Tecnologia e o “ensino aprendizagem”

Marcelo Goulart de Oliveira dos Santos

Licenciado em Historia (UNIRIO), pós-graduado em História e Cultura Afro-Brasileira (UCAM)

A presente pesquisa tem por finalidade trazer para os professores de História o uso tecnológico disponível na escola em suas aulas, buscando mais interação por parte dos alunos, pois o mundo digital é uma ferramenta poderosa para estimular a curiosidade. Trazer os meios tecnológicos para dentro da sala de aula é de suma importância; percebemos que os discentes atuais estão voltados à imagem e não muito ao método tradicional.

Com as transformações tecnológicas, aparecem novas necessidades sociais que se refletem na educação, estabelecendo indagações sobre a função da escola perante a tecnologia.

Essas tecnologias são, obviamente, um benefício. A virtualidade, a representação técnica do real permite traduzir tudo em imagens. A imagem virtual pode tornar visível um pensamento abstrato, um projeto, um conceito, um modelo matemático ou físico, como fórmulas matemáticas, demonstrações de fenômenos: tanto o que não existe na realidade quanto o que ainda não existe, e até mesmo aquilo que não existirá jamais. Permite desenvolver um raciocínio, compreender fenômenos complexos, difundir o conhecimento. Em síntese, a virtualidade nos põe informados (Libâneo, 2002, p. 111).

A importância de haver tecnologias no âmbito escolar que vai muito além disso; são funcionários preparados para a construção de conhecimentos, numa escola em que se produz conhecimento. Como diz Libâneo, as tecnologias são um benefício para todos nós, pois podemos levar o real para dentro da sala de aula. Com isso, surge a obrigação de discussões entre o grupo pedagógico e professores para serem utilizados os recursos tecnológicos no ensino.

Mundo digital

A utilização desenfreada da internet mudou completamente a forma de nos comunicarmos, e a “era digital”, ao mesmo tempo que ajuda, pode vir a atrapalhar o trabalho do professor de História. Afinal, nas redes sociais circulam notícias falsas que os alunos muitas vezes levam para dentro da sala de aula, como o revisionismo que gira em torno do período da ditadura militar brasileira.

Em uma rede social como o Facebook, o consumo dessas informações se potencializa devido à capacidade de compartilhamento. Esse processo, conhecido como viralização, pode atrapalhar o trabalho do professor, uma vez que ele precisa ficar atento a esse problema e procurar alertar os alunos em relação a usos maldosos de informações históricas na internet.

Após a Segunda Guerra Mundial, houve mudanças na sociedade com o aprimoramento das tecnologias de comunicação. Na atualidade, tecnologias digitais foram colocadas em diferentes segmentos da sociedade, mudando até mesmo a maneira de se relacionar com as pessoas, como e-mail e redes sociais, entre outros. Houve transformações na sociedade que impactaram diretamente o modo de trabalhar, as relações sociais, a organização das empresas e até mesmo as relações econômicas.

Nos últimos 30 anos, o rápido desenvolvimento do computador e da internet, combinado com outros avanços tecnológicos, sobretudo no campo das telecomunicações, teve impacto substancial em praticamente todos os ramos da indústria e nas mais distintas atividades profissionais; não se trata apenas de uma transformação técnica, mas sobretudo filosófica e comportamental, na maneira como as pessoas se comunicam e experimentam a realidade (Carvalho, 2014).

O uso de tecnologias pelas pessoas tem sido um novo paradigma bem constante, chegando ao ponto da produção e reprodução de diferentes modos de pensar, comunicar e agir, alterando a vida cotidiana. As escolas, mesmo que não seja de forma espontânea – por serem instituições sociais –, estão passando por essa mudança por causa da evolução das tecnologias, que se disseminaram nas escolas, por exemplo, com as câmeras de vigilância, que são de suma importância e já se tornaram indispensáveis para o monitoramento e a segurança. Há avaliações online em diversas escolas, inclusive nos cursos a distância; são realizadas por meio de computador, celular, tablets e laptops. É pelo smartphone que o cyberbullying acontece com frequência; na maioria das vezes é usado com intuito de assustar, difamar alunos e professores com fotos e vídeos publicados em mídias sociais; aí podemos perceber que muitas vezes a tecnologia é usada para o mal, sem que as escolas tenham meios de impedir esse tipo de prática.

Atualmente, com o uso da internet, é possível saber tudo que está acontecendo no mundo em tempo real; dessa forma, podemos perceber o que o avanço tecnológico proporcionou à sociedade, sem contar que essa ferramenta oferece desafios como comunicação, interatividade, informação e outros mais. Antes era apenas possível através de computadores; agora temos a internet no celular também, a sociedade hoje nem precisa ficar assistindo à TV para saber das notícias: em qualquer lugar que tenha acesso à internet a pessoa consegue ver tudo que está se passando naquele momento e até o que já passou.

Tecnologia no âmbito escolar

Os professores de História usam livros didáticos como referência para a elaboração de atividades a serem usadas na sala de aula com os alunos. Com o surgimento da internet, que virou uma febre no mundo, celulares smartphones, notebooks e tablets, entre outros aparelhos, compartilham notícias falsas em relação a temas de História; isso faz com que se abram formas de assimilar o conhecimento histórico com inverdades, o que dificulta o trabalho do professor na sala de aula. Trazer o complemento de outras fontes, como textos e imagens, juntando com o livro didático, é de grande ajuda para a aula. Até mesmo nos livros didáticos se investe em materiais digitais (são materiais de pesquisa que podem ser encontrados na internet de forma gratuita, há conteúdos com diversos formatos de mídia, como imagens, artigos, vídeos e até mesmo livro em formato digital).

Percebe-se um exemplo dessa era digital no momento em que os alunos quando têm pesquisas a fazer, na grande maioria das vezes, buscam a internet para auxiliá-los em suas pesquisas. Mesmo com a existência dos livros didáticos e bibliotecas, eles preferem navegar na internet, pelo fato de ser “mais rápida a pesquisa”. Tendo em vista que muitos copiam e colam da internet, há uma parte negativa; daí a importância de preparar os alunos para pesquisar. Por não haver computadores suficientes para os alunos na escola, pode-se usar o celular, pois alguns dos alunos possuem esse aparelho; incentivar os alunos a fazer pesquisas em seus smartphones depende de a escola liberar a internet para os alunos. Alguns deles não têm smartphone e outros, quando possuem, podem não ter contratado pacotes de dados.

Mesmo a com a internet liberada, o sinal não é suficiente para atender uma escola. Por isso é importante que a escola invista em equipamentos tecnológicos, como computadores e acesso à internet para todos os alunos. O Google se tornou uma grande ferramenta para os alunos, pelo fato de possuir enorme possibilidade para pesquisar o que quiser. Além disso, a internet possui riqueza de informações, mas não são aproveitadas de maneira correta pelos alunos. Anita Lucchesi, em seu texto “História e historiografia digital: diálogos possíveis em uma nova esfera pública” (2013), faz uma crítica à era digital na historiografia contemporânea que vem sendo debatida desde a metade do século XX.

A autora realça seus argumentos em cima de outras referências para nos alertar de como a mídia digital pode ser ruim para ser objeto de estudo da História. Ela traz uma reflexão sobre o uso da internet e nos mostra que a internet se apoderou da história, pelo fato de ser um mecanismo para pesquisa, em que se encontram várias postagens de trabalhos com temas históricos. Ela cita que existem cidades nos EUA em que em algumas bibliotecas usam essa ferramenta para o uso da pesquisa histórica e que tem autores que defendem esse tipo de ferramenta.

Em meus estágios, percebi que os alunos fazem questionamentos sobre algum assunto abordado pelo professor e têm o teor argumentativo em cima de comentários em redes sociais, em vídeos do YouTube, em função de fake news ou correntes de WhatsApp. Fica claro que, por causa disso, os questionamentos na sala de aula são crescentes.

As TIC passam informações muito mais rápido do que o professor, mas a presença do educador é fundamental na vida do aluno. E o grande desafio para os professores é como se adaptar a essas mudanças; é de suma importância refletir quanto ao significado de ensinar nos dias de hoje, quanto à função dos educadores em diversas linguagens textuais, até mesmo de maneira virtual no ensino e aprendizagem.

É sempre bom lembrar que o uso das tecnologias na educação não nos dá a garantia de qualidade no processo de aprendizagem e ensino, principalmente se diminuir o uso dessa novidade, se os professores não tiverem comprometimento de utilizar de maneira adequada, não vai surtir efeito na aprendizagem do aluno. Esses são alguns dos motivos de maior desafio para a inserção das tecnologias no âmbito escolar. A incorporação das tecnologias nas escolas deve ser vista como um plano da política educacional e com isso inovar as práticas pedagógicas em prol de construir o saber.

Por outro lado, considerar apenas a utilidade dessa nova tecnologia no seu emprego nas atividades do historiador é pouco compreender a respeito do impacto que a informática representa para a disciplina. Nesse ligeiro processo de evolução, o excessivo individualismo que essas novas tecnologias nos proporcionam e a fragmentação das experiências e seu isolamento têm sido um custo excessivamente alto (Figueiredo, 1997, p. 421).

Aline Fabiana de Barros, em seu artigo “O uso das tecnologias na educação como ferramenta de aprendizado”, nos leva a perceber que a tecnologia é uma ferramenta que possibilita melhor contribuição na educação, pelo fato de gerar a comunicação e a interação. No âmbito educacional o educador se transfere de uma função central para mediador, na qual compartilha deveres e traz a construção de conhecimento. O educando larga sua função de receptor e começa a construção de novas respostas; esse espaço e tempo acontecem por meio da tecnologia, ou seja, cabe ao professor direcionar os alunos a fazer o uso tecnológico de maneira correta.

A necessidade de uso das TIC na educação e na sociedade é enorme; a tecnologia vem influenciando cada dia mais a vida humana, pelo fato de trazer mais praticidade e uma comunicação rápida, a qual deixa o estudo independente.

Referências

BARROS, Aline Fabiana. O uso das tecnologias na educação como ferramenta de aprendizado. Semana Acadêmica, 2018.

CARVALHO, Bruno Leal Pastor. Faça aqui o seu login: os historiadores, os computadores e as redes sociais online. The dissemination of scientific knowledge, social networks and historians creating new histories: an interview with Bruno Leal. Depoimento, Rio de Janeiro v. 22, nº 3, p. 1.067-1.079, jul./set. 2015.

FIGUEIREDO, Luciano. História e informática: uso do computador. In: CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. São Paulo: Cortez, 2002.

LUCCHESI, Anita. História e historiografia digital: diálogos possíveis em uma nova esfera pública. XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH, 22 a 26 de julho de 2013.

Publicado em 18 de janeiro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, Marcelo Goulart de Oliveira dos. Tecnologia e o “ensino aprendizagem”. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 21, nº 2, 18 de janeiro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/2/tecnologia-e-o-rensino-aprendizagemr

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