Reciclagem eletrônica: valor de uma rádio na escola usando minitransmissor de rádio com sucatas eletrônicas

Manoel Messias Gomes

Professor da Educação Básica da Escola Estadual Gov. Walfredo Gurgel, em Antônio Martins/RN, mestre e doutor em Ciências da Educação (Emil Bruner World University - USA)

O rádio, desde seu aparecimento, tem se constituído como um veículo de comunicação de massa não apenas pela sua abrangência e capacidade de atingir grandes parcelas de público, mas também pelas facilidades que o seu formato proporciona na veiculação de informações, qualidade que não podia ser encontrada no impresso (Gonçalves & Azevedo, 2004). Refletir sobre a comunicação e a educação é refletir sobre a sociedade globalizada. Nesse sentido, a escola não pode desconsiderar ou negar a presença das mídias no cotidiano dos alunos, professores e funcionários. As novas tecnologias fazem parte do mundo da escola, e o rádio, como as outras mídias eletrônicas, é mais dinâmico, atraente, sedutor e rápido do que a dinâmica escolar, porque a escola da contemporaneidade deixou de ser o local exclusivo do saber. Hoje nos deparamos com diversos saberes e conhecimentos difundidos pelas tecnologias da comunicação que invadem o cotidiano escolar. Um dos desafios da escola é procurar maneiras mais criativas de interação com as linguagens das mídias no contexto escolar, integrando a cultura tecnológica no espaço educativo, desenvolvendo nos alunos habilidades para utilizar os instrumentos dessa cultura. Nesse sentido, é indispensável que a escola repense o trabalho com o rádio, como meio de comunicação de massa e suas possibilidades educativas no espaço escolar, por ser um veículo de fácil acesso e utilizado pela grande maioria da população, observa-se que, o rádio na escola, pode levar o aluno a desenvolver a reflexão sobre a linguagem, além de poder proporcionar lazer nos intervalos das aulas e também servir como veículo de aprendizagem para alunos e professores no ambiente escolar.

Justificativa

Os meios de comunicação possuem grande importância para a sociedade. É por meio deles que acontece o fenômeno da globalização local e mundial. Um desses meios de comunicação é o rádio, considerado o meio de comunicação de massa mais democrático, que, apesar de ter perdido espaço para a TV, continua tendo grande relevância para a comunicação na sociedade. Este projeto foi elaborado para tentar resgatar a importância do rádio como meio de comunicação de massa que pode contribuir para o processo educativo escolar, principalmente no contexto da Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, na cidade de Antônio Martins/RN. Assim, o ponto de partida para este projeto foi a montagem de um minitransmissor que pudesse gerar uma frequência em FM capaz de transmitir sinal para os rádios e celulares de todas as pessoas, alunos, professores e funcionários no ambiente escolar. A partir das orientações de Ferraz (2003), que afirma que o transmissor é o coração do rádio, pois gera sinal eletromagnético que viaja até os aparelhos, o projeto deteve-se na fabricação desse aparelho de forma artesanal, utilizando sucatas eletrônicas de forma reciclável.

Gonçalves e Azevedo (2004), em seu artigo “O rádio na escola como instrumento de cidadania: uma análise do discurso da criança envolvida no processo”, esclarecem que o rádio na America Latina tem exercido importante papel comunicacional por apresentar, nas últimas décadas, uma possibilidade de comunicação das comunidades. As características fundamentais desse veículo, segundo os autores, podem ser resumidas à imediatez em matéria informativa, a força do rádio e a sua rápida capacidade de interagir com o público; e horizontalidade (na América Latina, o rádio é o meio de comunicação massivo que mais tem quebrado a verticalidade das mensagens); aliança urbano-rural: em várias comunidades, o rádio continua sendo o único meio massivo de longo alcance; local (um noticiário de rádio tem mais legitimidade e audiência quando é capaz de converter-se em um canal fluido de comunicação entre as distintas experiências da comunidade, cidade ou região determinada); lugar de encontro: a partir das experiências de participação das comunidades, “iniciam-se outras dinâmicas de participação dentro das programações. O rádio se converte em um ponto de encontro das pessoas e do grupo” (Gonçalves; Azevedo, 2004, p. 2).

No século XXI a educação, muito além de transmitir informações, tem por desafio formar cidadãos que saibam transformar informação em conhecimento e que saibam usar esses conhecimentos em benefício próprio e da comunidade na qual está inserido. A escola, que ao longo dos tempos distanciou-se da vida cotidiana dos seus alunos e da comunidade em seu entorno, busca hoje diminuir essas distâncias. É nesse sentido que o uso do rádio na escola, como instrumento de educação e comunicação, pode contribuir para preencher a lacuna formada entre sociedade e escola, desenvolvendo competências e habilidades como “capacidade de síntese, de raciocínio, de verbalização de ideias etc., que viabilizem às comunidades escolares condições de realizar um projeto de vida e de sociedade melhor” (Gonçalves; Azevedo, 2004, p. 14).

Ainda de acordo com essas autoras, é a partir da compreensão do conceito de cidadania que se insere o debate sobre o papel do rádio nas escolas, pois, dependendo do grupo social em que a escola está inserida e da forma como esse meio de comunicação for conduzido, ele poderá vir a ser importante para a construção de mecanismos de libertação. É nessa perspectiva construtiva e reflexiva que o projeto do rádio móvel produzido com sucatas eletrônicas por alunos da classe da EJA no turno noturno da Escola Estadual Gov. Walfredo Gurgel está inserido no contexto escolar, realizando novos produtos comunicacionais, transmitindo novas ideias e conceitos com palavras inerentes ao seu contexto linguístico.

Dessa forma, nas palavras de Gonçalves e Azevedo (2004), a comunicação deve ser percebida não do ponto de vista tradicional, nos seus usos políticos e culturais cotidianos, nem como instrumento para abrir mercados consumidores e favorecer interesses econômicos e políticos vinculados, direta ou indiretamente, aos donos dos veículos de comunicação, mas como um instrumento de luta por melhoria da qualidade educacional, de fala dos alunos, professores e comunidade escolar, de instrumento que capacita os cidadãos no exercício de sua cidadania, que venha contribuir para a transformação positiva da educação, tanto na sala de aula como no entorno da escola, além de contribuir, é claro, para a comunicação de ideias, informação e lazer na escola.

Ainda com base nas informações de Gonçalves e Azevedo (2004, p. 16), que esclarecem que a ação dialógica do rádio na escola constitui-se em elemento fundamental, reduzindo distâncias físicas e barreiras emocionais entre professores e alunos, alunos e alunos, direção e alunos, professores e professores e entre funcionários, alunos e professores. Um veículo cada vez mais dialógico, que passa a ocupar o ambiente escolar, permitindo que crianças, jovens e adultos desenvolvam escuta reflexiva, fala questionadora e capacidade criativa de transmitir significados.

O rádio na escola propõe à comunidade escolar o uso dos meios de comunicação (neste caso o rádio) como acrescentador de sabor às relações pedagógicas tradicionais, um veículo facilitador do movimento de ensino-aprendizagem, ampliando as formas de atuação do educador e do educando na relação pedagógica, um provedor de formas horizontais de comunicação, diminuindo as distâncias físicas e aproximando os atores da comunidade escolar.

Zeneida Alves de Assumpção (s/d), em seu artigo “A rádio na escola: uma prática educativa eficaz”, sugere que a escola da contemporaneidade deixou de ser o local exclusivo do saber. E que hoje “nos deparamos com diversos saberes e conhecimentos, difundidos pelas novas tecnologias de comunicação que invadem o cotidiano escolar” (p. 6). Segundo a autora, um dos desafios da escola hoje é procurar maneiras mais criativas de interação com as linguagens das mídias no contexto escolar, interagindo a cultura tecnológica no espaço educativo, desenvolvendo nos alunos habilidades para utilizar os instrumentos dessa cultura. Um desses instrumentos tecnológicos é o rádio, levando o aluno a desenvolver a reflexão sobre a linguagem. Portanto, para que o rádio desempenhe papel educativo na escola, é necessário que educador e educando tenham a compreensão da função desse meio de comunicação como meio de informação e lazer na escola e em seu entorno.

Resultados e discussão

Após a realização de testes dentro do ambiente escolar, a eficiência do minitransmissor de rádio FM foi comprovada, tendo um alcance, em média, de cem metros de diâmetro, o que equivale a todo o entorno do prédio da escola.

Foram aplicados questionários para verificação da necessidade de um transmissor de rádio na escola que pudesse contribuir para a educação e no lazer dos que fazem a Escola Estadual Gov. Walfredo Gurgel; seus resultados foram analisados e expostos graficamente. Os tópicos pesquisados foram: se ouviam rádio e suas preferências musicais; também foi perguntada a frequência com que ouvem rádio, se ouvem noticiários radiofônicos etc. e quais os benefícios de uma rádio em nossa escola, sua importância como veículo de comunicação de massa e como o rádio pode contribuir com o processo educativo. Por fim, foi averiguada a aprovação de uma rádio em nossa escola. Os resultados da pesquisa estão expostos graficamente para que possam ser observados e discutidos.

Os resultados obtidos nesta pesquisa demonstraram que é possível construir um minitransmissor de rádio móvel a partir de sucatas recicláveis. Também foi demonstrado que esse aparelho pode ser perfeitamente utilizado dentro do espaço escolar, com um projeto de rádio escolar, já que 92,5% do público escolar apoia a ideia de uma rádio na escola e 90% dos entrevistados acreditam que essa rádio pode vir a beneficiar a escola, principalmente trazendo informações de cunho educativo, informacional e de lazer no ambiente escolar.

A respeito do programa piloto que foi realizado no ambiente escolar, 50% dos pesquisados consideraram bom e 42,55% consideraram excelente, perfazendo o percentual total de 92,5% dos que apoiam a ideia da rádio na escola.

Gráfico 1: Frequência de uso do rádio

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

De acordo com o Gráfico 1, podemos perceber o poder do rádio como meio de comunicação de massa e sua capacidade de formar gostos e opiniões, pois é um meio de comunicação bastante ouvido por adolescentes, jovens e adultos, na escola ou fora dela.

Gráfico 2: Rádio traz benefícios?

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 2 mostra o quanto esse meio de comunicação pode trazer benefícios para a aprendizagem no ambiente escolar, pois 90% dos que responderam aos questionários concordam que o rádio na escola pode beneficiar ou contribuir para a melhoria da aprendizagem. Nesse sentido, Gniech e Guilhermeti (2013) esclarecem que, “além de tornar mais atrativa e dinâmica a aula para o professor e para o aluno, possibilita uma interação ampla no que diz respeito à troca de experiências, bem como maior compreensão do conteúdo abordado”.

Gráfico 3: Os benefícios de uma rádio escolar

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 3 representa a opinião dos alunos pesquisados sobre os benefícios que uma rádio pode trazer para a escola. Podemos perceber que são variadas as opiniões, e os benefícios vão desde as informações gerais da escola até o tratamento de temas sociais, passando por ajudar na aprendizagem, na descontração e até na motivação dos alunos na escola. Nesse sentido, os mesmos Gniech e Guilhermeti esclarecem que o rádio não é só um meio eficaz de dinamizar a aprendizagem, “mas também possui função de socializar o aluno, a fim de que ele possa ser plenamente inserido no mundo midiático em que vivemos” (Gniech; Guilhermeti, 2013, p. 15).

Gráfico 4: Importância da participação numa rádio na escola

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 4 mostra que os alunos acreditam que o rádio pode contribuir para o desempenho do aluno no ambiente escolar, principalmente se for usado de maneira crítica e de forma construtiva por toda a comunidade escolar.

Gráfico 5: Interesse em ter uma rádio escolar

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 5 demonstra o quanto o rádio é importante como meio de comunicação de massa. Percebe-se o quanto os alunos que responderam aos questionários gostariam da existência de uma rádio na escola e da sua importância para a comunidade escolar.

Gráfico 6: Opinião dos alunos sobre a qualidade da rádio

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 6 representa a opinião dos entrevistados sobre o que acharam do projeto da rádio na escola. Nesse sentido, podemos perceber que 97% afirmaram que a ideia é excelente, boa ou regular e somente 3% não gostaram da ideia. Isso mostra o quanto o rádio é importante como meio de comunicação na vida das pessoas.

Gráfico 7: Apoio à implantação da rádio na escola

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 7 indica o quanto a ideia do projeto de rádio na escola é importante para toda a comunidade escolar. Nessa perspectiva, Gniech e Guilhermeti (2013) afirmam que, com o rádio na escola, “será possível desenvolver uma atividade diferente que estimulará a criatividade; sem que eles percebam, estará auxiliando-os na oralidade, na escrita e na relação com os outros alunos”.

Gráfico 8: Programação preferida

Fonte: Pesquisa na escola, 2014.

O Gráfico 8 indica o quanto o rádio pode ser usado de forma diversificada em sua programação, pois poderá ser utilizado para todos os gostos. Especificamente no cotidiano da escola, Gniech e Gulhermeti (2013) afirmam que, “com isso, os alunos, professores e toda a comunidade escolar acabam aprendendo que existem outras formas de produzir comunicação, além do modelo clássico”.

Nesse sentido, Gniech e Guilhermeti (2013), em seu artigo “Rádio na escola”, sugerem que todos sabem da importância das atividades diversificadas na educação. Sendo assim, o rádio na escola pode ser o primeiro passo para a mudança no educar e ser educado e uma excelente oportunidade para aproximar a comunidade escolar, realizando uma parceria entre a educação e a comunicação que, se trabalhada de forma correta, favorece o exercício de relacionamentos igualitários e colaborativos entre todos os membros da comunidade educativa, envolvendo professores, alunos, direção e funcionários. Sendo assim, a utilização do rádio no meio escolar, além de tornar mais atrativa e dinâmica a aula para o professor e para o aluno, possibilita uma interação ampla no que diz respeito à troca de experiências e maior compreensão do conteúdo abordado. Portanto, segundo esses autores, cabe ao professor ofertar os meios que serão desenvolvidos na sala de aula e a incorporação de atividades envolvendo o rádio, sendo ele um veículo de comunicação de massa e “como tal atinge grande número de pessoas, de forma mais atrativa, uma vez que é a audição um dos sentidos que mais prendem a atenção e despertam interesse” (Gniech; Guilhermeti, 2013, p. 15).

Conclusões

Nessa perspectiva, observamos que os benefícios que esse pequeno aparelho pode trazer também devem ser destacados, pois, além de promover o reaproveitamento do lixo eletrônico na sua construção (já que se trata de um aparelho construído totalmente com material de sucata eletrônica), leva ao reaproveitamento e à reciclagem de material que muitas vezes polui o ambiente, principalmente o solo e os lençóis freáticos; dessa forma, pelo menos uma parte do material é reaproveitado, reciclado e reutilizado na construção de um veiculo de comunicação de massa, que pode e deve contribuir para beneficiar a educação e o lazer no ambiente escolar.

Nesse sentido, a implantação de uma rádio na escola, com esse minitransmissor construído com materiais de sucata eletrônica, além de lições de educação ambiental, como reciclagem e reutilização de materiais eletrônicos, traz também grandes benefícios para a aprendizagem escolar, já que, com a rádio na escola, é possível gerar informações que podem se transformar em conhecimento e aprendizagem significativa para alunos, professores e a comunidade escolar.

Diante do exposto, conclui-se que a reciclagem de material de sucata eletrônica para a construção de um minitransmissor de rádio FM no ambiente escolar como ferramenta de informação, conhecimento e lazer pode ser um caminho que contribui para uma consciência ambiental sustentável e para incentivar uma educação melhor e mais libertadora.

Referências

ASSUMPÇÃO, Zeneida Alves. A rádio na escola: uma prática educativa eficaz. Ponta Grossa: Departamento de Comunicação da UEPG, s/d.

FERRAZ, Henrique. Como funciona um rádio FM. Revista Eletrônica, São Carlos, nº 22, out./dez. 2003. Disponível em: http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_22/radio.html Acesso em: jul. 2014.

GONÇALVES, Elizabeth Moraes; AZEVEDO, Adriana Barroso. O rádio na escola como instrumento de cidadania: uma análise do discurso da criança envolvida no processo. Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional de São Bernardo, ano 1, nº 2, jul./dez. 2004.

GNIECH, Cristiane Rafaela; GUILHERMETI, Paulo. Rádio na escola. Guarapuava: Unicentro, 2013.

ONGARO, Viviane. Rádio-escola como prática de uma educação libertadora: estudo de caso no Centro de Socioeducação de Curitiba. Curitiba: UFPR, 2011. Disponível em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/M11_viviane%20ongaro.pdf. Acesso em: ago. 2014.

Publicado em 31 de maio de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

GOMES, Manoel Messias. Reciclagem eletrônica: valor de uma rádio na escola usando minitransmissor de rádio com sucatas eletrônicas. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 20, 31 de maio de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/20/reciclagem-eletronica-valor-de-uma-radio-na-escola-usando-minitransmissor-de-radio-com-sucatas-eletronicas

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