O uso das redes sociais para a sensibilização dos alunos sobre as violências sofridas pelos professores
Nariton de Araújo Oliveira
Especialista em Tecnologias Educacionais para a Prática Docente no Ensino da Saúde (Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz)
A violência hoje é um dos principais assuntos abordados pelos noticiários, quando não as maiores audiências na televisão, demonstrando a sensação de medo e pavor da população. Na escola, esse sentimento aumenta ainda mais, atrapalhando a boa convivência, deixando a impressão de vulnerabilidade (Mattos, 2011).
O fenômeno violência traz enorme impacto na vida social das pessoas, influenciadas pela situação econômica, social e cultural; seu principal enfrentamento e prevenção está ligado à educação (Mattos, 2011).
A violência produzida dentro do ambiente educacional pelos alunos pode ser ocasionada pela vitimização, exposição ao risco e exclusão social; constantemente é oculta e silenciada pelos atos de desrespeito, preconceito e humilhação, muitas vezes não tidos como violência, afetando o desenvolvimento de alunos e docentes como vítimas, disputando a autoridade, disciplina e autonomia (Mattos, 2011).
Na escola, o vínculo estabelecido entre alunos e professores é muito importante para o desenvolvimento de todos os envolvidos. Essa relação muitas vezes é vivenciada por conflito ou violência, induzindo a comportamentos de luta e fuga, interferindo na aprendizagem e saúde de todos (Sampaio, 2015).
Um dos tipos de violência mais comum entre alunos é o bullying, tipificado pela repetição, intenção e pela diferença de poder entre o agressor e a vítima; a violência é dividida também em três tipos: física (socos e empurrões), verbal (xingamentos e apelidos pejorativos) e psicológica (exclusão social e isolamento). Ela gera como resultados diversos problemas na saúde física e mental, como medo, baixa autoestima, ansiedade, pensamentos negativos, depressão, idealização suicida, abuso de substâncias psicoativas e vandalismo (Sampaio, 2015).
As consequências dos agravos à saúde acompanham a vida do aluno e podem demorar algum tempo para aparecer, mas podem trazer efeitos como solidão, exclusão social, baixo desempenho, faltas e evasão escolar (Sampaio, 2015).
Este trabalho procura sensibilizar os envolvidos nos ambientes educacional e social, chamando a atenção para um dos elementos chave desse processo: o professor, que vem sendo impactado pelas violências sofridas e vivenciadas, ocasionando muitas vezes consequências desastrosas, sendo a mais significativa a saída do professor da sala de aula, desviado para funções administrativas ou até mesmo seu afastamento.
O projeto de intervenção é realizado em um colégio técnico na periferia da cidade de São Paulo, no bairro de São Miguel Paulista; seus alunos moram nos bairros do entorno. No ano de 2017, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, com o tema criminalidade bairro a bairro, realizada na cidade de São Paulo, analisou as ocorrências registradas no município, a região, coberta pelo 22º Distrito Policial, foi considerada uma das mais perigosas, ficando em 3º lugar em latrocínios, 4º em roubos e 8º em estupros (O Estado de S. Paulo, 2017).
Na reportagem com o tema “mapa da morte”, do jornal Folha de S. Paulo, bairros do extremo da zona leste da cidade de São Paulo formam o cinturão do latrocínio, de acordo com levantamento ocorrido de julho de 2016 a junho de 2017; um quarto dos assaltos seguidos de morte estão concentrados em sete dos 96 distritos da cidade de São Paulo. Com 9% da população da capital, Guaianazes, Itaim Paulista, José Bonifácio, São Mateus, Lajeado, São Miguel e Vila Curuçá respondem por 24% dos latrocínios (Folha de S. Paulo, 2017).
Objetivos
Este trabalho visa estruturar e monitorar as ações de intervenção no combate à violência no ambiente escolar, além de sensibilizar os alunos quanto à violência sofrida pelos professores, conscientizar todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e a sociedade no enfrentamento da violência ocorrida na escola e conceituar os tipos de violência escolar.
Referencial teórico
A Organização Mundial da Saúde define violência como “o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação” (OMS, 2002).
Conforme o Ministério da Saúde, em seu caderno Por uma Cultura da Paz, a Promoção da Saúde e a Prevenção da Violência,
a violência é um problema social de grande dimensão que afeta toda a sociedade, atingindo crianças, adolescentes, homens e mulheres, durante diferentes períodos de vida ou por toda a vida dessas pessoas. É responsável no mundo inteiro por adoecimento, perdas e mortes e se manifesta através de ações realizadas por indivíduos, grupos, classes e nações, provocam danos físicos, emocionais e/ou espirituais a si próprios ou a outros (Ministério da Saúde, 2009).
A violência, na sua totalidade, é um fenômeno complexo que envolve diversos setores, mas foi identificado que a fragilidade do vínculo familiar é um dos motivos mais agravantes. Depois da família, a escola é o próximo convívio social, onde aprendemos a viver em grupo, trabalhar em equipe, respeitar as diferenças, formando o indivíduo de forma integral. Um dos grandes problemas encontrados para dificultar essa formação do indivíduo como cidadão é a violência escolar, tema relevante também para a formação na educação e saúde pública, haja vista o papel da escola na vida de todos (Ferriani, 2017).
A violência escolar foi identificada no Brasil primeiramente como um problema de saúde pública por meio da política nacional de redução da morbimortalidade por acidentes e violência lançada em 2001 pelo Ministério da Saúde. Em 2007, pelo Decreto nº 6.286, é instituído o Programa Saúde na Escola (PSE), uma parceria do Ministério da Saúde com o Ministério da Educação com competências para ações de promoção à saúde, respeito à diversidade e a prevenção da violência e danos de todos os envolvidos na escola (Silva, 2018).
A violência escolar, a cada dia que passa, tem chamado mais a atenção das mídias sociais, professores, pesquisadores, alunos e toda a sociedade envolvida. A violência dentro da escola é classificada de várias formas, dependendo do pesquisador e de seu ponto de vista; algumas delas levam em consideração apenas formas de violência física, verbal e oposição a regras; outras dão ênfase aos comportamentos antissociais, depredação do patrimônio e furtos. Alguns estudiosos ainda falam da violência escolar como consequência das relações familiares e sociais que adquirem em meio intra e extraescolar; outros citam a exclusão social, drogas, falta de oportunidades e influência da mídia (Silva, 2018).
A violência sofrida gera danos físicos, psíquicos, emocionais e comportamentais que devem ser investigados e solucionados com a mesma velocidade com que ocorrem (Silva, 2018).
A existência e a prevalência do cyberbullying podem provocar na vítima um estado mental prejudicado; ela poderá apresentar crise de ansiedade, depressão, isolamento social, tentativa de suicídio e homicídio. Essa prevalência é maior em meninas na condição de vítima e nos meninos na condição de autor, mas deve-se levar em consideração estudos relacionados nessa área que apontam variações entre gênero e faixa etária (Stelko-Pereira, 2018).
A escola deve ser um ambiente satisfatório para troca de informações, aquisição de princípios e conhecimento; toda e qualquer forma de violência prejudica esse cenário. Desse modo, o aluno vê na escola o lugar onde sua segurança e saúde podem ser ameaçadas e prejudicadas (Silva, 2018).
Segundo o relatório da Unesco em seu simpósio A Violência Escolar e o Bullying, que inclui assédios físicos, psicológicos e sexuais, há um forte impacto negativo na aprendizagem dos estudantes, bem como na sua saúde mental e emocional. Uma série de estudos, citados em uma recente revisão de evidências da Unesco, mostra que crianças e jovens que sofreram intimidações homofóbicas possuem maior risco de estresse, ansiedade, depressão, baixa autoestima, isolamento, autoagressão e pensamentos suicidas (Unesco, 2017).
Os impactos da violência que mais aparecem em alunos são a dificuldade de concentração e alteração de humor, como nervosismo, falta de paciência e revolta. No corpo técnico-pedagógico, as sequelas mais visíveis são o sentimento de revolta, perda da motivação e vontade de trabalhar (Mattos, 2011).
A docência se tornou um trabalho árduo para muitos professores devido a condições precárias de trabalho, ambientes conflituosos e exposição ao estresse; essas condições refletem na saúde física e mental do profissional, prejudicando o seu desempenho (Silva, 2016).
Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), foi constatado que 12,5% dos professores brasileiros já foram vítimas de agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez na semana. A pesquisa afirma ainda que o número de professores afastados por transtornos mentais ou comportamentais quase dobrou entre 2015 e 2016. As principais causas que levam aos afastamentos de professores são depressão, ansiedade, nervosismo e estresse. A CNTE afirma que a categoria sofre com estresse devido à quantidade de alunos em sala de aula, ao baixo salário e às más condições de trabalho (CNTE, 2017).
No decorrer da formação de um professor, ocorrem situações em que a escolha da profissão é colocada em dúvida. A maior parte das pessoas que escolhem o curso quer apenas adquirir um certificado de ensino superior, já que tem poucas alternativas; apenas um pequeno número tem a intenção de progredir na profissão. Por ser uma profissão indispensável, sofrida e sem reconhecimento, o número de formação de novos profissionais que exerce com dedicação e amor não deveria ser menor que daqueles que estão atrás apenas de um meio de sobrevivência (Santos, 2016).
Para solucionar a desmotivação do professor, percebemos que um dos principais problemas não depende desses profissionais para ser resolvido; já se visualizaram diversas vezes nos meios de comunicação as manifestações por aumento de salários e condições mais dignas de trabalho. Toda essa repercussão de forma negativa faz com que o futuro candidato procure outras profissões, exceto as ligadas à área da educação. Outros problemas menores e que podem ser resolvidos também foram encontrados na construção dessa desmotivação, como falta de estrutura escolar, falta de apoio da gestão, indisciplina dos alunos, falta de participação da família na escola, formação insuficiente, carga horária pesada e desinteresse dos alunos (Santos, 2016).
Conforme afirma o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, 71% dos professores já deixaram de trabalhar em razão de problemas mentais, ficando distantes da sala de aula após problemas psicológicos e psiquiátricos nos últimos cinco anos. Os sintomas de estresse por situações de insegurança têm a maior ocorrência (65,7%), seguidos por sinais de depressão (53,7%), alergia a pó (47,2%), insônia (41,5%) e hipertensão arterial (41,3%). Há ainda aqueles que apresentaram apenas sintomas de mal-estar, ansiedade, cansaço ou fadiga e problemas de voz (Apeoesp, 2017).
Entre os professores, os distúrbios emocionais são as maiores causas de afastamento da sala de aula; os mais recorrentes são os sinais de depressão, caracterizada por alterações afetivas no humor como tristeza, perda de interesse, falta de prazer, variações no apetite e peso, perda de libido, alterações motoras, isolamento, alterações cognitivas como ideia de culpa e suicídio. Além da depressão, outras manifestações mentais podem aparecer: apatia, desmotivação e desinteresse (Silva, 2016).
As causas mais evidentes nos docentes relacionados com sinais de depressão são o excesso de carga de trabalho, desvalorização profissional, falta de condições da sala de aula e falta de recursos e equipamentos. As possíveis medidas de prevenção são redução da carga horária docente, melhores salários, valorização, atendimento psicológico e recursos educacionais, contribuindo para melhoria da qualidade de vida dos professores, evitando o afastamento desses profissionais (Silva, 2016).
A constante frequência da violência na escola justifica a importância dada ao problema social e de saúde pública que não deve ser ignorado, implementando medidas de intervenção que incluam a participação de alunos, professores, escola, família, comunidade e serviços de saúde (Sampaio, 2015).
A atuação do governo para prevenir e enfrentar a violência escolar varia entre medidas de cunho educativo e de segurança, desenvolvendo intervenções individuais, didáticas e institucionais, promovendo relações democráticas para desenvolvimento de estratégias que contribuam com a realidade local (Silva, 2018).
As instituições educacionais têm buscado diversas alternativas para enfrentar o problema, necessitando do apoio de toda a sociedade e do Estado. Foi observado que a troca de conhecimento em redes foi necessária para conhecer as diferentes realidades na construção do enfrentamento e da prevenção da violência escolar. Nota-se ainda que, além do vínculo familiar, outros vínculos estariam corrompidos, como segurança, saúde, lazer, esporte, cultura, religião, assistência social e jurídica; a melhor alternativa encontrada seria o fortalecimento desses vínculos, estabelecendo uma relação amistosa entre alunos e profissionais, promovendo uma cultura de paz, construindo relações, ambientes e cidadãos menos violentos (Ferriani, 2017).
Talvez a prevenção seja uma conduta adequada, mas para isso precisa de boa convivência entre pais e filhos, escola, aluno e professor para que quaisquer desses agentes possam identificar o problema e encontrar uma solução adequada, diálogos, espaço aberto para expressar sentimentos, um olhar diferenciado para a conscientização (Stelko-Pereira, 2018).
O projeto Grêmio em Forma, realizado pelo o Instituto Sou da Paz, foi implementado nas escolas públicas de Ensino Médio localizadas em bairros de São Paulo em que a violência atingiu altos índices, com o intuito de enfrentamento da violência no ambiente escolar. O projeto estimulou a participação dos alunos na gestão das escolas, construindo relações pacificas, elaborando, organizando e executando propostas de intervenção na escola e na comunidade, aprendendo a reconhecer os conflitos existentes e a resolvê-los de forma democrática e pacífica, contrariando a lógica dominante de valorização do uso da força para resolver conflitos e acessar direitos (Instituto Sou da Paz, 2004).
A participação dos alunos no projeto consolida sua identidade como cidadão, inicia sua vida pública e democrática como sujeitos de um processo coletivo de escolha e tomada de decisão, reivindicando melhorias no espaço físico, qualidade das aulas, no projeto político-pedagógico, em programas de cultura e lazer voltados aos alunos (Instituto Sou da Paz, 2004).
Os resultados do projeto de intervenção foram surpreendentes, criando espaços de comunicação e articulação entre alunos e professores, construindo uma escola mais democrática, permitindo alternativas para a resolução pacífica dos conflitos, diminuindo a violência e favorecendo a construção de projetos de vida guiados pelos valores de cooperação e paz entre os cidadãos (Instituto Sou da Paz, 2004).
Metodologia
A metodologia utilizada neste projeto de intervenção foi a pesquisa-ação, buscando como estratégia a construção do conhecimento coletivo da ação para melhor compreensão e efetividade das propostas, trazendo ao participante um sentimento de pertencimento no problema e da sua resolução.
O local da mediação é o Colégio 24 de Maio, uma escola de cursos técnicos situada em São Miguel Paulista, um bairro com alto índice de criminalidade na periferia da cidade de São Paulo; são incluídos na intervenção todos os integrantes do colégio no quadro pedagógico, entre eles professores; são 74 profissionais na faixa etária de 30 a 40 anos; são também 1.200 estudantes na faixa etária de 18 a 30 anos, mas há envolvimento mais ativo dos alunos com a supervisão dos professores.
A intervenção começa com uma roda de conversa abordando o tema violência, os tipos e consequências, orientada pelos professores na sala de aula; durante a roda de conversa são selecionados voluntários que já sofreram, vivenciaram ou se identificaram com o assunto para participar na elaboração de um vídeo com os alunos e profissionais voluntários; são marcadas reuniões para organização no auditório e a gravação do vídeo, que ocorre no dia a dia da escola, como sala de aula, cantina, coordenação e sala dos professores.
Para gravar, foi disponibilizada pela instituição uma câmera de vídeo, mas pode ser registrado também com o celular do próprio aluno, o vídeo é estruturado da seguinte forma: entrevista com os alunos realizando suas atividades diárias, onde é perguntado o que é violência e a suas consequências; posteriormente, o aluno como entrevistador pergunta ao professor no momento de aula se já sofreu algum tipo de violência na escola; para finalizar, os alunos utilizam o jeito e a linguagem do seu cotidiano para defender com argumentos os seus professores. O vídeo é editado pelos alunos com a supervisão dos professores e divulgado nas redes sociais Facebook, Instagram, WhatsApp e no site da instituição de ensino,
Com a divulgação, o vídeo pode ter mais visualização, e não somente divulgado no ambiente escolar, para que assim a sociedade também fosse atingida e sensibilizada, conscientizando todos os envolvidos com o processo de ensino-aprendizagem e a sociedade no enfrentamento da violência ocorrida na escola, desenvolvendo e sistematizando um saber e consciência em conjunto a respeito do tema.
Para chamar a atenção dos alunos e conseguir a adesão de todos é adotado o seguinte método: colocar o aluno como participante ativo do processo, fazendo com que ele demonstre as possíveis violências e aponte soluções, permitindo a liberdade de expressão, momento em que eles apareceriam como protagonistas da ação; dessa maneira ocorreria a dedicação espontânea de todos os participantes por se identificarem com o problema, pela visibilidade e importância do trabalho.
O monitoramento e avaliação é parte primordial do progresso da intervenção. Dessa forma, depois da divulgação do vídeo será realizada uma pesquisa de campo quantitativa e qualitativa para entender se a intervenção foi efetiva, se fortaleceu laços sociais do convívio coletivo entre alunos, professores e funcionários, se houve mudanças no trato do aluno com professor e redução das ocorrências envolvendo a violência.
Planejamento das ações
Materiais necessários |
• Auditório para gravação do vídeo. • Sala de aula para roda de conversa e reuniões. • Câmera para gravação do vídeo. • Computador para edição do vídeo. |
2 semanas |
• Realizar roda de conversa em sala de aula. • Construir conceitos de violência. • Verificar profissionais e alunos que já vivenciaram ou se identificam com o tema para a realização do vídeo. |
2 semanas |
• Realizar reuniões para esquematizar as ações. • Recebimento de ideias. |
4 semanas |
• Elaboração do vídeo no dia a dia da escola.
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2 semanas |
• Edição do vídeo pelos alunos com a supervisão dos professores. |
1 semana |
• Divulgação nas redes sociais e no site da escola. |
Resultados esperados e discussão
Este trabalho possibilita entender o quanto os professores estão expostos à violência e como os alunos e a sociedade interferem nessa questão.
Durante a implementação do projeto, o tema violência escolar é experimentado pelo aluno como um novo desafio, resgatando valores sociais perdidos na sociedade contemporânea e discutido com professores, alunos e colaboradores, em que os envolvidos relataram conhecer, presenciar ou vivenciar algum tipo de violência no ambiente escolar.
Com isso, pode-se perceber a necessidade de projetos político-pedagógicos que considerem a violência escolar, não apenas aquela conhecida por agressão física ou verbal, mas os diversos tipos e condições a que os docentes estão sujeitos a sofrer; assim, medidas preventivas podem ser adotadas.
Foi evidenciado neste projeto que o meio social onde os alunos estão inseridos afeta diretamente o convívio escolar; além desse aspecto, a falta de dignidade no trabalho demonstra a insatisfação profissional; a falta de recursos tecnológicos que possibilitam a descoberta do conhecimento demonstra a dificuldade em ensinar e aprender. Tudo isso se reflete de modo violento nos professores e alunos e, indiretamente, no meio social.
Medidas podem e devem ser tomadas em conjunto com a instituição, professores, alunos e sociedade. A família deve ser presente e ativa na vida dos alunos, a sociedade deve estar pronta para receber esses alunos e assim ensinar a eles os convívios sociais e culturais favoráveis, a tecnologia paralela a tudo isso deve vir ao encontro do processo positivo psicopedagógico, social e familiar; a escola deve educar para a vida.
Considerações finais
O estudo demonstra o quanto a violência interfere no ambiente escolar, em que a escola disputa espaço com influências internas e externas, resultando em manifestações dos mais variados tipos. É necessário que a escola compreenda a importância das relações sociais com os seus alunos e professores, criando estratégias e ações capazes de prevenir e combater a violência.
A violência sofrida pelo professor é pouco estudada; a maioria dos trabalhos relata a vida do aluno, os educadores não sabem lidar com os conflitos, dada a importância de pesquisar e intensificar a formação nessa área de atuação, uma vez que o docente deve ser o mediador dos conflitos.
O projeto tem a intenção de conscientizar, demostrando que as pessoas podem ser mais tolerantes umas com as outras, seres humanos mais atenciosos, flexíveis, trazendo sentimento de paz, que os profissionais sejam mais eficientes no trato com os alunos, que alunos tenham compaixão pelos profissionais que são tão importantes na sua formação.
Esperamos que a divulgação do projeto de intervenção nas redes sociais sensibilize alunos, professores e comunidade, pela adesão da sociedade contemporânea na tecnologia e no poder das suas relações de comunicação, construindo consciência coletiva no enfrentamento da violência.
Referências
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO (CNTE). Dobra o número de professores com transtornos mentais no Brasil. Brasília, 2017. Disponível em: http://www.cnte.org.br/index.php/cnte-na-midia/19358-dobra-o-numero-de-professores-com-transtornos-mentais-no-brasil.html. Acesso em: 15 dez. 2018.
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Publicado em 12 de abril de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA, Nariton de Araújo. O uso das redes sociais para a sensibilização dos alunos sobre as violências sofridas pelos professores. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 13, 12 de abril de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/13/o-uso-das-redes-sociais-para-a-sensibilizacao-dos-alunos-sobre-as-violencias-sofridas-pelos-professores
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