Estratégias de ensino-aprendizagem em concepção freiriana para o retorno presencial às aulas na transpandemia de covid-19: estudo de caso do município de Belém/PA

Érika Kelle Santos Paiva

Especialista em Psicologia Educacional (UEPA), técnica pedagógica na Diretoria de Educação (Semec - Belém)

Paula Katharine de Pontes de Spada

Mestra em Medicina Tropical (UFPA), diretora escolar (Semec - Belém)

Angela Maria Melo Pantoja

Mestra em Educação em Ciências e Matemáticas (UFPA), professora formadora na Diretoria de Educação (Semec - Belém)

Elianne Barreto Sabino

Doutora em Educação (UFPA), professora adjunta da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

Benedito Fialho Machado

Doutor em Educação em Ciências e Matemáticas (UFPA), coordenador de Ensino Fundamental II da Diretoria de Educação (Semec - Belém)

Míriam Matos Amaral

Doutora em Educação (UFPA), coordenadora de Educação Infantil na Diretoria de Educação (Semec - Belém)

Fabricio Moraes Pereira

Mestre em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia, professor formador na Coordenação Integrada de Educação e Saúde (Semec - Belém)

A escola tem como principal função garantir educação de qualidade aos estudantes, de forma que contribua efetivamente a atender as apreensões vivenciadas por esses sujeitos em todos os âmbitos, inclusive no cenário pandêmico. Tal concepção visa garantir novos significados ao currículo escolar na busca de uma prática pedagógica significativa, reflexiva, criativa, participativa, problematizadora, num processo democrático vivenciado no diálogo preconizado por Freire, que permeia a formação da consciência crítica, favorece a aproximação com a realidade e conduz esses sujeitos à reflexão de sua condição humana e existencial (Freire, 1996; Freitas; Forster, 2016; Guedes et al., 2017). Essa é a proposta de concepção educativa da Secretaria Municipal de Educação de Belém, com base em uma transição de gestão municipal no contexto transpandemia.

Desse modo, é importante oferecer opções de discussões qualificadas que ajudem esses sujeitos a compreender o momento que eles estão vivendo, o que nos leva à necessidade de organizar a ação pedagógica, por exemplo, por meio da Pedagogia de Projetos, de temas geradores, eixos temáticos ou outras possibilidades metodológicas a partir das particularidades e realidades vivenciadas pelas diversas comunidades escolares.

Ressaltamos que a Pedagogia de Projetos é um método que ensina por meio da experiência, sendo uma metodologia que propõe ao estudante fazer conexão a um projeto de pesquisa e que se interesse por ele. Aqui, o papel do educador é favorecer o ensino com base em descobertas surgidas das pesquisas realizadas sob sua orientação. É uma metodologia alternativa à qual a escola pode recorrer para formar cidadãos independentes, críticos e participativos. Quando a escola propõe uma abordagem baseada em projetos, incentiva uma visão interdisciplinar do conhecimento, além de estimular o aprendizado por meio da experiência e o desenvolvimento da autonomia de seus estudantes (Freire, 1996; Buss; Mackedanz, 2017).

A Pedagogia de Projetos estimula o pensamento crítico, que contribui para formar indivíduos autônomos e socialmente ativos. No contexto pandêmico que ainda estamos enfrentando, é salutar que esse tipo de metodologia possa ser adequado para formatos remotos ou híbridos de ensino – ou no que se propõe ser híbrido (Santos; Araújo, 2021; Oliveira et al., 2021), o que pode potencializar novas abordagens e inovações metodológicas.

Nessa perspectiva, objetiva-se ensinar a partir do que o professor pretende que a turma alcance e do conhecimento que ambos precisam construir. Quando o professor define tais objetivos, surgem diversas possibilidades de projetos. Assim, o educador deve estar atento aos interesses dos estudantes ou aproveitar temas que chamem a atenção deles.

Deve-se flexibilizar aos estudantes, a partir de suas particularidades, interesses e conhecimentos prévios bem diversificados, recepcionando, engajando e entendendo que os resultados que cada turma obtém são únicos. O professor precisa acompanhar as atividades para notar tais diferenças e fazer mudanças de plano, se assim for necessário.

Relacionar disciplinas como Matemática, Língua Portuguesa e Ciências, por exemplo, é muito importante para o sucesso de metodologias ativas como as propostas, já que a solução de um problema dificilmente é obtida com conhecimentos oriundos de uma única área.

A metodologia deste trabalho se baseia na pesquisa exploratória e análise de documentos e literatura especializada convergente à temática apresentada. Ressalta-se a abordagem freiriana de educação nas estratégias de ensino-aprendizagem como mote principal, porém não único, pois está em consonância com a concepção de educação assimilada pela Secretaria Municipal de Educação de Belém.

O interesse e a conexão com a pesquisa

A Pedagogia de Projetos tem como uma de suas principais ferramentas a pesquisa, seja ela teórica ou de campo. Portanto, a curiosidade, a autonomia infantil e o interesse por novas descobertas são traços que tendem a ser muito bem desenvolvidos nos estudantes que participam dessa estratégia de ensino. Consequentemente, a criança tem a possibilidade de crescer conectada com esse universo de estudo e obter mais facilidade para produzir trabalhos acadêmicos, monitorar outros colegas em determinada disciplina em que ela possua maior habilidade e até desenvolver seus próprios projetos de pesquisa de forma independente; é claro que uma orientação profissional ou mesmo da escola pode ser ainda mais enriquecedora. De acordo com Freire (1996, p. 29),

não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que- fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.

Sendo assim, metodologias como essa possibilitam uma formação educacional e um desenvolvimento cognitivo e social com base em atividades práticas, bem estruturadas e protagonizadas pelos estudantes.

É salutar poder aproximar o campo científico dos estudantes, sobretudo na infância, sempre de forma compreensiva, pertinente e adequada à idade. Afinal, ensinar conceitos de pesquisa científica para crianças é um desafio com que os professores lidam diariamente – devido à complexidade e à amplitude desse campo do conhecimento, porém utilizando a metodologia apropriada, tais assuntos podem ser abordados de maneira mais dinâmica e produtiva.

A importância familiar no desenvolvimento dos trabalhos

Apesar de a Pedagogia de Projetos ser competência da instituição de ensino, pais e responsáveis também podem participar de todo o processo, inclusive nas fases preparatórias, em que os estudantes precisam aprimorar algumas etapas do projeto fora de sala de aula. Para isso, é fundamental que a família conheça a proposta da escola e esteja por dentro da metodologia aplicada.

Logo, ter acesso aos planos de aulas e ao cronograma do projeto é um bom meio de acompanhar o processo de aprendizado – e, inclusive, aprender coisas novas com os filhos, além de auxiliar nas tarefas de maior complexidade, colaborando para que as crianças possam conquistar maiores resultados em suas pesquisas.

Contudo, é preciso lembrar que o papel da família é monitorar e auxiliar a estratégia da Pedagogia de Projetos e jamais tomar a frente do trabalho e solucionar as questões no lugar do aluno. Afinal, a intenção é justamente que o estudante possa vivenciar todas as características presentes na metodologia e aproveitar os seus benefícios.

Considerando a complexidade da educação no contexto da pandemia de covid-19, vários foram os acontecimentos que afetaram física e psicologicamente professores, trabalhadores, estudantes, pais, comunidades escolares. Inclusive teve impactos nos próprios processos de formação de professores (Fabris; Pozzobon, 2020).

O plano de retorno gradativo às aulas envolve, além da segurança no ambiente escolar, que pode ser verificada com mais detalhes na Cartilha de Orientações de Biossegurança para o Retorno às Aulas (Pereira et al., 2021), a prioridade do lado afetivo de todos os envolvidos nesse contexto (Belém, 2021). A Constituição Federal (Brasil, 1988), no Art. 206, I, estabelece que, dentre outros, o ensino será ministrado com base no princípio da igualdade de condições para o acesso e permanência da escola. O Art. 23 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) estabelece no §2º que o calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de aulas previstas em lei e sem reduzir o número de horas letivas previstas (Brasil, 1996).

Nessa perspectiva, o objetivo principal é garantir que políticas municipais definidas no período pós-pandemia caracterizem o retorno gradativo das aulas presenciais na Rede Municipal de Belém, tendo como prioridade, além da aprendizagem de todos os estudantes, a garantia à vida através das recomendações dadas como sugestões no plano elaborado pela Secretaria Municipal de Educação.

Em contrapartida, de forma específica, nos contextos da saúde e pedagógicos, as orientações podem ser assim elencadas:

  1. Orientar sobre todos os aspectos e cuidados sanitários necessários para o retorno às aulas semipresenciais de acordo com recomendações dos órgãos de saúde competentes;
  2. Garantir com precisão as estruturas físicas e sanitárias necessárias para segurança dos trabalhadores e comunidade escolar;
  3. Incentivar os estudantes e profissionais da Educação a trazerem canecas e garrafas;
  4. Orientar as famílias sobre procedimentos sanitários;
  5. Proporcionar a organização espacial e temporal nas práticas pedagógicas;
  6. Garantir a participação ativa de gestores e professores na construção das estratégias, de modo que sejam adequadas a cada realidade;
  7. Desenvolver, dentro da Educação Física, limitação das atividades esportivas para que não provoquem aglomeração;
  8. Orientar professores e equipe gestora das escolas acerca dos procedimentos a serem observados no planejamento das atividades de aula semipresenciais e remotas.

Possibilidades metodológicas de ensino-aprendizagem no contexto pandêmico: da Educação Infantil ao Ensino Fundamental I

As unidades educativas que ofertam turmas de berçários, maternais e jardins, seja em tempo integral e/ou parcial têm autonomia pedagógica para organizar o trabalho pedagógico que respeite os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas.

As crianças da Educação infantil devem vivenciar situações e experiências que possibilitem o interagir e o brincar, estes considerados os eixos estruturantes do currículo da Educação Infantil. Direitos de conviver entre crianças e adultos, direito a brincadeiras, a participação, a exploração de ambientes e objetos lúdicos, atividades de expressão verbal e não verbal e o conhecer-se são ações fundamentais no processo de desenvolvimento integral da criança dessa etapa da Educação Básica. É importante reafirmar a concepção de currículo como práticas que buscam articular as experiências e saberes das crianças com os conhecimentos culturais, artísticos, ambientais, científicos e tecnológicos, bem como reiterar a concepção de criança e não de “aluno” na Educação Infantil, de modo a não antecipar conteúdos que são próprios do Ensino Fundamental.

Nas orientações pedagógicas gerais às instituições que ofertam a Educação Infantil sugere-se o desenvolvimento de planos de trabalho que considerem a preparação do ambiente educativo, a organização da equipe docente sobre o trabalho de retomada semipresencial com as crianças, a organização da dinâmica de acolhimento das crianças e suas famílias em um cenário pós-vacinação contra a covid-19, considerando os aspectos socioemocionais relacionados à faixa etária, além da organização de ações educativas que tratem dos protocolos de segurança.

Desse modo, as possibilidades metodológicas para as crianças das creches (0 a 3 anos) e para as crianças da pré-escola (4 a 5 anos) são inúmeras se considerarmos a realidade social em que vivem nossas crianças e a unidade educativa enquanto ponto de culturas infantis. O principal dessas possibilidades metodológicas é considerar as dimensões do desenvolvimento integral da criança (Brasil, 2013; Mieib, 2021), possibilitando atividades lúdicas e interativas que incluem meios e recursos de comunicação/expressão acessíveis às crianças e suas famílias bem como a criação e a manutenção de vínculos para e com os bebês, crianças bem pequenas e crianças.

Dentre tantas possibilidades metodológicas nessas etapas educacionais, elencamos algumas sugestões de estratégias pedagógicas que devem ser ampliadas de acordo com o contexto, repertório, especificidades e necessidades das crianças:

  1. Atividades e projetos educativos voltados para acolhimento, escuta afetiva das falas e interesses das crianças e pensadas nos diálogos com as famílias para sentirem o ambiente educativo seguro;
  2. Organizar planejamento em que o maior tempo seja aproveitado com situações de aprendizagem de escuta das crianças e entre as crianças, compreendendo a potência de seus relatos (orais ou não) e suas experiências como ponto chave para a construção e reconstrução dos projetos;
  3. Promover brincadeiras que permitam o distanciamento físico, como mímica, siga o mestre, dentro/fora (em círculos individuais), brinquedo cantado com movimentos individuais e afins;
  4. Musicalização para trabalhar emoções, movimentos, sons, fala e relações;
  5. Contação de histórias com livros, fantoches, palitoches, dedoches, usando a literatura clássica existente, literatura infantil amazônica ou construindo histórias para facilitar a compreensão dos sentimentos (medo, ansiedade, coletividade, saudade, tristeza, etc.);
  6. Podcasts disponíveis nas mídias e adequados às crianças ou gravados pela equipe docente, para que as crianças possam ouvir histórias e demais gêneros literários, valorizando as produções regionais de autoria paraense e belenense;
  7. Atividades que envolvam a Psicomotricidade, a imaginação e a criatividade;
  8. Compartilhamento dos repertórios de brincadeiras das famílias;
  9. Atividades motoras corporais que promovam o conhecimento de si e do mundo (mantendo o distanciamento);
  10. Com a flexibilização das ações/projetos/atividades e percebendo os níveis de compreensão quanto aos protocolos sanitários e onde for possível, criar estratégias para ampliar o uso dos ambientes externos ou ao ar livre, sempre com responsabilidade e segurança, preservando a vida das crianças e das/dos profissionais docentes e não docentes das instituições de Educação infantil;
  11. Apresentações teatrais são fundamentais para estimular a imaginação dos pequenos. Mesmo durante o desenvolvimento do bebê, o uso de luzes, cores, falas e gestos desperta a atenção desse grupo e estimula sua imaginação. Vale relacionar com o contexto de prevenção à covid-19 para que as crianças nessa faixa etária comecem a compreender a importância de medidas preventivas;
  12. Participar de contação de histórias é uma das atividades lúdicas que agradam diferentes faixas etárias. Porém, entre 3 e 6 anos, essas histórias têm o potencial de despertar na criança a visão da magia e do encanto infantil desse universo regado pela imaginação e fantasia. É positivo utilizar histórias infantis (quadrinhos, tirinhas, HQs) como estímulo a diversos assuntos e, em contrapartida, colocá-los em posição de construtores de senso crítico a respeito do assunto em questão;
  13. Deixar as atividades mais imersivas e investigativas, associando o tema do coronavírus a temas do corpo humano, como sistema respiratório, sistema imunológico e alimentação. Para cada atividade há vídeos relacionados aos temas. Sugere-se que esses vídeos sejam vistos pelos estudantes antes de realizar as atividades;
  14. Já sabemos como a infecção pelo coronavírus ocorre pelo aperto de mão, assim como as gotículas de saliva, espirro, tosse e catarro e, por serem meios tão acessíveis para contato, faz-se necessária a quarentena para que a quantidade de pessoas infectadas por esse vírus diminua. Deve-se criar atividades de Ciências, Matemática, Geografia e Língua Portuguesa, de modo que, interdisciplinarmente, seja ampliado o conhecimento sobre as formas de contágio, estatísticas e interpretação de gráficos sobre a covid-19.

Possibilidades metodológicas de ensino-aprendizagem no contexto pandêmico: Ensino Fundamental II

Há a possibilidade de utilização de métodos diferenciados que são importantes para o aprendizado, pois associar teoria à prática de forma lúdica resulta em experiências enriquecedoras tanto para docentes quanto para os discentes.

É possível explorar diversos temas geradores de forma multidisciplinar e interdisciplinar por meio de instrumentos pedagógicos já conhecidos pelos estudantes em seu cotidiano, que podem ser confeccionados ou elaborados pelo professor ou pelos próprios estudantes a partir da utilização de recursos acessíveis.

Nesse contexto, durante o período pandêmico os professores e os estudantes podem:

  1. Adaptar jogos de tabuleiro, jogo da memória, cruzadinhas, caça-palavras, quiz, entre vários outros tipos de jogos e brincadeiras para desenvolver conceitos básicos, por exemplo, sobre os seres vivos, incluindo os vírus e as doenças causadas por eles; estratégias de prevenção e formas de contágio da covid-19; vacina e sistema imunológico; Educação Ambiental e em saúde, entre outros. É importante ressaltar que, enquanto houver a ameaça de contaminação pelo vírus, as atividades devem permitir o distanciamento preconizado pelo plano elaborado pela Secretaria Municipal de Educação (Belém, 2021);
  2. Promover a utilização e confecção de maquetes é bastante difundido no processo ensino-aprendizagem. São instrumentos ricos em possibilidades de criação, interpretação e aprendizagem, além de estimular a autonomia dos estudantes. Se trabalharmos a temática da covid-19, por exemplo, para que o discente consiga alcançar maior compreensão acerca da estrutura viral, bem como das diferenças e semelhanças com seres vivos, como as bactérias, as maquetes funcionam como excelente ferramenta. Podem ser utilizadas também para os estudantes aprenderem sobre as mais diversas temáticas dentro de diferentes disciplinas ou inter e transdisciplinarmente por meio da construção desses materiais;
  3. Contextualizar vídeos e documentários junto à turma, pois são ferramentas que, quando empregadas de forma didática, têm a capacidade de desenvolver a linguagem, a criatividade, a imaginação e a incorporação de conceitos que, quando explorados de forma tradicional, ficam muito distantes da compreensão dos estudantes. Existem temáticas bastante complexas para os estudantes, sobretudo quando são trabalhadas apenas de forma conceitual. Essas ferramentas atingem os estudantes por meio de vários sentidos e todas as maneiras, proporcionando uma aprendizagem significativa. O entendimento, por exemplo, sobre o funcionamento dos sistemas do corpo humano, bem como suas interações com o meio, pode ser proporcionado de forma muito efetiva por meio de vídeos e documentários bem selecionados pelo professor. No contexto pandêmico, o sistema respiratório e o imunológico, bem como o funcionamento da vacina, podem ser explorados de diferentes formas atrativas para os estudantes. A atividade se torna ainda mais interessante quando depois do vídeo algumas questões são apresentadas para que eles respondam. Isso garante mais atenção e criticidade ao aluno. É indicado que o vídeo ou documentário seja reapresentado após a exposição das questões, por isso ele não deve ser de longa duração. Os estudantes também podem ser estimulados a gravar seus próprios vídeos, pelo aparelho celular, sobre orientações de contágio e prevenção à covid-19, para serem repassados aos seus familiares por meio de aplicativos de mensagens e mídias. É uma forma de estímulo dentro da concepção freiriana, que diz que “quem ensina aprende ao ensinar”;
  4. Estimular o uso de estudos dirigidos, pois são ferramentas que exigem um pouco mais da autonomia e do compromisso do aluno em querer aprender. Eles incentivam a atividade intelectual, a maturidade escolar e a criticidade, proporcionando o desenvolvimento das habilidades e operações de pensamento significativas. No contexto pandêmico, essa ferramenta também pode ser utilizada de forma bastante produtiva. Podemos exemplificar que o professor pode fazer a apresentação de um tema como a importância do isolamento social, a necessidade da quarentena, a importância da vacinação, dados epidemiológicos sobre a pandemia no Brasil e no mundo e em seguida disponibilizar textos como artigos de jornais, revistas, blogs e livros com questões diretas e/ou interpretativas que podem ser resolvidas a partir da leitura. Essa ferramenta é importante para preparar o aluno e desenvolver a autonomia que será exigida nas etapas posteriores ao Ensino Fundamental;
  5. Explorar os filmes como instrumentos valiosos para serem utilizados de forma didática dentro da sala de aula, podendo contribuir para práticas interculturais críticas dentro de uma perspectiva inter e transdisciplinar. É uma excelente estratégia de introdução ou finalização de determinada abordagem curricular. Cabe ao professor encontrar neles alguma forma de explorar o conteúdo de interesse com os estudantes de forma a não ficar preso à disciplina em si, mas explorar diversos aspectos que, além dos conhecimentos científicos, atingem o ensinamento de valores sociais muito importantes que serão levados para fora da escola. É sempre importante verificar a classificação etária dos filmes e assistir a eles antes de passar para os estudantes. O professor deve ter discernimento do que pode ser explorado em cada turma. No contexto da pandemia, vários temas podem ser indicados, como Osmose Jones (sistema imunológico), Eu sou a lenda (vírus e imunidade), Matilda (relação aluno e professor), Ao mestre com carinho (tolerância e respeito), Meu nome é Rádio (bullying), Contágio, Epidemia, Flu e Os 12 macacos (todos estes sobre vírus e pandemias), entre outros.

Possibilidades metodológicas de ensino-aprendizagem no contexto pandêmico: Educação de Jovens, Adultos e Idosos

Na Educação de Jovens, Adultos e Idosos, muitos são sujeitos do grupo de risco e realizam atividades essencialmente presenciais e desenvolvidas em grupos, como o trabalho na construção civil, nas feiras; são pescadores, empregadas domésticas, vendedores ambulantes, entre outras profissões. Dependem de meios de transporte coletivo urbano eventualmente saturados. Assim, o diálogo entre educandos/educandas e educadores/educadoras é imprescindível, visto que é por meio do diálogo que se constrói o processo de ensino-aprendizagem. Ressalta Freire que é a mediação dialógica que favorece a aproximação com a realidade e conduz esses sujeitos à reflexão de sua condição humana e existencial (Freire, 1996).

Considerando esse contexto, as escolas, na sua autonomia curricular, podem organizar a ação pedagógica por meio de temas geradores, Pedagogia de Projetos, eixos temáticos, ou em outras possibilidades metodológicas. Sugerimos algumas estratégias:

  1. Formações permanentes e distritais: sugerem o ressignificar da prática docente de forma significativa, criativa, participativa, problematizadora;
  2. Levantamento das situações vivenciadas pelos educandos e educandas durante a pandemia;
  3. Círculos de diálogos: escuta ativa e compreensiva, acolhida aos sentimentos da comunidade escolar, importância de vacinar;
  4. Traçar estratégias para a manutenção dos cuidados sanitários e a conscientização quanto ao cuidado de si e do outro e espalhar pela escola e comunidade: produção de cartazes, folders, panfletos;
  5. Realizar oficinas de estudo de palavras e expressões mais faladas durante a pandemia;
  6. Elaboração de um caderno de memórias de situações vivenciadas durante a pandemia;
  7. Organizar campanhas educativas sobre a importância de vacinar;
  8. Leitura e interpretação e produção de textos temáticos: pandemia, vacina, coronavírus.

Considerações finais

Este trabalho pretende demonstrar como diversos processos de ensino-aprendizagem, com base em uma concepção freiriana de educação, podem ser utilizados e adaptados ao contexto do transpandemia, no qual ainda persistimos. No que tange à formação de professores, são apresentadas diversas formas e variados métodos de trabalho docente para os diferentes níveis de escolarização que a Rede Municipal de Ensino de Belém abrange.

Dessa forma, este artigo se propõe a ser um documento de sugestões que não se esgotam em si, porém complementam as práticas pedagógicas nas quais os docentes do país inteiro estão inseridos, salvaguardadas suas devidas especificidades, realidades e regionalidades.

Referências

BELÉM. Prefeitura. Secretaria Municipal de Educação. Plano de retorno das atividades presenciais para o ano letivo de 2021: Belém, cidade alfabetizada e educadora. Belém: Diretoria de Educação, 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 15 out. 2021.

BRASIL. Parecer CNE/SEB nº 20/2009. Revisa as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil. In: BRASIL. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC/SEB/DICEI, 2013.

BUSS, C. S.; MACKEDANZ, L. F. O ensino através de projetos como metodologia ativa de ensino e de aprendizagem. Revista Thema, v. 14, nº 3, p. 122-131, 2017.

FABRIS, E. T. H.; POZZOBON, M. C. C. Os desafios da docência em tempos de pandemia de covid-19: um “soco” na formação de professores. Revista Educar Mais, v. 4, nº 2, p. 233-236, 2020. Disponível em: https://periodicos.ifsul.edu.br/index.php/educarmais/article/view/1803/1473. Acesso em: 14 nov. 2021.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.  São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREITAS, A. L. S.; FORSTER, M. M. S. Paulo Freire na formação de educadores: contribuições para o desenvolvimento de práticas crítico-reflexivas. Educar em Revista, nº 61, p. 55-69, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/hxLYPVz4MpNyWffdh8QjFwy/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 14 nov. 2021.

GUEDES, J. D.; SOUZA, A. S.; SIDRIM, F. M. L.; LIMA, Q. F. O. Pedagogia de Projetos: uma ferramenta para a aprendizagem. Id On Line Rev. Psic., v. 10, nº 33, supl. 2, p. 237-256, 2017. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/650. Acesso em: 15 out. 2021.

MOVIMENTO INTERFÓRUNS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO BRASIL (MIEIB). Diretrizes para o debate sobre as condições de retomada das experiências interativas no contexto da Educação Infantil. Brasília: 1 de maio de 2021.

OLIVEIRA, M. B. et al. O ensino híbrido no Brasil após a pandemia da covid-19. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 7, nº 1, p. 918-932, 2021. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/22597/18090. Acesso em: 14 nov. 2021.

PEREIRA, F. M. et al. Te aquieta, covid: cartilha de orientações gerais de boas práticas de higiene e prevenção à covid-19 nas escolas. Belém: Secretaria Municipal de Educação de Belém, 2021.

SANTOS, M. A.; ARAÚJO, J. F. S. Uso das ferramentas pedagógicas e tecnológicas no contexto das aulas remotas. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 21, nº 17, 11 de maio de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/17/uso-das-ferramentas-pedagogicas-e-tecnologicas-no-contexto-das-aulas-remotas. Acesso em: 14 nov. 2021.

Publicado em 19 de abril de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

PAIVA, Érika Kelle Santos; SPADA, Paula Katharine de Pontes de; PANTOJA, Angela Maria Melo; SABINO, Elianne Barreto; MACHADO, Benedito Fialho; AMARAL, Míriam Matos; PEREIRA, Fabrício Moraes. Estratégias de ensino-aprendizagem em concepção freiriana para o retorno presencial às aulas na transpandemia de covid-19: estudo de caso do município de Belém/PA. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 14, 19 de abril de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/14/estrategias-de-ensino-aprendizagem-em-concepcao-freiriana-para-o-retorno-presencial-as-aulas-na-transpandemia-de-covid-19-estudo-de-caso-do-municipio-de-belempa

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.