Mudança radical na Educação Infantil: o brincar através das telas dos aparelhos eletrônicos

Lucimar da Silva Pereira Junior

Licenciado em Pedagogia (Isepam), especialista em Atendimento Educacional Especializado; Lúdico e Psicomotricidade na Educação Infantil (FESL); licenciando em Ciências Sociais (Unicsul)

Considerações iniciais

A pandemia da covid-19 provocou profundas mudanças em diversas áreas do cenário nacional e internacional. Além de afetar a questão da saúde pública e econômica, outros setores foram afetados por essas mudanças ocorridas abruptamente, e a educação encontra-se como um dos setores mais afetados devido à pandemia, tendo graves consequências, afetando até mesmo o calendário e a qualidade do ensino.

No início da quarentena, no primeiro semestre do ano de 2020, os prefeitos e governadores ordenaram a suspensão dos cursos e aulas presenciais na rede pública e privada. Vários estados brasileiros adotaram medidas preventivas contra o coronavírus nas escolas. De maneira geral, os cursos e as aulas presenciais nas redes estaduais, municipais e privadas foram gradativamente encerrados. Com isso, as escolas brasileiras, às pressas, tiveram que ser fechadas, tiveram que se adaptar à nova realidade, criando um novo ambiente para os alunos, para os pais e responsáveis pelas crianças e até mesmo para os professores.

Com as escolas fechadas, os alunos em casa e o conteúdo curricular deixado para trás devido às circunstâncias especiais causadas pela covid-19, o período do isolamento social mudou a dinâmica dos espaços de ensino e aprendizagem. Além disso, para contornar esse problema que afeta o território brasileiro e a fim de reduzir a evasão e salvaguardar o direito à educação, métodos alternativos têm sido adotados. A partir disso, uma das alternativas fornecidas pelo governo para o retorno das aulas em período de pandemia é fornecer aulas remotas. Assim, para se adaptar a esse novo momento, as escolas passaram a realizar inúmeras ações para se manter em funcionamento e manter o vínculo com os alunos.

Porém, a medida não é tão simples quanto parece; para gerenciar os cursos escolares remotamente, a maioria das instituições de ensino do país aderiu à educação no modelo remoto. A motivação para os alunos se adaptarem a esse formato é que ainda existia grande incerteza quanto à possibilidade de retorno aos cursos e aulas presenciais. Portanto, desde março de 2020 o ensino remoto se tornou uma realidade para muitos alunos em todo o país. No entanto, as aulas remotas não estão disponíveis para todos. Embora a opção tenha se mostrado “conveniente” para algumas escolas de segmentos privados, pela existência de mais recursos para a oferta das aulas, ainda é uma realidade distante para alunos de escolas públicas. Muitas famílias não podem fornecer suporte técnico ou conexão com a internet. Aqueles que têm apoio e acesso muitas vezes vivem em ambientes de aprendizagem precários. Isso aumenta ainda mais a lacuna social e faz com que um grande número de alunos de escolas públicas abandone a escola.

Durante a pandemia, os desafios enfrentados pelos professores requerem um profundo processo de reformulação das práticas escolares e métodos de ensino. O ensino remoto tornou-se uma saída para os alunos continuarem aprendendo. No entanto, devido à necessidade de suspensão dos cursos presenciais, essa metodologia para a Educação Infantil tem causado muitos problemas, pois é considerada uma das etapas mais importantes do processo educacional brasileiro. O presente trabalho tem a finalidade de discutir essa mudança abrupta que ocorreu no cenário da educação no Brasil, mais precisamente no segmento da Educação Infantil posterior à propagação do vírus da covid-19, mantendo-se presente no território brasileiro.

Além da explanação a respeito dessa temática, o foco principal da presente pesquisa visa abordar o ato de brincar das crianças por meio das telas dos aparelhos eletrônicos, com o uso dos tablets, celulares e computadores. Isso porque, com a circulação do vírus entre a população brasileira e de acordo com as medidas de proteção alertando para o distanciamento social entre crianças, jovens e adultos de qualquer faixa etária, as brincadeiras que eram ofertadas de forma presencial tiveram que ser adaptadas à realidade momentânea de isolamento e distanciamento social.

Educação Infantil: o início da Educação Básica no Brasil

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) mostra que o período da Educação Infantil é considerado a “primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social” (Brasil, 1996, Art. 29). E complementa em seu Art. 30 dizendo que “a Educação Infantil será oferecida em:

  1. creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
  2. pré-escolas, para as crianças de quatro a cinco anos de idade”.

Sendo assim, a Educação Infantil trabalha com crianças bem pequenas, buscando conhecer seus interesses e principalmente suas necessidades. Consequentemente, essa etapa da educação, segundo Oliveira, Araújo Neto e Oliveira (2020, p. 356),

tem como finalidade o desenvolvimento absoluto das crianças até cinco anos de idade e é nessa etapa que as crianças descobrem novos valores, sentimentos, costumes, ocorrendo também o desenvolvimento da autonomia, da identidade e a interação com outras pessoas.

Por isso, nessa faixa etária visa-se o desenvolvimento das capacidades do ser, estar, existir, viver, conviver e interagir dos pequenos, fortalecendo a atitude de respeito e confiança para promover o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e psicomotor das crianças.

Por se tratar do primeiro contato da criança com a vida escolar, nas diversas atividades aplicadas nesse segmento de ensino devem ser priorizados os momentos de brincadeiras, da ludicidade, a criação e o fortalecimento de vínculos afetivos e a interação com o outro, fundamental para a construção de uma personalidade saudável e feliz. Dessa forma, “a base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano [...] em relação ao outro e a si próprio” (Brasil, 1998, p. 24). Portanto, as atividades assistenciais e educativas adotam uma postura pedagógica que permeia todas as atividades, com base no conceito de respeito à diversidade, aos antecedentes e à realidade das crianças e estabelecem uma visão integral do desenvolvimento infantil.

Além do mais, diferentemente dos demais níveis da Educação Básica, a Educação Infantil não possui currículo formal. Por outro lado, desde 1998 segue o modelo proposto pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), utilizando-o como

um conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam a contribuir com a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras (Brasil, 1998, p. 13).

Por isso, ensinar as crianças a ler e escrever não é na primeira infância. Nesse estágio, elas não estão neurologicamente maduras, a menos que a alfabetização seja espontânea.

A respeito desse período da Educação Básica, Pereira Junior e Machado (2021) enfatizam que

é nesse momento escolar que as crianças começam a interagir e descobrir o mundo à sua volta, fora do seu ambiente familiar, fazendo amigos e aprendendo a conviver e respeitar as diferenças culturais. Dessa forma, o ambiente escolar da Educação Infantil é o primeiro local em que as crianças terão contatos fora de suas zonas de conforto e passarão a socializar com outras crianças e adultos de forma mais intensa e frequente.

Com base nessa informação, salienta-se que um dos objetivos da Educação Infantil é desenvolver habilidades e expandir as relações sociais nas interações com crianças e adultos, compreender o seu próprio corpo, brincar e se expressar nas mais diversas formas, como comunicar-se em diferentes linguagens etc. Desse modo, no processo de acumulação de conhecimento, as crianças utilizam as mais diferentes linguagens e exercitam sua capacidade de ter percepções e suposições únicas sobre as coisas que procuram descobrir. Nessa perspectiva, as crianças constroem conhecimentos a partir da interação com as outras pessoas e com o meio em que vivem (Brasil, 1998). À vista disso,

na Educação Infantil se trabalham as potencialidades da criança como ser social, valorizando seus conteúdos e apresentando as cores, formas, letras, palavras, números, quantidades, sons, rostos e gostos. Por conseguinte, fazemos uso dos sentimentos e sensações das crianças que, ao se misturarem, acabam ocasionando um mundo de experiências, descobertas e de possibilidades diversas para elas. Por consequência, as mesmas passarão a desenvolver necessidades básicas que, por sua vez, serão fundamentais para esse indivíduo durante todo o processo de ensino-aprendizagem (Pereira Junior; Machado, 2021).

Com base nisso, observa-se que o principal papel da Educação Infantil é estimular as diferentes áreas do desenvolvimento infantil, que por sua vez tendem a aumentar a curiosidade da criança, visto que, Segundo Kishimoto (2010, p. 1), “mesmo pequena, sabe muitas coisas: toma decisões, escolhe o que quer fazer, interage com pessoas, expressa o que sabe fazer e mostra, em seus gestos, em um olhar, uma palavra, como é capaz de compreender o mundo”. Por isso, é vital que as crianças se sintam felizes na escola.

Partindo desse pressuposto, segundo Grispino (2006), percebe-se que a Educação Infantil tem se mostrado essencial para uma aprendizagem efetiva, visto que ela socializa, desenvolve habilidades e a partir disso melhora o desempenho escolar futuro, proporcionando às crianças melhores resultados no período do Ensino Fundamental. Portanto, a Educação Infantil “é o verdadeiro alicerce da aprendizagem, aquela que deixa a criança pronta para aprender” (Grispino, 2006).

Benefícios da ludicidade na Educação Infantil

Para início de conversa, devemos ter em mente que

as crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas, sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação (Brasil, 1998, p. 21-22).

Diante disso, podemos perceber que o ato de brincar faz parte da natureza das crianças e é a maneira mais fácil de entender e compreender o mundo e a si mesmo. Com a utilização de jogos, brinquedos e brincadeiras durante seu processo de desenvolvimento, as crianças podem desenvolver seus sentidos, aprender a falar palavras e expressar seus pensamentos, compartilhar com outras pessoas, liberar a criatividade, expressar suas emoções e aguçar sua imaginação. Por isso, compreender a função de jogos, brinquedos e brincadeiras no processo educacional é orientar a criança na descoberta lúdica de sua cognição, emoções, relacionamento interpessoal e engajamento social. Consequentemente, esses elementos que envolvem o ato do brincar, por sua vez, levam as crianças ao conhecimento da fala, da escrita e da matemática (Grispino, 2006).

Peranzoni, Zanetti e Neubauer (2013) mencionam que “é brincando que a criança exercita suas potencialidades, provoca o funcionamento do pensamento e adquire conhecimento social e emocional”. Além disso, “através dos jogos as crianças se comunicam com o mundo expressando-se, descarregando suas energias, interagindo com o meio onde vivem e com sua e cultura” (Peranzoni; Zanetti; Neubauer, 2013).

Assim, no processo educacional das crianças, com a utilização de jogos, brinquedos e brincadeiras – enfim, do ato de brincar –, é possível introduzir uma série de conhecimentos, atitudes e comportamentos durante o processo de ensino-aprendizagem na Educação Infantil. Para isso, “é preciso que o professor tenha consciência de que na brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa” (Brasil, 1998, p. 29). Nessa perspectiva, o mesmo documento enfatiza que

o professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano (Brasil, 1998, p. 30).

Além disso, o educador desempenha papel muito importante no crescimento das crianças; portanto, é necessário ter uma atitude positiva ou prospectiva em relação aos jogos, ou seja, observar quando as crianças estão brincando para construir conhecimentos sobre as atividades realizadas. Por isso, é necessário deixar espaço e tempo suficientes para o desenvolvimento de diferentes modalidades de jogos e disponibilizar materiais suficientes em quantidade e qualidade para que cada criança seja respeitada dentro de seus limites (Peranzoni; Zanetti; Neubauer, 2013), pois, “no ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar, as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando” (Brasil, 1998, p. 27).

A partir disso, os educadores devem sempre valorizar as atividades realizadas pelas crianças, se interessar por elas e elogiar suas realizações e esforços. O maior estímulo que pode proporcionar é brincar com elas, acompanhar sua evolução, novas aquisições e relacionamento com outras crianças e adultos (Peranzoni; Zanetti; Neubauer, 2013). Os jogos e as brincadeiras envolvem e mobilizam o ser humano, capacitando-o a realizar atividades com maior espontaneidade, imaginação, criatividade, percepção e emoções, tornando-as significativas.

Sendo assim, é por meio da brincadeira que os professores obtêm informações valiosas sobre os alunos, além de estimulá-los à criatividade, autonomia, interação com os pares, na construção do raciocínio lógico-matemático e a representação do mundo e das emoções, contribuindo assim para a compreensão e desenvolvimento do universo infantil (Oliveira; Araújo Neto; Oliveira, 2021).

Por conseguinte, percebe-se que as crianças adquirem muitos benefícios por meio de movimentos lúdicos. Além de ser a forma mais fácil de expressar, eles permitem que os professores desenvolvam com naturalidade as habilidades motoras, cognitivas e emocionais delas. Por meio das brincadeiras, as crianças podem atender a algumas de suas necessidades físicas, psicológicas e sociais mais básicas. Então, segundo Pereira Junior e Machado (2021), a escola desempenha papel fundamental nesse momento da Educação Infantil para despertar a percepção das crianças sobre o mundo dinâmico em que vivem. Kishimoto (2010) expõe que o ato do brincar é uma espécie de ação livre, aparece a qualquer momento, iniciado e realizado pela criança; faz as pessoas felizes, não exige o produto final como condição; relaxa, participa, ensina regras, linguagem, desenvolve habilidades e apresenta a criança para o mundo imaginado.

Pandemia da covid-19 e a mudança radical no cenário da Educação Infantil

A Educação Infantil é entendida em amplo sentido, pois é nesse período da Educação Básica que todos os métodos educacionais experimentados pelas crianças pequenas na família e na comunidade, mesmo antes de atingirem a idade escolar obrigatória, podem ser incluídos na vivência escolar. As atividades aplicadas nesse segmento de ensino têm o propósito de estimular o desenvolvimento cognitivo e intelectual das crianças, a fim de prepará-las para os processos mais profundos de aprendizado – como a alfabetização, por exemplo, além de serem totalmente interativas, relacionais, afetivas e sociáveis. Nesse sentido, entende-se que trabalhar a ludicidade nessa etapa da educação é um meio primordial, visto que trabalhar com o aspecto lúdico na Educação Infantil possibilitará que as crianças utilizem ao mesmo tempo diferentes tipos de linguagens, facilitando a apropriação de significações e conceitos.

Entretanto, usar a brincadeira como um recurso de ensino requer que os professores estudem incontáveis tipos de ​​jogos e brincadeiras infantis e suas relações com as contribuições teóricas, explorem recursos e materiais, organizem objetivos e projetem cuidadosamente espaços e ambientes que conduzam as atividades educacionais e de entretenimento. Portanto, brincar e educar devem andar de mãos dadas; a proposta do brincar é promover uma aprendizagem significativa na prática educativa, é integrar saberes e resguardar os direitos e a particularidade das crianças. O professor precisa entender que não basta propor um jogo ou uma brincadeira que tem a finalidade apenas de ensinar, porque ela não despertará o interesse do aluno. Dessa forma, a criança não vai querer participar com a mesma intensidade e pode rejeitar a atividade.

Por outro lado, com a suspensão das aulas presenciais, a pandemia do novo coronavírus trouxe diversas mudanças para o cenário da Educação Infantil. Isso porque o fato de não ser possível ter contato presencial com os alunos acaba tornando tudo mais difícil. Sem dúvida, esse segmento da Educação Básica foi um dos mais impactados diante da situação.

Além do mais, durante o período de isolamento social inúmeras dúvidas surgiram em relação à necessidade de trabalhar com o ensino remoto e sobre como é possível ter aulas virtuais com crianças tão pequenas durante esse período pandêmico. Embora as crianças tenham divergências sobre o uso de tablets e celulares, muitos estudos têm mostrado que a interação moderada com dispositivos pode trazer benefícios para as crianças. Hansen (2020) explica que nesse período escolar infantil a situação é bem diferente. Aulas e encontros remotos também foram incentivados, mesmo em condições de algum desconforto, pois é sabido que, além de ineficaz, a exposição de crianças pequenas às tecnologias digitais é fortemente desencorajada pelos profissionais de Saúde e Educação.

Diante disso, a utilização dos aparelhos tecnológicos tem deixado muitos professores da Educação Infantil à deriva, sem saber o que e como fazer. A partir disso, surgiram alguns questionamentos: como aplicar as atividades da Educação Infantil presencial durante o período de isolamento social? Como trabalhar a ludicidade com os pequenos da Educação Infantil? Como adaptar atividades para aparelhos celulares, tablets e computadores? Como incluir os responsáveis das crianças pequenas durante as aulas remotas? Como trabalhar com os jogos e brincadeiras pensando no desenvolvimento pleno das crianças? Essas e outras questões permeiam o cenário da Educação Infantil a respeito do uso das telas dos aparelhos eletrônicos e como trabalhar com a ludicidade por meio deles.

Percebe-se então que os professores da Educação Infantil, familiares, tutores e todos os responsáveis por crianças pequenas têm trabalhado muito para que as atividades e os conteúdos cheguem aos alunos e, por sua vez, “quebraram a cabeça” e proporcionaram vários tipos de atividades recreativas, porque a proposta pedagógica da Educação Infantil prevê a realização de jogos, brincadeiras e atividades que divertem e ensinam ao mesmo tempo. Obviamente, todas as interações emocionais e sensoriais que os professores promovem pessoalmente em sala de aula não acontecem da mesma forma que no ambiente virtual. Porém é importante utilizar esses recursos em aulas remotas para manter o contato entre crianças e professores, pois o relacionamento interpessoal na Educação Infantil é muito importante.

Claro, a execução do evento é diferente. Na maioria dos casos, a família ou seu responsável ajudará a criança a resolver o problema. É comum que os familiares não tenham certeza sobre a nova tarefa de instruir os alunos nas atividades escolares. No entanto, esse tipo de interação é muito valioso e pode ser utilizado com métodos familiares para trazer mais autoestima, autoconfiança e resiliência para as crianças. Por isso, é importante compreender que, nessa situação de isolamento social, é importante rever e adaptar-se à dinâmica familiar para que os alunos tenham os adultos e possam recorrer a eles quando precisarem de ajuda. A participação e união da família e da escola para aliviar essa barreira de aprendizagem são essenciais. O efeito desse tipo de ensino a distância depende do contato fora da escola entre os responsáveis e professores. Isso é especialmente verdadeiro para as crianças na Educação Infantil.

Assim, nesse período de pandemia surgiu um cenário educacional desafiador para todos os envolvidos de forma direta e indireta com as questões educacionais. Assim, na medida em que as atividades se transformam em experiências, é necessário dar aos responsáveis a ideia de que os exercícios de ouvir, falar, pensar e imaginar fazem parte da educação das crianças. É importante combinar as atividades sugeridas com a situação real da criança, procurar entender com os pais e responsáveis ​​quais utensílios do dia a dia podem ser utilizados para a prática recomendada. O mais importante é estabelecer um programa de atividades fornecido pelo professor no qual essas atividades diárias podem construir laços entre as crianças, a família, os professores e a instituição de ensino. Então as leituras, os jogos, as brincadeiras e os desenhos, entre outras atividades, auxiliarão o desenvolvimento do indivíduo presente nesse período da Educação Infantil. A partir disso, “as atividades lúdicas e práticas (como cantar, dançar, desenhar, construir brinquedos) foram consideradas as mais relevantes para as crianças pequenas na atividade online” (Anjos; Francisco, 2021, p. 131). Contudo,

na atividade online, o canto coletivo mostrou-se inviável, pois todas as crianças ficavam com áudio aberto, o que causou muito barulho e o canto ficou inaudível. O número de crianças por sala também foi um fator crítico, tendo sido possível fazer as atividades com poucas crianças, para viabilizar o contato dx professorx com todxs (Anjos; Francisco, 2021, p. 131-132).

A nossa opção pelo uso do “x” no final de palavras que denotam gênero às pessoas está relacionada a dois motivos: o primeiro, em relação à língua portuguesa brasileira, em que, ao tratar de forma binária os gêneros, contribui para a prevalência de construções linguísticas com o modo masculino genérico. Em segundo lugar, a opção também se dá por motivos de acessibilidade, pois nem sempre os programas ledores usados em artefatos tecnológicos conseguem decodificar alguns sinais gráficos ou de pontuação – tal como o uso de barras, quando se quer abreviar “todos e todas”, usa-se “todos/as” – e isso pode prejudicar a leitura de pessoas com deficiência visual ou cegas (Anjos; Francisco, 2021, p. 132-136).

Por esse motivo, Kim (2020, p. 156, apud Anjos; Francisco, 2021, p. 132) explica que

the ratio between a teacher and the number of children will be critical in distance education. Synchronous online teaching limits the number of children for several reasons: (a) only one person can speak because an audio communication tool allows us to hear participants’ voices only one at a time; (b) a teacher can view only a limited number of children when sharing a screen to present visual materials; (c) young children cannot be separated online for group work or ‘turn and talk’ because they cannot control the online features for themselves and a teacher cannot supervise different groups in breakout rooms at the same time. Therefore, synchronous online teaching will work better with a small number of the children so that each child has enough opportunity to share and interact. Online teaching in this study worked very well with four children, aged 4–5 years, but it could also be possible with six to eight children, as long as the teacher can manage the processes to engage this number effectively.

(A proporção entre o professor e o número de crianças será crítica na educação a distância. O ensino online síncrono limita o número de crianças por várias razões: (a) apenas uma pessoa pode falar porque uma ferramenta de comunicação de áudio nos permite ouvir as vozes dos participantes apenas uma de cada vez; (b) um professor pode ver apenas um número limitado de crianças ao compartilhar uma tela para apresentar materiais visuais; (c) crianças pequenas não podem ser separadas online para trabalho em grupo ou "virar e falar" porque elas não podem controlar os recursos online por si mesmas e um professor não pode supervisionar grupos diferentes em salas de descanso ao mesmo tempo. Portanto, o ensino online síncrono funcionará melhor com um pequeno número de crianças, de modo que cada criança tenha oportunidade suficiente para compartilhar e interagir. O ensino online neste estudo funcionou muito bem com quatro crianças, com idades entre quatro e cinco anos, mas também poderia ser possível com seis a oito crianças, desde que o professor possa gerenciar os processos para envolver esse número de forma eficaz) (Kim, 2020, p.156, traduzido por Anjos; Francisco, 2021, p. 132).

À vista disso, pela compreensão da explanação do texto citado, nota-se que trabalhar com jogos e brincadeiras, ou seja, com as atividades lúdicas pelas telas dos aparelhos eletrônicos com crianças pequenas durante as aulas a distância é de fato difícil, desgastante, desafiador e preocupante para os professores, principalmente no aspecto da Educação Infantil.

Embora seja até fácil visualizar como os jogos e as brincadeiras podem ser utilizados em sala de aula na Educação Infantil, porém, torna-se difícil imaginar a mesma situação no ensino remoto devido à situação emergencial. Mesmo as aulas sendo ofertadas dessa maneira, é possível aos professores criar atividades ricas para esse segmento da educação, porque as atividades lúdicas não são apenas diversão para as crianças, são também uma oportunidade de se conectar com elas e despertar a alegria no processo de ensino-aprendizagem. Porém muitas mudanças e ajustes feitos nesse período que estamos vivendo de forma coletiva tornam a prática um pouco inconveniente. Dessa forma, todos os envolvidos exigem grande esforço: escola, professores, pais e responsáveis.

Contudo, como há cenas novas e em constantes mudanças a cada dia devido à situação pandêmica na qual nos encontramos, entender como os professores utilizam os jogos e brincadeiras no processo de ensino-aprendizagem e, por conseguinte, compreender até onde essas atividades lúdicas precisam ser mantidas na sua forma tradicional é tarefa indispensável para os professores. Por isso, quando é necessário realizar jogos educativos remotamente por meio das telas dos aparelhos eletrônicos, os educadores passam a pensar e a organizar a estrutura de suas sugestões e atividades pedagógicas de forma cada vez mais sensível e entusiasmada para as crianças, sempre levando em consideração cada contexto familiar.

Com base nisso, jogos e brincadeiras no ambiente familiar estão se tornando cada vez mais importantes para as crianças, e os pais e responsáveis passaram a ter a oportunidade de participar de forma mais ativa e presente na educação das crianças e podem se tornar aliados da escola. Assim, podem desempenhar o papel da escola fornecendo roteiros de atividades elaborados para promover o crescimento das crianças, mas lembrando que precisam estar sempre sob acompanhamento e direcionamento dos professores. Kishimoto (2010, p. 6) menciona que

as práticas pedagógicas devem possibilitar a expressão lúdica durante as narrativas, a apreciação e a interação com a linguagem oral e escrita, para que a criança possa aproveitar a cultura popular de que já dispõe e adquirir novas experiências pelo contato com diferentes linguagens: 1. falada, que inclui a conversação diária, músicas cantadas, contar e ouvir histórias, brincar com jogos de regras, com jogos imitativos, ver e/ou ouvir TV, vídeos, filmes; 2. escrita, pelo uso de ambiente impresso ― livros, cartazes, letras, guias de programação de TV, revistas, jornais, embalagens de brinquedos e alimentos; 3. visual, que requer ver e criar desenhos, construções tridimensionais, ilustrações, animação, retrato e imagens móveis, TV, filmes; 4. combinação de linguagens visual/escrita/falada, com base em equipamentos que utilizam a tela como meio de expressão e possibilitam a interação entre máquina e espectador, como os computadores e a TV; o uso da internet, de jogos eletrônicos e filmes possibilita a conjunção de diversas linguagens ― falada, escrita e visual; o uso das embalagens de brinquedos e alimentos, de livros, revistas e capas de CD privilegia as linguagens escrita e visual. 5. mediações críticas: um importante suporte para a ampliação das narrativas das crianças é a mediação crítica da professora durante a brincadeira, discutindo um programa de TV ou analisando a imagem de um livro.

Mediante o exposto, ao considerarmos que o ensino remoto possui limitações físicas que dificultam a prática de determinados tipos de linguagens pelos jogos e brincadeiras pelas telas dos aparelhos eletrônicos, durante esse período é preciso que os professores, juntamente com pais e responsáveis das crianças pequenas, busquem refletir a respeito do lugar de interação no qual as atividades lúdicas irão ocorrer dentro dos ambientes residenciais, pois o ato de brincar no contexto da Educação Infantil nem sempre será ofertado tendo como objetivo transmitir informação, mas sim ajudar as crianças pequenas a construir o conhecimento, pois as diversas possibilidades de trabalhar com jogos e brincadeiras, por sua vez, promovem inúmeras experiências enriquecedoras para as crianças no relacionamento delas com o mundo.

Considerações finais

Tendo em vista os aspectos mencionados neste material, percebemos que as atividades aplicadas na Educação Infantil são mais lúdicas, visto que as brincadeiras infantis proporcionadas dentro ou fora do ambiente educacional têm como uma de suas prioridades o desenvolvimento integral das crianças nos aspectos físico, afetivo, emocional, social e cultural.

Entretanto, mesmo a sociedade vivendo hodiernamente na era da agilidade, da conectividade, em que tudo acontece através de um clique nas telas dos aparelhos eletrônicos, com essa mudança abrupta no cenário da educação, um dos maiores desafios vivenciados pelos professores é trabalhar com a ludicidade, mais precisamente com jogos, brinquedos e brincadeiras com as crianças pequenas no período da Educação Infantil no meio digital, porque o ensino remoto emergencial exigiu que os professores fizessem um esforço dobrado para adaptar as atividades, aprender sobre as novas ferramentas tecnológicas e mediar o diálogo das crianças com a instituição de ensino, com as famílias e os responsáveis.

Sem esquecer que, de uma hora para outra, frente a todas essas dificuldades apresentadas no decorrer do texto, os professores tiveram que se reinventar, se capacitar, se adaptar a fim de estar por perto diante de alguma dificuldade da criança ao manusear ou usar aparelhos tecnológicos para continuar ensinando seus alunos, mas de forma remota, em que as aulas eram e estão sendo transmitidas muitas vezes de forma síncrona.

A partir disso, é preciso levar em consideração que as crianças e os educadores não estão sozinhos nesse cenário de reformulação educacional. Afinal, os responsáveis das crianças também precisam se restabelecer para criar espaços que possibilitam o ensino remoto. Diante disso, as atividades escolares agora precisam ser ministradas pelos familiares e responsáveis.

Portanto, nota-se que é uma situação difícil, já que muitos familiares e responsáveis devem administrar a atenção com os afazeres do trabalho e não possuem formação pedagógica e preparo para o exercício da docência repentinamente, pois possuem muitas dificuldades de conduzir atividades e, por conseguinte, muitas vezes não se sentem preparados para realizá-las com as crianças. Com isso, parte dos professores orienta os familiares e responsáveis por meio de atividades guiadas para que eles possam contribuir para o sucesso da condução.

Contudo, para as crianças pequenas, a interação lúdica, criativa e direcionada faz com que elas percebam que existem novas possibilidades de aprender e interagir dentro de casa, pois, além do livro, há a participação de seus familiares e responsáveis para dar suporte e apoio. Com isso, os responsáveis pelos pequenos são parte integrante desse novo formato de lecionar.

Em suma, não é fácil, nesse momento de isolamento social, trabalhar com atividades lúdicas na Educação Infantil no meio digital durante o ensino remoto, pois não estamos totalmente adaptados ou adequados a essa transformação radical. O que não podemos é, simplesmente, ficar passivos e assistir a essa mudança sem participar ativamente dela.

Por fim, Ribeiro e Clímaco (2000, p. 98) argumentam que, após esse momento pandêmico, as instituições de ensino não serão as mesmas, pois “o mundo está em transformação. É tempo de refletir profundamente e reafirmar as concepções que fundamentam a Educação Infantil e construir caminhos coerentes para inseri-la nesse contexto virtual”. No entanto, precisamos perceber que, se todos se ajudarem, será mais fácil sobreviver à pandemia e desenvolver ensino remoto de qualidade para as crianças. Assim, o compromisso com as rotinas de aprendizagem deve ser mantido para que as crianças não confundam com feriados e entendam que a aula voltará ao normal após um adiamento forçado.

Referências

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Publicado em 07 de junho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

PEREIRA JUNIOR, Lucimar da Silva. Mudança radical na Educação Infantil: o brincar através das telas dos aparelhos eletrônicos. Revista Educação Pública, v. 22, nº 21, 7 de junho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/21/mudanca-radical-na-educacao-infantil-o-brincar-atraves-das-telas-dos-aparelhos-eletronicos

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