Aulas remotas de Língua Portuguesa no contexto da pandemia: os desafios de professores de escolas estaduais da Região Metropolitana de Recife/PE

Julião Matheus Bezerra Cavalcante

Licenciado em Letras (Fadimab)

Anair Silva Lins e Mello

Doutora em Psicologia Aplicada, professora da graduação em Letras da Fadimab

Cristiane Silva de Oliveira

Licenciada em Geografia (UFPE), especialista em Metodologia do Ensino de Geografia (Fabeja), professora da rede pública de Educação de Pernambuco

As tecnologias de informação há um bom tempo se fazem presentes no cenário educacional; são utilizadas como recursos pedagógicos no processo de ensino-aprendizagem dentro e fora da sala de aula.

O computador, com o tempo, deixou de ser só uma ferramenta de edição de texto; com ao advento dainternet, ampliam-se as possibilidades para o conhecimento de um mundo ainda presente no imaginário de professores e alunos. A internetpassa a ser uma ferramenta que pode auxiliar a prática pedagógica; contudo, o professor tem que se aproximar dessa realidade, associando-a à sua disciplina e passando a englobar na sua rotina esse novo recurso didático.

A evolução das tecnologias de informação ao longo dos anos exigiu novas habilidades e desafios; o professor deve se familiarizar com esse contexto tecnológico e, no caso particular do professor de Língua Portuguesa, aprender a ler, escrever, expressar-se utilizando as novas modalidades tecnológicas que se inserem no processo de ensino-aprendizagem da língua materna.

A pandemia da covid-19 alterou toda a rotina estabelecida por anos tanto nas escolas da rede pública como da rede privada no Brasil e no mundo. As aulas deixaram de ser presenciais, ainda com uso de recursos de cunho tecnológico, seja com apoio de notebook, projetores, lousas digitais e mesmo o celular por meio do WhatsApp. Houve uma ruptura no processo de interação entre professores e alunos. A aprendizagem passou a ser algo só de bases teóricas mediante o cenário que se desenhava. Assim, os professores, principalmente da rede pública, que contam com recursos tecnológicos mais escassos, precisaram reinventar sua prática pedagógica para não deixar seus alunos desestimulados e sem perspectivas de aprendizagem.

Portanto, mediante essa conjuntura educacional vivenciada em nosso país, foram despertados um anseio e uma curiosidade de investigar como os professores de Língua Portuguesa enfrentaram os desafios impostos pela pandemia à Educação para que seus alunos continuassem, ainda que distantes dos muros das escolas, o seu processo de aprendizagem.

O referido estudo buscou analisar como os professores de escolas da rede estadual localizadas na Região Metropolitana de Recife/PE desenvolveram suas aulas remotas de Língua Portuguesa durante a pandemia.

TIC e Educação

As tecnologias trouxeram inúmeros impactos para a educação, mudanças para as quais a escola não estava preparada, mas, diante do novo advento, se fez necessário incluir no currículo educacional; professores fizeram capacitações e cursos visando o uso desses equipamentos para tornar as aulas mais produtivas (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

As tecnologias, particularmente o computador e os recursos educativos como software, integram os processos de ensino-aprendizagem, se tornando ferramentas indispensáveis para uma abordagem mais atrativa dos conteúdos, buscando de maneira mais efetiva a construção do conhecimento, que, por sua vez, se processa pelo amadurecimento das estruturas cognitivas imbuídas no educando, que, porventura, só serão amadurecidas mediante a responsabilidade do educador em mediar os tais processos de ensino-aprendizagem sob a perspectiva construtivista (Vieira, 1999).

Ao estimular o aluno a utilizar as novas ferramentas tecnológicas indutoras da produção de conhecimentos, o professor não pode simplesmente se deter no uso; deve condicionar a ação pedagógica pertinente à aprendizagem, estimulando o aluno a descobrir, a questionar, a encontrar as respostas e a manusear de maneira não técnica tais instrumentos tecnológicos (Vieira, 1999).

Moran, Masetto e Behrens (2006) corroboram a ideia de que muitas vezes o computador, o software educativo e a internet estão no centro do debate sobre o emprego das novas tecnologias na educação, mas apenas como símbolos da modernidade, sendo assim usados como diferencial de qualidade numa estratégia de marketing de algumas escolas para conquistar uma parcela maior do mercado.

As tecnologias da informação e da comunicação não podem ser usadas de maneira mecanicista, em que o aluno é treinado a repetir comandos sem questioná-los. Elas devem, sim, ser ferramentas para um aprendizado que não se limita ao livro didático, ampliando as perspectivas de construção do conhecimento (Munhoz, 2005).

As TIC fornecem condições efetivas para um fazer escolar em que educandos e professores assumam de maneira conjunta o papel de descobridores de informações e criadores de novos conhecimentos, gerando ambientes escolares menos rígidos, menos disciplinadores e repressores e mais alegres, criativos e inventivos (Nova, 1999).

A aplicação dos recursos digitais em sala de aula leva ao aluno um gosto diferenciado, despertando não só sua atenção, mas sua curiosidade pelo conteúdo que está sendo abordado, dispondo fixação, pelo qual ele, além de aprender, deve introduzir e enriquecer seu conhecimento, utilizando não só o livro já estabelecido, mas as tecnologias digitais inseridas em seu contexto escolar (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

As características das novas TIC estão propiciando condições para a ocorrência de fato da transformação e da instauração de novas formas de ser, pensar, sentir e se comunicar e, assim, de produzir e difundir conhecimentos (Nova, 1999).

Os recursos tecnológicos da era digital proporcionam uma mudança positiva na elaboração da apresentação dos conteúdos, pois incentiva os educadores a utilizar a web para formular ou reformular as aulas (Tajra, 2012). Contudo, é indispensável questionar a funcionalidade dos recursos tecnológicos da informação e da comunicação para estabelecer uma relação educativa centrada em uma pedagogia construtivista, que utilize as tecnologias da informação de forma contextualizada (Santos, 2003).

Conforme a função utilitária que lhe for atribuída, as tecnologias, sendo restritas única e simplesmente a ações de mecanicidade nas quais o educando se dota de comandos repetitivos, sem mesmo questionar tal repetitividade, perdem o sentido construtivo (Santos, 2003; Tajra, 2012).

Sendo meramente ferramentas que repassam conceitos e informações pré-elaborados de maneira diferente, porém reproduzindo a prática pedagógica do instrucionismo (Papert, 2008).

A escola, no seu papel de espaço de transformação e formação, não só deve utilizar os recursos tecnológicos como pode fazer uso como estratégia pedagógica e de maneira mais atrativa para as aulas, tornando-as mais instigantes e cheias de conhecimentos para aluno e professor (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

Ressalta-se que, com o uso das tecnologias da informação e comunicação no ensino digital, os professores aprendem ao mesmo tempo que os alunos e, assim, atualizam continuamente tanto seus saberes disciplinares como as competências pedagógicas (Setton, 2011).

TIC nas aulas de Língua Portuguesa

As tecnologias digitais exigem novas habilidades e lançam novos desafios educacionais, pois os professores e alunos devem desenvolver familiaridade com os novos recursos, como processador de texto, uso de internet, e-mail, lista de discussão, hipertexto, blog para aprender a ler, escrever e expressar-se usando as novas modalidades tecnológicas (Santaella, 2004, apud Tenório, 2019).

A nova realidade digital exige que tanto o professor quanto o aluno se atualizem e aprendam a lidar com a nova realidade, estabelecendo um elo entre a interação, o contexto social e a sociedade, proporcionando conteúdos ligados à esfera da tecnologia e suas ferramentas de uso, ampliando pensamentos, informações e conhecimentos (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

O momento digital traz consigo uma gama de ferramentas que podem ser trabalhadas pelo professor de Língua Portuguesa e das demais áreas, como os gêneros textuais.

O uso dos gêneros digitais não prejudica a aprendizagem da escrita dos adolescentes; muito pelo contrário, esse uso deve servir de contraponto para alertar esses usuários sobre a necessidade de se comportar diferentemente diante dos vários gêneros e suportes textuais adequando a escrita. Eles podem ser relevantes ferramentas educacionais para o processo de ensino-aprendizagem, além de ser o local em que a língua é efetivamente empregada (Lais, 2010). 

Entre os tipos de textos que conseguimos abordar nas aulas de Português estão e-mail, chat, blogs. O blog é uma ferramenta virtual que possibilita que as pessoas publiquem textos, fotos, músicas e vídeos informativos a respeito de determinados assuntos para que os leitores explorem esse instrumento de estudo e comunicação com o intuito de registrar temas apropriados aos conteúdos relacionados à sala de aula, como a carta, que pode ser abordada junto com o e-mail exercendo a função de comunicação, sendo possível usar tanto a linguagem formal como a informal (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

Os hipertextos em sala de aula permitem ao professor explorar vários recursos além dos textos, como sons, imagens e vídeos. As videoaulas podem ser usadas para explorar a gramática ou trabalhar os gêneros textuais, de maneira que complementa o assunto abordado nos livros didáticos (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

O interesse dos jovens por meios eletrônicos e as ferramentas oferecidas por eles, como Power Point, blogs, sites, redes sociais e vídeos, dentre outros, ocorre pela combinação das linguagens, como falas, imagens, música, cores, escrita etc. Assim, o professor de Língua Portuguesa tem um campo fértil para o ensino da disciplina como ainda, através da tecnologia, para inovar e criar possibilidades de não ser um mero reprodutor de informações, mas incentivar o aluno a pensar e ser capaz de expor suas opiniões, construindo ideias de maneira lógica e replicando-as num texto escrito ou mesmo verbal (Silva, 2016).

Na Língua Portuguesa, o enriquecimento do diálogo e da cooperação, o enriquecimento comunicacional e informacional, a navegação pelos textos mediante o hipertexto, a reinvenção da linguagem e a incorporação de contribuições para a compreensão do objeto de estudo são elementos fundamentais (Tenório, 2019).

Ao utilizar em suas aulas tecnologias como a internet e todas as ferramentas que ela proporciona, os professores oferecem um ensino dinâmico, voltado para a construção do conhecimento, facilitando assim atividades pedagógicas associadas à tecnologia da informação, como as pesquisas, passando o ambiente escolar a proporcionar inovações educacionais (Dias; Dias; Ferreira, 2017).

Um professor de Língua Portuguesa pode incentivar a pesquisa fazendo uso das tecnologias da informação. Dentre as vantagens da inserção da pesquisa como recurso pedagógico está a de tornar a aprendizagem significativa para o aluno, principalmente porque ela permite seu envolvimento afetivo e social, além do cognitivo (Cunha, 2010).

A introdução de novas tecnologias e, principalmente, da internet requer novas condutas por parte dos educadores para que consigam utilizar as ferramentas de modo que sejam aliadas do processo de ensino-aprendizagem (Cortella, 2011 apud Abreu, 2013).

A educação está sendo modificada pela adaptação de professores e alunos acerca de diversos programas, aplicativos, ferramentas que passaram a ser utilizadas na educação, num novo contexto educacional provocado pela pandemia da covid-19, sendo os pares provocados a usar ferramentas com as quais ainda não tinham trabalhado, como: Google Classroom, Google Meet, Google Drive, YouTube e Facebook (Pasini; Carvalho; Almeida, 2020).

As estratégias de isolamento social estabelecidas para impedir o avanço da pandemia acabaram impactando no fechamento de unidades escolares, o que demandou formas alternativas à continuidade dos processos de ensino-aprendizagem, e o uso remoto das TIC se tornou a forma predominante para alavancar de maneira emergencial estratégias de ensino, quando possível (Senhoras; Paz, 2019).

Os professores, além de conhecer essas tecnologias, devem utilizar essas ferramentas não apenas como apoio metodológico, mas também como forma de desenvolver no aluno uma postura crítica diante do ato de ler e escrever (Magnabosco, 2009).

Portanto, o ensino remoto passou a ser uma alternativa buscando a concentração dos alunos para os estudos, a fim de manter o estímulo cognitivo ativado, promover debates e informações para além dos componentes curriculares (Zajac, 2020).

Metodologia

O presente estudo se constitui numa pesquisa exploratória de cunho qualitativo, pois permite uma aproximação do pesquisador com o fenômeno analisado, possibilitando uma análise rica, profunda e completa, contribuindo para estudos posteriores.

Foi realizado com professores de Língua Portuguesa de escolas estaduais da Região Metropolitana do Recife/PE sem restrição quanto ao tempo de atuação, idade e sexo.

O trabalho acadêmico partiu de um levantamento e da seleção crítica de fontes bibliográficas existentes em relação à temática, utilizando como plataforma na coleta das informações a base de dados da Scientific Electronic Library Online – SciELO, cujos artigos, embasaram teoricamente nosso trabalho, e a plataforma Google Acadêmico, fazendo uso dos seguintes descritores: aulas remotas, aulas na pandemia, ferramentas tecnológicas de ensino, desafios de ensino na pandemia.

Em um segundo momento, foi utilizado como fonte de coleta de informações um roteiro de entrevista remota enviado a professores da rede pública estadual de Pernambuco pelo WhatsApp.

Dispondo das informações e dos dados coletados, o tratamento qualitativo deles ocorreu a partir da interpretação e análise à luz dos pressupostos teóricos, ressaltando que, após a seleção refinada do material coletado, considerando o mais relevante para o trabalho, a leitura e um fichamento facilitaram a produção textual.

Resultados e discussão

O roteiro de entrevista foi enviado via WhatsApp para professores de Língua Portuguesa de escolas de Ensino Regular e de Referência em Ensino Médio da rede estadual de Pernambuco. Foram enviados 23 roteiros; contudo, só doze retornaram respondidos pelos professores.

A primeira pergunta direcionada aos professores de Língua Portuguesa foi saber se utilizavam ferramentas digitais antes da pandemia. A maioria, num total de sete professores, respondeu que já utilizava. Assim, eles puderam responder à segunda pergunta: quais ferramentas digitais usavam e qual seria a frequência dessa utilização.

Dentre as mídias mencionadas está o celular, por meio do qual mantinha comunicação com alunos, através de aplicativo WhatsApp, além de acesso a sites para preparação de aula e atividades curriculares. Houve ainda menção a respeito do uso da ferramenta auxiliar para teleaulas conhecida como datashow. A frequência de uso dessas ferramentas foi variada, segundo o relato dos professores, indo de uma utilização corriqueira, diária, até uma menos frequente, de uma vez por semana.

Os professores foram questionados sobre quais novas ferramentas digitais foram utilizadas durante a pandemia para proceder com o ensino remoto. Várias ferramentas foram mencionadas, até mesmo o Kahoot. Porém as mais usadas para estabelecer contato de cunho pedagógico com os alunos remotamente foram: Google Classroom, Google Meet, WhatsApp e Google Forms, juntamente com o Instagram, e por último o Facebook. Mesmo com essa diversificação de ferramentas mencionadas pelos professores, existe todo um direcionamento para utilização segundo os conteúdos de Língua Portuguesa a serem trabalhados.

Para Santos (2019 apud Nhantumbo, 2020), as tecnologias digitais mais utilizadas nas práticas da educação online são os ambientes virtuais de aprendizagem que estão disponibilizados nos ciberespaços, como as videoconferências realizadas pela plataforma citada pelos professores na pesquisa, o Google Meet.

Silva et al. (2020), em sua pesquisa, detectaram que o WhatsApp foi a ferramenta digital mais utilizada por uma escola pública no ensino remoto, já que ela é diariamente usada não só por alunos, como pais e mesmo professores, o que favorece o engajamento no processo de ensino remoto pela habilidade existente no manuseio do aplicativo.

Os professores participantes da pesquisa foram indagados quanto ao oferecimento de formações e orientações para o uso de novas ferramentas digitais no ensino remoto; dos doze professores, sete responderam que não obtiveram essas informações, necessitando fazer busca de tutoriais na internet com vídeos no YouTube que auxiliassem no uso de ferramentas digitais como Google Meet e Classroom, o que facilita o contato necessário diante de um processo de ensino-aprendizagem entre professor e aluno.

Nhantumbo (2020) reforça em sua pesquisa a necessidade de capacitações, pois a falta de domínio das mídias digitais e seus recursos faz com que professores se limitem ao uso de tecnologias mais simples, como o WhatsApp e o e-mail.

Silva et al. (2020) relatam que há necessidade de saber como os professores, alunos e a escola estão se apropriando dos meios digitais para então ocorrer o letramento digital desses sujeitos, aguçando as habilidades de uso.

Mesmo não recebendo informações e buscando-as em tutoriais na internet, nove professores participantes da pesquisa, em sua maioria, denotaram de maneira explícita em suas falas ter encontrado dificuldade no uso corriqueiro de ferramentas digitais, sendo o Google Meet e o Google Classroom as apontadas como aquelas de maior dificuldade na utilização para estabelecer remotamente o contato com seus alunos. Esse achado corrobora o que Honorato e Marcelino (2020) encontraram em sua pesquisa realizada com professores da Educação Básica e do Ensino Superior.

Em outro momento, o questionamento levantado foi direcionado às dificuldades encontradas diante de ter que trabalhar remotamente com os alunos. A falta de recursos tecnológicos por parte dos alunos foi a dificuldade mais relatada pelos professores, como também ocorreu na pesquisa de Silva et al. (2020).

Destaca-se que alguns desconsideraram essa dificuldade, que também se estende ao professor, principalmente em relação à internet em banda larga, pois muitos possuem pacotes de dados para seu aparelho celular, o que limita e compromete a qualidade do trabalho remoto desempenhado pelo professor, conforme relato de alguns. Honorato e Marcelino (2020) apontam a distribuição irregular de internet em banda larga no Brasil como um dos gargalos para o ensino remoto no país, o que ficou bem evidente com o ensino remoto durante a pandemia.

Houve professor participante do processo de entrevista remota que mencionou a falta de interesse do aluno em participar das aulas remotas e de envio das atividades propostas. Contudo, cabe a pergunta: até que ponto, mediante o contexto de uma pandemia, que promove não só um pânico a nível de saúde da população, como também paralelamente um cenário de crise econômica, é condizente falar em falta de interesse, sem mesmo ter o conhecimento socioeconômico de cada um de seus alunos?

Na pesquisa desenvolvida por Silva et al. (2020) são mencionados três fatores que interferem diretamente na participação dos alunos no ensino remoto: a situação econômica que impede ter conectividade e instrumentos digitais como celulares e computadores, a localização geográfica da residência, onde não há disponibilidade da internet e a falta de habilidades e conhecimentos para manusear as ferramentas digitais.

No tocante à experiência vivenciada mediante a pandemia em curso, quatro dos professores de Língua Portuguesa mencionaram ser dificultosa e não desafiadora, tanto pela falta de habilidades em lidar com as ferramentas digitais como pela baixa adesão dos alunos, inclusive por falta de recursos tecnológicos, desencadeando um processo de ensino-aprendizagem desestimulante, colocando em xeque a construção do conhecimento. Essas evidências estão em acordo com os achados das pesquisas de Silva et al. (2020) e de Honorato e Marcelino (2020).

De todos os entrevistados, um único professor relatou ser uma experiência maravilhosa que o fez repensar a sua prática pedagógica, buscando dinamizar a interação com seu aluno e assim facilitar o aprendizado num momento tão cheio de medos e de incertezas devido à pandemia. A pesquisa desenvolvida por Honorato e Marcelino (2020) também se deparou com relatos semelhantes ao descrito anteriormente, surgindo a palavra reinventar e reflexões por parte dos entrevistados de como ressignificar a prática pedagógica e de ressignificar a aprendizagem por meio de novas situações didáticas.

O ensino remoto é uma experiência diferenciada por ser um formato de interação pedagógica análogo ao que os professores estavam habituados, em que se busca a todo momento a motivação do aluno para acontecer a aprendizagem. E que seja um aprendizado que potencialize o debate, a criatividade, o pensamento crítico, formando cidadãos para o mundo que se encontra em transformação (Martins; Almeida, 2020).

Considerações finais

A pandemia da covid-19 provocou uma transformação no cenário educacional em níveis mundial e nacional, em que os professores precisaram reinventar suas práticas pedagógicas com o uso de ferramentas digitais nunca antes usadas em suas salas de aula. Nessa nova conjuntura educacional, o medo e as dificuldades afloraram e o novo formato das aulas dadas pela internet se tornaram um grande desafio de início, transformando-se em dificuldades conforme os resultados da pesquisa em apreço.

Além de lidar com novas ferramentas digitais, como Google Meet e Google Classroom, os professores muitas vezes não estão munidos de tecnologias como a internet de banda larga no se lugar e um pacote mensal de dados, fato que se torna um obstáculo no processo de ensino remoto, afetando o processo de construção do conhecimento por parte de seus alunos, que também apresentam dificuldades para acessar as aulas remotas, seja por não possuírem celular, internet e mesmo um computador.

Contudo, independente das dificuldades, o ensino remoto deve ser visto como uma experiência para repensar a prática pedagógica exercida nas aulas, sejam de cunho presencial ou remoto.

O professor deve ser visionário e sempre priorizar o aprendizado mútuo, para o aluno e para si, não se prendendo a um processo de ensino bitolado e apoiado na prática de ensino estática e muitas vezes ultrapassada que se limita ao quadro e à caneta Pilot. As ferramentas digitais devem ser empregadas no ensino da Língua Portuguesa, pois podem conduzir a um aprendizado mais prazeroso e dinâmico, motivando o aluno e construindo o conhecimento de maneira participativa e criativa.

Referências

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Publicado em 28 de junho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

CAVALCANTE, Julião Matheus Bezerra; MELLO, Anair Silva Lins e; OLIVEIRA, Cristiane Silva de. Aulas remotas de Língua Portuguesa no contexto da pandemia: os desafios de professores de escolas estaduais da Região Metropolitana de Recife/PE. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 24, 28 de junho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/24/aulas-remotas-de-lingua-portuguesa-no-contexto-da-pandemia-os-desafios-de-professores-de-escolas-estaduais-da-regiao-metropolitana-de-recifepe

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