avaliação; f) Favorecem esquematizar e sintetizar o conhecimento sobre determinado assunto; g) Possibilitam desenvolver a criatividade.

2) Descreva aspectos positivos do estudo de caso de ensino como metodologia ativa.

3) Cite as potencialidades da metodologia ativa rotação por estações vivenciada na oficina.

4) Quais metodologias ativas você pretende desenvolver em suas aulas e de que maneira? Justifique.

No intuito de garantir o anonimato dos participantes investigados, adotou-se a identificação dos nomes dos professores por nomes alfanuméricos da seguinte maneira: P1 (Participante 1), P2 (Participante 2), P3 (Participante 3) e assim sucessivamente. Cabe ressaltar que todos foram previamente informados da finalidade dessa coleta de dados e se dispuseram a contribuir voluntariamente para a pesquisa. Os resultados foram discutidos sob a luz do referencial utilizado na fundamentação teórica desse estudo.

Resultados e discussões

Em relação aos critérios avaliados sobre como as MA contribuem no processo educativo, os resultados foram obtidos da primeira pergunta, que era fechada. Esses resultados foram tabulados e podem ser visualizados no Quadro 1.

Quadro 1: Avaliação dos professores sobre as contribuições das MA

Critério/Escala

1

2

3

4

5

a) Facilitam a compreensão sobre os assuntos

1

7

13

b) Possibilitam ampliar os saberes por meio das pesquisas

2

6

13

c) Possibilitam estabelecer relações entre os conceitos teóricos com a vida cotidiana

2

7

12

d) Favorecem o desenvolvimento da capacidade comunicativa de se expressar em público

1

9

11

e) Podem ser consideradas boas maneiras de ensinar e também servir como instrumento de avaliação

7

14

f) Favorecem esquematizar e sintetizar o conhecimento sobre determinado assunto

6

15

g) Possibilitam desenvolver a criatividade

6

15

Como pode ser observado no Quadro 1, todos os critérios sobre as contribuições das MA foram bem avaliados pelos participantes, pois a ampla maioria considerou plenamente satisfatórias essas contribuições para o processo educativo. Percebe-se que os dois critérios mais bem avaliados foram os dois últimos, um envolvendo a criatividade, autonomia e protagonismo do estudante e o outro envolvendo a maneira de estudar e organizar as informações proporcionadas pelo estudo. A autonomia no pensar, ou seja, fazer com que os estudantes tenham iniciativa, busquem soluções práticas para problemas reais e atuem como protagonistas da aprendizagem já vem sendo defendida por consagrados autores, tais como Dewey (1973), Teixeira (2000) e Freire (1997).

Em estudos mais recentes fica evidente a necessidade de inovação nas aulas para que ocorra o desenvolvimento de tais habilidades nos estudantes, ou seja, as MA, por meio do diálogo, promovem a comunicação efetiva, a criatividade e a capacidade de tomar decisões, o que os torna protagonistas do processo (Paiva et al., 2016).

Esses resultados também corroboram o pensamento de Kim (2018), de que as MA proporcionam benefícios para o ato educativo, principalmente por favorecer a relação entre estudantes, professor e conceitos científicos que são estudados de maneira criativa e envolvente. Por meio de MA, centrados nos estudantes, a aprendizagem torna-se com significado, motivando os estudantes intimamente, se engajando em projetos e temáticas propostas de forma a trazer contribuições, mostrando novos caminhos (Santos, 2017).

Um segundo questionamento foi sobre os aspectos positivos do estudo de caso de ensino como metodologia ativa que os participantes identificavam. Algumas respostas foram selecionadas e trazidas para este texto:

Possibilita a construção de novos processos de ensino e aprendizagem por meio da caracterização de casos vivenciados no cotidiano do estudante ou no espaço de origem para despertar o interesse e o foco pelo propósito a ser atingido (P2).

Possibilita relacionar o conteúdo com a vida cotidiana; desenvolver a criatividade, além de que estimular o raciocínio (P4).

Busca soluções práticas para os problemas e motiva os estudantes, pois se trata de um caso real (P7).

Incentivo ao desenvolvimento de pesquisas e investigação de situações cotidianas (P9).

Desenvolve raciocínio lógico, interpretação de texto. Possibilita discussão de ideias entre os membros. Aumenta a criticidade e contribui para a formação cidadã (P10).

Estimula a interação o trabalho colaborativo, a busca por alternativas/soluções, a pesquisa, a escrita (P12).

Com o estudo de caso, o professor instiga os estudantes a serem ativos, deste modo eles buscam mais conhecimentos e se envolvem com os estudos (P14). Desperta o interesse dos estudantes sobre o tema e proporciona bons resultados quando as atividades são bem planejadas (P15).

Com a mediação do professor, possibilita ao estudante a mobilização de diferentes saberes e habilidades para resolução do problema, tais como o raciocínio lógico e a comunicação (P20).

De maneira geral, observa-se que os participantes consideram a MA estudo de caso de ensino apropriada para ser explorada em sala de aula, pois permite desenvolver importantes competências nos estudantes, tais como a capacidade de avaliar informações obtidas em pesquisa, de elaborar argumentos e explicação lógica na solução do caso e também a capacidade de comunicação e aprendizagem coletiva.

Tais percepções confirmam o que Fernandes et al. (2005) e posteriormente Yamamoto (2016) defenderam em seus estudos, de que as MA trazem inúmeros benefícios para o processo educativo, ou seja, contribuem para a construção de aprendizagens pelos estudantes, pois os tornam investigativos, reflexivos e críticos na resolução de um problema.

Um terceiro questionamento solicitou que os participantes citassem as potencialidades da MA Rotação por estações, vivenciada na oficina. Alguns de seus posicionamentos foram:

Cria diferentes tipos de atividades, o que é divertido e dinâmico, isso favorece o empenho e desempenho dos estudantes (P1).

Desperta no estudante o interesse para a pesquisa, desenvolve a capacidade de liderança, fazendo com que ele encontre o seu papel de protagonista no processo de ensino e aprendizagem (P2).

Por meio da rotação é possível abordar diferentes aspectos do mesmo assunto de maneiras dinâmicas e diferentes (P3).

Cria movimento e dinamismo durante a aula, permite diversidade de atividades (P5).

Movimenta a sala, tornando a aula mais atrativa, também permite a troca de experiência entre os colegas, o trabalho em equipe (P8). 

Possibilita desenvolver o raciocínio lógico, desenvolver agilidade motora e cognitiva, aumentar a interpretação de texto. Variações de etapas de conhecimento são várias formas de aprender (P10).

Movimentação, estímulos diferentes, colaboração, troca de experiências e trabalho em equipe (P13).

Com a rotação por estações, os conteúdos são abordados por diferentes pensamentos, pois cada estudante tem um ponto de vista próprio, fazendo com que o estudante tenha o momento de expressar o que foi aprendido (P14).

Possibilita e favorece a autonomia no processo de ensino e aprendizagem (P15).

É uma metodologia bastante significativa, mas, quando pensamos nos primeiros anos do Ensino Médio, não é muito viável pela quantidade de estudantes (P18).

Possibilita a compreender diversos conceitos que são enriquecidos com os diferentes olhares dos estudantes (P19).

Dinâmico e capaz de favorecer a interação e mobilização de saberes (P20).

Possibilita trabalhar vários temas e abranger todos os estudantes como sujeitos ativos do conhecimento (P21).

Um dos aspectos que mais foi lembrado pelos professores foi o caráter dinâmico dessa MA, não só pela movimentação em sala de aula para percorrer as estações, contendo as respectivas atividades, mas pelas diferentes maneiras de estudar determinado conceito científico, o que foi considerado positivo. Outro aspecto que chama a atenção é o comentário do P18, que alerta sobre a importância do planejamento, especialmente para viabilizar com êxito a realização da MA, ou seja, o elevado número de estudantes nos 1º anos do Ensino Médio poderá ser uma barreira limitante na execução.

Por outro lado, faltou a percepção de que a rotação por estações é favorecida por ampliar os espaços educativos, uma vez que recorre, ao menos em uma estação obrigatoriamente, ao uso das tecnologias digitais e da internet para ampliar o acesso às informações. Cabe lembrar o pensamento de Moran (2016), que considera uma combinação perfeita entre as MA e as tecnologias ativas, ou seja, o autor atribui a essas novas competências da comunicação e informação o dinamismo proporcionado na aula que utiliza esse tipo de ensino híbrido. 

Em outro estudo, Moran (2017) reforça que as MA são estratégias viáveis para o ensino na atualidade, pois, além de serem centradas na participação efetiva dos estudantes, contribuem significativamente para a construção de aprendizagens, devido a seu formato flexível, interligado e híbrido, envolvendo momentos/ambientes presenciais e virtuais de aprendizagem, como ocorre na MA denominada rotação por estações.

Andrade e Souza (2016) apontam que o ensino por estações de trabalho possibilita ao estudante ir ganhando confiança e controle sobre o objeto estudado. Em outras palavras, os autores acreditam que as MA contribuem para que aumentem suas habilidades cognitivas e, com isso, maior será a chance de obter êxito em seu desenvolvimento.

O quarto e último questionamento solicitou que os participantes discorressem sobre quais MA pretendem desenvolver em suas aulas e de que maneira. Dentre as respostas fornecidas, algumas seguem apresentadas neste texto:

Pretendo utilizar as diferentes modalidades metodológicas, fazendo alguns ajustes quando necessário para adequar a disciplina (P1).

Pretendo utilizar o estudo de casos de ensino de maneira a explorar experiências vividas pelos estudantes no seu cotidiano e integralizar aos conteúdos propostos nas disciplinas (P2).

Rotação por estações, mapas conceituais e galeria de ideias. O estudo de caso, ainda estou considerando como desenvolver na minha disciplina (P4).

Rotação por estações: eu usaria talvez como forma de competição entre os grupos; Game educativo: usaria como forma de competição ou para revisar algum conteúdo; Hibridismo: já utilizo, inclusive, para complementar o conteúdo dado em sala ou para reforçá-lo (P5).

Todas possíveis. Já faço o uso de algumas, mas agora irei buscar implementar outras práticas (P6).

Estudo de caso, mapas mentais, rotação por estações e galeria de ideias (P8).

Estudo de caso. Rotação por estações dependendo do espaço e quantidade de estudantes (P10).

Organização em grupos, rotação por estações, aprendizagem baseada em problemas (PBL), games interativos (quiz) (P12).

Estudo de caso e mapas conceituais (P13). Nas aulas que irei ministrar utilizarei todas essas metodologias apresentadas para um ou mais conteúdo, intercalando-as, pois, cada metodologia completa outra (P14).

Já utilizo estudo de casos; Tento sempre que possível, na introdução de determinados assuntos (P16).

Pretendo desenvolver nas aulas os mapas conceituais, estudo de caso, sistema hibrido usando experimentos virtuais (P16).

Ainda não tive tempo de planejar, preciso analisar e fazer uma adequação dessas metodologias, visto que atuo mais nos 1ª anos do Ensino Médio (P18).

Nas disciplinas que atuar pretendo utilizar todas possíveis, claro que adequando ao tempo e objetivos previstos (P20).

Observa-se a predisposição dos professores participantes dessa formação continuada em desenvolver metodologias ativas em suas aulas. Quase todos demonstraram desconhecer as MA, porém elas não podem ser consideradas como algo verdadeiramente novo, pois o desenvolvimento de pesquisas, a Educação crítica e emancipatória e a aprendizagem colaborativa já são temas recorrentes há anos nos debates educacionais. Exemplos disso são John Dewey (1959), que já demonstrava o princípio do “aprender fazendo”, ou ainda o que Freire (1996) defendeu, ao dizer que a Educação acontece por meio da troca de experiências entre os sujeitos, diante de ações e reflexões pessoais e coletivas.

Nessa mesma vertente de pensamento, Lima (2017) e Mattar (2017) defendem que as MA possuem como principal característica a integração, ou seja, criar condições para que o processo de educativo seja dinâmico. Assim, o professor media as situações de aprendizagem e os estudantes constroem seus saberes de maneira colaborativa, sendo ativos tanto no processo de buscar informações quanto no ato de relacioná-las e socializá-las com os demais colegas.

Considerações finais

Este estudo possibilitou descrever as percepções dos professores participantes dessa oficina pedagógica sobre as contribuições das MA ao processo educativo. A formação continuada foi bem avaliada em todos os 7 critérios e permitiu ampliar as reflexões referente a duas delas, que foram o estudo de caso de ensino e a rotação por estações. Essas MA foram consideradas viáveis para dinamizar as aulas no Ensino Médio, pois são capazes de envolver os estudantes, incentivar a pesquisa e contribuir na construção de aprendizados.

As MA são recursos pedagógicos que auxiliam o ensino para a construção de aprendizagens com significado, pois proporcionam aos estudantes alternativas que auxiliem no processo de aprendizagem, e aos professores cabe o papel de mediador, construtor, auxiliador. Elas apresentam potencialidades de contribuir para o desenvolvimento de espaços nos quais os estudantes se tornam mais envolvidos, ou seja, são ativos e protagonizam a construção dos saberes. Além disso, essa diversificação de metodologias, que não devem ser únicas, é capaz de promover o hábito de pesquisa, o trabalho colaborativo, a aprendizagem coletiva, e assim o desenvolvimento intelectual dos estudantes.

Dessa forma, conclui-se que MA são importantes, motivadoras e viáveis para serem desenvolvidas na escola, tudo de acordo com a realidade de cada turma de estudantes. Cabe aqui ressaltar que cada estudante possui seu ritmo de sua aprendizagem, ou seja, ao professor compete planejar, acompanhar e avaliar, proporcionando situações diferenciadas e envolventes.

Referências

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FERNANDES, J. D. et al. Diretrizes curriculares e estratégias para implantação de uma nova proposta pedagógica. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 39, nº 4, p.443-449, 2005.

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Publicado em 09 de março de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

LEÃO, Marcelo Franco; MÉDICI, Mônica Strege; NASCIMENTO, Dhennyfe Almeida; SILVA, Geisa Pires da. Oficina pedagógica sobre metodologias ativas para o Ensino Médio no IFMT - Câmpus Confresa: percepções dos professores participantes. Revista Educação Pública, v. 21, nº 8, 9 de março de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/8/oficina-pedagogica-sobre-metodologias-ativas-para-o-ensino-medio-no-ifmt-campus-confresa-percepcoes-dos-professores-participantes

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