A leitura na formação dos discentes do curso de Pedagogia de uma instituição pública de Ensino Superior na cidade do Crato/CE

Carla Danyela Alves do Nascimento

Pedagoga (URCA), professora de Educação Infantil

Edilania Reginaldo Alves

Pedagoga (URCA), professora de Atendimento Educacional Especializado

Sabe-se que a leitura é de fundamental importância para a aquisição de conhecimentos para a formação do indivíduo, pois ela contribui para desenvolver a criatividade e o senso crítico, além de facilitar a expressão oral e a escrita. De acordo com Demo (2000 apud Nath, 2008, p. 8), “a leitura pode formar seres mais pensantes, capazes de questionar e, ao mesmo tempo, de contribuir para novas possibilidades de participação na sociedade”.

A necessidade de estudar, pesquisar e compreender essa temática tendo como especificidade a formação dos discentes do curso de Pedagogia se deu a partir da nossa reflexão sobre as exigências do mundo pós-moderno, que requer profissionais cada vez mais qualificados. Surgiu, então, pela nossa inquietação sobre a leitura para os discentes do curso de Pedagogia, pois

sem a prática da leitura o educador não conseguirá estabelecer a mediação necessária para que o educando passe do saber, enquanto senso comum, ao conhecimento elaborado e sistematizado. Nessa perspectiva de formação do professor, a ausência da leitura seria quase uma mutilação, pois a leitura é, sem dúvida, o alicerce para o exercício da sua função (Nath, 2008, p. 3).

Com base nisso, percebe-se a importância da leitura no dia a dia desse profissional, sendo necessário que ele desenvolva criticidade, já que irá lidar com um público que está em processo de construção da compreensão do mundo. Sem o acesso à leitura em sua formação, não poderá influenciar seus alunos a ler (Nath, 2008).

Ademais, o interesse pela investigação acerca da leitura na formação discente de graduandos concludentes curso de Pedagogia partiu também das reflexões feitas enquanto discentes do curso da mesma instituição.

Desses momentos surgiram várias indagações que possibilitaram a delimitação deste estudo. Considerando a relevância da leitura na formação de educadores, para que assim a sua fala repercuta na prática pedagógica, haja vista que a leitura é um processo de ensino-aprendizagem humana e de mundo, questiona-se: como os alunos do curso de Pedagogia estão se relacionando com o hábito da leitura? Eles focam em textos que venham repercutir na sua prática educacional? Realizam leituras além dos textos exigidos no curso? Qual a importância da leitura acadêmica como instrumento para a melhoria da prática profissional?

Partindo desses questionamentos, este trabalho teve como objetivo geral identificar e analisar se os alunos do curso de Pedagogia de uma universidade pública na cidade do Crato/CE estão tendo o hábito da leitura ao longo do curso e se essa leitura é relevante para sua formação. Como objetivos específicos, pretende-se perceber a significação que os discentes atribuem à leitura na sua formação, bem como refletir sobre a importância da leitura na visão crítica de mundo.

Na definição metodológica do trabalho, optamos por uma abordagem qualitativa na modalidade estudo de caso, utilizando a pesquisa de campo. Como instrumentos de coleta de dados foram empregados questionários, que, segundo Gil (1999, p. 128), podem ser definidos “como a técnica de investigação composta por um número, mais ou menos elevado, de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas”.

A revisão bibliográfica teve embasamento teórico em Martins (2007), Araújo, Duarte e Pinheiro (2012), Silva et al. (2011), Freire (2011), Luckesi (2000) e Lima et al. (2012), dentre outros.

Como objeto da pesquisa, foram entrevistados alunos concludentes do curso de Pedagogia em uma universidade situada na cidade de Crato/CE. Assim, entendemos que a pesquisa demonstra sua relevância no momento em que aponta questões que partem da perspectiva do hábito da leitura como pressuposto básico para a formação de uma visão crítica de mundo.

O que é leitura?

Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, leitura define-se por:

Sf. 1. Ato, arte ou hábito de ler. 2. Aquilo que se lê. 3. Tec. Operação de percorrer, em um meio físico, sequência de marcas codificadas que representam informações registradas, e reconverte-as à forma anterior (como imagens, sons, dados para processamento) (Ferreira, 2008, p. 511).

A leitura é, antes de tudo, uma das partes do processo da aprendizagem humana, em que o ser busca compreender e empregar os vários sentidos que se pode obter através dela. Por sua vez, expressa os significados das palavras contidas em um contexto, transformando o que era um simples aglomerado de letras em palavras e, assim, em frases que, unidas, formam um texto, com vastos significados e informações. A leitura caracteriza-se pelos seus processos até chegar à compreensão do que se lê.

É a partir da compreensão da leitura que temos a possibilidade de interpretar os sinais e não apenas decodificar o que está escrito, mas decifrar e interpretar uma imagem, um símbolo etc.

Conforme Martins (2007, p. 7), “sem dúvida o ato de ler é usualmente relacionado com a escrita, e o leitor visto como decodificador da letra”. Dessa forma, a leitura se reflete na fala cotidiana do leitor, expressando, de forma crítica, os conflitos que surgem na sociedade, pois a leitura proporciona interpretações, decifrações, entendimento, compreensão e visualidade do implícito. Além de proporcionar todos esses critérios, é visível, além da oralidade, também na escrita, pois é pela leitura que o sujeito se autoeduca, e é uma das formas de ver o mundo. Segundo Martins,

o conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da escrita, sua aprendizagem; no entanto, liga-se por tradição ao processo de formação global do individuo, à sua capacitação para o convívio e atuação social, política, econômica e cultural (Martins, 2007, p. 22).

Sendo assim, pode-se afirmar que a leitura não significa apenas escrita e decodificação dos signos, mas também a interpretação, compreensão, entendimento e decifração do que se lê.

Na concepção de Martins (2007), a leitura nos leva a mergulhar nas camadas simbólicas dos livros, visualizando o mundo interior e exterior, despertando várias dimensões de mundo e transformando o conhecimento.

Enfim, essa perspectiva para o ato de ler permite a descoberta de características comuns e diferenças entre os indivíduos, grupos sociais, as várias culturas; incentiva tanto a fantasia como a consciência da realidade objetiva, proporcionando elementos para uma postura crítica, apontando alternativas (Martins, 2007, p. 29).

Portanto, a leitura faz parte da constituição do cidadão, como uma forma primordial de construção do conhecimento da formação não só cultural, mas da informação, favorecendo explicações, entendimentos e conceitos a respeito da nossa realidade, “a leitura vai, portanto, além do texto (seja ele qual for) e começa antes do contato com ele” (Martins, 2007, p. 32).

A leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido – seja escrito, sonoro, seja um gesto, uma imagem, um acontecimento. Esse diálogo é referenciado por um tempo e um espaço, uma situação; desenvolvido de acordo com os desafios e as respostas que o objeto apresenta, em função de expectativas e necessidades, do prazer das descobertas e do reconhecimento de vivências do leitor (Martins, 2007, p. 33).

Podemos compreender que a leitura tem diversas maneiras de expressão no ser humano, indo além do que está escrito, relacionando o que se lê com o leitor, estabelecendo um contexto histórico. Não é uma leitura restrita apenas ao papel.

A respeito da importância da leitura nos níveis educacionais, Silva (2011, p. 35) esclarece que

a atividade de leitura se faz presente em todos os níveis educacionais das sociedades letradas. Tal presença, sem dúvida marcante e abrangente, começa no período de alfabetização, quando a criança passa a compreender o significado potencial de mensagens registradas através da escrita.

Percebe-se que a leitura é muito significativa no Ensino Fundamental, desde as séries iniciais. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (Brasil, 1998), que têm como finalidade discussões curriculares em várias áreas educacionais, contribuindo com técnicos e professores no processo de revisão e elaboração de propostas didáticas,

a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (Brasil, 1998, p. 69-70).

Quanto mais cedo o ser humano tiver contato com a leitura, melhor será a sua compreensão de mundo. Entretanto, a leitura não é um ato qualquer, é uma conquista de autonomia que permite a ampliação de novos horizontes. Ainda ao tratar de leitura, Silva (2011) destaca que

a leitura é uma forma de encontro entre o homem e a realidade sociocultural; o livro (ou qualquer outro tipo de material escrito) é sempre uma emersão do homem no processo histórico, é sempre a encarnação de uma intencionalidade e, por isso mesmo, “sempre reflete o humano” (Silva, 2011, p. 47).

Dessa maneira, a prática da leitura possibilita ao sujeito a compreensão e a criticidade do que seus olhos enxergam, sendo essa compreensão crítica de forma contínua e visível no seu cotidiano social. Com base nisso, Luckesi (2000) conceitua o processo de leitura como

o exercício constante, reflexivo e crítico da capacidade que nos é inerente de ouvir e entender o que nos diz a realidade que nos cerca e da qual também somos parte integrante. É o exercício da captação, através dos mais variados símbolos, sinais e manifestações, da informação, do conteúdo e mensagem que os outros nos transmitem sobre a realidade tanto nossa quanto deles. É o exercício do intercâmbio entre as informações recebidas. É o exercício da capacidade de formar nossa própria visão e explicação sobre os problemas que enfrentamos e que se constituem, para nós, em constante provocação no sentido de lhes oferecer respostas e soluções adequadas (Luckesi, 2000, p. 122).

Nesse sentido, o autor, além de conceituar a leitura, explicita a sua aquisição e utilização por parte do sujeito diante do meio, compreendendo que o homem só se torna social com o ambiente, a partir do convívio com o outro, quando aprende, cria, inova, constrói formas, valores, costumes e culturas, tornando-se um processo histórico e social, repassado e modificado de gerações a gerações. Quanto a isso, Luckesi (2000) complementa que “a prática da leitura é imprescindível aos homens e aos povos; sem ela não haveria progresso, acumulação de conhecimento, transmissão e evolução do saber, registro da memória dos homens” (Luckesi, 2000, p. 125).

Para que o sujeito tenha interesse pela prática da leitura, é de fundamental importância que ela aconteça de forma dinâmica, criativa, produtiva e significativa para os educandos, e não de forma mecânica e memorizadora, em que se cobra dos discentes uma leitura que não se compreende significativamente. “Ler é, em ultima instância, não só uma ponte para a tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo” (Silva, 2011, p. 51).

A partir dos estudos de Freire (2011), pode-se observar que é pela leitura que o sujeito se educa, vê o mundo de forma ampliada e crítica.

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (Freire, 2011, p. 19-20).

A partir do exposto, a concepção de leitura significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo – e não apenas a decodificação, decifração de letras. Dessa maneira, a leitura é compreender o que está explícito dentro do texto, assim como descobrir o propósito comunicativo do autor e tecer comentários, concordar, discordar ou acrescentar sobre o assunto.

A importância da leitura

O hábito da leitura é uma prática de suma importância, pois possibilita compreender o mundo à nossa volta, facilitando a expressão oral e escrita, além de despertar o senso crítico. Proporciona a descoberta de várias culturas e amplia nosso conhecimento, permitindo, assim, compreender e dar sentido ao que nos cerca. Esses também são os primeiros passos para aprender a ler, segundo afirma Martins (2007).

A leitura tem importância fundamental para a formação individual, social e cultural do indivíduo, pois amplia e integra conhecimentos básicos que contribuem para a formação integral de cada indivíduo em sociedade e para o pleno exercício da cidadania. A leitura requer atenção, reflexão, interpretação e compreensão para que possa desenvolver o conhecimento do mundo, o senso crítico e a capacidade de pensar.

Para Martins (2007, p. 25), “a leitura seria a ponte para o processo educacional eficiente, proporcionando a formação integral do indivíduo”. Para tanto, é de fundamental importância que o educador selecione conteúdos necessários que venham auxiliar os educandos a descobrir as estratégias adequadas aos desafios cotidianos existentes na vida escolar e fora dela, haja vista que a leitura é a ponte que abre novos horizontes de conhecimentos; o ato de ler está inserido no ambiente escolar. Assim, grande parcela do desenvolvimento da leitura que possibilita ao educando capacidades de identificar os diversos gêneros textuais está dentro dos deveres e comprimentos da escola. Portanto, a escola deve ofertar diversos trabalhos textuais com a finalidade de despertar nos educandos o hábito e o gosto pela leitura. Até porque

aprender a ler significa aprender a ler o mundo, e a função do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas a de criar condições para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta (Martins, 2007, p. 34).

Segundo os PCN (Brasil, 1998, p. 72-73), existem algumas orientações didáticas para a formação de leitores, dentre elas a leitura autônoma, que é aquela em que o indivíduo já desenvolve certo interesse e vivencia leituras independentemente da mediação do professor. A leitura colaborativa é aquela em que o professor, juntamente com a turma, lê um texto e, ao mesmo tempo, questiona os alunos sobre o que estão lendo. Esse tipo de leitura é uma excelente ferramenta para a formação de leitores, principalmente para textos naqueles locais onde os alunos não leem com frequência.

A leitura em voz alta pelo professor é aquela que é compartilhada, possibilitando ao aluno acesso a textos difíceis e longos pelos quais, por vezes, o aluno poderia se interessar, mas, sozinho, não tem a iniciativa de buscar.

A leitura programada é adequada para a discussão de alguma obra ou texto de forma coletiva, em que os alunos podem partilhar a responsabilidade da leitura do texto escolhido. É proposta, pelo professor, a divisão da obra ou do texto em que os alunos realizam a leitura por partes para discuti-lo posteriormente com a mediação do professor. Assim, além da compreensão e análise do trecho lido, os alunos podem antecipar vários rumos que a narrativa possa tomar, possibilitando expectativas para a leitura dos trechos seguintes.

Leitura de escolha pessoal é uma forma de desenvolver o comportamento do leitor, fazendo com que ele tenha prática de leitura e selecione o que irá ler. O objetivo é construir padrões de gosto pessoal.

Entretanto, a leitura nem sempre é vista como atividade fácil por adultos e crianças. Para muitos, ler é um prazer, ou seja, possibilita ao leitor uma viagem ao imaginário. Para outros, é algo desagradável. Entretanto, o hábito da leitura é uma forma de adquirir conhecimentos, sendo um instrumento de formação humana para compreender o mundo no qual está inserido. Concordamos com a ideia do teórico Luckesi (2000, p. 122) quando reflete que “a leitura é um ato simples, inteligente, reflexivo e característico do ser humano, porque ela nada mais é que um ato de compreensão do mundo, da realidade que nos cerca e em meio à qual vivemos”.

Assim sendo, a leitura nos acompanha por toda nossa história de vida, independentemente da variedade de hábitos. Uns leem por prazer e outros têm a leitura como um “bicho papão”. Esse tabu diz respeito à leitura com os níveis de entender, compreender e interpretar, indo além das entrelinhas, e não a leitura decodificada, uma vez que a leitura é muito mais do que decifrar palavras.

Assim, é de fundamental importância a presença da leitura em nossa formação como educadores, pois amplia nosso conhecimento de mundo e o desenvolvimento da criatividade, tornando-nos profissionais mais críticos, podendo questionar o mundo à nossa volta.

Por isso, é importante resgatar as práticas desenvolvidas no contexto da universidade, que sejam assumidas, vivenciadas com uma nova postura pelos discentes, ou seja, uma postura leitora autônoma, reflexiva, questionadora, dinâmica, transdisciplinar, contextualizada, enfim, que verdadeiramente haja um envolvimento entre o leitor, o objeto lido e o mundo (Lima et al., 2012, p. 6).

Percebe-se, portanto, que a prática da leitura dentro do curso de Pedagogia é essencial à qualificação, pois os alunos estarão em constante formação, tendo em vista que o hábito da leitura fundamenta a prática, pois com esse instrumento a leitura permite a produção de conhecimentos, experiências e reflexões. É importante refletir sobre a relevância da leitura profissional-educacional e que esse hábito seja desenvolvido durante toda a formação, para que os pedagogos adquiram uma boa base de conteúdos e ampliem sua visão crítica como formadores de leitores. A esse respeito, Araújo, Duarte e Pinheiro (2012, p. 103) afirmam que:

Assim, sendo o professor um leitor ávido, ele poderá, através de leituras de textos acadêmicos, transferir o material lido para sua prática pedagógica e deixar de ser apenas um repetidor de conteúdos prontos para tornar-se um profissional mais crítico, capaz de questionar o mundo que o rodeia e também as leituras praticadas.

A partir do exposto, podemos compreender que a formação de leitores pedagogos deve ser contínua ao longo de sua trajetória de vida acadêmica, profissional e social. Essa continuidade se refere às novas práticas contextualizadas interdisciplinares, reflexivas e atualizadas, mediante a leitura. Na medida em que o pedagogo busca aprender e inovar suas práticas pedagógicas pela leitura contínua, para a vida acadêmica, profissional ou social, estará se permitindo pensar, redefinir e afirmar as suas concepções e práticas. O conteúdo dessa atividade pode abarcar situações que emanam da ação cotidiana desses profissionais, o que representa conteúdo fértil e real.

No que diz respeito à formação inicial na vida do docente, Lima et al. (2012, p. 4) afirmam que

convém contextualizar a leitura no âmbito da formação inicial na universidade, numa postura reflexiva e crítica do trabalho pedagógico com foco na didática, tomando-a um caminho formativo do professor. É incontestável o papel da leitura na formação docente, porém, isso requer constantemente uma reflexão de como é realizada pelos futuros professores e as dificuldades que estes encontram na leitura acadêmica.

Falar em leituras pode trazer à nossa mente ler jornal, revistas, folhetos, autoajuda, romance e literatura, dentre vários outros. Mas o mais comum é pensarmos em leitura de livros. Assim, o sujeito deve estar em contato com os diversificados gêneros textuais, pois facilita seu aprendizado (Martins, 2007).

Portanto, vale ressaltar que é de suma importância a leitura dos diferentes gêneros textuais, pois ela auxilia diante da realidade existente, podendo nortear e direcionar determinadas realidades; de modo similar, antes de aprender a ler e a escrever palavras e frases já estamos “lendo”, bem ou mal, o mundo que nos cerca.

Sendo assim, a leitura é de fundamental importância na trajetória de vida de cada um de nós, tendo em vista que ela nos possibilita compreender e criticar o que nossos olhos enxergam e que é um processo contínuo. Segundo Marconi e Lakatos (2006, p. 15),

pode-se dizer que a leitura tem dois objetivos fundamentais: serve como meio eficaz para aprofundamento dos estudos e aquisição de cultura geral. Todavia, impõe-se uma seleção para a leitura, em razão da quantidade e qualidade dos livros e periódicos em circulação. Primeiro, não se tem condições físicas e tempo para ler tudo; segundo, nem tudo que há merece ser lido.

Nesse caso, podemos compreender que a leitura, além de possibilitar o que foi explicito acima, transmite conhecimentos culturais, em leituras significativas, seletivas, qualitativas e quantitativas. A leitura é a compreensão, comunicação, da vida, da escrita, do mundo que nos cerca. Vale ressaltar que devemos ter bastante cuidado na quantidade e na qualidade de leituras realizadas, pois, conforme Marconi e Lakatos, nem tudo que está escrito deve ser lido, uma vez que a leitura só é válida quando ultrapassar os limites da decodificação, decifração de palavras. Ainda de acordo com o pensamento de Marconi e Lakatos (2006, p. 15), “ler significa conhecer, interpretar, decifrar. A maior parte dos conhecimentos é obtida através da leitura que possibilita não só a ampliação, como também o aprofundamento do saber em determinado campo cultural ou cientifico”.

A influência da leitura na vida profissional do(a) pedagogo(a)

É preciso acentuar que o pedagogo em formação deve ter a consciência da necessidade do hábito da leitura como ferramenta crucial para o desenvolvimento efetivo do seu trabalho, por considerar que se encontra em constante processo de construção de conhecimento e que a leitura influenciará decisivamente na relação entre a teoria e prática que ele irá adotar.

Porém, quando o tema é abordado no âmbito acadêmico, especificamente nos cursos de formação de professores, parece ser ainda mais grave, por considerar que o graduando se encontra em um universo que requer fundamentação teórica advinda dessa prática da leitura relacionada à sua formação com o objetivo de instruí-lo para a universidade, bem como para as suas práticas posteriores como profissional.

A leitura aqui mencionada não se refere apenas à decodificação de textos mecanicamente, mas à transformação das informações obtidas neles em conhecimentos, podendo relacionar suas atribuições contidas e adquiridas no decorrer do processo educacional inerente ao Ensino Superior. Como foi dito por Witter (1997, p. 11), “a leitura é um comportamento essencial para o ensino-aprendizagem no Ensino Superior. É a última oportunidade para tornar o cidadão um leitor competente, crítico, frequente, criativo, que compreende e usa de forma adequada as informações obtidas via texto”.

Mediante o exposto, fica evidente que é imprescindível que haja prática de leitura na formação do pedagogo, visto que tal prática é necessária a todo indivíduo independente da profissão, do nível de escolaridade e do nível social.

É pertinente dizer que “a leitura é, fundamentalmente, uma prática social. Enquanto tal, não pode prescindir de situações vividas socialmente, no contexto da família, da escola, do trabalho etc.” (Silva, 1993, p. 46). De acordo com essa concepção de Silva (1993), fica claro acrescentar, conforme o autor, que

a leitura [...] passa a ser, então, uma via de acesso à participação do homem nas sociedades letradas, na medida em que permite a entrada e a participação no mundo da escrita; a experiência dos produtos culturais que fazem parte desse mundo só é possível pela existência de leitores (Silva, 1993, p. 64).

O pedagogo, por sua vez, deve estar sempre em busca de conhecimento, de modo a renovar o seu acervo teórico-metodológico, se qualificar profissionalmente e, em consequência desse processo, refletir sobre suas ações pedagógicas como profissional que contribui para a formação de sujeitos.

Uma boa formação para o pedagogo requer o constante contato com os diversos tipos de leitura, seja por prazer ou obrigação, visto que a aquisição de conhecimentos por meio dessa prática é determinante para a sua qualificação.

Convém ressaltar que a leitura é um pilar fundamental para a formação do futuro pedagogo, pois ele necessita desse hábito para a compreensão de sua visão de mundo de forma crítica, e relacioná-la efetivamente com sua prática pedagógica. 

Pode-se concluir que o discente, como sujeito leitor, terá à sua disposição o acesso a um leque de conhecimentos proporcionados por essa prática vivenciada dentro e fora da universidade, como uma possibilidade de formação contínua e reflexiva, pois acredita-se que ele deve exercer, na sua função como profissional, um compromisso com o saber sistematizado e teoricamente fundamentado.

O desenvolvimento da pesquisa

Neste tópico se faz uma apreciação qualitativa dos dados obtidos durante a pesquisa feita em campo, com a qual se objetiva compreender melhor o objeto deste estudo, de modo a relacionar seus aspectos práticos aos aspectos teóricos já abordados nos tópicos anteriores.

Parte-se, pois, do princípio de que teoria e prática devem estar juntas, o que concretiza a práxis. Nesse sentido, busca-se relacionar a teoria com a realidade (referente à leitura) dos discentes concludentes do curso de Pedagogia de uma universidade pública na cidade do Crato/CE.

 A primeira pergunta do questionário indagou o que os discentes entendem por leitura. A análise das respostas mostra uma variedade de compreensões do conceito de leitura. Um dos entrevistados nos deu uma resposta técnica, utilizando expressões como “contexto metalinguístico”, “sintaxe” e “morfologia”. Outra parte dos entrevistados mostrou compreender a leitura como algo que serve para aprimorar os conhecimentos. Houve ainda uma resposta que entende que a leitura é a interpretação e a visão de mundo, bem como a forma de comunicação dos indivíduos e um meio de adquirir novos conhecimentos. Os questionários mostraram também que os discentes veem a leitura como hábito, necessidade e fator relevante no crescimento acadêmico e profissional.

As respostas obtidas reafirmam que a amostra pesquisada tem definições bem elaboradas sobre leitura.

A segunda pergunta do questionário foi: “Você tem o hábito de ler? Quantos livros você já leu desde que entrou na universidade?” A análise das respostas mostrou que a maioria dos discentes entrevistados chegou a ler, em média, sete livros, enquanto apenas dois afirmaram que leram acima de trinta. Apenas um dos entrevistados relatou que não leu nenhum livro durante o seu percurso acadêmico.

Encontramos aqueles que justificaram não ter tempo disponível para se dedicar às leituras voltadas a sua área de atuação, mas que gostariam de ter lido mais referências para a sua formação.

Podemos destacar entre as respostas obtidas que os alunos só costumam ler os textos acadêmicos de acordo com a exigência de cada docente. Cabe enfatizar que esses textos são, geralmente, apenas capítulos de livros de autores diferentes.

Destacamos, diante disso, a fala de um entrevistado, que afirma que não possui o hábito de ler: “Não. Na faixa de quatro livros, ressaltando que a leitura realizada era de cunho obrigatório em determinadas disciplinas”.

Percebe-se, pois, com a análise dos dados, que os discentes não possuem o hábito da leitura e que no decorrer do curso não procuram desenvolvê-la, mas apenas à medida que são cobrados. Isso, portanto, se configura como problema que pode interferir consideravelmente na atuação profissional desses futuros pedagogos.

A terceira pergunta do questionário teve o objetivo de investigar se as leituras feitas pelos professores em formação estão relacionadas com a profissão. Indagou-se: “Que gêneros literários você costuma ler? Cite algum(ns)”.

Foram vários os tipos de respostas. Entre elas percebemos o gênero literário romancecomo o mais citado, e ainda livros religiosos, de autoajuda e de poesia. Poucos citaram textos que se relacionam à sua prática. Mediante as respostas dos entrevistados, é possível identificar que a maioria busca leituras de cunho meramente literário, que pouco acrescenta à sua formação como pedagogo. Foram citados ainda, por uma minoria, livros de Paulo Freire, entre outros textos acadêmicos.

Aqui se elucida outra problemática identificada pela pesquisa: o alunado em fase de conclusão de curso estabelece um contato bibliográfico/teórico precário em relação às leituras que têm relação com a atividade profissional da docência.

A quarta pergunta indagou aos entrevistados: “Em sua opinião, qual a importância da leitura para a formação do pedagogo?”. Observou-se na maioria das respostas que os entrevistados compreendem que a leitura é essencial para o desenvolvimento de todo e qualquer profissional, que o futuro pedagogo deve desenvolver esse hábito durante sua formação acadêmica e precisa possuir uma base teórica sólida para a fundamentação da sua prática, gerando qualidade para tal. Um dos discentes entrevistados afirma que “a leitura amplia a visão. Pedagogo que não gosta de ler, como irá estimular isso no educando?...”.

Tal modo de entender a importância da leitura, porém, não condiz com a realidade vivenciada pelos entrevistados em relação ao hábito de ler, ou seja, sabem que é imprescindível a leitura para sua formação, porém não a fazem, alegando, por exemplo, falta de tempo. A falta de tempo para estudar e se qualificar é, portanto, uma dificuldade enfrentada pelos discentes que, na maioria das vezes, trabalham e estudam, mas não será abordada neste estudo.

Ao analisarmos as respostas apresentadas, pode-se avaliar que os futuros profissionais da Educação envolvidos neste estudo vivem uma situação complexa em relação à construção da base teórica necessária à sua formação. De modo geral, seja por falta de tempo ou de hábito, não fazem contatos frequentes com as leituras necessárias a uma formação contínua dentro da profissão.

Considerações

Este estudo tratou da importância da leitura na formação profissional dos discentes em conclusão do curso de Pedagogia em uma universidade pública situada no município de Crato/CE.

Partiu-se do princípio de que é de grande relevância a leitura para a prática do profissional da Educação e para seu processo de formação. Vale ressaltar que a importância do hábito de ler proporciona novos conhecimentos, tornando o sujeito crítico e reflexivo diante da sua prática, permitindo que o professor a reoriente, sempre que necessário.

Concluímos, portanto, que a leitura é imprescindível para a formação do pedagogo, por compreender que fundamenta a necessária relação entre a teoria e a prática que se fará necessária em sua futura atuação profissional.  De acordo com Luckesi, a leitura deve ser vivenciada na vida universitária, mais do que em qualquer outra situação, visto que o discente se apresenta como leitor constante durante sua formação e que esta o auxilia na apreensão e compreensão dos conhecimentos adquiridos por ele, além de que, como formador de leitores, é necessário que o hábito da leitura faça parte também dos hábitos do professor, para que ele possa, com propriedade, influenciar seus alunos a se tornar leitores, pois, como afirma Freire (2012), “ensinar exige corporificação da palavra pelo exemplo”. Em outras palavras, para se construir algo é preciso acreditar que é possível, é preciso ser, viver.

Quando foram abordados os tipos de leitura, percebeu-se que ela pode ser realizada para diversos fins; no universo acadêmico, o próprio sujeito deve definir os conteúdos que sejam relevantes à sua vida profissional. Dentre os tipos de leitura possíveis, foram destacados três níveis diferentes, conceituados por Martins (2007): a sensorial, a emocional e a racional. Convém ressaltar outras modalidades mencionadas por Andrade (apud Cavalcante, 2011): a higiene mental (recreativa); a leitura técnica; a leitura de informação e a leitura de estudo.

Conforme exposto no decorrer do texto, a leitura é vista pelos discentes do curso de Pedagogia como algo dissociável de sua formação; esse fato é resultado da sua prática leitora decorrente do percurso escolar.

Com base nessa formação, os discentes ingressam na universidade sem o estímulo e o hábito necessários ao desenvolvimento da competência leitora significativa; na universidade, essa prática irá influenciar sua formação.

A pesquisa realizada aponta que os discentes entrevistados, em sua maioria, não costumam desenvolver a leitura frequentemente, pois praticam apenas a leitura de decodificar de forma aleatória e dispersa, vista como uma leitura obrigatória e pouco prazerosa, principalmente para aqueles que precisam conciliar trabalho e estudo.

Com essa visão presente entre os discentes concludentes do curso de Pedagogia, evidencia-se a formação deficiente do graduando, visto que, como futuro profissional em atuação, deverá ser um estimulador dessa prática em sala de aula.

Percebe-se que a leitura é de extrema importância para a formação contínua do educador, já que possibilita um senso crítico para esse profissional que atua como agente de formação de sujeitos.

Discutimos, pois, que o ato de ler não deve ser meramente um gesto mecânico de decodificação de palavras, mas que seja, além disso, uma reflexão sobre o que está escrito, influenciando o meio social em que o discente esta inserido.

Referências

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DEMO, P. Avaliação qualitativa. 7ª ed. Campinas: Autores Associados, 2000.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio - Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

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Publicado em 12 de julho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

NASCIMENTO, Carla Danyela Alves do; ALVES, Edilania Reginaldo. A leitura na formação dos discentes do curso de Pedagogia de uma instituição pública de Ensino Superior na cidade do Crato/CE. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 25, 5 de julho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/25/a-leitura-na-formacao-dos-discentes-do-curso-de-pedagogia-de-uma-instituicao-publica-de-ensino-superior-na-cidade-do-cratoce

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