Os impactos da docência na saúde física e mental dos profissionais da Educação Básica no cenário pós-pandêmico
Alessandro Nunes Leite
Graduado em Letras e em Educação Física, especialista em Docência do Ensino Superior
Silvânia Azevedo da Silva Nunes
Graduada em Pedagogia e graduanda em Fisioterapia
Uma pesquisa realizada pela Associação Nova Escola, no ano de 2018, constatou que 66% dos professores já precisaram afastar-se do trabalho em decorrência de problemas relacionados à saúde. Grande parte deles acredita que o problema foi acentuado em virtude da rotina de trabalho. No ambiente escolar é muito comum encontrar professores que fazem uso contínuo de mais de um tipo de medicação. Em décadas passadas, encabeçavam a lista de problemas os danos à voz e outros relacionados a alergias devido ao uso do giz.
Atualmente, segundo os dados coletados na pesquisa, esse cenário mudou no que se refere aos problemas mais comuns. Hoje, ansiedade, estresse e depressão lideram o ranking de problemas de saúde mais recorrentes entre os profissionais da Educação. De acordo com dados do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), de 1998 a 2002 o estresse e a depressão ficam entre os problemas de saúde mental que mais geram despesas para o sistema previdenciário do país (Barbosa Branco, 2002). As consequências vão além da questão financeira. O principal prejudicado é o próprio docente, pois a situação afeta diretamente a sua qualidade de vida. Em seguida, tem-se a situação dos alunos, que perdem um profissional dedicado e compromissado com uma educação de qualidade. Além disso, vale ressaltar os danos ao poder público, com gastos pelo afastamento do profissional e com a contratação de outro para substituí-lo. Ademais, há de se levar em consideração o momento dramático vivenciado em todo o mundo em consequência da pandemia do covid-19 e seus efeitos na vida tanto do docente quanto do discente.
A realização deste estudo objetiva conhecer os impactos mais danosos, no cenário pós-pandêmico, promovidos pela covid-19 na saúde do profissional da educação. A partir daí, fazer um prognóstico da situação, com o propósito de implementar ações que amenizem esses impactos e preservem a saúde física e mental dos docentes. A necessidade de investigar, identificar e combater esses impactos justifica-se pelos transtornos que causam a todos os envolvidos, direta ou indiretamente, no processo educacional, visto ser um problema de ordem social, que atinge em maior ou menor grau a todos os setores da sociedade, pois o montante gasto com afastamentos, aposentadorias e indenizações poderia ser direcionado a outras necessidades do município, caso esses problemas fossem evitados ou solucionados.
Para conseguir entender o cenário em estudo, realizou-se uma pesquisa quantitativa, a fim de mensurar o número de docentes da ativa que sofrem de alguma doença adquirida ou acentuada após o exercício da docência, mas que se acentuou pela condição impositiva do isolamento e do distanciamento social. Além disso, também foi empregado o método qualitativo, por intermédio de entrevistas com profissionais da área da educação, com o propósito de entender o comportamento dessas pessoas frente aos desafios encontrados no exercício da carreira.
Métodos
Para a realização da pesquisa foi aplicado um questionário a 691 profissionais da Educação, entre professores, coordenadores, diretores, profissionais da Educação Especial e Inclusiva, secretários, supervisores, orientadores, merendeiras, intérpretes e servidores da Secretaria de Educação. Devido à situação de pandemia em decorrência da covid-19, o questionário foi aplicado de forma eletrônica, utilizando as redes sociais e os formulários online, a fim de evitar a disseminação do vírus e garantir a segurança sanitária dos envolvidos no processo.
Os instrumentos empregados para a realização da pesquisa foram um formulário contendo doze questões objetivas (que indagaram a respeito do gênero, tempo de exercício na docência, qualidade de vida antes e depois da docência e envolvimento com vícios) e uma pesquisa bibliográfica para dar embasamento teórico aos dados obtidos com a pesquisa de campo.
Os resultados encontrados foram analisados à luz dos teóricos citados no trabalho, com o propósito de entender o cenário atual e identificar os principais efeitos da docência na vida dos profissionais envolvidos na formação intelectual e cidadã dos jovens estudantes do município.
Levantamento bibliográfico
O Art. 1º da Constituição Federal elenca a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho como fundamentos irrevogáveis. Nesse sentido, deve ser assegurado ao trabalhador um ambiente laboral que não lhe cause prejuízos físicos ou psíquicos, mas que promova uma relação de produtividade digna e condizente com os limites de segurança para a saúde dos atores envolvidos no processo educativo. Por ambiente de trabalho, Júlio César de Sá da Rocha esclarece:
O meio ambiente do trabalho representa todos os elementos, interrelações e condições que influenciam o trabalhador em sua saúde física e mental, comportamento e valores reunidos no lócus do trabalho. Com efeito, caracteriza-se, pois, como a soma das influências que afetam diretamente o ser humano, desempenhando aspecto chave na prestação e performance do trabalho. Pode-se, simbolicamente, afirmar que o meio ambiente do trabalho constitui o pano de fundo das complexas reações biológicas, psicológicas e sociais a que o trabalhador está submetido (Rocha, 2002, p. 52).
Dessa forma, percebe-se que o ambiente de trabalho afeta não apenas o desempenho do profissional em seu labor, mas extrapola para além dos limites do local de trabalho, alcançando as relações sociais, interferindo também nos aspectos físicos e psicológicos do trabalhador. Sendo assim, é importante ressaltar que pessoas do convívio direto, como cônjuges e filhos, são tragicamente afetados pelos danos causados ao profissional, podendo refletir-se no relacionamento conjugal, resultando em separações, e até em divórcio, causando danos de ordem social e emocional na formação cidadã dos filhos, por exemplo.
Em consonância com esse ponto de vista, Fiorillo (2003) afirma que o equilíbrio no ambiente de trabalho reside na soma entre salubridade e ausência de elementos que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos profissionais, independentemente de gênero, idade, segmento ou qualquer outra diferenciação de categoria ou ramo de atividade.
Infelizmente, apesar da existência da lei citada, o que se vê são pessoas cada vez mais afetadas pela rotina de trabalho exaustiva e estressante. O profissional da educação, além do acúmulo de trabalho e das incontáveis e repetitivas atividades burocráticas, como relatórios, planejamentos, diários e outros documentos (que para pouco se aproveita no que se refere à formação do aluno), ainda precisa enfrentar os desafios de lidar com situações que deveriam ser geridas pela família do discente, mas que, geralmente, a escola acaba resolvendo por conta própria, como problemas de ordem sócio emocional, violência doméstica, abandono, dentre outros. Por tudo isso, a sociedade assiste um profissional que adoece continuamente em decorrência de um ambiente e de uma rotina de trabalho muitas vezes estafante.
Nesse processo, o trabalhador sofre tanto com o adoecimento mental, como com o adoecimento físico. Para reverter essa situação é muito importante a atuação do Ministério da Saúde em favor dos trabalhadores. No entanto, Nuno Cobra Ribeiro (2001), em seu livro A semente da vitória, afirma que o país tem um ministério da doença e não da saúde, visto que a ideia é que o cidadão adoeça primeiro para que se possa oferecer a intervenção necessária, quando na verdade se deveria pensar em ações de prevenção, a fim de evitar o adoecimento do cidadão. Só assim haveria, de fato, um Ministério da Saúde, pois a promoção e a manutenção da saúde seriam o seu objetivo principal (Ribeiro, 2001).
Somado a isso, tem-se a situação de pandemia, acrescentando à rotina docente os desafios da imersão tecnológica em curto prazo e do apoio tantas vezes escasso do poder público, além do isolamento e do distanciamento social. Fatores que, segundo o Guia de Saúde Mental Pós-Pandemia, no Brasil (2020, p. 38), menciona um estudo realizado nos EUA com o objetivo de comparar as taxas de prevalência dos transtornos de ansiedade e depressão, entre os anos de 2019 e 2020. Os resultados apontaram que, no ano de 2020, os adultos apresentaram três vezes mais chances de desenvolver esses transtornos. Esses são os desafios enfrentados pela população mundial, acrescidos aos já preexistentes da rotina diária dos docentes brasileiros.
Análise e interpretação dos resultados
Gráfico 1: Sexo dos respondentes
Gráfico 2: Área de conhecimento dos respondentes
Com o propósito de entender a situação em que se encontra a saúde mental dos profissionais da Educação, foi aplicado um questionário com questões objetivas analisadas e interpretadas à luz da argumentação teórica apresentada nesta pesquisa.
Analisando os gráficos apresentados, percebe-se a predominância do gênero feminino no exercício da profissão. Segundo o Censo Escolar de 2020, realizado pelo INEP, os professores eram cerca de 2,2 milhões na Educação Básica. Desse total, 70% eram mulheres. Isso confirma-se por um histórico de preconceito prevalente atribuído à docência, como uma profissão preferencialmente feminina. No entanto, observando o Gráfico 2, percebe-se que, do total de entrevistados na pesquisa, mais de 60% atuam no segmento infantil até o 5º ano do Ensino Fundamental. Esse cenário nos leva a inferir que o público feminino é ainda mais expressivo quando se trata da formação superior em Pedagogia. Outro fator relevante, percebido no Gráfico 2, mostrou que cerca de 12% dos entrevistados atuam em mais de uma área do conhecimento ou estão desviados de função, atuando em cargos diversos. Trata-se de um dado preocupante, tendo em vista que isso interfere diretamente na qualidade do ensino. Por exemplo, um professor de Língua Portuguesa ministrando aulas de Geografia sem que seja habilitado para tal.
Gráfico 3: Idade dos respondentes
Gráfico 4: Tempo de atuação
O Gráfico 3 traz informações a idade dos entrevistados. Nessa oportunidade, constatou-se que quase 61% dos participantes têm mais de 40 anos. Nesse sentido, é relevante destacar que alguns problemas de saúde começam a surgir, tais como, hipertensão, diabetes, colesterol alto, dentre outros, como consequência de um histórico de vida descuidado, com muitos excessos e sedentarismo, hipótese que não descarta o adoecimento ou agravamento de doenças pré-existentes em decorrência do desgaste profissional. Em contrapartida, 48,6% exercem a docência há mais de 15 anos, sendo que mais de 30% deles atuam na docência há mais de 20 anos (Gráfico 4). Esse dado é muito importante, pois quanto mais tempo de carreira, são maiores as possibilidades de adoecimento em decorrência do estresse diário.
Gráfico 5: Carga horária de trabalho
Gráfico 6: Mais de um emprego?
Os Gráficos 5 e 6 indagaram respectivamente a respeito da jornada de trabalho e da quantidade de empregos que o entrevistado exerce. No que se refere à jornada de trabalho, quase 90% trabalham 40 horas, uma jornada considerada normal, visto que a grande maioria dos trabalhadores de diversas categorias e segmentos da sociedade também compartilham da mesma condição. O que preocupa são os 10% de docentes que trabalham 60 horas, assim como os 16% que possuem mais de um emprego. Em ambos os casos, a extensa jornada de trabalho compromete a saúde física e mental dos profissionais, visto que não sobra muito tempo para um bom relacionamento familiar ou para que o profissional possa cuidar de si.
A Lei nº 11.738/08, Lei do Piso Salarial (Brasil, 2008), bem como a Resolução CNE/CEB nº 2/09 (Brasil, 2009), estabelece normativas que objetivam orientar à implantação de jornada de trabalho de no máximo 40 horas semanais preferencialmente em jornada única, com 1/3 desse tempo destinado às atividades de apoio à docência, além do incentivo à dedicação exclusiva. O atendimento a esses parâmetros contribuiria significativamente para o desempenho do trabalho docente, interferindo diretamente na qualidade da educação e na saúde física e mental desse profissional.
Gráfico 7: Problemas de saúde preexistentes
Gráfico 8: Problemas de saúde adquiridos no magistério
A docência no Ensino Fundamental e Médio figura entre as profissões com maiores desgastes emocionais para os profissionais da atualidade (Damásio; Melo, 2013). Os Gráficos 7 e 8 são, certamente, os mais preocupantes, pois são eles que respondem ao tema da pesquisa. Essa preocupação deve-se às condições de saúde antes e depois do exercício da docência, pois apresentam resultados estarrecedores. Esses resultados mostraram que mais de 70% dos profissionais não apresentavam qualquer tipo de doença antes de exercer a atividade laboral no âmbito da educação. Além disso, pouco menos de 10% já possuía mais de uma doença diagnosticada. Por outro lado, após anos de dedicação ao segmento educacional, a situação inverteu-se desastrosamente, pois os 70% que não apresentavam qualquer doença antes da docência, são agora os que declaram ter adquirido algum problema de saúde ou vício.
Dentre as doenças adquiridas, a ansiedade encabeça o topo da lista, seguida pelo estresse e a depressão, respectivamente. No entanto, percebeu-se muitas pessoas (27,5%) com pelo menos três doenças diagnosticadas após o exercício da docência. Dentre essas, praticamente todas elencam uma das três mais recorrentes. Há casos em que a pessoa sofre simultaneamente do tripé: ansiedade, estresse e depressão.
Observaram-se, ainda, muitos relatos de doenças que desencadearam a obesidade. Ademais, muitos docentes relataram que problemas como ansiedade, estresse, depressão, insônia e obesidade foram acentuados desde o início da pandemia em razão do isolamento social e das incertezas com relação ao futuro. Esses gráficos analisados em conjunto provam que os impactos da docência na saúde física e mental dos profissionais da educação são severos e podem causar danos irreparáveis a todos os atores envolvidos, tanto no processo educativo quanto no círculo afetivo do profissional.
Em pesquisas desenvolvidas na última década a respeito do tema, além de figurarem, entre os principais motivos de adoecimento docente, a depressão, a ansiedade e o estresse, temos a síndrome de burnout como fator de origem psicológica. Destacam-se muitos elementos agravantes, tais como, baixos salários, infraestrutura inadequada com salas pouco arejadas, salas com excesso de alunos, a inserção de alunos especiais sem que o professor esteja capacitado para o atendimento, falta de recursos necessários para o atendimento dos alunos, excesso de atividades, extrapolando a carga horária de trabalho, dentre outros (Nascimento; Seixas, 2020).
Gráfico 9: Fumante
Gráfico 10: Uso de bebida alcoólica
Os Gráficos 9 e 10 apresentaram bons resultados na pesquisa no que se refere ao tabagismo e ao alcoolismo. Com relação a esses quesitos, a pesquisa constatou que não são males recorrentes no estilo de vida dos profissionais da educação. 94,2% dos entrevistados declararam ser não fumantes, enquanto apenas 2,6% afirmaram fumar diariamente. Por outro lado, 54,4% dos docentes afirmaram não consumir bebida alcoólica e 45,6% relataram ingerir etílicos socialmente, aos finais de semana, ou esporadicamente, em reuniões com amigos ou familiares. Os resultados apresentados são muito importantes, pois o vício, muitas vezes, pode ocorrer em decorrência da ansiedade, da depressão ou do estresse. Nesse sentido, apesar de contar com um elevado índice de adoecimento, não há casos relatados de declínio para um dos vícios mencionados. Esses dados revelam uma conscientização dos profissionais em relação aos vícios e as suas consequências para a saúde física e mental. Não houve afirmação de algum tipo de relação entre o vício e a situação de isolamento social em razão da pandemia.
Gráfico 11: Prática de atividade física
Gráfico 12: Tempo de atividades físicas
Os Gráficos 11 e 12 abordaram a prática de atividade física, inquirindo sobre a frequência e o tempo que cada profissional dedica a esse quesito. Os resultados apresentados dão sustentação ao que foi apresentado no Gráfico 8. Enquanto lá cerca de 70% adquiriram alguma doença ou vício, aqui quase 70% não fazem atividades físicas regularmente e são considerados sedentários, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020). Tais diretrizes orientam um mínimo de 150 a 300 minutos de atividade física, de moderada a vigorosa, por semana para que o indivíduo não seja considerado sedentário. 47,4% declararam estar abaixo desse padrão. Dentre os praticantes de alguma atividade física, mais da metade afirmou se exercitar há mais de um ano. De acordo com a OMS (2020), 27,5% dos adultos não correspondiam às orientações em 2010, além disso, as diretrizes afirmam que esse percentual teria aumentado na última década. Sob essa ótica, o município de Valparaíso apresentou-se com índices abaixo das estimativas globais.
Ainda de acordo com essas diretrizes (OMS, 2020), a atividade física, em adultos, proporciona benefícios diversos como a redução da mortalidade por causas diversas (hipertensão, alguns casos de cânceres, diabetes tipo 2), além de melhorar a saúde mental, cognitiva, o sono e a adiposidade da pele, reduzindo sintomas de ansiedade. O cenário pandêmico interferiu diretamente nesse aspecto, pois em razão do isolamento, muitas pessoas foram impedidas de frequentar academias ou parques para se exercitarem. Segundo as diretrizes da OMS (2020), essa situação contribuiu para o aumento dos índices de ansiedade, estresse, depressão e obesidade.
Em consonância com o que foi mencionado no início deste trabalho de campo, as hipóteses levantadas foram comprovadas através dos resultados obtidos com a pesquisa. O adoecimento dos profissionais da educação, constatado com a pesquisa, equivale aos apresentados pela Associação Nova Escola, em 2018. Isso confirma que a situação não é pontual, mas atinge os profissionais de todo o país. Outro fator relevante e preocupante é a associação de doenças, em vários casos relatados pelos profissionais. O estresse, por exemplo, pode desencadear uma ansiedade, resultar em depressão e promover a obesidade. Insta mencionar que apesar da pandemia ter contribuído para o aumento de casos de adoecimento da população, os resultados apresentados coincidem com os de pesquisas semelhantes realizadas em anos anteriores à pandemia e em regiões distintas do país.
Considerações finais
A realização da pesquisa foi extremamente satisfatória, pois atendeu às expectativas do projeto. Nessa perspectiva, vale ressaltar que os objetivos foram alcançados, visto que todas as questões levantadas foram respondidas. Essas questões buscavam conhecer a situação da saúde física e mental do docente no município de Valparaíso, Goiás. Após ouvir muitas queixas de profissionais de diversas áreas do conhecimento e de diferentes escolas (fator que despertou o interesse pela pesquisa), pretendeu-se entender as razões que mais contribuem para o adoecimento do profissional e o que poderia ser feito para reverter essa situação.
O questionário aplicado indagou sobre pontos importantes para o esclarecimento dos propósitos da pesquisa. Este forneceu uma base de dados que apresentou os resultados esperados e condizentes com as queixas de profissionais ouvidos anteriormente à pesquisa. As queixas foram confirmadas e os dados mostraram que 70% dos profissionais da educação declararam ter apresentado diagnóstico de alguma doença após o exercício da docência, além disso, muitos afirmaram possuir mais de uma doença, outros apresentaram várias patologias simultaneamente e, em outros tantos, o isolamento motivado pela pandemia do novo coronavírus trouxe agravamentos dos sintomas já percebidos. O resultado surpreendeu pelo alto índice de adoecimento, um percentual expressivo e tragicamente coincidente com o índice de docentes que não faz atividades físicas regularmente.
Com a realização da pesquisa, constatou-se a necessidade de intervenção em dois segmentos para atenuar os impactos da docência na saúde dos profissionais da área. Em primeira análise, como foi mencionado nas Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário (2020), a melhor forma para reverter esse cenário de adoecimento físico e emocional é a prática orientada e regular de atividades físicas. O investimento por parte do poder público em projetos que objetivem inserir o docente em ambientes de práticas de atividades físicas, seja por meio de convênios com empresas do ramo ou por projetos desenvolvidos pelos próprios servidores do município habilitados na área. Por outro lado, é necessário rever a parte estrutural da carreira docente, muitas atividades burocráticas e estressantes como a cobrança frequente de relatórios e planejamentos, a replicação de dados e de informações como em diários, a exigência da presença na escola durante os períodos de coordenação quando o mesmo trabalho poderia ser realizado em home office, são algumas das tarefas extenuantes e, em muitos casos, desnecessárias ao labor docente. Além disso, vale ressaltar a Resolução CNE/CEB nº 2/09 (Brasil, 2009) no que tange ao incentivo à dedicação exclusiva. Essa mudança, aliada à Lei do Piso Salarial – Lei nº 11.738/08 (Brasil, 2008), faria com que muitos professores não precisassem ter mais de um emprego ou jornada ampliada para conseguirem viver com dignidade, evitando assim o adoecimento por estresse ou ansiedade.
Referências
Barbosa-Branco, A. Cuidem de nós! Correio Braziliense, Brasília, v. 5, 26 nov. 2002.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
______. INEP/MEC. Censo da Educação Básica 2020. Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/estatisticas_e_indicadores/notas_estatisticas_censo_escolar_2020.pdf. Acesso em: 31 ago. 2021.
______. Conselho Nacional de Educação. Câmara da Educação Básica. Resolução nº 2, de 28 de maio de 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_cne_ceb002_2009.pdf. Acesso em: 31 ago. 2021.
______. Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm. Acesso em: 31 ago. 2021.
DAMÁSIO, B. F.; MELO, R. L.; SILVA, J. P. Sentido de vida, bem-estar psicológico e qualidade de vida em professores escolares. Paideia, v. 23, nº 54, p. 73-82, 2013. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/12302/pesquisa-indica-que-66-dos-professores-ja-precisaram-se-afastar-devido-a-problemas-de-saude. Acesso em: 24 jun. 2021.
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 22-23.
JARDIM, Leila Maria de Souza. O direito fundamental do trabalhador ao meio ambiente de trabalho saudável. s/d. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8873/O-direito-fundamental-do-trabalhador-ao-meio-ambiente-de-trabalho-saudavel. Acesso em 15 jul. 2021.NASCIMENTO, Kelen Braga do; SEIXAS, Carlos Eduardo. O adoecimento do professor na Educação Básica do Brasil: apontamentos da última década de pesquisas. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 20, nº 36, 22 de setembro de 2020. Disponível em: http://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/36/josepho-adoecimento-do-professor-da-educacao-basica-no-brasil-apontamentos-da-ultima-decada-de-pesquisas. Acesso em: 31 ago. 2021.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Diretrizes da OMS para atividade física e comportamento sedentário. 2020.Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/337001/9789240014886-por.pdf?sequence=102&isAllowed=y. Acesso em: 29 ago. 2021.
PESQUISA QUALI-QUANTITATIVA: o que é, como fazer e exemplos. Disponível em: https://regrasparatcc.com.br/primeiros-passos/pesquisa-quali-quantitativa/. Acesso em: 24 jun. 2021.
PFIZER. Guia de saúde mental pós-pandemia no Brasil. 2020. Disponível em: https://www.pfizer.com.br/sites/default/files/inline-files/Guia-de-Saude-Menta-%20pos-pandemia-Pfizer-Upjohn.pdf. Acesso em: 31 ago. 2021.
RIBEIRO, Nuno Cobra. A semente da vitória. 15ª ed. São Paulo: Senac-SP, 2001.
ROCHA, Júlio César de Sá da. Direito Ambiental e Meio Ambiente do Trabalho - dano, prevenção e proteção jurídica. São Paulo: LTR, 1997.
Anexo
Questionário para pesquisa de campo
Você é:
homem
mulher
Qual sua idade?
18 a 20 anos
30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 60 anos
Mais de 60 anos
Há quanto tempo trabalha em Educação?
1 a 5 anos
6 a 10 anos
11 a 15 anos
16 a 20 anos
Mais de 20 anos
Em que área atua?
Língua Portuguesa
Matemática
História
Geografia
Ciências
Educação Física
Inglês
Pedagogia
Educação especial
Já possuía algum problema de saúde antes de começar a lecionar? Se sim, qual?
Depressão
Diabetes
Hipertensão
Ansiedade
Colesterol alto
Pânico
Estresse
Obesidade
Síndrome de burnout
Distúrbios vocais
Outro: ______________
Qual sua jornada de trabalho semanal?
20 horas
40 horas
60 horas
Tem mais de um emprego?
Sim
Não
Adquiriu algum problema de saúde depois de se tornar professor? Se sim, qual?
Depressão
Diabetes
Hipertensão
Ansiedade
Colesterol alto
Pânico
Estresse
Obesidade
Síndrome de burnout
Distúrbios vocais
Outro: ______________
Faz alguma atividade física como musculação, natação, ciclismo, corrida ou caminhada? Com que frequência? (Regularmente refere-se a pelo menos três vezes por semana, no mínimo 30 minutos por dia).
Nunca
Às vezes
Regularmente
Há quanto tempo faz atividades físicas?
Não faço
Menos de 1 ano
Mais de 1 ano
Mais de 2 anos
Vários anos
Você é fumante?
Não
Sim, fumo eventualmente
Sim, fumo diariamente
Faz uso de bebida alcoólica com que frequência?
Nunca
Eventualmente
Diariamente
Publicado em 10 de maio de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
LEITE, Alessandro Nunes; NUNES, Silvânia Azevedo da Silva. Os impactos da docência na saúde física e mental dos profissionais da educação básica no cenário pós-pandêmico. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 17, 10 de maio de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/17/os-impactos-da-docencia-na-saude-fisica-e-mental-dos-profissionais-da-educacao-basica-no-cenario-pos-pandemico
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.