Percursos desenvolvidos pelo Projeto Étnico-Racial da Universidade de Passo Fundo
Wesley Pinto Hoffmann
Mestrando em Letras (UPF), bolsista de extensão no Projeto Étnico-Racial em 2020
Elisa Mainardi
Professora do Curso de Pedagogia na UPF, coordenadora do projeto étnico-racial
O Projeto de Extensão Étnico-Racial desenvolvido na Universidade de Passo Fundo (UPF) apresenta como objetivo principal construir processos de viabilização da promoção e da proteção dos direitos de grupos étnicos minoritários socialmente na comunidade de Passo Fundo/RS e região, como afrodescendentes, indígenas e imigrantes do Senegal, do Haiti e de outros países que enfrentam a tomada de seus direitos essenciais.
O projeto justifica-se à medida que vem trabalhando, desde sua implementação em 2013, com grupos afrodescendentes e indígenas, visando à inserção cultural e a medidas de combate aos processos excludentes a que esses grupos estão expostos diariamente. Ademais, justifica-se a existência do projeto de extensão pelo vínculo direto com as Leis nº 10.649 e nº 11.645, que ressaltam assegurar direitos e contribuições dos grupos mencionados na construção de identidades nacionais plurais.
Para a realização efetiva do projeto, alguns parceiros são fundamentais: movimentos indígenas, negros e quilombolas, além de grupos de imigrantes na cidade e região de Passo Fundo/RS; no ano de 2020, novas possibilidades eram almejadas através da participação de bolsistas residentes em outras cidades da região, como Carazinho. O projeto também está em vínculo com a Política de Responsabilidade da Universidade de Passo Fundo e com o Pacto Universitário pela Promoção do Respeito à Diversidade, Cultura e Direitos Humanos.
Verificamos a necessidade de criar vínculos e diálogos entre diferentes comunidades no espaço acadêmico. Também ressaltamos a necessidade de assegurar políticas públicas que visem à emancipação social de grupos de afrodescendentes, indígenas, imigrantes e outros marginalizados historicamente na sociedade.
No ano de 2020, o grupo de bolsistas e coordenadores do projeto almejou ampliar ainda mais as discussões de maneira embasada e profunda, a fim de compreender as demandas de diferentes grupos étnico-raciais. Apresentamos a seguir a seção de metodologia utilizada nas práticas desenvolvidas pelo Grupo de Extensão Étnico-Racial no ano de 2020.
Metodologia
O projeto está sendo desenvolvido na cidade de Passo Fundo/RS com a participação de integrantes do grupo de outras cidades da região, além das atividades remotas, mais especificamente no ano de 2020, que aproximam diferentes grupos por meio de ferramentas digitais de videoconferência.
Conforme Prodanov e Freitas (2013), quanto à abordagem, este trabalho enquadra-se em uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, tendo em vista que busca mediar as diferentes culturas com vistas à inserção desses diferentes grupos étnicos. Nosso trabalho manifesta uma ação de extensão em relação ao território de análise.
A constituição de bolsistas e coordenadores é formada por acadêmicos e professores de diversas áreas do conhecimento, o que agrega ainda mais ao viés multicultural constitutivo do projeto. A seguir, apresentamos os principais pressupostos teóricos que norteiam as ações territoriais do Projeto Étnico-Racial da Universidade de Passo Fundo no ano de 2020. Ilustramos, na Figura 1, os passos metodológicos adotados neste trabalho.
Figura 1: Passos metodológicos do Projeto Étnico-Racial da UPF
Estudos sob a perspectiva das relações étnico-raciais
Tratar de assuntos como racismo, xenofobia e outros processos de exclusão historicamente construídos continua a ser um paradigma na sociedade brasileira. Muitas vezes, conceitos vagos de miscigenação e das raças mescladas do português, indígena e negro oprimem discussões sobre preconceitos (Freyre, 2005).
É necessário superar arquétipos artificiais idealizados de uma cultura comum. A falsa ideologia de democracia racial mascara institucionalizações hegemônicas de poder e reforço da superioridade social da classe alta branca, em detrimento de outros grupos sociais marginalizados. Os detentores de poder objetivam que negros, indígenas e imigrantes ocupem espaços predeterminados por eles em uma ideologia de identidade calcada sobre esses grupos sociais (Da Matta, 1984).
Os processos de racismo, xenofobia e outros preconceitos nos inquietam e geram questionamentos que traçam nossas escolhas teóricas: existem lugares impostos para negros, indígenas, imigrantes e outros grupos? Esses grupos estão presentes na universidade? Qual são as ações necessárias em uma universidade comunitária para reduzir processos historicamente excludentes? Nossas inquietações refletem a percepção desigual e impositiva na sociedade e são basilares para a fundamentação de discussões. Conforme Tedesco (2020, p. 27), "a construção da identidade do grupo dos mais 'antigos' passa a ser fundamental para expressar sua importância e legitimar a exclusão dos novos chegados. A legitimidade da noção de velhas famílias' se dá, também, pelo horizonte das 'famílias conhecidas' em sua localidade e que se conhecem há várias gerações".
De acordo com Tedesco (2020), o estrangeiro imigrante e diversos grupos étnico-raciais estão expostos aos riscos sociais e econômicos impostos pelo mercado de trabalho, mediante desvinculação e precarização, que imprimem nos imigrantes relações de trabalho ocasionais e sem responsabilidade, já que, muitas vezes, os imigrantes chegam ao Brasil sozinhos e são explorados e expostos aos limites em funções arriscadas e esgotantes no mercado de trabalho.
Freire (1996) defende ações promotoras da liberdade na educação, a fim de um desprendimento de opressões sociais. De acordo com Freire (1996), o processo de aprendizagem é dialógico e centrado na interação. A educação escolar é responsável pelo desenvolvimento de bases para a formação de competências e habilidades com vistas à autonomia, criticidade e fuga de espaços sociais determinados impositivamente. Na próxima seção, versaremos sobre os resultados qualitativos do desenvolvimento do projeto no ano de 2020.
Resultados e discussão
Em 2020, foram realizadas discussões teóricas de pressupostos que fundamentaram as ações do grupo, que estão sendo mediadas de forma virtual, em plataformas de videoconferência, como o Google Meet, que propiciam a interação e discussões com os grupos que fomentam o projeto.
O desenvolvimento do projeto de extensão permite a afirmação da relevância temática na formação acadêmica, e a aproximação entre os diferentes grupos étnico-raciais, o que propicia diversas abordagens e concepções metodológicas que abrangem as temáticas abordadas no projeto.
As ações desenvolvidas se inserem em múltiplas esferas sociais. O grupo situa-se como promotor de discussões sobre os processos de estabelecimento e atuação territorial em diversas esferas sociais do contexto brasileiro por diferentes grupos étnicos.
Considerações finais
O Projeto de Extensão Étnico-Racial desenvolvido na UPF reitera como objetivo construir processos de viabilização da promoção e da proteção dos direitos de grupos étnicos minoritários socialmente na comunidade de Passo Fundo/RS e região.
As ações territoriais desenvolvidas em 2020 aconteceram de maneira virtual, por meio de plataformas de videoconferências, para que sejam enriquecidas as discussões com diferentes grupos étnico-raciais e fortalecer ainda mais os elos entre esses diversos grupos e a universidade, desenvolvendo princípios multiculturais em espaços acadêmicos.
Consideramos que a complexa abordagem das temáticas envolvidas com o grupo implica demandas oriundas de grupos que apresentam ideologias e formações culturais distintas; por isso é necessário estar aberto às diversidades e ao respeito intercultural.
Almejamos dar continuidade às ações territoriais desenvolvidas com os diferentes grupos que participam do projeto, principalmente com o contato direto com os participantes, que foi prejudicado com a expansão da covid-19 no Brasil e seus efeitos. Esperamos aprimorar ainda mais as discussões no projeto com a abordagem de pressupostos que promovam a inserção de grupos marginalizados historicamente e ações efetivas de promoção a esses grupos no espaço acadêmico.
Referências
DA MATTA, Roberto. Digressão: A fábula das três raças ou o problema do racismo à brasileira. In: ______. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Petrópolis: Vozes, 1984. p. 58-85.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro: Global, 2005.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2ª ed. Novo Hamburgo: Ed. Feevale, 2013.
TEDESCO, João Carlos. Desejados e expulsos: trabalhadores imigrantes na/com a pandemia: notas de uma leitura conjuntural. Passo Fundo: Acervus, 2020.
Publicado em 24 de maio de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
HOFFMANN, Wesley Pinto; MAINARDI, Elisa. Percursos desenvolvidos pelo projeto Étnico-Racial da Universidade de Passo Fundo. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 19, 24 de maio de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/19/percursos-desenvolvidos-pelo-projeto-etnico-racial-da-universidade-de-passo-fundo
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.