Educação Infantil: o lúdico nas aulas remotas

Gleice Marangueli da Silva

Licenciada em Pedagogia (Instituto Cuiabano de Educação), professora da Secretaria Municipal de Educação de Cáceres/MT

O lúdico é um instrumento potente para o processo de ensino-aprendizagem em qualquer nível de formação, mas está presente com mais frequência na Educação Infantil, porque na infância a forma como a criança interpreta, conhece e opera sobre o mundo é naturalmente lúdica. Na educação, usamos o conceito do lúdico para nos referir a jogos, brincadeiras e qualquer exercício que trabalhem a imaginação e a fantasia.

Este relato de experiência tem como objetivo apresentar vivências da turma da Educação Infantil de cinco anos no período matutino na Escola Municipal Santo Antônio do Caramujo, localizado no Distrito de Caramujo, no município de Cáceres/MT. Atendendo na modalidade remota, em que o aluno tem acesso aos conteúdos por meio de apostilas mensais, utilizando a ferramenta WhatsApp para orientar as atividades propostas por meios de vídeos, áudios e mensagem de texto.

O presente relato, embasado no projeto político-pedagógico (PPP) da escola, está em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (RCNEI, 1998), tendo como relato as vivências da metodologia de inserir a ludicidade como ferramenta indispensável para aprimorar e facilitar o processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com a BNCC, em seu campo de experiência O Eu, o Outro e o Nós, foram proporcionados momentos em que o aluno pode se expressar por meio de músicas infantis, em que interagiram por meio de vídeos, manifestando suas alegrias e desejos através de movimentos corporais; também foi realizado crachá de mesa, em que eles mesmos foram os protagonistas do desenvolvimento das atividades; cada educando fez de sua maneira, utilizando sua imaginação e criatividade. Observei que eles ficam entusiasmados em construir suas próprias produções, desenvolvendo textos e desenhos, com o tema família, identidade pessoal, recorte e colagem de pessoas para representar sua família, carimbo do pé com tinta guache e chamadinha interativa, da qual os alunos participavam, justificando sua presença com movimentos utilizando sua criatividade, tudo foi confeccionado pelos alunos com auxílio da família: o jogo da memória das emoções, em que eles puderam participar do processo educativo, demonstrando seu interesse e seu entusiasmo, facilitando o conhecimento de forma lúdica e prazerosa.

Durante essas experiências, as crianças podem desenvolver a forma de perceber a si mesmas e ao outro. Assim, passam a valorizar a sua própria identidade sem desrespeitar os outros e reconhecendo as diferenças que nos representam como seres humanos.

A ressignificação do brincar nas instituições de Educação Infantil, sobretudo por parte dos professores, requer estudo e compreensão de que sua intervenção na brincadeira é necessária. Essa intervenção tem de ser pautada na observação das brincadeiras infantis, visando oferecer material adequado e espaço que permita o enriquecimento das competências imaginativas. O brincar deve ser planejado concomitantemente com as outras áreas, pela articulação de temas e projetos que permitam registrar toda a evolução das brincadeiras, bem como aspectos relevantes de linguagem, socialização, atenção e envolvimento pessoal que dão pistas com relação ao ambiente sociocultural no qual a criança está inserida (Almeida, 2008, p. 4).

No princípio alguns alunos tinham timidez ao serem gravados; após incentivo da professora e da família e com as socializações no grupo de WhatsApp, eles foram encorajados e motivados a estar socializando com sua turma, criando oportunidades para que os pequenos entrem em contato com outros grupos sociais e culturais. Dessa forma, com as trocas de experiências entre os alunos, eles aprendem muito mais com as interações e brincadeiras. O ambiente de aprendizado é de suma importância para que o aluno se sinta motivado a realizar as atividades; a família tem papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem de seus filhos, quando eles têm papel ativo de aprendiz que busca construir conhecimento com jogos, contação de histórias, música, artes visuais e movimento.

As atividades propostas no campo de experiência Corpo, Gestos e Movimentos foram direcionadas a brincadeiras de amarelinha no quintal de casa ou na calçada com a participação da família; foi realizado também um circuito simples com adaptações de materiais que os alunos já têm em casa, foram proporcionadas músicas explorando os movimentos, atividades manuais como recorte, colagem, dobradura e pintura e realização de mímicas expressando suas emoções.

A Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017, p. 36), no campo de experiências Corpo, Gestos e Movimentos, aponta a relevância do movimento na Educação Infantil ao afirmar que:

na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.).

Zanluchi (2005, p. 91) afirma que “a criança brinca daquilo que vive; extrai sua imaginação lúdica de seu dia a dia”; portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida.

No campo de experiência Traços, Sons, Cores e Formas, foram propostos jogos pedagógicos como jogo da velha, utilizando as formas geométricas, para os educandos se divertirem em família, brincando e aprendendo; ambos gostaram muito e socializaram no grupo da turminha com vídeos; também foi solicitado que eles que escolhessem brinquedos ou materiais que tivessem em casa que se parecessem com as formas geométricas; foram satisfatórios o empenho e a dedicação de cada um deles; focalizando sempre a realidade da turma, foram trabalhados também vídeos e músicas do YouTube abordando formas geométricas. Em relação às cores, foram realizadas atividades práticas que tivessem como observar no seu ambiente a natureza e fazer um belo colorido da paisagem; foram proporcionadas atividades rítmicas levando em conta o material a ser utilizado, isto é, recursos que as crianças têm em casa, como o uso de colheres. Foi elaborado vídeo explicativo pela professora orientando o que são traços; levando para a prática, foi solicitado aos alunos que observassem no ambiente em que estão inseridos os tipos de traços; para isso, pedi que observassem em sua casa e na natureza os traços que apresentam e que gravassem um vídeo do relato. Os alunos gostaram muito dessa atividade, pois é primordial que o professor leve em consideração o contexto do aluno.

A Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017, p. 41), no campo de experiências Traços, Sons, Cores e Formas, aponta:

conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas.

No campo de experiência Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação, é possível observar que os alunos participaram de roda de conversa por meio do aplicativo WhatsApp, em que puderam se manifestar através da oralidade; foram realizados vídeos elaborados pela professora, contando historinhas e após acontece o momento de interpretação oral e escrita; eles produziram textos com desenho expressando o que entenderam da historinha, fazem reconto de histórias usando sua imaginação e criatividade no mundo da leitura. A leitura faz com que viajemos para bem longe com as fantasias sem sair de casa. Na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social.

A Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017, p. 42), no campo de experiências Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação, cita que

a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua.

No campo de experiência Espaço, Tempo, Quantidades, Relações e Transformações, foram trabalhadas atividades para que os alunos possam se situar em diversos espaços, fazendo percursos através de desenhos; demonstrando seu convívio pela oralidade também, a criança expressa com clareza o caminho a sair e a chegar, sendo fundamental que o facilitador a instigue a participar do processo de ensino-aprendizagem; com as trocas de experiências no grupo de WhatsApp, são valorizados o empenho e a dedicação dos alunos e da família, com incentivo de figuras pedagógicas e áudios enviados da professora para a turminha. Os alunos são motivados a expressar suas ideias, opiniões, alegrias, tristezas e desejos para que possamos com esses diagnósticos ajudar de forma significativa e eficiente.

Percebo que o envolvimento dos alunos nas aulas remotas é satisfatório; quando a metodologia é lúdica, há mais engajamento deles nas atividades; com relação ao tempo, é proposto que os alunos relatem que dia é hoje, que dia foi ontem e amanhã será que dia da semana, além de estimulá-los também a falar como está o tempo em sua casa, representando com desenhos. Com o calendário, foram explorados dias da semana, mês e ano, antecessor e sucessor, foram trabalhados vídeos pedagógicos do YouTube; os alunos fizeram pareamento dos números com as quantidades construídas por eles mesmos utilizando massinha de modelar, músicas que envolvem os numerais; foram propostas atividades em que os alunos pudessem observar no seu meio os numerais e que fizessem a relação utilizando os seus brinquedos, focando que os numerais estão no nosso dia a dia. Assim podemos oferecer os números em diversos contextos nos quais as crianças reconheçam essa utilização como necessária.

Outro fator importante é desenvolver a contagem oral nas brincadeiras e em situações nas quais as crianças reconheçam os números em diferentes posições. Enfim, vale realizar a comunicação de quantidades utilizando a linguagem oral, a notação numérica e/ou registros não convencionais. Nada melhor do que trabalhar recursos que lembrem a vida real, fazendo perguntas, questionando e fazendo com que as crianças também interajam, mesmo que seja de forma remota.

Os recursos pedagógicos são essenciais na aprendizagem de nossas crianças; cada vez mais precisamos trabalhar de forma que eles compreendam e correlacionem números e quantidades, trabalhar de forma prazerosa, mostrando sempre que a Matemática é algo que nos acompanhará pela vida toda. Foram desenvolvidas atividades do cotidiano das crianças para relacionar numerais e quantidades, bem como recorte de gravuras, objetos que têm em casa, como contar os lápis de cores, contar as plantas do jardim da mamãe, quantidades de membros da família, aí foi observado que com a ludicidade há melhor assimilação e entendimento dos conteúdos.

Conclusão

Assim sendo, com metodologia lúdica, atrativa e dinâmica, que possa explorar os campos de experiências e garantir os direitos de aprendizagem propostos pela BNCC – Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se, as atividades propostas são desenvolvidas em um ambiente motivador, no qual o aluno deve ser o protagonista do seu próprio conhecimento e o professor apenas facilitador do processo de ensino-aprendizagem; é notório que as famílias são participativas e parceiras da escola, sendo fundamentais no desenvolvimento integral do educando.

Referências

BRASIL. MEC. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 26 ago. 2021.

______. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v. 1, 2 e 3. Brasília: MEC/SEB, 1998.

CÁCERES. Escola Municipal Santo Antônio do Caramujo. Projeto político-pedagógico. Cáceres: SME, 2020.

ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdica, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina, 2005.

Publicado em 22 de março de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Gleice Marangueli da. Educação Infantil: o lúdico nas aulas remotas. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 10, 22 de março de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/10/educacao-infantil-o-ludico-nas-aulas-remotas

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