SME em Diálogo — Avaliação para a aprendizagem, por Cipriano Carlos Luckesi

Wesley Pinto Hoffmann

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras (UPF)

Na presente resenha ocupo-me de proposições acerca de um vídeo integrante de uma disciplina de Estágio em Docência I, publicado na plataforma YouTube e referente a uma formação escolar da rede pública da Prefeitura de São Paulo. No vídeo, em questão, o renomado professor e pesquisador Cipriano Carlos Luckesi foi convidado para proferir uma fala a respeito de um tema amplo: a avaliação escolar.

O que justifica meu apreço pelas discussões no vídeo mencionado é a constatação desenvolvida ao longo da disciplina de Estágio em Docência I. Entendemos que a avaliação é um dos temas que mais geram dúvidas entre os profissionais da educação, muitas vezes confundida com exames tradicionais e sem uma rede de diagnóstico. Nesse sentido, Luckesi se aproveita do seu vasto conhecimento e eloquência para falar sobre o tema, com resgates históricos e filosóficos.

É perceptível a condução dedicada e sensível da palestra por parte do professor convidado, que recorre a alguns exemplos de sua jornada, tanto como estudante, como quando professor, evidenciando a necessidade de sermos profissionais preocupados e sensíveis às demandas do nosso alunado.

Luckesi aclara que, na prática docente, difunde-se uma confusão entre as funções do gestor e do avaliador, já que as duas funções precisam ser desempenhadas pelo professor, em diferentes momentos do processo pedagógico. Além de avaliar os estudantes a partir de diversos instrumentos de ensino, é preciso ser um gestor de dados coletados, a fim de que problemas sejam corrigidos, demandas sejam atendidas e acertos sejam evidenciados em um processo contínuo que requer organização do tempo, dos materiais e dos conhecimentos para atender às necessidades dos estudantes.

O professor evidencia a necessidade de ampliar discussões acerca da avaliação, já que, muitas vezes, o educador acredita que os exames que aplica são sinônimos do conhecimento adquirido, o que é uma falácia, segundo Luckesi. Os exames são instrumentos quantitativos que servem para o professor realizar um diagnóstico mais amplo dos seus alunos.

Na tradição histórica, era necessário achar alunos vilões, que deveriam ser reprovados e punidos, sob a dinâmica de um “deus” irado. Com a expansão dos estudos sobre o processo avaliativo foi possível perceber que os estudantes aprendem mais e com qualidade quando avaliados em dimensões múltiplas, com um professor disposto a ensinar e a reconhecer as dificuldades encontradas (pelos estudantes e por ele mesmo em sua trajetória profissional).

Luckesi também menciona sua formidável experiência na Finlândia, onde os presos têm liberdade para estudar e trabalhar. Um contexto totalmente distinto do contexto brasileiro, onde a desigualdade, a fome e a violência ainda persistem entre nós, somadas aos já inúmeros desafios educacionais.

Ao contrário do que pode parecer, investir em gestão e avaliação, é abrir espaço para a pluralidade e para a diversidade em sala de aula, já que o engajamento dos estudantes é maior quando reconhecem um olhar de alguém disposto a ensiná-los. O gestor é quem decide os efeitos da avaliação. Em uma empresa há essa delimitação clara. Na escola, gestor e avaliador são a mesma pessoa, o que suscita algumas confusões. O professor Luckesi faz uma divertida brincadeira, comparando a gestão do professor com um grilo, que precisa estar próximo de nossos ouvidos para que possamos ouvi-lo. Assim, também ocorre com o professor na compreensão e na mediação das práticas escolares.

A qualidade na elaboração de testes é mencionada por Luckesi. Ele afirma que é necessário adotar critérios claros de elaboração. Os testes precisam ser compatíveis com o que foi ensinado aos estudantes, com uma linguagem acessível e compreensível, em formatos familiares aos estudantes (o que se relaciona aos gêneros discursivos/textuais). A avaliação não é para dar nota, aprovar ou reprovar. Ela é um instrumento para auxiliar nas decisões. O ato de avaliar é um ato de investigação da realidade, equiparado à investigação científica, pautada na verificação da realidade.

Por fim, o vídeo é uma rica colcha de retalhos reflexivos, que nos fazem pensar sobre o nosso exercício pedagógico, tanto sobre os que já realizamos como sobre aqueles que queremos realizar. É um trânsito constante de desconstruções de paradigmas em nossa mente, que mexe com nossa forma de conceber a educação, extremamente importante em nossa profissão.

Esta breve resenha traz apenas alguns pontos da fala do professor. É importante que entendamos que existem professores que agregam à vida das pessoas. Mais do que conteúdos, ensinamos para o despertar de processos de conhecimento que abarcam o respeito e a cidadania. Caso possamos construir, como docentes, ínfimos sinais de mudança, trazendo algum otimismo, já contribuiremos com um ensino de mais qualidade e humanidade. O mundo pede atenção e afetividade nas relações e, sobre isso, o Professor Cipriano Carlos Luckesi nos dá uma grande aula.

Referências

LUCKESI, Cipriano Carlos. SME em diálogo - Avaliação para a aprendizagem (recurso digital). Prefeitura de São Paulo/SP, 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OO2YscAwrqg. Acesso em: 07 jun. 2021.

Publicado em 28 de junho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

HOFFMANN, Wesley Pinto. SME em Diálogo — Avaliação para a aprendizagem, por Cipriano Carlos Luckesi. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 24, 28 de junho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/25/sme-em-dialogo-r-avaliacao-para-a-aprendizagem-por-cipriano-carlos-luckesi

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