A importância dos estudos de Psicologia para detectar transtornos que causam efeitos negativos na aprendizagem e no convívio escolar dos discentes

Andrei de Oliveira Saelzler

Licenciando em Geografia (Unemat)

Na escola surgem diferentes problemas, tanto no que diz respeito às metodologias aplicadas, que muitas vezes não são eficazes para o ensino dos conteúdos expostos, quanto àqueles causados por problemas psicológicos como ansiedade, depressão, estresse etc. A Psicologia é uma ciência social importante para que se possa entender o comportamento humano e, consequentemente, interpretar algumas situações que ocorrem no ambiente escolar e como elas podem afetar o aprendizado do aluno. Será que os problemas que ocorrem fora do ambiente escolar podem realmente atrapalhar a aprendizagem do aluno? O professor não deve envolver-se com problemas externos? O trabalho realizado busca sintetizar algumas possibilidades de respostas em relação a tais indagações.

Quando passamos a observar como a sociedade tem apresentado problemas de ordem psicológica, dados recentes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a pandemia de covid-19, que teve início em 2019 em Wuhan (China) e se estendeu aos demais países do mundo, incluindo o Brasil, tem afetado ainda mais os serviços de atenção à saúde mental; a consequência principal tem se relacionado a questões de suicídio e outros problemas como ansiedade, depressão etc. No que tange ao ambiente escolar, é de suma importância compreender que ele agrega muito mais do que apenas os conteúdos ministrados; os professores precisam perceber o aluno, as suas dificuldades e principalmente os problemas envolvidos e que acabam influenciando a aprendizagem.

Segundo Battistelli (2018), o dever de distinguir que algo pode estar errado em relação a questões comportamentais na escola ou fora dela é dos adultos; os pais e a comunidade escolar precisam compreender ações realizadas pelos discentes a fim de detectar problemas em relação à saúde mental dos jovens e das crianças. Infelizmente, na maioria das vezes os pais não possuem compreensão técnica de tais complicações, o que pode resultar em maiores efeitos negativos, dependendo da abordagem utilizada pelos responsáveis. Não é de assustar que o professor acabe encontrando em sala de aula situações em que os alunos sofram com algum problema e acabem levando-o ao ambiente escolar e tendo, como consequência, dificuldade de aprendizado.

O docente não pode simplesmente deixar de lado o que venha a acontecer fora do ambiente escolar, porque isso pode afetar no nível de aprendizado dos conteúdos abordados, mas principalmente porque a escola é uma ponte para resolução ou encaminhamento para auxílio nessas situações. Segundo alguns autores, como Pain (2010), há necessidade de aproximação do professor com o aluno; o autor afirma também que os problemas que ocorrem dentro da escola não necessariamente devem ser resolvidos fora dela. “Faz-se necessário estar na escola, com as pessoas, mantendo proximidade, escolas de educação e convivência” (Pain, 2010).

O objetivo deste trabalho é discutir a influência que problemas psicológicos podem trazer no modo de aprendizado por parte dos alunos e abordar o papel do professor como mediador para solução de impasses no ambiente escolar. Assim, o estudo realizado, embora seja de revisão bibliográfica, pode contribuir para o entendimento de vários aspectos importantes para entender como as influências externas e/ou internas podem causar efeitos negativos na relação social dos indivíduos, na aprendizagem e na vida deles de maneira geral.

A escola como principal instituição de experiências positivas e negativas na vida dos alunos

As instituições de ensino promovem a inserção de diversos indivíduos no contexto social, uns com maior facilidade na aprendizagem, outros com dificuldade naturalmente promovida pelas diferenças. As escolas se tornam importantes na vida de diversas crianças e jovens, desenvolvendo-os para exercer seu papel como cidadãos e contribuir para o desenvolvimento da sociedade e para atuação no mercado de trabalho. Tem-se a ideia de que esse espaço não sofre com problemas, mas é evidente que não é correto afirmar isso.

O ambiente escolar é um local de igualdade, respeito; esse é o ideal que se espera, que infelizmente muitas vezes se torna dispensável pela ignorância de fatos que influenciam no ensino, bem como na aprendizagem dos discentes. Muitas vezes surgem fatos que são desprezados por professores que na verdade deveriam ser abordados de forma mais profunda; Dubet (apud Silva e Salles, 2011, p. 51) afirma que,

nos diferentes países, as pesquisas mostram que a escola que é frequentada por alunos menos favorecidos, em geral, apresenta problemas semelhantes, como entraves mais rígidos para os mais pobres, menor estabilidade das equipes docentes nos bairros difíceis, expectativa menos favorável dos professores em relação às famílias desfavorecidas, que se mostram mais ausentes e menos informadas nas reuniões de orientação etc.

É possível então que esses alunos possam sofrer com pressões externas sem que haja atitude por nenhuma parte? Se avaliarmos uma família sem condição de fornecer o apoio necessário ao seu filho, sem estabilidade econômica, se somarmos a ela também a violência domiciliar, por exemplo, isso ainda pode ser deixado de lado? É lógico que essas questões são de uma complexidade muito maior do que imaginamos, e é evidente também que o professor não conseguirá tomar nenhuma atitude se isso também afetar a sua relação com o aluno ou mesmo se for um problema maior do que o docente possa resolver. Nesse sentido, é necessária a busca por apoio exterior, considerando, por exemplo, órgãos como a Polícia Militar, os conselhos tutelares e outros que possam encaminhar uma resolução possível. É importante ressaltar que muitas vezes os alunos são mal compreendidos, influenciando uma interpretação equivocada e negativa em relação às ações exercidas; como consequência, são tomadas atitudes que podem provocar maiores problemas.

Uma pesquisa realizada pela professora Marilda da Silva, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), intitulada A violência da escola na voz de futuros professores: uma probabilidade da produção da cultura em ambientes escolares, aponta resultados estatísticos baseados em pesquisa quanti-qualitativa destacando que a maior parte dos entrevistados sofreu algum tipo de agressão física ou simbólica durante a sua formação. É evidente que a educação passou por grandes transformações, mas alguns pontos negativos ainda podem fazer parte do contexto profissional de muitos professores. Nesse sentido, a reprodução de atitudes que promovam violência psicológica principalmente é algo que compreende ações relacionadas ao contexto escolar.

É importante realizar tal discussão para que haja o entendimento de uma forma mais detalhada a respeito de como as atitudes docentes podem influenciar a formação dos indivíduos; como mencionado na pesquisa realizada por Silva (2013), a forma com que o professor age nas diferentes situações em sala de aula pode determinar um ato de violência simbólica ou mesmo física, o que compreende falha em relação à formação já que essa não é uma atitude que caracteriza a profissão docente. Assim, o apoio que poderia ser prestado pelo profissional da Educação no ambiente escolar passa a ser negligenciado àqueles que mais precisam dele. A escola, que é o espaço onde a defesa do respeito e de ações que contribuam para a igualdade de todos, precisa ser defendida e pode não cumprir seu papel; nesse ambiente que em hipótese alguma deveriam existir ações negativas em relação à violência psicológica partindo do professor, por vezes se mostram evidenciadas experiências negativas que podem trazer impactos psicológicos tanto ao professor quanto aos outros indivíduos envolvidos.

Outro que chama a atenção em relação ao assunto discutido neste artigo é o trabalho realizado por Andrade, Moraes e Ancona-Lopez (2014), que faz uma abordagem estatística em relação à questão dos problemas psicológicos e a incidência da obesidade e alguns outros aspectos relacionados a essa questão. Nesse trabalho é enfatizada como um problema vivenciado por experiências do aluno que pode acarretar danos maiores. Nesse sentido, os autores afirmam que

problemas como o de pais alcoólicos ou drogadictos e problemas de saúde mental dos pais apareceram logo em seguida e geram um mal-estar muito grande nas crianças que buscam resolver suas angústias preenchendo-se com comida; sofrem violências e maus tratos, queixam-se de surras e de ameaças de expulsão de casa. A psicodinâmica familiar perturbada leva as crianças a estados de ansiedade e depressão, às dificuldades escolares e aos comportamentos explosivos e agressivos (Andrade; Moraes; Ancona-Lopez, 2014, p. 139).

Assim, é um indicativo de que as problemáticas envolvendo questões de cunho psicológico estão ligadas a diversos fatores, que podem ser externos ou internos, ou seja, que aconteçam fora da escola ou dentro do ambiente escolar. No caso de questões como a obesidade, há um tipo de violência peculiar envolvida, e o preconceito ligado a ela também é muito alto; como consequência, esse indivíduo passará a se isolar ou mesmo a ter comportamentos agressivos e depressivos. Porém os trabalhos dedicados à busca de resoluções de problemas relacionados a essa e outras questões precisam se constituir como ações que promovam punições mais severas em relação a esse tipo de questão no contexto escolar, a fim de evitar essas situações. As ações orientativas são de suma importância para mudanças comportamentais dos agressores, mas a persistência desse tipo de atitude deve ser considerada, e a preparação deveria contemplar algum tipo de mecanismo objetivando a resolução de maneira integral do problema que não está na vítima.

Normalmente, o ambiente escolar é um espaço de contradições e conflitos entre os diferentes alunos, que possuem diferentes contextos no cenário familiar e diferentes relações fora desse ambiente ou até mesmo em ambientes virtuais. Nesse contexto, a influência exercida sobre eles é muito grande e muitas vezes é expressa na escola como "uma coisa normal", sendo um retrato do que acontece fora da escola e que não condiz com atitudes defendidas neste ambiente. Um estudo conduzido por Moromizato et al. (2017) com alunos do curso de Medicina de uma instituição privada de Sergipe com aproximadamente 169 alunos tinha o objetivo de detectar a influência da internet sobre aspectos que promovam problemas como a depressão, não apenas restringidos ao problema mencionado, mas aos vários transtornos que são desencadeados pelo uso excessivo das redes sociais e da internet de maneira descontrolada. Alguns pontos são destacados, como ansiedade, depressão, problemas no sono, entre outros tidos como negativos em relação aos alunos que participaram da pesquisa.

A partir do estudo de Moromizato et al. (2017) podemos estabelecer uma relação com a discussão deste artigo, usando o estudo mencionado para conduzir uma reflexão perante o problema que as redes sociais e a internet usadas de maneira incorreta podem acarretar para vida dos jovens e das crianças. Nesse sentido, os problemas vivenciados na escola fazem parte de um complexo maior de fatores, dentre eles a questão da liberdade das crianças em relação ao uso de smartphones, notebooks e vários outros aparelhos que permitem o acesso à internet. Um dos problemas de maior incidência apontados pela pesquisa é a questão da depressão, que também possui grande ocorrência no contexto do ambiente escolar.

Segundo Cruvinel e Boruchovitch (2004, p. 376), evidenciam-se resultados de uma pesquisa que apontam que a depressão pode afetar o índice de aprendizagem dos alunos:

Embora o diagnóstico de depressão infantil não seja nem deva ser papel dos educadores, a escola e o professor desempenham uma função extremamente relevante no reconhecimento dos sintomas de depressão, uma vez que a presença da depressão de fato interfere no rendimento do aluno e também tende a influir no emprego de estratégias de aprendizagem. É possível que a queda no rendimento escolar possa ser utilizada como um sinal para os pais e professores de que algo não vai bem com aquela criança e ela pode estar vivenciando sintomas depressivos.

Conforme apontado nesse trecho, é interessante que o professor se torne uma ponte de interação entre os agentes que possam compreender uma resolução dos problemas de cunho psicológico como a depressão, mas isso não subtrai a necessidade de ações conjuntas dentro do ambiente escolar com o objetivo de promover maior socialização e ações positivas que objetivem trabalhos em equipe e conjuntura motivacional na realização das atividades.

Portanto, os docentes desempenham papel fundamental em relação à integração e principalmente ao papel da escola na formação dos indivíduos, porque os problemas que são apresentados no contexto escolar muitas vezes representam um retrato do que acontece fora desse ambiente, sendo enfatizados preconceitos, violências e outras questões que influenciam na aprendizagem e nas ações comportamentais dentro da escola. Como consequência, as atitudes precisam ser compreendidas para que possam ser resolvidas primordialmente de maneira pacífica, objetivando trabalhar com orientações em relação ao problema vivenciado no contexto do ambiente escolar, mas, se necessário, encaminhar para entidades que possam ajudar os indivíduos, principalmente quando os casos forem sérios. A intimidade do aluno com o professor é de suma importância para detecção de problemas que acarretam prejuízos à aprendizagem; quando o discente se sente confortável com o docente, ele pode contar sobre os problemas no contexto familiar, por exemplo; a partir daí, há possibilidade de encaminhamento para um setor responsável, caso seja necessário, já que isso influencia na absorção dos conteúdos propostos em sala de aula.

Metodologia

A metodologia utilizada para a realização do estudo foi a pesquisa bibliográfica, que é pautada no uso de recursos como textos de artigos, livros, registros documentais, e outros meios. Segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 54), a pesquisa bibliográfica é

elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo o material já escrito sobre o assunto da pesquisa. Na pesquisa bibliográfica, é importante que o pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar.

É de suma importância levantar informações sobre o assunto e as pesquisas preexistentes para realizar uma relação entre os estudos e permitir avanço no que tange às discussões realizadas, trazendo uma reflexão mais aprofundada em relação ao tema e às diferentes possibilidades relacionadas a ele.

Considerações finais

As pesquisas em Psicologia são de suma importância para a detecção de transtornos e problemas mentais dos indivíduos, principalmente na atualidade, em que há excesso de informações e necessidade de aprimoramento das habilidades cada vez de forma mais acelerada, comprometendo muitas vezes a saúde das pessoas. No contexto escolar, esses problemas acabam se evidenciando e afetando as questões da aprendizagem; como consequência, também trazem outros impactos negativos para os outros indivíduos envolvidos; um exemplo é a questão de transtornos que causem irritação ou comportamentos agressivos no ambiente escolar que podem comprometer outros indivíduos. A pesquisa realizada é relevante para permitir reflexão aprofundada sobre a temática no ambiente escolar e principalmente por enfatizar o aumento dos problemas mentais e a consequência que isso pode acarretar na escola. Há muitas questões que precisam ser discutidas em relação ao contexto escolar; a incidência cada vez maior de problemas psicológicos acarreta a necessidade de busca de diferentes instrumentos que aprimorem a habilidade docente de detectar transtornos mentais que influenciam o processo de aprendizagem e, consequentemente, encontrar formas para que o problema possa ser resolvido ou que haja tratamento adequado que ajude o aluno no processo de aprender.

Referências

ANDRADE, Tarsila de Magalhães; MORAES, Denise Ely Bellotto de; ANCONA-LOPEZ, Fábio. Problemas psicológicos e psicodinâmicos de crianças e adolescentes obesos: relato de pesquisa. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/6mBrLN9ffC8NfZDHQCQTxRk/?lang=pt#. Acesso em: 23 jul. 2021.

BATTISTELLI, Juliana. 13 sintomas de problemas psicológicos em crianças. 2018. Disponível em: https://www.vittude.com/blog/problemas-psicologicos-em-criancas/. Acesso em: 21 jul. 2021.

CRUVINEL, Miriam; BORUCHOVITCH, Evely. Sintomas depressivos, estratégias de aprendizagem e rendimento escolar de alunos do Ensino Fundamental. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/9tnRPL3kWDdZ84y9DpLNHqS/?lang=pt. Acesso em: 23 jul. 2021.

MOROMIZATO, Maíra Sandes et al. O uso de internet e redes sociais e a relação com indícios de ansiedade e depressão em estudantes de Medicina. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v41n4RB20160118. Acesso em: 23 jul. 2021.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Transtornos mentais. 2020. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais. Acesso em: 21 jul. 2021.

PAIN, Jacques. Os desafios da escola em face da violência e da globalização: submeter-se ou resistir? In: SILVA, J. M. A. P.; SALLES, L. M. F. (Orgs.). Jovens, violência e escola: um desafio contemporâneo [online]. São Paulo: Ed. Unesp; Cultura Acadêmica, 2010.

PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

SILVA, Joyce Mary Adam de Paula e; SALLES, Leila Maria Ferreira. Imaginário, cultura global e violência escolar. 21ª ed. Rio Claro: Ed. Unesp, 2011.

SILVA, Marilda da. A violência da escola na voz de futuros professores: uma probabilidade da produção da cultura da violência em ambientes escolares. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/NfPkVYXGzYgDK46wkTJNnCn/abstract/?lang=pt. Acesso em: 23 jul. 2021.

Publicado em 17 de maio de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SAELZLER, Andrei de Oliveira. A importância dos estudos de Psicologia para detectar transtornos que causam efeitos negativos na aprendizagem e no convívio escolar dos discentes. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 18, 17 de maio de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/18/a-importancia-dos-estudos-de-psicologia-para-detectar-transtornos-que-causam-efeitos-negativos-na-aprendizagem-e-no-convivio-escolar-dos-discentes

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

1 Comentário sobre este artigo

Deixe seu comentário
Diego da Silva Teles dos Santos • 4 meses atrás

Parabéns pela pesquisa, Andrei. Tema atualíssimo e extremamente pertinente. Sucesso!

1

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.