Neuropsicopedagogia: a tríade transdisciplinar
Nathália de Souza Andrade Veiga
Graduada em Pedagogia (Unesa), especialista em Neuropsicopedagogia (Faculdade de Educação São Luís)
Diante da realidade que vivemos em nossa sociedade, o saber e a educação são a chave para o desenvolvimento, para a revolução, para a transformação e para a formação de cidadãos aptos aos desafios que surgem dentro de uma realidade gerada pelas ideologias, pela política e pelo constante avanço de informações e inovações.
Portanto, reconhecemos que a Educação promove novos olhares, novos modos de se pensar, novas perspectivas, entendendo que cada indivíduo tem sua forma de aprender, assim como algumas necessidades especiais para a aquisição do conhecimento. Em razão disso, a Pedagogia, como a ciência que estuda os processos de ensino-aprendizagem, uniu-se à Psicologia (que estuda o comportamento e as funções mentais) e à Neurociência (que estuda o sistema nervoso e as suas funcionalidades), apresentando novos caminhos e novas ferramentas de conhecimento e aplicabilidade sobre os possíveis transtornos e as possíveis dificuldades encontradas nos processos de aprendizagem.
Desse modo, este trabalho propõe-se a definir e a compreender o conceito da Neuropsicopedagogia, observando como o neuropsicopedagogo atua, quais são os seus objetos de estudo e qual é a finalidade dos seus estudos no meio educacional.
A junção das ciências
A Neuropsicopedagogia é uma Ciência transdisciplinar fundamentada nos conhecimentos da Neurociência aplicada à Educação, com interfaces da Psicologia e da Pedagogia.
Em ascensão, na atualidade, trata-se de um campo que interage de modo coerente com outros conhecimentos e princípios de diferentes partes das Ciências Humanas, trazendo importantes contribuições à Educação. Seu objeto formal de estudo tem relação do cérebro com a aprendizagem, constituindo-se como um novo campo voltado a pensar e a agir sobre as dificuldades da aprendizagem humana. Para Hennemann (2012, p.11):
como um novo campo de conhecimento que através dos conhecimentos neurocientíficos, agregados aos conhecimentos da pedagogia e psicologia vem contribuir para os processos de ensino-aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem.
A Neuropsicopedagogia é uma ciência unificada, cuja entrada no Brasil deu-se por meio do Centro Nacional de Ensino Superior, Pesquisa, Extensão, Graduação e Pós-Graduação (Censupeg), no ano de 2008, no Estado de Santa Catarina. Seus primeiros marcos científicos foram intermediados por Jennifer Delgado Suárez, no artigo Desmistificación de la Neuropsicopedagogía.
Fernandez (2010) aponta para uma tríade – três pontos elucidativos da Neuropsicopedagogia abordada por Suárez:
- Educação;
- Psicologia;
- Neuropsicologia.
Assim, vemos a Educação presente no intuito de promover a instrução e o treinamento dos cidadãos. A Psicologia aparece para ressaltar os aspectos psicológicos do indivíduo. E, finalmente, a Neuropsicologia surge como a teoria do cérebro trino, oportunizando a teoria das múltiplas inteligências, propostas por Gardner.
A Psicopedagogia trabalha com as dificuldades de aprendizagem e a diversidade de fatores que contribuem para estas questões. Já a Neuropsicopedagogia foca em compreender o sistema nervoso, integrando suas diversas funções ligadas à aprendizagem. Com isso, o profissional de Neuropsicopedagogia tem como função estudar o funcionamento do cérebro, de forma a entender como ele aprende, seleciona, transforma, memoriza, elabora e processa as sensações captadas pelos elementos sensoriais ao seu redor.
Campo de atuação
A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp) divide a atuação do Neuropsicopedagogo em duas áreas, a institucional e a clínica. Segundo a SBNPp (2019), na avaliação neuropsicopedagógica clínica,
o Neuropsicopedagogo clínico, além de aplicar testes e escalas padronizadas para a população brasileira, utiliza a observação clínica, lúdica, e do material escolar para a elaboração da hipótese diagnóstica. O contato com a escola, com a família, com demais membros que residem com o sujeito e com os demais profissionais que atuam no caso, torna-se relevante para a compreensão do quadro e do projeto de intervenção.
A atuação institucional acontece unicamente em ambientes escolares e instituições de atendimento coletivo. Segundo a SBNPp (2019), “fará parte da equipe técnica-pedagógica e do corpo de professores visando à construção de projetos de trabalho nas áreas de conhecimento formal; na orientação de estudos; e na prevenção da qualidade de vida por meio de campanhas internas relacionadas à saúde, à educação e ao lazer”. O neuropsicopedagogo pode atuar, ainda, em instituições do terceiro setor, relacionadas às dificuldades de aprendizagem. Como a SBNPp explica, sua atuação pode ser “em equipe multidisciplinar, fazendo triagens para encaminhamentos aos profissionais da saúde quando necessários; inserindo as crianças e/ou adolescentes em oficinas pedagógicas; e acompanhando o desempenho desses no projeto e na escola” (2019).
Conclusão
Dada a importância do assunto, o objetivo do trabalho foi realizar um estudo sobre a nova área de especialização do meio educacional que visa ao atendimento e ao trabalho transdisciplinar unindo a Psicopedagogia e a Neurociência em prol da educação por uma aprendizagem significativa e eficaz. Como pode-se perceber, o papel do neuropsicopedagogo demanda uma atuação de extrema importância não somente dentro de escolas e instituições, mas também em consultórios, entendendo como o cérebro funciona e como ele aprende. Ao buscar desvendar as possíveis perturbações na aprendizagem do indivíduo, o neuropsicopedagogo poderá eliminar ou amenizar os obstáculos do sintoma da não aprendizagem com base nos conhecimentos da tríade transdisciplinar.
Os estudos da Neuropsicopedagogia auxiliam no conhecimento do cérebro humano e na sua relação com a aprendizagem: uma obra em andamento, em constante evolução. Pesquisas mostram que o desenvolvimento do cérebro não depende apenas dos genes, mas sim de uma complexa interação com as experiências que temos ao longo da vida. Segundo Falcão (2005, p. 54), “o cérebro possui bilhões de neurônios e cada neurônio pode ter até 100 mil contatos.”
Conclui-se que o neuropsicopedagogo, diante desse vasto campo de atuação, é um profissional que está em constante busca por conhecimentos acerca dos transtornos, das síndromes, das patologias e dos distúrbios aos quais o indivíduo possa estar relacionado, identificando-os por meio dos sintomas, procurando sinalizar quais competências e quais habilidades tais indivíduos possuem e propor intervenções neuropsicopedagógicas, avaliadas e acompanhadas por familiares, professores, equipe pedagógica e demais profissionais envolvidos no seu tratamento.
Referências
FALCÃO, G. Marinho. Psicologia da aprendizagem. São Paulo: Ática, 2001.
FERNANDEZ, Ana C. G. Aportes de la Neuropsicopedagogía a la pedagogía. La visión de Jennifer Delgado en: Desmistificación de la Neuropsicopedagogía. Bogotá: Asocopsip, 2010. Disponível em: http://licenciadospsicologiaypedagogia.blogspot.com/2010/02/aportes-de-laneuropsicopedagogia-la.html. Acesso em: 24 ago. 2019.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da Educação. Revista São Paulo: Perspectiva, São Paulo, v. 14, nº 2, 2000.
HENNEMANN, Ana L. Neuropsicopedagogia Clínica: relatório de estágio. Novo Hamburgo: Censupeg, 2012.
INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E GRADUAÇÃO (IPOG). Neuropsicologia. Disponível em: https://blog.ipog.edu.br/saude/pos-graduacao-em-neuropsicologia/. Acesso em: 01 set. 2021.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA (SBNPp). Neuropsicopedagogo institucional e clínico. Disponível em: http://www.sbnpp.com.br/neuropsicopedagogo-institucional-e-clinico-artigo-comentado-art-29-do-codigo-de-etica-tecnico-profissional/. Acesso em: 24 ago. 2019.
Publicado em 12 de julho de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
VEIGA, Nathália de Souza Andrade. Neuropsicopedagogia: a tríade transdisciplinar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 25, 5 de julho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/24/neuropsicopedagogia-a-triade-transdisciplinar
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1 Comentário sobre este artigo
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O tema é relevante, gostaria de deixar uma pequena contribuição. Sou formado pela Faculdade CENSUPEG em Neuropsicopedagogia Institucional (2022) e Clínica (2023).
Gostaria de salientar que o arcabouço teórico da Neuropsicopedagogia não é a Neuropsicologia, mas sim a Neurociências, a Psicologia Cognitiva e a Pedagogia, conforme o Código de Ética Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia - SBNPp - 2021 - CAPÍTULO II. DA DEFINIÇÃO, DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E DIRETRIZES Artigo 10. A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociências aplicada à educação, com interfaces da Pedagogia e Psicologia Cognitiva que tem como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento do sistema
nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e educacional.
A Neuropsicopedagogia não é a união da Psicopedagogia com a Neurociência, pois o arcabouço teórico da Psicopedagogia é a Psicanálise, não havendo correlação portanto entre a Neuropsicopedagogia e a Psicopedagogia.
Vide:
"O enfoque da Psicopedagogia é detectar os bloqueios e dificuldades de aprendizagem e criar métodos para promover a aprendizagem, a superação do fracasso e a evasão escolar, além de incluir os que necessitam de atendimento educacional especializado.
A Neuropsicopedagogia é transdisciplinar, tem por base a psicologia, pedagogia, neurociência e outras ciências que tenham enfoque nos processos cerebrais envolvidos na aquisição da aprendizagem, nos bloqueios, nas disfunções, no mapeamento das funções cerebrais, que precisam de desenvolvimento, bem como na neuroquímica e emoções envolvidas no processo de aprendizagem." Disponível em:
Portanto, não há entre a Psicopedagogia e a Neuropsicopedagogia uma relação de afinidade em seus arcabouços teóricos, pois "O Neuropsicopedagogo e o Psicopedagogo possuem atribuições completamente diferentes, embora o objetivo seja o mesmo: a superação das dificuldades da aprendizagem."
Reitero aqui a relevância do assunto Neuropsicopedagogia, que tenho estudado desde 2020 e continuo estudando e meu respeito sincero à colega por nos brindar com esse tema, pois procuramos seguir o que o código de ética nos prescreve em seu Artigo 40. Ter, para com o trabalho de outros Neuropsicopedagogos e de outros profissionais, respeito, consideração e solidariedade, e, quando solicitado, colaborar com estes em prol dos avanços da Neuropsicopedagogia.
Parabenizo a colega Pedagoga e Neuropsicopedagoga por trazer tal assunto a esse site, meu intuito é contribuir com um trabalho tão importante cujos profissionais precisam interagir para juntos ajudarmos nosso alunado.
Cordialmente, Claudio Santos - Pedagogo, Psicanalista e Neuropsicopedagogo Clínico e Institucional.
http://lattes.cnpq.br/4304530891296516
Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.